Fanfic: O Despertar dos Sentidos | Tema: Romance, Policial, Violência, Comédia, Drama, Festa, Musical,
- É, sem dúvida aquele foi uma noite e um dia memorável. – murmura Simone em voz alta voltando seus pensamentos para a noite estrelada e iluminada pela bela lua de dezembro – E a noite de hoje está tão linda que quase me faz esquecer os problemas que tive depois daquela noite.
E pensa novamente em Rick, com ele conheceu o amor físico entre homem e mulher, ou seja, a paixão, o desejo e tudo aquilo que algumas de suas amigas falavam tanto, mas seu verdadeiro amor é Cesar. Com este, estuda na mesma sala desde a sexta série do ensino fundamental, e ele não queria mais do que ser seu amigo, assim disse para ela uma vez, que acabou acreditando ser verdade, pois todos em sua sala sabem de seus sentimentos por ele, porém, jamais havia voltado a falar sobre tais assuntos novamente.
Depois que sua mãe soube de seu namoro com Ricardo, a vida de Simone transformou-se num inferno, estava presa às vontades de sua genitora que exigia que seus encontros com ele fossem apenas aos domingos à tarde, não poderiam sair para lugar algum. Por isso começou a faltar muito na escola, para ficar um pouco mais de tempo com Rick, e a causa de tantas faltas foi sua reprovação e por isso, teria que refazer aquele ano.
Ela acabara de saber dessa triste notícia e, além disso, por causa das preções que sua mãe fazia, terminara seu namoro com Rick naquele dia. Sentia-se tão sozinha, eram tantas as tristezas em seu coração que nem sua melhor amiga Ilhane conseguiu amenizar com seus conselhos, e seu único consolo nesta noite é a lua brilhante e maravilhosa que a ilumina durante seu percurso.
Quando falta menos de uma quadra para chegar, ela leva um susto:
- Simone! – ouve alguém gritar, olha para traz e vê um vulto andando de bicicleta, vindo em sua direção muito veloz. – Espera!
Seu coração acelera, sente suas pernas ficarem bambas e um frio percorre toda sua espinha, é Cesar. Ela aguarda ele chegar e pergunta tentando disfarçar sua surpresa e nervosismo:
- O que foi? Por que tanta pressa?
- Preciso falar com você! – ele fala ofegante e larga a bicicleta cair de lado ao descer dela – É verdade que terminou seu namoro com Ricardo?
- Sim. – responde com desdém.
- É que não aguentava mais vê-la com ele, quando você o apresentou para Ilhane e para todos nós como seu namorado, comecei a sentir ciúmes. Era horrível velos juntos, e todas as vezes que matava aula para ficar com ele, me sentia pior, não conseguia me concentrar na aula.
- Pois eu não entendo isso. – responde batendo o caderno de leve em sua cocha e fitando-o com olhar sério – Ficou muito claro na nossa festa de encerramento no final do ano passado, depois da nossa conversa, que você queria ficar com aquela patricinha da sua prima, ou será que você esqueceu?
- Eu sei o que disse, e descobri que não sentia nada por ela, era apenas amizade. Só me dei conta do que sentia por você, quando apareceu na escola com aquele mauricinho metido a besta!
- Você não tem o direito de falar assim dele! – ela rosna fechando a cara para ele e apontando o dedo indicador para ele.
- Desculpa... É que... Eu fico louco quando me lembro de ver vocês juntos. – murmura levantando as mãos em defesa.
- Ele é do bem, e não permito que falem mal dele perto de mim. Terminei com ele porque não aguentava mais as reclamações da minha mãe. Eu tô bolada com ela, por causa das suas perseguições, e agora nem sei como vou dizer que fui reprovada por falta. – fala baixando o tom de voz e abaixando a mão.
- É, fiquei sabendo disso também, mas não se preocupe. Se quiser te ajudo a recuperar tudo que foi perdido este ano, no próximo. Mas... – ele faz uma pausa, suspira profundamente olhando-a fixamente em seus olhos, então completa – Se não fosse pela sua mãe você iria continuar seu namoro?
- Sim. – murmura.
- Então você gosta dele? – murmura quase sem voz.
- Gosto. Mas... Mas... – sussurra e fica em silêncio então abaixa a cabeça para desviar seus olhos do olhar esperançoso de Cesar.
