Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 13? Capítulo

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A Academia Católica Junipero Serra havia sido inte¬grada ao sistema oficial de ensino na década de 80, e para meu grande alívio desistira recentemente da obrigatoriedade do uniforme. Os uniformes eram azul real e branco, que não são exatamente as minhas cores favo¬ritas. Felizmente, os uniformes eram tão impopulares que o colégio acabou desistindo deles, assim como acabara acei¬tando meninas, e embora os alunos ainda não pudessem usar jeans, podiam vestir praticamente tudo que quisessem. O que me convinha perfeitamente, pois eu só estava inte¬ressada em usar minha enorme coleção de roupas de grife, comprada em várias lojas de Nova Jersey com a ajuda de Gina como consultora de moda.
Mas o lado católico é que ia ser um problema. Não exa¬tamente um problema, mais um transtorno. O negócio é que minha mãe nunca se preocupou em me educar dentro de alguma religião específica. Meu pai era judeu não-praticante e minha mãe, cristã. A religião nunca havia desem¬penhado um papel importante na vida dos dois, e nem é preciso dizer que só servira para me confundir. O que es¬tou querendo dizer é que qualquer um poderia imaginar que eu tivesse uma compreensão melhor da religião do que qualquer outra pessoa, mas a verdade é que eu não tenho a menor idéia do que acontece com os fantasmas que mando para onde deveriam ir depois de morrer. Só sei que depois que os mando para lá, eles não voltam. Nunca. Ponto final.
De modo que quando minha mãe e eu chegamos à admi¬nistração do Colégio da Missão na segunda-feira posterior à minha chegada à ensolarada Califórnia, eu estava bastan¬te incomodada com o enorme Jesus crucificado por trás da escrivaninha da secretária.
E aliás eu havia sido prevenida. Na manhã de domingo, minha mãe mostrara o colégio da janela, enquanto me aju¬dava a desfazer as malas.
- Está vendo aquela grande cúpula vermelha? - per¬guntou. - É a Missão. A cúpula é da capela.
Mestre estava ali por perto - eu já havia notado que ele fazia isto com muita freqüência - e começou a fazer mais uma das suas descrições detalhadas, desta vez sobre os franciscanos, membros de uma ordem religiosa católica que seguia os ensinamentos de São Francisco, oficializados em 1209. O padre Junipero Serra, um monge franciscano, era, segundo Mestre, um personagem histórico tragicamente mal interpretado. Herói polêmico da Igreja católica, a pos¬sibilidade de sua santificação chegara a ser considerada em certa época, mas, segundo a explicação de Mestre, os indí¬genas americanos contestaram a iniciativa, considerando-a "uma forma de aprovação das táticas de exploração da colonização espanhola. Embora se saiba que defendeu os direitos econômicos e de propriedade dos indígenas ameri¬canos aculturados, Junipero Serra também militou ativamen¬te contra seus direitos de ter um governo próprio e apoiou com intransigência os castigos corporais, recorrendo ao go¬verno espanhol pelo direito de açoitar indígenas".
Quando Mestre acabou sua palestra, eu olhei para ele e perguntei:
- Memória fotográfica, hein? Ele ficou sem graça.
- Bom - respondeu. - É sempre bom conhecer a história do lugar onde a gente vive.
Arquivei aquilo na memória para o caso de necessidade no futuro. Mestre podia ser a pessoa indicada caso Ucker voltasse a aparecer.
Naquele momento, de pé ali no frio escritório do pré¬dio antigo que Junipero Serra mandara construir para o progresso dos nativos da região, eu estava me perguntan¬do quantos fantasmas encontraria. Aquele tal de Serra de¬via ter um monte de indígenas fulos com ele - espe¬cialmente levando-se em conta a história dos castigos corporais - e eu não tinha a menor dúvida de que ia en¬contrar todos eles.
Apesar disso, quando minha mãe e eu atravessamos o grande pórtico frontal do colégio em direção ao pátio em torno do qual a Missão fora construída, não vi uma única pessoa que parecesse estar no outro mundo. Havia alguns turistas tirando fotos de uma bela fonte, um jardineiro tra¬balhando ao pé de uma palmeira - pois havia palmeiras até no meu novo colégio -, um padre caminhando em atitude de silenciosa contemplação pela ventilada galeria. Era um lugar bonito e tranqüilo, especialmente considerando-se que se tratava de uma construção tão antiga, pela qual já deviam ter passado tantos mortos.
Eu não estava entendendo. Onde estavam os fantasmas?
Talvez eles tivessem medo de ficar por ali. Até eu estava meio assustada, diante daquele crucifixo. Não que eu tenha alguma coisa contra a arte religiosa, mas será que era mes¬mo necessário retratar a crucificação de forma tão realista, com tantas feridas e tudo mais?
Aparentemente eu não era a única a pensar assim, pois um garoto que estava afundado num sofá em frente ao lugar onde minha mãe e eu havíamos sido instruídas a esperar percebeu que eu estava olhando naquela direção e disse:
- Dizem que ele chora lágrimas de sangue quando algu¬ma garota daqui se forma ainda virgem.
Eu não consegui me impedir dar uma risadinha. Minha mãe fuzilou-me com o olhar. A secretária, uma mulher rechonchuda de meia-idade com ares de que uma coisa daque¬las a ofendia profundamente, limitou-se a revirar os olhos e soltar, enfarada:
- Oh, Adam.
Adam, um garoto bonito mais ou menos da minha idade, olhou para mim com a cara mais séria:
- É verdade - disse, em tom grave. - Aconteceu no ano passado. Minha irmã - e acrescentou, baixinho: - Ela é adotada.
Eu achei graça de novo, e minha mãe franziu a testa para mim. Na véspera, ela passara a maior parte do dia me explicando que havia sido muito, muito difícil mesmo convencer o colégio a me aceitar, sobretudo porque ela não tinha um atestado de batismo meu para apresentar. No fim das contas, eles só tinham concordado com a mi¬nha matrícula por causa do Juan, pois os três filhos dele estudavam lá. Acho que um donativo bem polpudo também contribuiu para eu ser aceita, mas minha mãe nunca me falaria de uma coisa dessas. Ela só disse que era melhor eu me comportar direito e não ficar jogando nada pelas janelas - embora eu insistisse com ela em que aquele inci¬dente não fora culpa minha. Eu estava lutando com um jovem fantasma particularmente violento que se recusa¬va a parar de perseguir as garotas no vestiário da minha antiga escola. Atirando-o pela janela, eu certamente con¬seguira que me ouvisse e que se decidisse a tomar o bom caminho para todo o sempre.



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Autor(a): tatalsrv

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Para minha mãe, claro, eu dissera que estava pratican¬do tênis no vestiário e que a raquete escapulira da minha mão - uma história nada digna de crédito, pois nunca foi encontrada nenhuma raquete. Eu estava relembrando esse episódio nada agradável quando se abriu uma pesada porta de madeira, entrou um padre e disse ...


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