Fanfic: O Despertar dos Sentidos | Tema: Romance, Policial, Violência, Comédia, Drama, Festa, Musical,
A noite quente do dia quinze de dezembro de mil novecentos e noventa e cinco, está estrelada e a lua cheia muito brilhante ilumina o céu. Uma adolescente de dezesseis anos observa os astros da imensidão celeste.
Simone Andrade possui cabelo levemente cacheado, castanho na altura do ombro, que neste momento está preso como rabo de cavalo. Olhos castanhos tristes, escondidos por óculos rosa claro com formato circular, que quase lhe esconde todo rosto. Lábios carnudos, pele clara com algumas marcas de espinhas e sem qualquer maquiagem. Corpo esguio e altura mediana. Vestida com uma camiseta branca de uniforme escolar, calça jeans clara, um tênis simples preto e nenhum acessório a enfeita. Carrega consigo um caderno universitário e um estojo pequeno preto.
Vive em uma cidade do interior do estado de São Paulo, chamada Sumaré, com traços de cidade provinciana. Porém, como faz parte da região metropolitana de Campinas é bastante movimentada durante o dia.
A jovem acabara de sair da escola estadual, onde estuda o segundo ano do ensino médio, e retorna para casa sozinha, como sempre faz. A escola não é muito distante de sua casa, apenas quinze minutos de caminhada normal, contudo, nesta noite seus passos estão mais lentos, tentando demorar o máximo possível para chegar à sua casa.
Enquanto admira a lua, se perde em seus pensamentos, lembrando dos últimos meses de sua vida, das coisas que havia feito e nas coisas que estavam acontecendo. Suas emoções afloram com tais lembranças e seus olhos se enchem de lágrimas.
Dedicava-se sempre a fazer as vontades da sua mãe, Maria Lucia Andrade, uma mulher de trinta e seis anos, rigorosa, com muitos ressentimentos de um passado infeliz que sempre tenta esquecer. Por causa disso, seus olhos demonstram tristeza como os de sua filha. Suas feições se parecem muito com Simone, porém sua estatura é mais baixa, seu corpo acima do peso ideal e não usa óculos. Por mais que Simone se esforçasse em fazer tudo que sua mãe lhe mandava, da forma que lhe era pedido, para ela, as coisas nunca estavam boas o suficiente, por isso, a jovem sempre sofria com maus tratos verbais e físicos.
Naquele ano, Simone conheceu seu primeiro namorado, Ricardo Martins, de dezenove anos, aluno do primeiro ano de Ciências Econômicas da USP. Um verdadeiro “filhinho de papai”, possuidor de um Escort XR3 branco conversível, um objeto que ele nutria um ciúme absurdo.
Em meio aos seus pensamentos, a jovem começa a lembrar-se da noite em que o conheceu. Uma festa em que fez um verdadeiro malabarismo para ir e sofreu muito por isso.
Era a última sexta-feira do mês de maio e seu pai, Pedro Andrade, operador de máquina numa tecelagem da cidade, um homem trabalhador e esforçado, mas que guarda escondido em sua alma uma infelicidade por acontecimentos do passado.
Naquela noite ele havia dado à Simone dinheiro para comprar uma camiseta do uniforme escolar e um caderno. Porém, chegando à escola, seus amigos lhe deram uma notícia maravilhosa: não iria ter aula para sua sala, pois muitos professores haviam faltado por causa de uma greve.
Alguns de seus amigos como, por exemplo, Cesar Henrique Guedes, Breno Moreira, João Paulo Ribeiro vulgo JP, Aline Pereira Godoy com seus irmãos mais velhos e gêmeos, Tiago e Guilherme, Melissa Gomes, Ilhane Costa Gonçalves e Gabriella Ferreira começaram a especular sobre o que iriam fazer. Ilhane foi a única que disse que teria que ir para casa, todos os outros dizem que irão para o baile no Clube da cidade que está sendo patrocinado pela rádio da cidade vizinha Americana. Simone deseja muito ir, mas tem medo de sua mãe. Aline insiste para ela ir:
- Ah, Simone! Vamos com agente. Te empresto a roupa, sandálias, te maquio e você deixa seu material na minha casa, que na segunda, te trago. O problema vai ser só o dinheiro para a entrada.
- Pelo dinheiro não precisa se preocupar que eu posso pagar sua entrada Simone. – Cesar fala com brilho estranho nos olhos.
- Não precisa, Cesar – Simone responde toda encabulada – Tenho o dinheiro que meu pai me deu para comprar um uniforme novo.
- Então, Simone, vamos? – diz Aline toda feliz batendo palmas.
- Eu não sei. Quero ir, mas... – Simone coça a cabeça.
