Fanfics Brasil - Capítulo - 013. Almas Opostas - Vondy

Fanfic: Almas Opostas - Vondy | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo - 013.

7 visualizações Denunciar


Alguns dias depois..


 


Christopher Uckermann


 


 


Estava deitado na cama, com a cabeça apoiada no travesseiro e as mãos entrelaçadas atrás da nuca. A luz amarelada do abajur deixava o quarto com um ar acolhedor, e o som da chuva fraca batendo na janela dava a sensação de que o mundo lá fora estava em pausa. Dulce estava ao meu lado, sentada com as pernas cruzadas e o rosto iluminado pelo celular, enquanto rolava a tela em busca de inspirações para o aniversário da nossa Gigi. Não consegui conter um suspiro de alívio, talvez seja porque ela já tinha esquecido outras datas importantes, mas dessa vez ela lembrou sem que eu precise lembra-lá.


 


Dulce: Olha isso aqui, Chris. - Ela virou o celular em minha direção, mostrando uma foto de uma enorme mesa decorada com tons pastel, balões, e uma parede cheia de luzes de LED em forma de estrelas. - Não é perfeito?


 


Christopher : Tá bonito. Mas será que Gigi vai gostar? - perguntei, tentando imaginar nossa filha em uma festa assim. Giovanna não era lá tão fácil de agradar. Por isso, queríamos fazer uma festa surpresa para ela.


 


Dulce revirou os olhos, mas riu, inclinando-se para me dar um leve tapa na perna - Tem razão, essa chatice ela puxou para você.


 


Eu ri, porque ela estava certa. Gigi tinha herdado esse lado da minha família.


 


Christopher : A Gigi tá crescendo, e eu acho que ela tá numa fase meio… entre a infância e a adolescência. Talvez queira algo mais “maduro”, não é? 


 


Ela mordeu o lábio, pensativa, e voltou a olhar o celular.


 


Dulce: Então o que você sugere, senhor “entendedor de fases da adolescência”?


 


Pensei por um momento, olhando para o teto.


 


Christopher: Bom, ela ama internet. E ultimamente vive grudada naquele celular e no fone. Que tal uma festa com tema de show? Tipo um palco, microfones… talvez até uma cabine de karaokê? Posso contratar os cantores e influenciadores preferidos dela - sorri.


 


Os olhos de Dulce se iluminaram, e ela bateu palmas baixinho, empolgada.


 


Dulce: A Gigi vai amar. Podemos fazer algo meio “pop star”, com luzes de LED, uma pista de dança, e até um espaço pra ela e as amigas tirarem fotos. 


 


Christopher: E comida? - perguntei, me virando de lado para olhá-la melhor. - Sei que sou chato com isso, mas em aniversário não pode faltar aquelas comidas gorduras, mas também vou colocar coisas saudáveis.


 


Dulce: Mini pizzas, cachorro-quente gourmet, e… cupcakes decorados! - Ela sorriu, já começando a anotar as ideias no bloco de notas do celular. - Podemos colocar toppers com microfones, notas musicais…


 


Enquanto ela falava, percebi como os olhos de Dulce brilhavam. Não era só sobre a festa. Era sobre o quanto ela queria que Gigi se sentisse especial, amada, e que soubesse o quanto cada detalhe era pensado para ela. O quanto a mãe se importava com ela, tanto quanto as outras quatro.


 


Eu estiquei o braço e puxei Dulce delicadamente para se deitar ao meu lado. Ela riu, mas obedeceu, acomodando-se com a cabeça no meu ombro.


 


Christopher: Você tá linda quando tá empolgada assim, sabia? - sussurrei, beijando o topo da cabeça dela.


 


Dulce: Não tenta me distrair, Christopher. Temos uma festa pra planejar. Você entra em contato com a organizadora amanhã. - Apesar do tom sério, ela estava sorrindo.


 


Christopher : Tá bem, tá bem. - Ergui as mãos em rendição. - E as lembrancinhas?


 


Dulce : Já pensei nisso também. - Ela se levantou um pouco, apoiando o queixo na mão para me olhar. - Bolsinhas com maquiagens, iphones, notebook, tablets e fones de ouvido de última geração banhadas a ouro, e talvez pulseiras e anéis de diamantes, Gigi ama jóias.


 


Eu assenti, impressionado.


 


Christopher: Você pensou em tudo, hein?


