Fanfic: Almas Opostas - Vondy | Tema: Vondy

Dulce Maria

A manhã de terça-feira no meu trabalho passou lenta e a tarde mais ainda. Não podia acreditar que Christopher foi até minha casa e saiu entendendo tudo errado. Sério, Deus? O que há de errado na minha vida para duas confusões seguidas com ele? Nem concertei uma e já tenho outra. Mandei mensagem para Christopher e como esperado ele não respondeu.

Isso era um saco!

As horas demoraram para passar e quando deu 19:00 Maite e eu saímos juntas do trabalho, mas pegamos ônibus diferentes. Ela foi para casa, estava bem nervosa porque amanhã saia o resultado da prova e eu fui para o apartamento de Christopher. Mais uma vez fui em pé e amassada, um hora depois, já estava em frente ao prédio de Christopher mandando uma mensagem para ele.

Seu Nicolau me deixou entrar e fazia companhia pra mim.

Nicolau: Vocês jovem são engraçados - riu.

Dulce: Como assim?

Nicolau: Se gostam mas perdem tempo brigando um com outro. Na minha época, não perdiamos tempo desse jeito, na verdade, mal tinhamos dois encontros e já estávamos casando.

Dulce: Hoje em dia está complicado manter qualquer relação. - olhei meu celular e nada.

Nicolau: Talvez. - concordou - Mas não deveria ser tão complicado para dois jovens que se gostam tanto como a senhorita e o senhor Uckermann.

Dulce: Estou conhecendo esse lado ruim dele - murmurei.

Nicolau: Seja qual for o motivo da briga, sei que no final, vão acabar casados e felizes.

Não pude deixar de me assustar.

Casados?

Christopher e eu?

Seu Nicolau riu.

Nicolau: Calma, isso não é para agora. - me olhou profundamente - Vocês dois ainda passarão por muitas coisas boas e ruins, antes disso acontecer. - completou. - A história de vocês está só começando.

Engoli em seco.

Olhei meu celular mais uma vez e estava quase desistindo quando Christopher enviou a senha do paínel, soltei um suspiro de alívio e entrei no elevador. Quando entrei no apartamento procurei ele pela sala e vi que estava na sacada da piscina encostado no enorme corrimão olhando a rua, o vento forte fazia seus cabelos ficarem bagunçados e o deixava mais sexy ainda desse jeito.

Me aproximei dele devagar.

Não tinha percebido que estava querendo chover e muito menos que estava frio.

Ele não se moveu para me olhar.

Estava sério olhando a rua.

Dulce: Obrigada por me deixar subir.

Christopher: O que tem para me dizer? - foi direto.

Dulce: Errei em não ter contado para você que estava num namoro falso para um amigo fingir para a mãe que gostava de mulher. Queria ter contado, mas o segredo não era meu para que eu falasse sobre isso. A senhora do shopping é a mãe dele e acreditava que eu namorava o filho dela, por isso, aquela confusão no shopping, só estava ajudando um amigo Christopher. Não tenho ninguém.

Christopher: E aquele cara sem camisa na sua casa ontem? - continuava olhando a rua. - Também era um amigo gay seu? - falou num tom debochado.

Respirei fundo.

Dulce: É o namorado de uma das minhas amigas. E ele só estava sem camisa porque tinha sujado a dele, pelo amor de Deus, será que tem como olhar pra mim? - pedi.

Christopher continuou olhando para frente e calado.

Me irritei.

Dulce: Já estou cansada de ficar tentando me justificar e você me tratar desse jeito. Errei, estou tentando concertar e você está nem aí. - suspirei - Gosto de você de verdade, mas não vou ficar correndo atrás de você para sempre Christopher. Tenho dignidade também, e se você não acredita em mim é melhor terminar o que temos e cada um seguir em frente. 

Esperei por resposta e nada.

Fechei os olhos querendo chorar e neguei.

Não na frente dele.

Comecei a me afastar.

Christopher: Como você quer que eu acredite em você, sendo que não sei de quase nada ao seu respeito? - parei de andar e o encarei - Sabe tudo sobre mim, minha família, mas quando tento saber mais sobre sua vida, sobre a sua família você me corta? Você não deixa. - me olhava nos olhos - Por quê? Por quê nunca fala sobre sua família? mais sobre você?

Um vento mais forte nos cercou.

Dulce: Porque não é fácil falar sobre isso Christopher. - neguei - Porque dói.

Christopher: Como assim dói, Dulce? Do que está falando?

Dulce: Dói em dizer, dói em lembrar que meus pais não me quiseram, que eles me largaram numa maldita cesta e foram embora pra sempre, dói em dizer que fui criada num orfanato, dói em dizer que não tenho nenhum parente de sangue, dói em dizer que sou orfã. - admiti.

Christopher: Cresceu num orfanato? - se asustou.

Assenti enquanto eu mesma me abraçava e olhava para o chão.

Odiava falar sobre isso.

Christopher me abraçou apertado.

Minutos depois ele beijou minha testa.

Christopher: Está melhor? 

Assenti.

Ele me fez sentar em uma das espreguiçadeiras e ficou em outra na minha frente.

Dulce: Não sei quem são meus pais ou o motivo deles terem me largado numa cesta na porta de um orfanato com um mês de vida. Não tinha um bilhete, nem um cordão, nada comigo, apenas uma fralda de pano enrolado em mim, nem meu verdadeiro nome eles deixaram. - o encarei - Conheci Maite lá, ela também foi abandonada como eu numa cesta, desde de bebês já nos conheciamos, bricavamos juntas, conforme iamos crescendo eu e ela erámos inseparáveis, irmãs, quando aparecia alguém para adotar alguma criança sempre davamos um jeito de não sermos adotadas e nos separar - dei um meio sorriso lembrando de nossas travessuras - Temos a mesma idade, mas eu sempre fui como a irmã mais velha, semprei cuidei dela - sorri.