- Mas o quê? – interroga Aline com olhar severo, e pega as mãos de Simone – Olha! Você vai e pronto!
Aline e todos os outros amigos insistem tanto para ela ir junto, que Simone se dá por vencida e resolve ir também. Então, todos se despedem e Simone segue para a casa de Aline, que fica exatamente atrás da escola, e são seguidas de perto pelos irmãos de sua amiga, enquanto os outros vão para suas casas para também se produzirem para a balada.
Aline possui a mesma idade de Simone. Seus corpos são semelhantes exceto pelos seios que são um pouco mais volumosos em sua amiga. Seu cabelo é longo, loiro e levemente cacheado, olhos verdes, a pele muito branca e cheia de sardas no rosto. Extrovertida, adora uma festa e dançar. Simone a considera uma boa amiga, apesar de não ser a melhor.
A casa de Aline é simples, com três quartos, uma sala de estar pequena, cozinha também pequena, uma garagem onde fica o carro da família, um Fusca amarelo, e um quintal grande com algumas plantas, onde também fica a lavanderia. Os móveis têm aspecto de muito usados, algumas plantas e flores adornam a entrada da sala, cujo único enfeite é um quadro de Nossa Senhora Aparecida na parede que fica atrás do sofá maior. No quarto de Aline, as paredes são enfeitadas por pôsteres de grupos musicais, tais como Pearl Jam, Green Day, 4 Non Blondes, Ace of Base e de Double You. Além disso, apesar de ser um quarto de moça, ele não é arrumado.
Aline começa a revirar o guarda roupa a procura de uma roupa para sua amiga. Encontra algo de que Simone gosta muito, uma camisete branca com detalhes nas mangas curtas e na gola de cor preta e um desenho de coração preto e grande no meio da blusa com um ponto de interrogação branco dentro do coração, e uma minissaia preta não muito justa que faz conjunto com a blusa. A loira também empresta uma sandália preta de salto plataforma não muito alto, e um par de brincos pequenos com detalhe em coração.
Aline pede para sua amiga guardar seus óculos no estojo da escola e começa a maquiá-la. Depois, faz um penteado com trança “embutida” em seu cabelo. Quando finalmente Simone fica pronta, se olha no espelho e se surpreende, não acredita no que seus olhos veem. Uma moça linda e totalmente diferente daquela que estava acostumada a ver todos os dias.
Aline coloca um vestido vermelho curto e colante no corpo. Posiciona uma presilha na lateral do cabelo com desenho de borboleta prateada, coloca um par de brincos tipo argola no tamanho médio, sandálias de salto agulha prateada e maquia-se. Ao terminar de se embelezar, abre uma pequena fresta da porta do quarto e pergunta aos seus irmãos se já estão prontos, e eles já as esperavam impacientes na sala de estar.
A mãe dos irmãos, Dona Gertrude, é secretaria da escola onde eles estudam. Uma senhora muito simpática e acolhedora, cujo os olhos não demonstram qualquer tipo de reprimenda, diferentemente do que Simone estava acostumada a presenciar em sua mãe.
Ela avisa que irá levá-los ao clube. Então, abre a porta e se caminha para a garagem para tirar o Fusca, porém é detida por Tiago.
- Não precisa mãe. Nós vamos a pé. – Tiago resmunga para ela encostado no sofá pequeno.
- Precisa, sim! – Aline rosna ao sair do quarto, seguida por Simone – Não vou até a cidade a pé de salto alto.
Tiago e Guilherme, que ainda estava sentado no sofá maior, se assustam com a chegada da irmã na sala e ficam espantados com a beleza de Simone.
- Nossa! Simone, você está muito gata! – os dois falam ao mesmo tempo.
Simone fica vermelha como um pimentão e arregala os olhos, espantada com a declaração dos dois. Então sorri levemente e agradece com aceno de cabeça.
Guilherme volta sua atenção para irmã:
- Qual é Aline! Você já pensou que mico chegar com a mãe lá? E se algum amigo nosso nos ver?
- Não interessa! – ela esbraveja – Não vou a pé!
- Podem parar a discussão, vou levá-los e ponto final. – responde Gertrude pondo fim a discussão e continua – Já está tarde para andarem por aí sozinhos e, inclusive, quando terminar a festa vocês me liguem para buscá-los.
E mesmo com as reclamações dos gêmeos, todos entraram no carro e Dona Gertrude os leva. Porém, ao chegarem ao clube, percebem que este ainda não havia aberto suas portas. Aline convida Simone para beber um suco na lanchonete próxima, do outro lado da rua, enquanto seus irmãos vão para a praça, não muito distante, encontrar com os amigos.