 


Dulce: Claro. Eu sou mãe dela. Não gosto de extravagância, mas no aniversário dela eu quero fazer isso - Ela deu de ombros, fingindo modéstia, mas com um sorriso de quem sabia que estava arrasando.


 


Ficamos conversando por mais um tempo, ajustando detalhes e imaginando como seria o grande dia. Eu já conseguia ver o sorriso da Gigi, aquele que iluminava qualquer ambiente.


 


Dulce terminou a última anotação no celular, deixou o aparelho de lado e voltou a se deitar, dessa vez enroscando as pernas nas minhas.


 


Dulce: Sabe… às vezes eu queria que ela não crescesse tão rápido. Parece que foi ontem que a gente tava planejando a festa de um ano dela.


 


Eu apertei sua mão, sentindo o mesmo nó na garganta.


 


Christopher: Eu sei. Assim como as outras, ela está crescendo rápido. Mas acho que estamos fazendo um bom trabalho. Ela tá crescendo feliz, e isso é o que importa.


 


Dulce sorriu, e eu aproveitei para roubar um beijo.


 


Christopher: Bom, agora que terminamos a parte difícil, acho que merecemos um descanso, né? - falei, fingindo inocência.


 


Dulce: Descanso? - Ela arqueou uma sobrancelha, divertida. - Ou você tá pensando em outra coisa?


 


Christopher: Talvez. - Dei de ombros, puxando-a mais para perto.


 


E naquela noite, enquanto a chuva continuava a cair lá fora, a gente ficou ali, no nosso mundo, rindo, planejando, e aproveitando o momento. Sabíamos que, daqui a alguns anos, Gigi ia olhar para trás e lembrar dessas festas com carinho. Mas, para nós, esses momentos de planejar juntos eram as verdadeiras memórias que ficariam para sempre.


 


 


 


..........................


 


 


 


Pela manhã, depois de tomar café em família, Dulce foi para o hospital, as meninas na escola e eu estava no escritório da empresa, mas ao invés de resolver os meus assuntos, estava resolvendo os da minha filha caçula, que para mim eram os mais urgentes, sentado na minha frente estava o último professor de português da Nicole, que não faz muito tempo tinha contratado.


 


Ele me olhava por cima dos óculos, com um misto de compreensão e cautela, como quem sabia que o que estava prestes a dizer não seria fácil de ouvir.


 


Henry : Então, senhor Uckermann - começou ele, colocando uma folha de anotações sobre a mesa - Gostaria de ouvir sobre as percepções do senhor em casa, mas preciso ser direto: a Nicole ainda tem muita dificuldade com o português.


 


Respirei fundo e olhei para as minhas mãos, que descansavam sobre os joelhos.


 


Christopher : Eu sei, como falei no dia de sua entrevista comigo, o contratei como minha última esperança, é o melhor do país. Ela está tão dedicada… faz exercícios todos os dias, assiste vídeos, tenta praticar comigo, com a mãe e as irmãs, ou com qualquer pessoa que fale o idioma. Mas… eu não consigo ver progresso suficiente.


 


Ele assentiu, inclinando-se levemente para frente.


 


Henry: Isso é algo que percebo nas aulas também. Nicole tem uma excelente atitude. Ela tenta, faz perguntas, nunca desiste. Mas, infelizmente, o aprendizado de uma língua, especialmente como o português, é um processo lento. Não é falta de esforço, é questão de tempo e prática constante.


 


As palavras dele caíram como uma pedra no meu peito. Eu sabia que ele estava certo, mas ouvir aquilo tornava tudo mais real. Levantei os olhos para ele, sentindo o peso da responsabilidade.


 


Christopher: Ela tem falado muito sobre esse filme brasileiro, sabe? É o sonho dela. Ela estava tão animada quando soube que poderia fazer uma participação. Mas agora… agora eu preciso dizer pra minha filha que ela não vai conseguir.


 


Minha voz quebrou um pouco, e precisei respirar fundo para recuperar a compostura. O professor olhou para mim com empatia.


 


Henry: Entendo como isso deve ser difícil para o senhor. Nicole é talentosa e determinada, mas, para um papel que exige fluência no idioma, ela ainda está longe de alcançar o nível necessário. Não é culpa dela. Aprender uma língua nova é uma jornada, e cada pessoa tem seu ritmo.