Com a mão esquerda, Cesar pega a mão direita de Simone que é a que está livre do caderno e do estojo, e com a outra pega no queixo dela forçando-a olhar em seus olhos:
- Vim aqui pedir uma chance. Quero namorar você.
Simone arregala os olhos, entreabre os lábios sugando o máximo de ar, sentindo seu coração acelerar com aquela última frase.
- Não quero mais ver ninguém te beijar a não ser eu.
Ele sussurra aproximando seu corpo ao dela, e fica com o rosto tão próximo do dela que eles conseguem sentir a respiração ofegante um do outro. E então ele completa num sussurro tão baixo, quase inaudível.
- Te amo Simone. – E a beija, um beijo doce e completamente apaixonado como Simone jamais sentiu com Rick.
Ela se surpreende com atitude de seu amado, sente que vai desmaiar, suas forças fogem de seu corpo, deixando o caderno e o estojo cair, e pensa “Deus obrigada por permitir sentir isso.”. Cesar sente sua fraqueza e a abraça forte. E seu abraço é retribuído, e agora ele tem certeza que realmente ela o ama e pensa “Obrigado Deus por me dar coragem para fazer o que tinha de fazer, para sentir o que estou sentindo.”.
Por alguns instantes eles esquecem tudo, esquecem-se de onde estão, esquecem-se das horas, entregues a aquele beijo e ao amor que sentem um pelo outro, porém ela se lembra de todos seus problemas e tentando se desprender do abraço e do beijo o empurra murmurando:
- Cesar... Espera... Não é assim que as coisas funcionam... Para, por favor...
- O que foi? Sei que você também me ama.
E torna a beijá-la, os dois se abraçam por uns instantes, mas ela o empurra com mais força desta vez.
- Não... Espera... Já disse que não é assim que as coisas funcionam. Hoje foi nosso último dia de aula, e tenho que acalmar as coisas lá em casa. Vamos deixar as coisas assim, por hora. Quando as aulas recomeçarem ai resolvemos o que fazer.
- Por favor, Simone. Olha vamos para minha casa conversar, meus pais estão viajando, podemos conversar em paz sem ninguém atrapalhar.
- Não, Cesar. Está tarde.
- Por favor! – ele pede ao beijar seu rosto e soltando o cabelo dela fazendo-lhe carinho – Prometo que não vamos demorar e é perigoso ficar na rua há esta hora. Vamos!
Ela consente com a cabeça e pensa “Com carinhos tão maravilhosos quem consegue resistir?”.
Simone pega seu caderno e estojo do chão e ele pede para sentar-se no quadro da bicicleta, para chegarem mais rápido a sua casa, que fica na mesma quadra da escola onde estudam, praticamente em frente a escola.
- Seu cabelo é tão cheiroso. – ele murmura no meio do caminho fazendo-a sorrir.
A casa de Cesar é de classe média alta, com muro alto e branco e um portão de ferro escuro totalmente fechado. Por isso não dava para ver nada pelo lado de fora a não ser dois pinheiros que sobrepujavam os muros da casa para serem vistos por qualquer um que passasse na rua. Ao entrarem Simone fica maravilhada com o espaço, há um grande jardim com uma variedade de flores, na frente do terraço de uma casa grande branca com detalhes em madeira, a direita da entrada ao lado da casa existe uma piscina pequena que deixa um pequeno corredor de passagem, entre ela e a casa, que dá para um espaço coberto com churrasqueira, e este corredor é também por onde se entra na casa utilizando a cozinha, que é exatamente a entrada que eles utilizam. Há também uma garagem coberta mais ao fundo e a direita da piscina, e estes são os ambientes esternos que Simone pode ver. Dentro da casa os móveis são modernos e de aparência nova, algumas plantas e flores enfeitam a cozinha e a sala, dois quadros de paisagem também enfeitam a sala.
Ao entrar na casa Simone se dá conta que realmente não há ninguém mais além deles dois, mas não se preocupa afinal está acompanhada daquele que tanto ama.
- Quer beber algo? Tem suco de laranja, refrigerante, vinho... – ele pergunta franzindo os olhos e coçando a testa.
- Um copo de suco está bom. – murmura olhando para todos os lugares menos para ele.
Ele retorna a cozinha e pega dois copos com suco. Ele bebe o seu todo de uma única vez, e Simone bebe apenas dois goles, pois está nervosa, seus joelhos tremem e sente frio do estomago somente de estar ali tão perto dele e sem ninguém mais por perto.