Quando as duas entram na lanchonete Simone leva um susto, seu tio Carlos Eduardo, um rapaz de cabelo acinzentado curto, olhos esverdeados, corpo não muito magro, mas também não atlético, bem mais alto que ela e que tem uma diferença de idade de apenas nove meses com Simone e que também estuda na mesma sala de aula dela. Neste momento ele aguarda a abertura das portas do Clube com alguns amigos e amigas, e quando a vê a chama:
- O que está fazendo aqui, Simone? – pergunta num tom de reprovação e expressão severa no rosto.
- Eu vou para a festa. – murmura preocupada com o que ele irá dizer.
- Sua mãe sabe que você está aqui? – questiona rudemente.
- Não, e você não vai ligar para ela avisando que estou aqui! – Simone explode.
- Por quê? – ele fala fechando ainda mais a cara.
- Porque você sabe muito bem, que ela seria capaz de vir me buscar, e fazer o maior escândalo, e isso vai queimar meu filme.
- Ok! – Carlos Eduardo murmura levantando as mãos em defesa e continua – Você é quem sabe o que está fazendo. Depois não diga que não avisei.
- Tá. Já sei. – ela murmura se virando para voltar a ficar perto de Aline.
- Só mais uma coisa Simone. – ele fala chamando-a novamente.
- O que foi? – ela cruza os braços ao se virar para fitá-lo.
- Vou ficar de olho em você. – Carlos Eduardo fala ao colocar o dedo indicador perto do seu olho direito.
Simone se vira depois de mostrar a língua para ele e vai ficar com sua amiga. Nervosa e consternada, não sabe o que fazer. Tem tanto medo da mãe, medo do que ela pode fazer. Aline sente seu nervosismo, tenta acalmá-la, mas em vão. Simone estava decida a ir para casa, porém neste momento três de seus amigos chegam.
O primeiro é Breno Moreira, da mesma idade e altura de Simone, cabelo loiro acinzentado curto e liso, olhos azuis celeste, pele branca e corpo magro, vestindo calça jeans clara, camiseta preta sem qualquer desenho, tênis preto e boné preto. O segundo é João Paulo Ribeiro vulgo JP, um ano mais velho que Simone, rapaz que arranca suspiros das meninas de toda a escola onde estudam. Cabelo castanho escuro, liso e na altura do ombro, pele branca, bem mais alto que Simone, olhos verdes como duas pequenas esmeraldas, corpo atlético, um verdadeiro galã de cinema americano. Veste roupas muito parecidas como a do primeiro amigo. E o terceiro, e mais importante de todos para Simone, Cesar Henrique Guedes, que tem a mesma idade dela, com cabelo castanho escuro quase negro liso e curto, olhos na cor mel meio esverdeados, pele muito branca, com marcas de espinha e sardas pelo rosto, magro e da mesma altura que JP. Veste calça jeans escura, camiseta preta com desenho do grupo de rock Guns N’ Roses e tênis preto.
Simone sente um frio na barriga quando vê Cesar, além de ficar corada, sente que lhe falta chão e suas pernas tremem feito gelatina, e o pior é que sente isso tudo todas as vezes que o vê.
Os três ficam boquiabertos quando veem Simone. Cesar é o primeiro a se aproximar dela e lhe dá um beijo na bochecha e diz com um sorriso radiante:
- Está muito linda Simone!
- Obrigada. – ela sussurra timidamente.
- Realmente está muito linda Simone. – murmura JP depois de cumprimentá-la.
- Eu não te disse que você ia arrasar? – Aline confidencia no ouvido de Simone.
Simone dá um tapinha no braço da amiga e com um sorriso deslumbrante Aline cumprimenta os amigos.
- Acho que a Simone sempre foi bonita, a gente que não percebeu antes, porque ela nunca se arruma. – Breno murmura depois de cumprimentar Simone.
- Bom, acho que vocês estão exagerando. Mas, em todo caso, agradeçam a Aline. – Simone fala abraçando a amiga e abrindo um leve sorriso.
Neste momento o som começa a tocar dentro do Clube, uma batida de música eletrônica deixa a todos eufóricos e cinco minutos depois as portas se abrem. E Aline pergunta com uma expressão desafiadora no rosto:
- E então, Simone? Você vai embora ou vai entrar com a gente?
- Como assim?! Você não vai entrar? – pergunta Cesar, espantado com aquela revelação.
- É ruim, hein?! Depois de ouvir o batidão e ver todos aqui, vou entrar sim! – exclama com um sorriso de orelha a orelha.
- Então vamos, galera. – JP fala olhando para a entrada do clube.