 


Aquelas palavras faziam sentido, mas não aliviaram o aperto no meu coração. Me inclinei para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.


 


Christopher: O problema é que ela não vê isso como uma “jornada”. Pra ela, é um sonho com prazo de validade. Ela acredita que se esforçar é o suficiente, e agora eu tenho que ser o cara que vai dizer que isso não é verdade. Nick é muito sensível, não quero pensar na hipótese de magoar minha bebê.


 


Ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado.


 


Henry: Talvez o senhor possa mostrar para ela que o esforço não é em vão, mesmo que o resultado imediato não seja o esperado. Explicar que esse filme pode não ser possível agora, mas que as portas que ela está abrindo com o aprendizado vão levar a muitas outras oportunidades.


 


Eu ri, mas foi um riso curto, mais de nervoso do que de alívio.


 


Christopher : É fácil dizer isso agora, mas quando eu olhar nos olhos dela e vir a decepção... Não sei, professor. Eu só quero proteger minha filha, mas como eu faço isso quando o que tenho pra dizer vai magoá-la?


 


Ele inclinou a cabeça, pensativo.


 


Henry: Senhor Uckermann, proteger sua filha também é prepará-la para as realidades da vida. Sim, ela ficará triste, mas ao mesmo tempo, é uma oportunidade para mostrar que sonhos grandes exigem paciência e resiliência.


 


Eu balancei a cabeça, ainda processando. 


 


Christopher: Então, a única coisa que posso fazer é dar esse tempo pra ela, não é? - perguntei, mais para mim mesmo do que para ele.


 


Henry: Sim, e incentivá-la a continuar aprendendo, mesmo sem uma recompensa imediata. Nicole tem o potencial, senhor Uckermann. Ela só precisa de tempo, e, claro, do seu apoio, que claramente ela já tem.


 


Agradeci com um aceno, embora o nó na garganta tornasse difícil dizer qualquer coisa.


 


Na hora do almoço, tentei ligar para Dulce, mas Madison, sua secretária, atendeu, informando que ela estava em cirurgia de emergência. Tentei trabalhar mais um pouco, as horas se passaram, quando enfim, desliguei o computador e saí da sala passando pela mesa que ainda estava vazia. Não pude deixar de soltar um suspiro com saudades de Ava, ninguém conseguia ocupar o lugar dela. O que tornava o meu trabalho mais difícil.


 


O elevador vazio parecia mais apertado do que o normal, ou talvez fosse apenas a pressão do momento que deixava tudo ao meu redor sufocante. A conversa com o professor da Nicole ainda pesava na minha mente. Ele tinha sido direto, mas compreensivo. Minha filha precisava de mais tempo para aprender português, mas o tempo era exatamente o que não tínhamos. O teste para o filme brasileiro estava chegando, e eu precisava encontrar uma maneira de dizer a ela que não seria possível.


 


Minhas mãos estavam nos bolsos, e meus pensamentos tão embaralhados que só percebi quando o elevador parou em um andar que não era o hall. Suspirei, frustrado, e saí sem prestar atenção no número no painel. A porta se fechou atrás de mim, e o corredor à minha frente parecia interminável, com uma boa iluminação e paredes muito bem decoradas. Resolvi descer as escadas para clarear a mente.


 


Enquanto caminhava pelos degraus, ouvi algo que me fez parar. Uma voz fina e clara.


 


 “A casa é grande, e as portas são coloridas…”


 


O som ecoava pelo espaço vazio, e me aproximei devagar, curioso. Ao dobrar a curva, vi um menino pequeno sentado no meio dos degraus, com um caderno aberto no colo. Ele tinha cabelos bagunçados e usava uma camiseta azul que parecia um pouco grande demais para ele. Ele lia em voz alta em português, com uma fluência surpreendente para alguém tão jovem. 


 


Fiquei parado por um momento, absorvendo a cena. Como um menino tão pequeno falava português tão bem? Ele era brasileiro?E o que ele fazia nessas escadas escondido?Finalmente, quebrei o silêncio.


 


Christopher : Com licença… você está lendo em português?


 


O menino levantou os olhos, surpreso, mas não parecia intimidado. Ele sorriu, mostrando um pequeno espaço entre os dentes da frente.


 


Xxx: Sim, senhor. Eu tô praticando.


 


Sorri, impressionado.