Christopher segurava na minha mão prestando atenção.

Dulce: Quando tinhamos treze anos, o orfanato estava muito cheio e tiveram que transferir algumas crianças para outra orfanato, Maite e eu fomos duas das crianças e nesse outro orfanato conhecemos Zoraida, nossa outra irmã, ela tinha ido para lá com oito anos de idade após a morte dos pais dela num acidente de carro, ela é um ano mais velha que nos duas. Viramos inseparáveis e quando completamos quinze anos começamos a procurar emprego, logo teríamos dezoito anos e teríamos que sair do orfanato, já trabalhei de tudo nessa vida, trabalhei com limpeza, fui vendedora de roupa, sapatos, jóias, vendi bombom na rua, limpava carro, passeava com cachorros, fui babá, fretista, cuidadora de idoso, trabalhei num salão de beleza...- dei uma pausa - Enfim, nos três juntamos um bom dinheiro para quando sairmos do orfanato não termos que nos preocupar tanto.

Christopher: Nossa! - estava surpreso.

Dulce: Esse orfanato é muito bom, as vezes vou para lá visitar a diretora de lá e as crianças, não posso muito por causa do meu trabalho e ajudo como posso lá também, assim como as minhas irmãs. Zoraida foi a primeira a sair e conseguiu esse nosso apartamento, é alugado, depois foi a minha vez e a da Mai, começamos do zero, com quase nada no apartamento e aos poucos fomos imobiliando. A casa é de pobre mais bem limpa e honesta. Muito honesta. Nunca fizemos nada de errado.

Christopher: Vocês são incríveis. Você é incrível Dul.

Dulce: Se você acha...- me incolhi.

Christopher: Não acho. Você é. A forma como conseguiu se erguer junto com as suas irmãs é...incrível, muitas pessoas se perdem, fazem tudo ao contrário e vocês não. - sorriu.

Dulce: Zoraida ainda se lembra como é ter pais, mas Maite e eu não temos a mínima idéia como é isso. Nunca tivemos uma mãe, um amor materno ou paterno. Sempre foi só nos duas, nos três. E querendo ou não, falar sobre isso dói, tanto em mim como na Mai. Fomos abandonadas por aqueles que deveriam nos proteger, nos amar e....ser família. Por isso, que a minha família é apenas minhas irmãs. Por elas eu faria qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.

Chrtistopher tocou no meu cabelo com carinho.

Christopher: Desde que conheci Maite percebi que são muito unidas. Mas, você sente raiva dos seus pais? já foi atrás deles? Ou os perdõo? - perguntou curioso.

Dulce: A verdade é que nunca tive a oportunidade de ir atrás deles e também não quero Christopher. Confesso que na adolescência já tive raiva deles, mas agora...- neguei - Nem os julgo mais. Se eles me deram foi por algum motivo, mesmo que esse motivo seja não me amar, é um motivo. Não quero ir atrás deles, saber quem são ou descobrir o motivo. Já tenho uma família.

Christopher assentiu.

Christopher: É um direito seu pequena. 

Dulce: Me perdoo?

Christopher: Eu também exagerei, né?

Dulce: Você é bem difícil Christopher. - ri.

Christopher: Fiquei com muita raiva de você, achei que tinha me feito de palhaço.

Dulce: Nunca faria isso.

Christopher: Agora eu sei. 

Dulce: Enquanto ao namorado da minha amiga?

Christopher: Não gostei de saber que tem um cara sem roupa na sua casa.

Ri.

Dulce: Sem roupa? Ele só estava sem camisa.

Christopher: Não importa. - deu de ombros - E aliás, quando eu estava saindo uma senhora falou que não para homem dentro da sua casa. - ficou mais sério.

Dulce: Não acredito. - revirei os olhos - Falou com a dona Lolla? Aquela senhora me odeia e odeia as minhas irmãs. Ela não aceita que três moças morem sozinhas, ela é da idade da pedra e toda vez que nos ver fica falando essas coisas. Acha mesmo que sou garota de programa? - cruzei os braços.

Christopher: A verdade? Não! 

Dulce: Se eu falasse que sim ia te dá um tapa.

Ele riu.

Dulce: Estamos bem? 

Christopher: Estamos sim. - se aproximou mais do meu rosto - Acho agora posso te beijar, né?

Dulce: Deve me beijar. - sussurrei.

Christopher sorriu e me beijou lentamente.

Quase soltei um suspiro.

Estava com saudades daqueles lábios.

Segurei em sua nuca e aprofundei mais o beijo.

[...]

Christopher: Entregue pequena. - parou o carro em frente ao meu prédio - Podia dormir em casa.

Dulce: Final de semana. - o lembrei. - Tenho que estudar para sexta. Com tudo isso, acabei deixando de lado porque estava sem cabeça para isso.

Christopher: Por minha culpa. - suspirou.

Dulce: Relaxa. - toquei em seu ombro - Ainda tenho dois dias para estudar.

Christopher: Mesmo assim não deixa de ser minha culpa. 

Dulce: Eiiii...já fez tanto por mim. Está tudo bem. - sorri. - Agora tenho que ir.

Christopher me beijou mais uma vez.

Dulce: Boa Noite! E manda uma mensagem dizendo que já chegou, ok? - sai do carro.

Christopher: Tá bom. Boa Noite! - sorriu.

Assim que entrei no prédio ele deu a partida.

Suspirei.

Enfim, estava tudo bem novamente.

Eles estão bem novamente *-*

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