Todos partem zoando em direção ao clube, brincando uns com os outros muito felizes. Muitas outras pessoas chegam de todos os lados, inclusive mais alguns amigos de Simone. Alguns carros também começam a chegar e a estacionar próximos da entrada do clube, e um Escort XR3 branco conversível quase atropela Simone que se assusta e olha para seu motorista, mas não consegue visualizá-lo com perfeição, principalmente porque a capota está levantada e os vidros fechados, porém este consegue vê-la perfeitamente. Aline puxa a amiga pelo braço, enquanto o carro segue seu caminho:
- Essa foi por pouco! Que motorista louco. Você conseguiu ver como ele era?
- Não. – ela responde ainda olhando para o carro que estava estacionando distante da entrada do clube.
- Ah! Deixa isso quieto. Vamos!
E as duas continuam seu percurso.
Uma fila logo se forma na bilheteria para a compra das entradas e, depois, para a revista dos seguranças. A fila da revista das mulheres anda separadamente da fila dos homens e as duas entram por portas separadas, em seguida todos se encontram da parte interna da entrada onde há uma grande porta de vidro preto.
Simone fica maravilhada com todo aquele lugar que até então nunca havia estado. É um ambiente em forma circular de dois andares, a entrada fica no andar superior onde há um bar repleto de bebidas variadas do lado direito da entrada, um pouco mais à frente, do lado direito da escada, que desce, há uma abertura circular de onde as pessoas podem observar quem está no piso inferior onde fica a pista de dança. Do lado esquerdo da escada há um corredor que também pode ver o andar inferior e que também leva a um local mais escuro que os outros ambientes. “Provavelmente o local da pegação” Simone pensa ao observar o lugar. Um portal mais à esquerda da entrada leva a um salão com iluminação sutil e alguns sofás.
A escada com tapete vermelho fica exatamente de frente para entrada principal. Simone desce observando maravilhada as luzes que vibram ao som da batida da música eletrônica, algumas lâmpadas de luz negras espalhadas pelo salão deixam sua blusa branca com uma cor neon linda dando um efeito eletrizante com o coração preto e os detalhes também em preto. O palco com as caixas de som, a mesa do DJ e do técnico da iluminação fica do lado direito da escada bem ao fundo. E a pista de dança, que também é em forma circular, fica bem no meio entre a escada e o palco. Uma máquina de fumaça próxima ao palco e uma luz laser verde dá um tom mais charmoso ao ambiente. Do outro lado da pista bem ao fundo há um corredor largo com várias mesas com boa iluminação e outro bar um pouco menor que o primeiro, porém também bem equipado com bebidas variadas.
Simone sente uma euforia que jamais havia sentido na vida, seus olhos brilham e um sorriso fascinante ilumina seu rosto. Aline e outras de suas amigas a puxam para a pista e começam a dançar. Um grupo de rapazes e moças começa a dançar alguns passos ensaiados, e Simone começa a acompanhar, é um pouco difícil, mas aprende rápido. Ela dança várias músicas eletrônicas que fazem muito sucesso nas rádios. E depois de tanto dançar vai ao bar do andar superior e compra um refrigerante. Enquanto ingere sua bebida, observa pela abertura superior as pessoas dançando em baixo. É neste momento que vê Cesar, Breno e JP próximos do palco dançando, “Eles estão dançando?”, ela pensa, “Eles estão só pulando!” E começa a rir sozinha daqueles três palhaços.
Ela termina sua bebida e volta para pista, já não era mais o mesmo passo ensaiado, mas sem nenhum problema também o aprende.
A música que toca neste momento é “The Sing” do grupo Ace of Base. Enquanto dança, sente em sua cintura as mãos de alguém que a acompanha no passo, ela dá uma olhadinha rápida e vê um rapaz muito bonito, bem mais alto que ela, pele morena, cabelo curto liso e negro, olhos meio puxados e negros, lábios carnudos, corpo atlético, ou seja, traços indígenas bastante acentuados e com um sorriso de tirar o folego de qualquer garota.
Ela decide deixar que ele continue e também faz o mesmo com ele, quando se viram durante a dança. Em seguida começa a tocar “All That She Wants” do mesmo grupo musical e os dois continuam a dançar da mesma forma, um conduzindo o outro durante os passos semelhantes ao anterior. Quando a música termina, ele pega a mão dela e à conduz para o lado da escada. Leva-a ao bar do piso superior e pergunta com uma voz sedutora em seu ouvido:
- O que você quer beber?
- Um refrigerante. – ela responde timidamente em seu ouvido.
- Não quer algo mais forte?
- Não, obrigada, não bebo bebida alcoólica, não tenho o costume.