 


Christopher: Você fala muito bem. Como se chama?


 


Xxx: Noah. - Ele fechou o caderno com cuidado e ficou de pé. Ele era pequeno, quase frágil, mas tinha uma confiança impressionante para alguém da idade dele.


 


Christopher: E quantos anos você tem, Noah?


 


Noah: Seis! - Ele ergueu a mão, mostrando os dedos como se eu precisasse da confirmação visual.


 


Christopher: Seis? - perguntei, incrédulo. - E já fala português assim? Você é brasileiro?


 


Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo.


 


Noah: Não, sou daqui mesmo. É porque eu gosto muito. Eu vejo desenhos e falo com meus amigos brasileiros às vezes.


 


Christopher: Sua mãe é brasileira?


 


Noah: Não, ela é daqui também.


 


Antes que eu pudesse perguntar mais, uma mulher apareceu no final do corredor, empurrando um carrinho de faxina. Ela tinha os cabelos presos em um coque desalinhado e parecia exausta, mas seus olhos azuis se iluminaram ao ver Noah.


 


Xxx: Noah, o que você tá fazendo aqui? — perguntou, preocupada, antes de notar minha presença. Ela parou e olhou para mim com um sorriso educado. — Desculpe, senhor Uckermann. Ele não está incomodando, está?


 


A encarei por alguns segundos, a reconhecendo. Ela tinha me ajudado alguns dias atrás com o francês. Não pude deixar de sorrir, a inteligência e influência nos idiomas é de família pelo visto.


 


Christopher: De jeito nenhum. - Respondi, ainda admirado. - Na verdade, estava impressionado com o quanto ele fala bem português.


 


Ela riu, ajeitando o carrinho ao lado das escadas.


 


Xxx: Obrigada. Ele gosta muito de aprender. Sempre tá com um caderno ou vendo vídeos. Meu filho é muito inteligente. - o tom da voz demonstrava orgulho.


 


Christopher: Ele aprendeu sozinho?


 


Ela assentiu.


 


Xxx: Eu tento ajudar como posso, mas ele é muito mais inteligente do que eu, inclusive, desculpe por trazê-lo comigo hoje, não tinha onde deixá-lo, então ele acabou vindo comigo. Enquanto eu trabalho, ele fica estudando ou desenhando quietinho. 


 


Olhei para Noah novamente, que agora folheava o caderno distraidamente. Não era só o fato de ele falar português que me impressionava. Era o entusiasmo, a paixão em cada palavra que ele pronunciava. Isso me fez pensar em Nicole. Minha filha, tão determinada, mas desanimada pelas dificuldades que encontrava.


 


Uma ideia começou a se formar na minha mente.


 


Christopher: Belinda, certo? - perguntei, olhando para o crachá dela. Não lembrava o nome dela de cabeça.


 


Belinda: Sim, senhor.


 


Christopher: Belinda, eu tenho uma filha chamada Nicole. Ela tem 6 anos também e está tentando aprender português, mas tem tido muita dificuldade. Talvez… talvez o Noah pudesse ajudá-la.


 


Ela franziu a testa, confusa.


 


Belinda: Noah? Ele é só um menino.


 


Christopher: Eu sei. Mas, às vezes, crianças aprendem melhor com outras crianças. Ele poderia ser como um amigo que a incentiva, alguém com quem ela se sente mais confortável.


 


Belinda olhou para o filho, que agora olhava para mim com curiosidade.


 


Belinda: Você quer dizer que ele ensinaria sua filha?


 


Christopher: Algo assim. Eles poderiam se encontrar algumas vezes por semana, talvez brincar e conversar em português. Eu ficaria mais do que feliz em compensar vocês por isso, claro.


 


Antes que Belinda pudesse responder, Noah puxou a barra da camisa dela.


 


Noah: Eu posso fazer isso, mãe? Posso ajudar?


 


Ela olhou para ele, depois para mim, ainda hesitante.


 


Belinda: Ele é só uma criança, senhor. Não sei se seria o suficiente.


 


Christopher: Às vezes, a simplicidade é exatamente o que funciona. Nicole precisa de alguém que a inspire, alguém que mostre que aprender pode ser divertido. E, pelo que vi, Noah tem esse talento.


 


Belinda respirou fundo, claramente processando a proposta. Finalmente, ela assentiu devagar.


