Fanfics Brasil - 1 | O Suicídio Bodypunkers

Fanfic: Bodypunkers | Tema: Poder sobre-humano.


Capítulo: 1 | O Suicídio

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Eu queria sumir com frequência.


Quando estava diante da turma com discursos que considerava abomináveis, quando recebia um fora daquela garota que quis por meses, quando fazia algo estúpido que merecia o troféu de Imbecil do Ano. Vinte e dois de novembro, pleno 2014, não podia ser diferente... Eu só queria sumir, entregar-me à morte.


A Morte, àquela que nenhum ser no Universo é capaz de subjugar.


Minha vida tinha seus lados bons, mas eu ignorava-os e eram aniquilados no meu niilismo. O meu problema sempre foi pensar demais, e eu acreditava que na morte poderia finalmente calar aquela voz que estava sempre ali, dentro de mim, me obrigando a pensar e analisar.


Eu estava sentindo raiva de tudo e todos por meses, acho que era depressão... Quando você quer desaparecer, não sente fome, não faz nada que te diverte e não se importa com nada é considerado depressão? Bem, dane-se, não importava. Também pode chamar de adolescência, acho, porque eu era, e ainda sou, desgraçadamente racional para entrar em depressão. E eu questionava, “se entra nisso, como se fosse porta ou buraco?”, porque num determinado instante eu apenas me percebi daquela forma.


Tomei a decisão de acabar com tudo naquele dia...mas aquele dia foi o limite da loucura.


Não enlouqueci, do contrário não estaria escrevendo isso com tal destreza. Ou não. Quem sabe. Loucura nunca foi atestado de retardo mental. Porém, creia, eu sou uma imbecil.


Eu pensava em suicídio com frequência. Queria que fosse algo bem feito, que meu corpo não fosse achado, ou que fosse encontrado mas não destruído, porque era para morrer e não causar transtorno para a minha família. Também não queria sentir dor, ou sequer pensar sobre a dor que me levou até lá.


Bem... Eu estava . A pilha de remédios na minha mão, o copo na outra, no meu quarto de paredes brancas e sujas, acompanhada da solidão idiota de quase sempre. Então, como a boa imbecil que sou, comecei a relembrar minha vida. Ah, não era meu plano, mas não consegui evitar.


Eu era alguém tão triste que certa vez um desses caras, sabe, esses caras que fazem benzimentos e essas coisas que todos dizem ser dons divinos, bem, o desgraçado disse que eu era alguém tão triste que o fazia chorar só por estar perto. Respondi para ele que estava trabalhando nisso. Menti. Meus amigos também ouviam o mesmo, mas no fundo, era mentira. Sentia-me patético e acho que sentir daquela forma só piorava.


Eu chorei enquanto as perguntas sem resposta voltavam na minha cabeça, as mesmas perguntas e afirmações da minha vida inteira que nunca consegui ignorar. Chorei tanto que meu peito apertou e eu quis gritar de tanta dor. Agarrei o copo e esmaguei os remédios quase sem perceber. Eu estava surtando sem me permitir um único som. Não queria que ninguém visse minha dor, nem eu mesmo -- e eu era o único para vê-la. Não queria ninguém com pena. Nunca pedi por ajuda... Não com palavras, mas as pessoas são cegas demais para ver os atos e nunca fui bom com auto-ajuda.


Coloquei aquele amontado de remédios na boca. Eu tinha planejado bem, seria uma morte letárgica e sonolenta. O gosto era nojento porque se misturou ao excesso de saliva que corria na minha boca e minhas mãos sujaram com o que escorria do meu nariz por causa do choro. E eu vi no espelho meus olhos. E eu vi no espelho, nitidamente, cada artéria, veia e vaso sanguíneio embaixo da minha pele como se ela não existisse no meu rosto.


Engasguei.


Cuspi.


Não gritei.


Eu ri.


Não havia maconha, álcool, LSD ou qualquer outra porcaria que usava para fugir dessa realidade estúpida que vivia. Aqueles remédios não fariam tal efeito. Não era uma alucinação. O copo caiu da minha mão porque eu a abri ao notar que a pele não estava ali, os cacos de vidro se espalharam, eu apertava minhas mãos uma contra a outra olhando sangue e músculos descbertos se movendo, mas a textura ainda era a mesma...


Tornei a encarar meus olhos no espelho.


Tocava desesperadamente meu rosto e ainda sentia minha pele ali. Minhas carnes cheias de nervos sumiam para mostrar ossos. Eu agarrava para pegar os pedaços à mostra, mas ainda era minha pele que tocava. As pontas dos meus dedos iniciaram o mesmo processo.


O horror travou na minha garganta.


Ousei olhar para baixo. A visão do meu estômago aberto, o intestino com as longas tripas enroladas, os movimentos do meu corpo que eu nem percebia, meu coração pulsando, empurrando sangue... Minha calça se mantinha ali, como se nada estivesse acontecendo comigo, eu imaginei como seria tirar o coturno, se meus pés estavam...


Quando olhei ao espelho, vi meus olhos dando lugar ao vazio rosa atrás deles, abri a boca para talvez gritar, mas calei porque nem meus dentes estavam ali, apenas a gengiva que ia... O sangue sumia como se fosse absorvido por um pano tão... Tão invisível quanto o que eu me tornava lentamente.


Irremediavelmente.


Não doía. Porque queria que parasse?


Era a sensação da morte. Do nada. Eu via minhas roupas ali sem meus orgãos, eu via a parcela do remédio que tinha engolido, mas por desespero mal tinha engolido até aquele instante, deslizando pela minha garganta inexistente e sumindo. Eu tinha sumido. Meus coturnos ainda estavam ali, minhas roupas todas em seu lugar, mas eu... Eu... Eu não.


Eu não!


O desespero estava impregnado no meu corpo, eu semtia todos meus músculos tensionados e ao invés de gritar, estava estático e racional.


Me despi e me aproximei tanto do espelho que quase o atravessei. Mas não, sei lá por qual ironia da alucinação real, eu não tinha sumido do mundo físico. Eu não tinha reflexo, cor, ou sei lá. Infernos! Tentei os outros espelhos da casa, os vidros do carro do meu pai, tentei ver sombras concentrando as luminárias num único ponto.


Nada. Eu era nada. Nada como me sentia. Nada como eu era, de fato.


Eu sempre fui um imbecil, e como esse bom imbecil que pensava demais voltei para o quarto e fiquei sentado analisando o nada entre a minha cama e o espelho.


Eu ri mais. Tive a ideia de pegar meu telefone e gravar um áudio, então executá-lo: minha voz estava ali. Se eu estava de fato invisível, por que ainda enxergava, contrariando as leis físicas da ótica? Mas meu corpo ainda era o nada sem reflexo ou sombra entre a cama e o espelho, era o peso invisível que afundava o colchão com o exato formato da minha bunda.


Eu gargalhei apesar do desespero estar me fazendo tremer.


Algo mudou naquela noite. Muito, muito mais importante do que tudo que tinha certeza que faria em posse daquela capacidade surreal de desaparecer no exato momento pré-suicídio. Eu morri, de fato, não duvide, mas isso não é relevante agora.


Eu tinha me tornado algo.


Agora sou algo.



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Autor(a): alephchains

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