- Ok. Qual é seu nome?
- Meu nome é Simone.
- Bonito nome, o meu é Ricardo, mas pode me chamar de Rick.
- Muito prazer, Rick.
- O prazer é todo meu! – e com essas palavras ele dá um beijo demorado no rosto de Simone deixando-a ainda mais tímida.
Depois de pegar as bebidas ele a convida para irem ao salão onde há os sofás, ele a deixa sentar primeiro e se senta colado a ela:
- Antes de tudo, Simone, quero lhe pedir desculpas.
- Desculpas, por quê? – pergunta depois de beber quase a metade da bebida.
- Por eu ter quase atropelado você. – murmura sorrindo debilmente.
- Então, era você?! – ela responde espantada.
- Sim! Você não conseguiu me ver? – pergunta franzindo o cenho e depois experimenta sua bebida esperando a resposta.
Simone dá uma risadinha e então responde:
- Eu tenho um pouco de dificuldade para ver à noite se estiver sem meus óculos!
- Então você usa óculos? – ele fita seus olhos e sorri.
- Sim. É um óculos sem graça, grande, não gosto dele. – murmura olhando para sua mão livre em seu colo.
- Pois aposto que você fica muito bem com ele. – responde e depois dá outro gole em sua bebida.
- Hum... Acho que não. Minha amiga Aline mandou tirar ele e escondê-lo. – responde ao fixar seu olhar no dele.
- É porque assim, podemos ver o quanto seu rosto é lindo. – ele fala acariciando o rosto dela com as costas de seus dedos longos e finos.
Simone dá uma gargalhada fazendo com que ele abaixe a mão espantado pela reação dela e então ela fala:
- Linda?! Eu?! Acho que é você que precisa de óculos!
- Pois o que eu vejo, e enxergo muito bem por sinal, é uma moça linda, charmosa, com um sorriso lindo e uma gargalhada deliciosa.
Simone abaixa a cabeça envergonhada com as palavras dele, então ele pega o queixo dela e a faz olhar fixamente em seus olhos:
- Tão linda que não consigo resistir aos seus encantos!
E num impulso ele a beija deixando-a surpresa e ainda mais tímida.
- O que foi? – ele pergunta se afastando e percebe o constrangimento dela.
- Ah... Nada não. – responde olhando novamente para a mão livre em seu colo.
- Por favor, me fala. Não gostou do beijo?
- Não é isso! Eu gostei. Na verdade... É que... Nunca beijei ninguém. – depois de responder ela cobre os olhos com a mão livre.
- Como assim? Nunca beijou? Por quê? – ele questiona tirando a mão dela do rosto e pega novamente em seu queixo forçando-a a olha-lo nos olhos.
- Não houve a oportunidade. – responde e volta a beber o restante de sua bebida tentando disfarçar seu nervosismo.
- Não se preocupe, não vou fazer nada que não queira fazer. – murmura com um sorriso fascinante nos lábios.
Simone suspira profundamente ao ver aquele sorriso e retribui com um sorriso acanhado, então termina sua bebida, dá um beijo rápido no rosto dele e levanta-se.
- Vamos voltar para pista. Quero dançar muito hoje! Quero aproveitar ao máximo minha primeira vez aqui! – ela fala pegando na mão dele e o puxando em direção à escada, ele ri e depois de terminar sua bebida, joga os dois copos na lixeira próxima a porta.
Ao saírem daquele espaço, Simone encontra com seu tio que a fuzila com olhar gelado. Ela por sua vez não dá atenção ao seu olhar e desce a escada puxando Rick, e ao chegarem à pista, ele pergunta em seu ouvido:
- Quem é aquele cara que estava te encarando?
- Meu tio Carlos Eduardo! Ele disse que vai ficar de olho em mim, provavelmente, para contar tudo para minha mãe depois.
- Então não posso mais beijá-la aqui, no meio de todos? – murmura com tristeza na voz e faz biquinho.
- Acho melhor não. – responde e depois dá um grande sorriso para ele.
E assim Simone e Ricardo continuam a dançar e apenas trocando olhares e sorrisos.
Após algumas músicas, ele pergunta se ela está com sede e novamente eles vão para o bar do piso superior. Enquanto bebem, observam as pessoas na pista de dança pela abertura superior, então Rick murmura em seu ouvido:
- Você tem namorado Simone?
- Não. – responde simplesmente.
- Sério?! Não acredito!
- É verdade! Não tenho, mas... – ela responde, então volta a olhar para a pista e observa o grupo de amigos perto do palco.
- Mas o quê? – pergunta todo curioso.
- Eu gosto de alguém, que inclusive está aqui esta noite.