 


Belinda: Podemos tentar. Mas se não funcionar…


 


Christopher: Não tem problema. - sorri, aliviado por ela ter aceitado. - Só o fato de tentar já significa muito.


 


Eu não sabia exatamente como aquilo funcionaria, mas uma coisa era certa: faria o impossível para ajudar Nicole. Se havia uma chance, mesmo que pequena, de Noah ser a ponte que ela precisava, eu agarraria essa oportunidade com tudo.


 


 


 


Dulce Maria 


 


 


A porta da sala de cirurgia se fechou atrás de mim, mas o som do monitor cardíaco ainda parecia ecoar nos meus ouvidos. A linha contínua e monótona indicando que havíamos perdido o paciente era um peso que eu sentia no peito, como se estivesse me esmagando de dentro para fora. Meus ombros estavam tensos, minha respiração pesada, e o suor que havia escorrido pelo meu rosto durante a cirurgia agora parecia gelado.


 


Eu havia tentado de tudo. Cada técnica, cada manobra. Tudo que estava ao meu alcance. Mas nada foi suficiente. Ele não resistiu.


 


Enquanto caminhava pelo corredor em direção ao vestiário, sentia o nó na minha garganta apertar mais a cada passo. Não era a primeira vez que eu perdia um paciente, mas isso nunca ficava mais fácil. Na verdade, ficava pior. A cada perda, parecia que uma pequena parte de mim ia embora também.


 


Ao virar a esquina, avistei Rafael, passando com alguns papéis na mão. Ele parecia apressado, mas parou ao me ver.


 


Rafael: Dulce? - Ele franziu a testa, claramente notando meu estado. - O que aconteceu?


 


Eu não consegui responder de imediato. Apenas balancei a cabeça, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam cair. Ele se aproximou, preocupado, e colocou uma mão leve no meu ombro.


 


Rafael: Ei, o que foi? Você tá bem?


 


A gentileza no tom dele foi a gota d’água. Soltei o ar que estava prendendo e deixei escapar:


 


Dulce: Perdemos um paciente na mesa.


 


Ele ficou em silêncio por um momento, provavelmente processando minhas palavras. A mão dele ainda estava no meu ombro, firme, mas reconfortante.


 


Rafael: Quer me contar o que aconteceu? - perguntou ele, a voz baixa e cuidadosa.


 


Balancei a cabeça, tentando organizar os pensamentos. Finalmente, suspirei e comecei a falar.


 


Dulce: Era um homem de 42 anos. Ele tinha sofrido um acidente de carro e chegou aqui em estado crítico. Nós o estabilizamos no início, mas havia uma hemorragia interna que não conseguimos controlar. Durante a cirurgia… - minha voz falhou, e precisei respirar fundo antes de continuar. - Fizemos tudo o que podíamos, Rafael. Tudo.


 


Ele assentiu, a expressão séria, mas os olhos gentis.


 


Rafael: Eu acredito em você, Dulce. Sei o quanto você é dedicada.


 


Olhei para ele, e dessa vez não consegui segurar as lágrimas.


 


Dulce: Mas não foi o suficiente. Ele tinha uma família, Rafael. Eu fiquei imaginando eles esperando lá fora, com esperança, e agora… agora alguém vai ter que dizer a eles que ele não sobreviveu.


 


Minha voz quebrou no final, e eu desviei o olhar, envergonhada pela minha vulnerabilidade. Eu deveria está acostumada, mas era impossível se acostumar com isso. Rafael não parecia desconfortável. Pelo contrário, ele se aproximou mais, de maneira que estávamos quase frente a frente.


 


Rafael: Dulce, ouvir isso nunca vai ser fácil. Mas você precisa lembrar que você fez o que ninguém mais poderia fazer. Você lutou por ele. Mesmo que o desfecho não tenha sido o que você queria, isso não diminui o valor do seu esforço.


 


Eu queria acreditar nele, mas naquele momento, o peso da culpa que caia sobre mim todas as vezes que eu perdia um paciente era maior do que qualquer lógica.


 


Dulce: Eu só… - pausei, buscando as palavras. - Não consigo parar de pensar se eu poderia ter feito algo diferente. Alguma coisa que eu deixei passar.


 


Ele balançou a cabeça imediatamente.


 


Rafael: Não pense assim. Você sabe que fez tudo o que era possível. Às vezes, as coisas estão fora do nosso controle. Você é uma médica incrível, Dulce, mas você não é uma máquina, e também não é Deus.