Cesar vai até um canto da sala onde está o aparelho de som e o liga, começa a tocar uma melodia que é muito conhecida por Simone “Ordinary World” de Duran Duran então ele pergunta ainda olhando para o aparelho:
- Você se lembra desta música?
- Sim. – murmura olhando para ele agora.
- E se me lembro bem é uma das suas favoritas. – sussurra, agora fitando-a com olhar sério.
- Como você sabe? – pergunta piscando várias vezes surpreendida com aquela afirmação.
- Esta música me mostrou o quanto amo você. Foi quando você conheceu Ricardo na festa do clube.
- E você se lembra disso? – pergunta incrédula.
- Disso e de muitas outras coisas, como por exemplo, no momento em que começou esta música e vocês começaram a dançar, você o beijou. Pensei que quem deveria estar ali recebendo seu beijo era eu e não ele.
- Fala sério que você viu isso! Aposto que foi a Aline que te contou. – responde depois de beber mais um pouco de suco.
- Ninguém me contou nada! – rosna e volta para a cozinha.
Deixando o copo vazio na pia, pega uma taça no armário e o enche com vinho tinto depois retorna para a sala e sem tirar os olhos de Simone bebe seu vinho até a metade, depois dá um longo suspiro e então apontando para o sofá murmura.
- Sente-se.
- Não será necessário, já vou embora. – sussurra ao olhar para o chão.
- Não! Por favor! – exclama exasperado, e pegando na mão dela a conduz ao sofá – Fique mais um pouco, quero conversar com você. Preciso falar... Falar a verdade para você.
- Tudo bem. – murmura sentando-se e olhando atentamente em seus olhos.
Cesar bebe mais um gole de vinho, fica de joelhos de frente para ela, pega em sua mão, e suspira profundamente.
- Foi naquele dia que descobri o que sentia por você. Depois de vê-la beijando outro, senti angustia, raiva, senti meu coração sendo despedaçado. Coisa que nunca senti antes.
Neste momento outra música também muito conhecida pelos dois começa a tocar, “Come Undone” do mesmo grupo. Ele olha para o aparelho de som e por alguns segundos fica apenas ouvindo a melodia com os olhos fechados e quando volta a olhar para Simone, ela percebe seus olhos brilhantes como se fosse chorar, então ele sussurra com a voz embargada pela emoção:
- E foi no momento desta música que a dor foi maior, por que percebi que poderia te perder para sempre. Vi sua vibração ao ouvi-la e ele rir por causa da sua atitude, então te fez girar, depois te abraçou, e dançando te beijou. Naquele momento minha vontade era te arrancar dos braços dele. Mas, tive medo... Medo de você me desprezar, que recusasse a ficar comigo. Fiquei em silêncio por causa do medo. Você parecia estar tão feliz ao lado dele.
- Realmente. Naquele dia estava muito feliz. – murmura acariciando o rosto dele – Mas minha felicidade não era por causa dele. Estava feliz por causa do lugar. Você sabe que nunca saio por causa da minha mãe.
Ela se levanta do sofá caminha em direção a janela para olhar o céu e a lua brilhante que ilumina o quintal e continua a falar:
- Estou sempre trabalhando sem poder me divertir como você e nossos amigos. Então aquela noite foi mágica para mim. Foi como um sonho lindo que, sinceramente, não queria acordar.
- Pois para mim foi a pior noite da minha vida! Foi como um pesadelo que parecia que nunca iria acabar. Mas, finalmente, acabou quando você confirmou que terminou com ele. – ele fala ao ficar em pé novamente sem para de olhar par Simone
- Você pode até achar que acabou o pesadelo, mas eu acho que não. Estou com uma bomba nas mãos pronta para explodir, que vai acabar comigo, exatamente no momento que falar para minha mãe que repeti de ano, por causa de falta. Ela vai se dar conta que estava matando aula para ficar com Rick.
- Esquece isso esta noite. – murmura abraçando-a pelas costas, e sussurra em seu ouvido – Quero que fique feliz comigo. Muito mais feliz do que naquela noite no baile.
Neste momento começa a tocar “Nothing Compares To You” de Sinéad O’Connor, e Cesar começa abalançar Simone como se quiser faze-la dançar. Ela sorri e começa a acompanhá-lo. Então ele a faz girar e com isso ela dá uma gargalhada gostosa, que o faz rir junto.