- É mesmo! E quem é?
Ela aponta em direção ao palco:
- Está vendo aqueles três tontos que só ficam pulando perto do palco?
- Sim. – responde olhando para o grupo de rapazes.
- É aquele que está no meio, de camiseta preta do Guns e sem boné.
- E ele? Não gosta de você?
- Acho que não.
- Pois então você tem que esquecer ele. Não acha? – pergunta sorrindo maliciosamente.
- É! Eu acho. Mas é difícil.
- Talvez eu possa te ajudar. – ele faz carinho no rosto dela com as costas dos dedos.
- É mesmo. – responde com um sorriso irônico – E como você pode me ajudar?
Neste momento ele a beija profundamente deixando-a sem ação por alguns instantes, até que em um ato de autopreservação, ela o afasta e diz:
- Não posso! Meu tio Carlos Eduardo pode ver.
- Então vem comigo! – e a conduz ao local mais escuro do clube.
E realmente é bem escuro, ela mal pode ver onde estão as pilastras de sustentação do andar inferior e superior e as paredes, porém ele a conduz perfeitamente como se conhecesse o local como a palma de sua mão. Ele encosta-se à parede, abraça-a e pergunta em seu ouvido:
- E aqui? Você pode me beijar? Acredito que aqui ninguém pode ver você!
- É, realmente... – e antes que pudesse terminar a frase ele a beija, abraça-a firmemente enquanto ela segura em seus braços sentindo seus músculos bem definidos. Ele começa a fazer carinho primeiro em seu rosto, depois em seu cabelo, então suas mãos começam a descer pelo corpo de Simone, passando pelos ombros, braços, depois volta para os ombros e desce para a cintura dela. Neste momento, Simone se afasta interrompendo-o:
- Ei! – ela fala arfando – Vamos com calma, sim!
- Já disse para não se preocupar. Não vou fazer nada que você não queira.
- Acho bom mesmo! – responde tentando controlar sua respiração.
- Estou apenas querendo sentir sua pele. – sussurra esfregando o nariz em seu rosto e depois em seu pescoço, depois volta para à falar em seu ouvido – É tão suave! E você tem um cheiro muito gostoso.
Ela dá uma risadinha encabulada, então ele a abraça mais forte e continuam a conversar sobre a vida dele com um pouco mais de privacidade e trocam beijos ocasionalmente até que começa a tocar a música “Everybody” do DJ Bobo. Simone empolga-se e fala:
- Adoro essa música! Vamos voltar para a pista?! – e sai puxando Rick pelo braço, que começa a rir.
Eles dançam a música e ao final desta, começa a tocar outra que Simone vibra ao ouvi-la, “The Rhythm Of The Night” da Corona. Mas, antes que pudesse continuar dançando, ela é interrompida por Carlos Eduardo, que a puxa pelo braço até as escadas e fala alto para que ela possa ouvi-lo:
- Onde você estava?
- Estava dando uma volta! – ela responde tentando se soltar dele.
- Já te falei que estou de olho em você! – ele rosna fuzilando-a com o olhar gélido.
- Já sei que quando você puder, vai falar tudo o que acontecer aqui para minha mãe! – ela dispara ainda tentando se soltar dele.
- Não é isso! Estou cuidando de você. Você nunca saiu para lugar algum, e por isso é muito inocente! – e dizendo isso dá uma olhada feia para Ricardo que está perto o suficiente para ouvi-lo, mas nem se abala com o que ele diz.
- Pois não se preocupe que estou bem. – ela responde, olhando para Ricardo.
- Quando as luzes se acenderem, você vai embora comigo.
- Tá! Tá! Agora vai se divertir e me deixe em paz! – responde voltando-se para Carlos Eduardo que finalmente solta seu braço.
E com essas palavras Simone entra no meio da multidão dançante seguida por Ricardo, e ficam bem próximos do palco e, com isso, acaba por deixar-se ver por Cesar que quando a vê, para de dançar e observa atentamente franzindo o cenho ao constatar que ela está acompanhada.
Neste momento inicia-se a seção de músicas românticas começando por “Ordinary Word” do grupo Duran Duran, e, com isso, a multidão dançante diminui, e ficam na pista apenas os casais, incluindo Simone e Rick que a envolve em seus braços e cola seu corpo ao dela. E sem se importar com mais nada e com ninguém, ela o beija surpreendendo-o e com isso, ele a abraça mais forte.
- Xi! Acho que você perdeu Cesar. – Breno fala cutucando o amigo.
- Perdi o quê? – ele responde fingindo não entender, porém não tira seus olhos de Simone.
- Perdeu a chance de conquistar Simone.
- Que conquistar nada! Me deixe em paz! – responde e sai em direção ao bar do piso inferior.
- Que bicho mordeu o Cesar? – JP pergunta sem entender nada.
- Foi o bicho do ciúme. – Breno responde rindo e apontando para onde se encontra Simone com Rick aos beijos.
Cesar pega um refrigerante volta para perto da pista e observa atentamente ao casal que lhe mais interessava. Neste momento a música muda e começa a tocar “Come Undone” do mesmo grupo anterior. Simone, que não beijava mais Rick, empolga-se com a música e vibra com ela. Rick dá uma gargalhada e a faz dar um rodopio e a abraça novamente. Cesar não gosta do que vê e por causa de sua ira, acaba amassando o copo plástico que ainda continha um pouco de refrigerante, derramando um pouco em sua mão, deixando-o ainda mais nervoso.
Durante esta música, Simone e Rick dançam, abraçam-se e beijam-se mais uma vez. Porém, ao acabar a música, ele pede para Simone lhe esperar ali, pois necessita ir ao banheiro. E sem que ele percebesse é seguido por Cesar.
- Quais são suas intenções com a Simone? – Cesar rosna ao abrir a porta do banheiro junto com Rick.
Ricardo se assusta com a interrupção e olha Cesar dos pés à cabeça e responde com desdém:
- Não é da sua conta.
- É da minha conta, sim! – ele dispara ainda mais nervoso.
- Por quê? Você é namorado dela?
- Não... Mas... – ele murmura.
- Mas nada! Eu sei que você não é namorado dela. Então você não tem direito algum sobre ela. E se ela quiser, eu sim, quero namorá-la. É uma garota incrível, totalmente diferente de qualquer uma que já conheci! Portanto, não me amole, cara.
E com isso, Rick entra no banheiro, deixando Cesar irritado e falando sozinho. Enquanto isso, na pista de dança, Aline se aproxima de Simone e fala alto sorrindo maliciosamente:
- Até que enfim ele te deixou um pouco sozinha, amiga.
- Quem?
- Ora, quem? Aquele pão delicioso que estava te abraçando e beijando! – responde cruzando os braços.
- Você viu?! – pergunta olhando ao redor.
- E quem não viu amiga! Um beijão daquele e você pensou que ninguém iria ver?
- Pois é. Eu também me deixei levar, e não resisti ao charme dele. – responde encabulada e coloca a mão no rosto.
- Não precisa se envergonhar de nada! – Aline exclama tirando a mão de Simone de seu rosto e continua – É assim mesmo que acontece. Agente conhece alguém, que nos deixa ensandecida, e rola. E o bom disso tudo é que se der continuidade, você pode esquecer esse amor platônico que sente pelo Cesar.
- Mas não é amor platônico. Eu realmente o amo!
- É mesmo? Então por que beijou o carinha na frente do Cesar?
- Para ver se ele iria sentir ciúme ou qualquer coisa, e assim quem sabe ele iria dizer que gosta de mim. – responde dando de ombro.
- Então você está usando o carinha? – sibila dando um tapinha no braço de Simone.
- Não! Bom. Só um pouquinho. – responde rindo da situação – Mas de qualquer forma, ele é gentil comigo e quem sabe pode até ser que continue, ou sei lá, talvez seja algo de uma noite apenas. Não sei! Só sei que quero aproveitar ao máximo esta noite.
- Tudo bem. – Aline fala dando de ombro e continua – Agora quero te perguntar, você vai voltar com agente?
- Não. Infelizmente meu tio disse que vou embora com ele.
Neste momento Rick retorna e Simone faz as apresentações:
- Aline. Este é Ricardo. Ricardo está é minha amiga, Aline.
- Muito Prazer. – ela responde apertando a mão dele e o beija no rosto.
- O prazer é todo meu. Mas pode me chamar de Rick. – responde, também dando um beijo no rosto dela.
- Simone, já que você vai embora com Carlos Eduardo. Agente se despede aqui!
- Como assim? Você vai embora com seu tio? Achei que eu ia te levar para sua casa! – Rick rosna indignado com a notícia.
Aline sorri e faz um sinal para Simone, que fica encabulada com a proposta de Rick.
- Não vai dar. Infelizmente vou ter que ir com ele.
- Tudo bem. – Rick encolhe os ombros, dá um longo suspiro e olha ao redor, então continua voltando a fitar os olhos de Simone – Mas não quero perder você de vista.
- Você não vai perdê-la de vista. – interrompe Aline sorrindo maliciosamente – ela, ou melhor, nós estudamos na escola Elysabeth.
- Eu sei onde fica. – Ricardo olha para Aline e sorri.
- E ela trabalha na prefeitura como patrulheira mirim.
- Aline! – Simone retruca cutucando a amiga.
- O quê, amiga! Ele quer saber como te encontrar depois. Eu tinha que falar, já que tenho certeza que você não iria dizer nada. Afinal de contas, vocês ficam muito bem juntos.
Simone começa a rir encabulada, Rick a abraça e beija seu cabelo, depois dá um grande sorriso para Aline e fala.
- Muito obrigada pelas informações, Aline. Você realmente é uma ótima amiga para Simone.
- Se precisar de mais informações sobre ela, pode deixar comigo.
- Mui amiga você, hein! – responde Simone, cutucando novamente Aline que dá uma gargalhada e se despede deles.
Durante o resto da noite, Simone fica dançando e azarando Rick com olhares, leves toques nas mãos, algumas palavras ao “pé do ouvido” acompanhadas de risadas, e alguns beijos. Tudo isso com olhar atento de Cesar que se mordia de ciúme.
Às três horas e trinta minutos da manhã, as luzes acendem e começa a tocar o estilo de música que Simone mais detesta. O pagode.
- Vou embora agora, Rick. – ela murmura em seu ouvido.
- Tudo bem. Vamos procurar seu tio.
- Não precisa, ele está bem ali. – responde apontado para o corredor onde ficam as mesas.
A saída que fica perto de onde ele estava também já estava aberta.
- Tudo bem. Mas você vai embora sem me dar um último beijo?
- Acho melhor não. – responde abaixando seu olhar para suas mãos.
- Ah! – diz ele pegando as duas mãos dela, e beijando os nós de seus dedos, e completa suplicando – Por favor?!
E com um sorriso encantador ela gesticula com a cabeça em consentimento ao pedido de Rick, então ele a abraça forte e a beija. Eles se despedem e ela vai em direção a Carlos Eduardo.
- Você já quer ir embora? – ela murmura.
- Sim. – responde com expressão insondável.
Então os dois saem e começam sua caminhada de trinta minutos até a casa de Simone sem trocarem palavra alguma. Ao chegar à rua dela, eles se despedem e cada um vai para um lado já que ele mora em outro bairro, porém bem próximo ao dela.
Com todos aqueles acontecimentos, Simone esquecera-se dos problemas que teria quando chegasse em casa. Ela entra no quintal e percebe que todos dormem tranquilamente, mesmo com a luz do quintal e da área de serviço estando acesa. E ela que não é boba, entra na casa na ponta dos pés sem fazer qualquer ruído.
Sua casa é modesta e não está concluída. Não tem piso de cerâmica, nem reboco nas paredes da cozinha, do banheiro e do quarto que divide com seus irmãos, Mariana de nove anos e Felipe de sete anos. A parede não tem chapisco e por isso é possível ver os tijolos totalmente desnudos. Na sala e no quarto de seus pais há chapisco na parede, quase todos os trincos das portas não funcionam. Há poucos móveis e todos são bem usados. Não existe qualquer enfeite por toda a casa.
Simone troca de roupa rapidamente e em silêncio, depois deita na cama superior da beliche que divide com sua irmã e adormece sonhando com luzes piscantes, braços fortes, olhos negros e atrevidos, e beijos molhados.
Às seis da manhã, sua mãe arranca-lhe as cobertas e a puxa da cama, fazendo cair de joelhos, começa a gritar e a puxar seus cabelos, batendo em sua cabeça e em suas costas com muita força, e também dizendo palavras do mais baixo calão relacionando-os a Simone. Então questiona o porquê ela ter passado a noite fora. Leva-a para sala aos tapas, socos e beliscões, agarra seu cabelo e suas orelhas com as duas mãos usando muita força, e então, começa a bater a cabeça dela contra a parede cheia de chapisco. Simone apenas chora com as dores, não consegue dizer palavra alguma, então sua mãe para com o espancamento e a joga no chão e rosna enraivecida apontando o dedo indicador para a filha:
- Você vai fazer todo o serviço da casa agora e sozinha! Não vai dormir! E a próxima vez que fizer isso, pode ter certeza que te mato!
E apesar de estar embriagada pelo sono que sente, Simone faz tudo o que sua mãe ordena naquele dia, sonhando com o próximo encontro com Rick que não tardou a acontecer.
Autor(a): s._santos
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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- É, sem dúvida aquele foi uma noite e um dia memorável. – murmura Simone em voz alta voltando seus pensamentos para a noite estrelada e iluminada pela bela lua de dezembro – E a noite de hoje está tão linda que quase me faz esquecer os problemas que tive depois daquela noite. E pensa novamente em Rick, com ele conheceu o amor ...
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