 


Suas palavras penetraram devagar, mas ainda assim, o nó na minha garganta parecia não ceder. Ele percebeu e mudou de abordagem, apontando para um banco no corredor.


 


Rafael: Vem, senta aqui comigo um pouco.


 


Eu hesitei, mas acabei cedendo. Sentei no banco ao lado dele, sentindo o corpo exausto. Ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar novamente.


 


Rafael: Eu já passei por isso, sabia? - disse ele, a voz baixa.


 


Dulce: Quando?


 


Rafael: No meu primeiro ano como médico, perdi um paciente no pronto-socorro. Era uma criança, Dulce. Eu nunca vou esquecer o rosto dela. Nem o olhar dos pais quando contei que ela não tinha sobrevivido. - Ele fez uma pausa, olhando para o chão. - Por muito tempo, achei que eu tinha falhado. Mas um dos meus mentores me disse algo que nunca esqueci: a gente não é responsável pelo desfecho, só pelo esforço. O resto não tá nas nossas mãos.


 


Fiquei olhando para ele, absorvendo aquelas palavras. Obviamente, sabia que ele estava certo, mas era difícil aceitar naquele momento. Ainda assim, de alguma maneira, sua presença ali, seu apoio, fazia a dor parecer um pouco menos insuportável.


 


Dulce: Obrigada, Rafael. - Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.


 


Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.


 


Rafael: Você não precisa agradecer. - tocou no meu ombro- Só me promete que vai descansar um pouco, tá? Sei que você vai carregar isso com você, mas não pode deixar isso te consumir.


 


Assenti, mesmo que a ideia de descansar parecesse distante.


 


Dulce: Vou tentar.


 


Ele se levantou e me estendeu a mão.


 


Rafael: Vem, vou te levar até a sala de descanso. E, Dulce… - Ele fez uma pausa, me olhando diretamente nos olhos. - Você é uma das melhores médicas que eu conheço. Nunca se esqueça disso.


 


De alguma forma, aquelas palavras eram exatamente o que eu precisava ouvir. Me levantei, e, pela primeira vez desde que saí da sala de cirurgia, senti que podia respirar um pouco mais fundo. A dor ainda estava lá, mas pelo menos agora eu não me sentia sozinha para enfrentá-la.


 


 


 


 


 


...........................


 


 


 


 


 


 


Eu abri a porta de casa com o coração pesado e a cabeça baixa. O som familiar do ambiente deveria me reconfortar, mas, naquele momento, só parecia um lembrete de que o mundo continuava girando, enquanto dentro de mim tudo estava parado.


 


Christopher apareceu na sala quase no mesmo instante em que fechei a porta. Ele estava descalço, com a camiseta um pouco amassada, provavelmente relaxando com as meninas depois de um dia de trabalho. Quando me viu, a preocupação imediatamente surgiu em seu rosto.


 


Christopher: Dulce? O que aconteceu? - Ele caminhou até mim, segurando meu rosto com as duas mãos. - Você tá tão abatida.


 


Eu suspirei, sentindo o nó na garganta apertar novamente. Apenas balancei a cabeça, incapaz de formar as palavras no momento. Ele percebeu e me puxou para um abraço firme, suas mãos acariciando minhas costas enquanto eu enterrava o rosto em seu ombro.


 


Christopher: Foi um dia difícil no hospital? - perguntou ele suavemente, sem pressa de me soltar.


 


Finalmente, consegui murmurar:


 


Dulce: Perdi mais um hoje…


 


Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me segurando como se quisesse absorver a minha dor. Depois se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos.


 


Christopher: Quer falar sobre isso?


 


Eu hesitei, mas sabia que precisava desabafar.


 


Dulce: Era um homem, pai de família, Christopher. Tinha uma família esperando por ele. Fizemos tudo o que podíamos, mas ele não resistiu.


 


Ele balançou a cabeça imediatamente, com aquele olhar firme que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem.


 


Christopher: Amor, eu sei que você deu o seu máximo. Você é uma das melhores médicas que eu já conheci. Isso não é culpa sua. E você sabe disso! 


 


Dulce: Eu só… -comecei, mas minha voz falhou.