Ele adora as gargalhadas dela, era um riso solto sem qualquer constrangimento, um riso inocente que demonstra toda a alegria, que tem presa dentro daquele ser, tão cheio de vontade de viver, de ser feliz, de amar e ser amada. Nunca entendeu por que gostava tanto de vê-la rir até aquele momento.
Ele a abraça com força como se estivesse com medo de que ela fosse fugir e ela retribui o abraço. Fazendo movimentos lentos para acompanhar o ritmo da música ele acaricia seu cabelo e tira seu óculos, ela sente seu coração acelerar, com o um brilho malicioso nos olhos e o sorriso inebriante dele, e depois ele a beija profundamente, e novamente ela senti suas pernas tremerem e por um segundo acha que ira desmaiar, mas ele a segura mais forte. Parece que ele sabe exatamente o que ela sente e pensa. Sabe dos seus desejos mais íntimos e lentamente começa fazer carinhos em seu corpo.
Os beijos ficam mais intensos e os carinhos se transformam em caricias de amor e ao ritmo de “Woman In Chains” de Tears For Fears, ele delicadamente tira a camiseta dela e em seguida a dele, e as sensações ficam mais intensas, Simone o deseja tanto e ele sente esse desejo, por isso a pega no colo, ela se assusta e agarra no pescoço dele e os dois começam a rir. Ele a leva até seu quarto e a deita na cama.
No quarto de Cesar há apenas uma cama de casal simples de ferro branca, mas bem arrumada e um guarda roupa pequeno, porém as paredes são decoradas por vários pôsteres de grupos musicais como, por exemplo, Bon Jovi, Oasis, Green Day, Alice In Chains, Nirvana, Scorpions e Guns N’ Roses.
Ele tira o tênis e as meias dela em seguida faz o mesmo com seu tênis e suas meias. Depois a beija deslizando suavemente sua mão direita sobre o corpo dela, ao deitar-se a seu lado. Simone fica extasiada com o toque de suas mãos, e também faz um passeio pelo corpo dele com suas mãos, sente o corpo dele estremecer ao seu toque.
Ele a beija novamente, um beijo que a fez esquecer-se de tudo ao seu redor, seus sentidos eram unicamente para aquele momento sublime. Então ele desabotoa sua calça e a tira, ela faz o mesmo e as caricias ficam cada vez mais intensas, os beijos, as mãos tentando de alguma forma decorar as formas do corpo um do outro. Ele solta o fecho do sutiã dela e beija seu ombro esquerdo e em seguida o seio esquerdo.
- Você é tão linda. – sussurra ele, com voz cheia de paixão.
Simone o deseja mais do que nunca e sente vontade de gritar, mas a voz lhe falta, as únicas palavras que consegue pronunciar, com uma voz quase inaudível são:
- Te amo... – e sua voz desaparece em meio aos beijos cheios de desejo de Cesar.
Ele faz um trilha de beijos do canto direito da boca dela, passando pela orelha, o pescoço, o ombro, até chegar ao seio direito. Simone geme de desejo e fecha os olhos deixando-o fazer tudo que sempre desejou.
Ele desliza seus lábios por sua barriga. Tira sua calcinha, depois de deitar novamente a puxa para cima de si. Ela acaricia todo corpo de seu amado, deslumbrada com a beleza dele, e beija suavemente seu pescoço e seu peito. Ele se vira ficando por cima dela novamente. As caricias ficam cada vez mais intensas e ela passeia suas mãos pelo corpo dele e puxa o elástico da cueca, ele fica de lado e tira a cueca.
Olhando fixamente nos olhos dela, fica sobre ela e a faz sentir o intenso desejo que sente por ela. E com a maior de todas as alegrias ela o aceita, e o faz sentir que o desejo é recíproco. E lá entre aquelas quatro paredes fazem amor apaixonado e carinhoso.
O amor que sentem um pelo outro, faz desaparecer todos os problemas, todas as desavenças e desencontros. Sentem que amam verdadeiramente um ao outro as sensações são tão fortes que não notam o tempo passar. Mas Simone tem na cabeça a imagem cravada da surra que levará no dia da festa, por isso, não tardou em perceber que já era hora de ir.
- Tenho que ir Cesar. Está tarde. – ela sussurra acariciando o peito dele.
- Uma pena. Queria ficar assim, ao seu lado, a noite inteira e acordar com você. – murmura beijando o cabelo dela.
Então eles se levantam e começam a se vestir lentamente como se não quisessem despertar daquele sonho de amor, neste momento ela percebe que está tocando outra música que gosta muito, “Slipping Away” do grupo Information Society, então ela começa a rir e pergunta:
- Fala sério! Você gosta mesmo dessas músicas?
- Elas são boas, principalmente para ouvir com você, mas prefiro um bom rock. A verdade é que as selecionei e mandei gravar esse CD para ouvir com você, isso é claro se tivesse esta oportunidade. – responde encabulado.
- Eu sabia! Desde a primeira música pensei nisso. – fala sorrindo e balançando a cabeça.
- Você me perdoa? – pergunta franzindo o cenho e com sorriso amarelo.
- Perdoar o que? Esta noite foi perfeita. – murmura sorrindo timidamente.
- Que bom. Vou te acompanhar até em casa. – ele fala terminando de se vestir, por fim a abraça e pergunta – Vamos continuar a nos ver, durante as férias?!
- Acho melhor não. – sussurra depois de dar um longo suspiro e continua – Tenho muitos problemas com minha mãe, preciso calmar as coisas em casa.
- Tudo bem. – murmura acariciando o rosto dela – Mas assim que voltarem as aulas nós vamos namorar.
- Vamos ver o que vai acontecer. – responde, então dá um beijo na bochecha dele e se solta do abraço para prender o cabelo novamente – Por enquanto vamos deixar tudo como está, prefiro não dar falsas esperanças, pois não sei o que minha mãe vai fazer depois de saber de tudo o que aconteceu.
- Tudo bem. – sussurra com olhar triste e encolhe os ombros.
Os dois saem da casa e ele a leva novamente na bicicleta, chegando em frente da casa dela, se despedem com um beijo longo e ardente cheio desejo.
Nesta noite Simone não consegue dormir tranquilamente, apesar de estar tão feliz e radiante, seu espirito não está em paz. Sonha que esta em sua casa com Cesar, se beijando e fazendo amor com ele. No momento em que o ato esta chegando ao seu ápice, sua mãe chega e os encontra na cama dela. Maria Lucia então começa a xingar nomes terríveis para a filha e bate tanto em Simone até quase a morte. Sentido a dor do sonho Simone acorda assustada se levanta para beber um pouco d’água.
Ela volta para a cama e depois de um longo tempo consegue dormir novamente. Porém, os pesadelos continuam e desta vez ela e Cesar estão apenas conversando na frente da casa dela e Rick chega brigando com eles e xingando, então quando Simone menos espera Rick tira um punhal do bolso da calça e começa a brigar com Cesar que tenta se defender do jeito que pode, mas acaba sendo gravemente ferido e Rick sai correndo, enquanto Simone chora ao lado do corpo de Cesar.
Neste momento sua mãe entra em seu quarto e percebe o desespero de Simone durante o sono, então a acorda tirando-lhe as cobertas e a sacudindo:
- Acorda menina! Você está sonhando.
- O quê? – responde Simone ainda um pouco sonolenta.
- Já são seis horas. Vá buscar pão e vê se não demora por que tem um monte de serviço para fazer.
- Tá. – responde ao descer da beliche esfrega as mãos no rosto e dá um longo bocejo, então vai ao banheiro fazer sua higiene matinal.
Ela lava o rosto varias vezes e se olha no pequeno espelho pendurado na parede e murmura.
- Meu Deus. Que noite horrível. Que pesadelos terríveis.
- Anda logo Simone! – grita sua mãe da cozinha.
- Ai. Mais que coisa. – murmura ela em voz bem baixa para que sua mãe não a ouvir então pega um pente e começa a pentear o cabelo – Por que tanta pressa? A padaria não vai sair do lugar, e tem muito tempo para fazer o serviço afinal hoje é sábado.
- O que você disse menina? – pergunta Maria Lucia entrando no banheiro assustando Simone.
Ela levanta o braço para bater em Simone, que deixa o pente cair ao chão e tenta proteger a cabeça com as mãos ao perceber que levaria uns tapas da mãe.
Maria Lucia a agarra pelos cabelos com as duas mãos e começa a sacudi-la com toda força e rosna de raiva:
- Você não me responde menina! Se não te mato!
- Mas não estava respondendo nada. – sussurra Simone começando a chorar por causa da dor que sentia.
- Estava sim! – vocifera Maria Lucia empurrando-a para encosta-la na parede e fazendo movimentos como se fosse bater a cabeça de Simone contra a parede.
Simone sente uma grande raiva com o que a mãe estava prestes a fazer, e superando a dor e o medo, e antes que sua mãe pudesse reagir, segura nos dois braços dela cravando os dedos e as unhas um pouco curtas, na pele dos braços da mãe com tanta força, que faz com que solte seus cabelos. Ela levanta a cabeça e olha fixamente nos olhos de Maria Lucia e rosna ainda segundo os braços da mãe:
- Você nunca mais vai me bater! Você nunca mais vai encostar sua mão em mim! Não sou nenhuma criancinha que precise apanhar!
Sua mãe fica petrificada com a atitude da filha e vê em seus olhos um fogo de fúria, como se aquela menina fosse capaz de qualquer coisa para se libertar.
As duas se afastam uma olhando fixamente nos olhos da outra por alguns segundos, então Maria Lucia sai do banheiro e volta para cozinha. Enquanto isso, Simone pega o pente do chão, volta a pentear o cabelo secando suas lágrimas com raiva.
Naquele dia Simone faz todos os afazeres da casa calada e sua mãe não a perturba mais. Porém, Simone está decidida que tem de se libertar de tudo aquilo. Precisava sair daquela casa ou algo terrível poderá acontecer entre elas.
O restante do mês de dezembro passa rapidamente e logo chega janeiro, e com o novo ano Simone começa a planejar sua liberdade. Aos poucos pensa em como irá sair daquele inferno, e o que terá que levar. Precisaria de no mínimo de três trocas de roupas, e também terá que levar com sigo todos seus documentos incluindo o histórico escolar e a transferência para que pudesse dar continuidade nos estudos. Terá que levar dinheiro para ir bem longe, sabendo que tem que sobrar algo para os primeiros dias longe de casa. E assim ela começa a elaborar seu plano.
Simone trabalha como guarda mirim na prefeitura de Sumaré, no departamento do PROCON. A sala onde trabalha é divida com sua chefa imediata, que é assistente da chefe de departamento, cada uma das duas possuí uma mesa de trabalho com três gavetas que poderia ficar trancadas com chave.
Simone começa a levar uma peça de cada vez e escondê-las em uma das gavetas. Enquanto isso fica imaginando como irá fazer para pegar seus documentos, e eis que surge a oportunidade. Num domingo em que sua mãe sai para visitar um parente junto com seus irmãos, e seu pai vai para o bar, deixando-a sozinha em casa.
Ela começa a vasculhar as coisas de sua mãe e encontra sua certidão de nascimento, carteira de trabalho, a identidade, o cadastro de pessoa física e o título de eleitor. E depois de reorganizar tudo para que sua mãe não percebesse, ela guarda tudo que encontrou em sua bolsa. No dia seguinte leva tudo para o trabalho e também os guarda numa outra gaveta e a tranca.
Faltam poucos dias para receber o pagamento do mês de fevereiro e a única coisa que falta são os documentos da escola. Simone se sente aliviada por que ninguém havia comunicado à sua família de sua reprovação e o mais importante, ela própria não havia dito nada sobre o assunto com sua mãe e seu pai.
No dia do pagamento ela aproveita o período que passaria fora e vai à escola pedir os documentos que faltam. Chegando lá conversa com dona Gertrude mãe de sua amiga Aline e conta-lhe uma mentira.
- Bom dia, dona Gertrude! – ela fala abrindo um largo sorriso.
- Bom dia, Simone! Em que posso ajudá-la? – responde correspondendo com um grande sorriso.
- Bom, a senhora sabe que fiquei reprovada e por isso vou ter que fazer o segundo ano novamente?! – murmura com olhar triste.
- Sim. Uma pena. Você só reprovou por falta. Suas notas não são ruins.
- Pois é. Minha mãe ficou muito brava com isso e disse que vai me colocar em outra escola. – faz um pausa dá um longo suspiro e continua – Ela acha que foram as “más companhias” que me fizeram ficar assim. Mal sabe ela que fiz isso por que queria ficar mais tempo com meu ex-namorado.
- Entendo. Então ela quer a declaração de transferência?
- Sim. Ela pediu a transferência e o histórico. – ela sussurra.
- O histórico já está pronto. A declaração nós fazemos na hora.
- E você pode entregar agora? Sabe como é. Ela está sempre ocupada trabalhando faxinando as casas das madames ou cuidando dos meus irmãos.
- Posso, mas precisa pedir para ela vir aqui o mais breve possível para assinar a papelada.
- Sim! Claro! Ela disse que assim que der passa aqui. – responde abrindo um largo sorriso e arregalando os olhos.
- Tudo bem.
E com essas palavras dona Gertrude se afasta do balcão de atendimento e vai à sala do fundo, onde fica o arquivo para pegar o histórico, depois vai até a escrivaninha para datilografar a declaração.
Depois de alguns minutos e da assinatura da vice-diretora, Simone sai da escola com os documentos que faltavam em suas mãos. Ela para no portão e começa a imaginar sua liberdade, e começa a se perguntar o que fará e para onde irá. Neste momento observa sua escola, um local que lhe remetia muitas lembranças, a grande maioria eram ótimas lembranças. E observa também todo o contorno daquele local e sua visão fica presa em um lugar à sua direita. É a casa de Cesar, então se lembra da noite maravilhosa que passou naquela casa. E por alguns minutos fica olhando atentamente todos os seus detalhes esternos, neste momento ela abaixa a cabeça observa os papeis em sua mão e murmura.
- Escolher entre o amor e a liberdade. O que fazer?
E por um momento fica indecisa se realmente irá fazer o que está planejando. Mas a lembrança da última vez que sua mãe lhe bateu, não sai de sua mente, assim como todas as outras vezes.
- Não! Prefiro a liberdade. Não aguento mais aquilo. Não aguento mais tanta humilhação. Tantas agressões verbais e físicas daquela que era para ser a pessoa mais importante na minha vida, a pessoa que deviria me amar incondicionalmente mais do que qualquer uma do planeta.
Ela volta para o trabalho e confere se está tudo certo, se não esquecera nada do que precisaria para ir embora para sempre daquela cidade. Fala para a chefe de departamento que terá que ir ao médico no dia seguinte. Chegando em casa, sua mãe cobra se ela já havia recebido o pagamento, e Simone fala que não, por causa de algum problema entre o banco e a prefeitura, mas que seria pago no dia seguinte. Sua mãe acredita, pois já havia acontecido antes então não faz mais qualquer questionamento sobre o assunto. A noite de Simone é bastante conturbada por causa dos sonhos que volta a ter, os mesmos da noite em que esteve com Cesar.
No dia sete de fevereiro de mil novecentos e noventa e seis, faltando um pouco mais de dois meses para completar seus dezessete anos, seu plano entra em ação efetivamente, passa no trabalho para pegar as coisas que havia guardado dando a desculpa que se esquecera de algo, vai para rodoviária, e no banheiro tira o uniforme cinza de patrulheira e veste uma das trocas de roupas, compra passagem para o primeiro horário com destino a São Paulo. Uma viagem de uma hora e quarenta minutos de duração por causa do engarrafamento que encontra na marginal do Tietê. Seus pensamentos durante a viagem eram; como iriam ficar seus irmãos sem tê-la por perto, seus amigos iriam sentir sua falta, o Rick e o Cesar como se sentiriam quando descobrissem, mas o principal em seus pensamentos era seu pai. Será que um dia iria perdoá-la pelo que estava fazendo. E sua mãe, será que depois de todos aqueles acontecimentos, iria mudar de atitude com os filhos.
Simone desembarca no Terminal Rodoviário do Tietê, vai até os guichês de venda de passagens e observa todas, pensando para onde ir. “Tem que ser um lugar onde tenha praia e o mais distante possível. Pelo menos o mais distante que o dinheiro que tenho poça comprar, porém tenho que deixar um pouco para comer, e tem que sair o mais breve possível daqui.”. É quando vê um guichê vendendo passagem para o Rio de Janeiro, com ônibus partindo dali dez minutos, e é para onde resolve ir. Antes de embarcar no ônibus olha para traz, observa todas aquelas pessoas que iam e viam para todos os lados, e pensa “Talvez eu volte um dia, para esta cidade, para este estado, porém será como uma mulher totalmente diferente.”.
Autor(a): s._santos
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
A cidade de São Paulo do ano de dois mil e sete havia aumentado de tamanho consideravelmente desde que Simone passou por ali onze anos antes. Por este motivo a poluição e os engarrafamentos também aumentaram. O mês de julho é um mês um pouco mais acinzentado que outros por causa do inverno, e São Paulo é famosa po ...
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