 


Christopher : Shhh… - ele colocou um dedo suavemente sobre meus lábios. - Não precisa se culpar. Eu sei que você está fazendo o melhor possível, como sempre faz.


 


Meus olhos se encheram de lágrimas, e ele me puxou para outro abraço, desta vez acariciando meus cabelos.


 


Christopher: Por que você não toma um banho? Vai te ajudar a relaxar um pouco.


 


Dulce: As meninas?


 


Christopher: Estão na piscina, mas você não está em condições de falar com elas agora. Melhor descansar amor.


 


Assenti devagar e fui para o quarto. O banho quente foi como um alívio temporário para o peso no meu peito, mas não o suficiente para apagar completamente o dia. Quando voltei ao quarto, vestida com meu pijama confortável, encontrei Christopher sentado na cama, esperando por mim.


 


Christopher: Eu tava pensando… - começou ele, seu tom casual, mas com um brilho no olhar que sugeria que ele queria mudar meu foco. - Sabe o professor de português da Nicole?


 


Eu me sentei ao lado dele, secando o cabelo com a toalha.


 


Dulce: Sei. Ele não vai dar mais aula, né? Não funcionou de novo.


 


Christopher : É, mas… talvez eu tenha encontrado uma solução.


 


Dulce: Ah, é? - perguntei, arqueando uma sobrancelha, intrigada.


 


Ele sorriu de leve, aquele sorriso que sempre vinha antes de uma ideia que ele considerava brilhante.


 


Christopher: Hoje, no prédio, eu conheci um garotinho. Ele se chama Noah. Tem seis anos e fala português fluentemente.


 


Fiquei surpresa.


 


Dulce: Seis anos? E já fala assim? Ele é brasileiro?


 


Christopher : Não. Ele é filho de uma das funcionárias do prédio, Belinda. Ela é daqui, e ele nasceu aqui também, mas ele aprendeu português sozinho. Ele tava sentado nas escadas, lendo em português, quando eu o encontrei.


 


Eu franzi a testa, sem entender onde ele queria chegar.


 


Dulce :E o que isso tem a ver com a Nicole?


 


Christopher : Bem… - ele ajeitou o travesseiro atrás de si, claramente animado com o que ia dizer. - Eu pensei que ele poderia ajudar Nicole. Tipo, como um amiguinho que a ensina brincando. Às vezes, crianças aprendem melhor com outras crianças.


 


Fiquei em silêncio por um momento, processando aquilo.


 


Dulce: Um garotinho de seis anos? Não acha que é muita responsabilidade pra ele?


 


Christopher: Talvez. Mas ele parecia tão entusiasmado com a ideia de ajudar. E eu achei que valia a pena tentar.


 


Suspirei, ainda meio cética, mas vendo o brilho nos olhos de Christopher. Ele sempre tinha esse jeito de acreditar no impossível.


 


Dulce: Não sei, Christopher. Parece meio… incomum.


 


Christopher: Dulce, pensa nisso como uma chance. Nicole tá desanimada, e Noah parece ser uma criança especial. Pode ser o que ela precisa pra aprender de vez.


 


Por fim, assenti devagar.


 


Dulce: Tá bom. Vamos tentar. Mas se eu perceber que isso tá sendo demais pra ele, a gente procura outra solução.


 


Christopher: Se ele não conseguir também, então a única solução é conversar com a Nick sobre não participar mais do filme.


 


Dulce: Sim - concordei.


 


Christopher se levantou e saiu do quarto, alguns minutos depois, voltou com uma bandeja com sopa e pão.


 


Christopher: Você precisa comer alguma coisa.


 


Eu balancei a cabeça.


 


Dulce: Não tô com fome.


 


Christopher : Dulce… — ele insistiu, sentando-se ao meu lado e me entregando a colher. - Só um pouco. Por mim?


 


Revirei os olhos, mas acabei tomando algumas colheradas, mais para agradá-lo do que por vontade. Ele sorriu, como se tivesse vencido uma pequena batalha, e depois deixou a bandeja de lado.


 


Christopher :Pronto. Agora, vem cá, meu amor. - Ele puxou-me para mais perto, me envolvendo em seus braços.


 


Deitei minha cabeça no peito dele, sentindo o calor e o conforto que só ele sabia proporcionar. Ele começou a acariciar meu braço, murmurando coisas bobas para me distrair. Falava sobre o tempo, sobre um vídeo engraçado que tinha visto, e até tentou cantarolar uma música, o que me fez rir pela primeira vez naquela noite.


 


Dulce: Viu? Não é tão difícil me fazer sorrir, — brinquei.


 


Ele beijou minha testa.


 


Christopher: Meu trabalho é cuidar de você. Sempre.


 


Por um instante, deixei os problemas do hospital de lado e apenas aproveitei aquele momento com meu marido. Estar nos braços dele era tudo que eu precisava.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): tatayvondy

Este autor(a) escreve mais 6 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

Dulce Maria      O sol mal havia surgido no horizonte, mas a casa já parecia estar em movimento. Desci as escadas calmamente, sentindo o piso frio sob os pés, e fui direto para a cozinha. Lá estava Christopher, observando Leonor organizar a mesa do café da manhã enquanto Maria Paula e Sofia a ajudavam.   Dulce: Bom ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1716



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • Vondy Forever Postado em 19/01/2025 - 06:49:57

    Eu não estou gostando disso já percebi que vai vir muito sofrimento tanto para a Dulce quanto para o Christopher e que esse só vai acabar lá no final da história. Continua Eu gostaria muito que essa temporada fosse sem sofrimento

    • tatayvondy Postado em 24/01/2025 - 17:52:40

      Muitos conflitos estão vindo, a cigana leu as cartas pra Dulce no capítulo 8, um presságio do que vêm por ai, mas muita coisa pode acontecer até o final. Continuando *-*

  • jessica_dos_santos__conde_ Postado em 15/11/2024 - 13:29:56

    Está tudo bem , não vai mais continuar com a história?

  • jessica_dos_santos__conde_ Postado em 11/09/2024 - 10:46:34

    Quando terá novas atualizações ?... Saudades

  • Vondy Forever Postado em 23/06/2024 - 15:01:30

    Eu estou achando que vamos sofrer muito nesta temporada espero que sejam poucos capítulos

  • Vondy Forever Postado em 23/06/2024 - 07:10:06

    Continua

  • taianetcn1992 Postado em 08/06/2024 - 03:10:57

    Dulce vc sossega hein

    • tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:42

      Aiaiaia

  • vondy_eternamenty Postado em 09/05/2024 - 19:18:43

    Continua por favor esta ótima

    • tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:29

      Continuando*-*

  • Vondy Forever Postado em 06/05/2024 - 10:35:05

    Continua por favor

    • tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:14

      Continuando *-*

  • Srta Vondy ♥ Postado em 21/04/2024 - 22:44:45

    Entendo de verdade o quão importante é a carreira da Dul, que emergências acontecem (principalmente num hospital), que p carreira que ela escolheu tem que abrir mão de muita coisa, principalmente de momento em família, de verdade entendo tudo isso, mas n me entra na cabeça o quão ''relapsa'' ou melhor relaxada ela se tornou em relação ao sentimento das meninas de saber que as filhas criam esperanças baseada na confirmação dela, ficam ansiosas esperando, se decepcionam, choram, são acalmadas, perdoam ela e depois tudo se repete novamente, sei que existe o contra-peso de uma vida que ''depende'' dela, mas mesmo assim sabe ? E ainda acha o Uckermann errado por cobrar isso dela, sendo que sobra p ele toda essa bomba nos momentos especiais das meninas Fora que acho que será um problema o novo médico e a possível entrada da Belinda na empresa do Christopher, e o segredo que a Dul guarda que até agora n deu as caras.. Ansiossima p os próximos capítulos, some mais não, por favor Continuaaaa <3

    • tatayvondy Postado em 04/05/2024 - 21:55:18

      Os anos passaram e ela mudou muito, nem parece aquela menina de antes. Só acho que ela deveria parar de fazer essas promessas, já que é difícil de cumprir. Ela não gosta de ser cobrada, porque ela sabe que está errada. Esse novo médico ainda vai causar problemas não só no casamento dela, mas na relação das meninas tbm, assim como Belinda, Dulce que se cuide...e esse segredo? Chuta o que seja? Estava com saudades dos seus comentários*-* vou tentar postar com frequência, continuando!!!!!

  • vondy_eternamenty Postado em 20/04/2024 - 22:05:48

    nossa que saudades eu estava de vc continua

    • tatayvondy Postado em 04/05/2024 - 21:47:22

      Tbm estava com saudades *-*


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais