Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 22? Capítulo

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Ele não precisou esperar muito. Para dizer a
verdade,  foi logo depois do almoço que
ela veio atrás dele.  Não que ele
percebesse, claro. Fui eu que imediata­mente a vi no meio da multidão, quando
todo mundo co­meçou a se encaminhar para os armários. Os fantasmas exalam uma
luminosidade que os diferencia dos vivos - fe­lizmente, pois caso contrário muitas
vezes eu nem saberia a diferença.


Seja como for, lá estava ela fulminando-o com olhares
de ódio. Sem saber que ela estava ali, as pessoas simples­mente passavam
através dela. Eu até que os invejava. Prefe­ria que os fantasmas fossem
invisíveis para mim, como são para todo mundo. Sei que se fosse assim eu não
teria des­frutado da companhia do meu pai durante esses últimos anos, mas
também não estaria ali agora sabendo que a Heather estava para fazer algo
terrível.


Não que eu soubesse o que ela estava pretendendo fazer
com ele. Os fantasmas podem ser bem mauzinhos quando querem. Aquele lance do Ucker
com o espelho não era nada. Já houve casos de me atirarem objetos com tanta
força que, se eu não tivesse me abaixado, também estaria hoje no mun­do dos espíritos.
Já sofri concussões e ossos quebrados não sei quantas vezes. Minha mãe acha que
eu atraio acidentes. É isso aí, mãe. Isso mesmo. Quebrei o pulso caindo da esca­da.
E caí da escada porque o fantasma de um conquistador espanhol de trezentos anos
me empurrou.


Mas bastou eu ver a Heather para entender que ela esta­va
com intenções nada boas. E eu não chegara a esta conclu­são baseada no nosso
encontro prévio. Não, senhor. Apenas acompanhei o olhar da falecida e vi que
não era exatamente para Bryce que ela estava olhando. O que atraíra sua atenção
fora um dos caibros da parte da galeria por onde o Bryce estava passando. E
dali onde estava, eu vi que a madeira es­tava começando a tremer. Mas não em
toda a extensão da galeria, claro que não. Era só uma peça que estava tremen­do,
daquelas bem pesadas. Exatamente a peça que se encontrava acima da cabeça do
Bryce.


Eu agi sem pensar. Joguei-me contra o Bryce com toda
força e ambos voamos juntos. O que veio exatamente a calhar. Pois ainda
estávamos rolando no chão quando eu ouvi uma enor­me explosão. Abaixei a cabeça
para proteger os olhos, de modo que não pude ver quando a peça de madeira
explodiu. Mas ouvi. E também senti. As lascas de madeira doeram à beça. Ainda
bem que eu estava usando calças de lã.


O Bryce estava tão quietinho debaixo de mim que eu
pensei que um pedaço mais pesado da madeira podia tê-lo atingido entre os lobos
frontais ou algo assim. Mas quan­do afastei meu rosto do seu peito eu vi que
ele estava bem - estava apenas de olho grudado, aterrorizado, na tábua de mais
de 25 centímetros
de largura e quase 70
centímetros de comprimento que viera aterrissar a poucos
metros de nós dois. Por toda parte ao nosso redor estavam espalha­dos pedaços
de madeira. Provavelmente o Bryce estava se dando conta de que, se aquela
prancha tivesse atingido seu crânio, também haveria agora pedacinhos de Bryce
espa­lhados por ali.


- Dá licença, dá licença - disse a voz assustada do
padre Dominic, que logo vi abrindo caminho pela multidão apavo­rada que se
juntava ali. Ele ficou congelado quando viu aque­le pedação de madeira, mas ao
dar com Bryce e comigo voltou à ação: - Deus do céu! - exclamou, acorrendo a
nós. - Vocês estão bem, crianças? Dulce, você se feriu? Bryce?


Lentamente eu fui me sentando. Eu já tinha me acos­tumado
a me apalpar para ver se algum osso estava que­brado, e acabei descobrindo, ao
longo dos anos, que quanto mais lentamente a gente se reerguer, mais chances
terá de descobrir o que está quebrado, e menos chances de apoiar o peso do
corpo nessas partes.


Mas daquela vez nada parecia estar quebrado. Fiquei en­tão
de pé.


- Deus de misericórdia! - dizia o padre Dom. - Têm
certe­za de que estão bem?


-Estou bem - disse eu, me sacudindo toda. Estava toda coberta
de pedacinhos de madeira, por cima da minha me­lhor jaqueta Donna Karan. Olhei
em volta para ver se via a Heather: pode crer que se a tivesse visto ali
naquela hora eu a teria matado, realmente teria... só que ela já estava morta,
claro. Mas ela já tinha ido embora.


 -Meu Deus! -
exclamou Bryce, aproximando-se de mim. Ele não parecia estar ferido, só um
tanto abalado. Na ver­dade seria difícil ferir um grandalhão como ele, com seu
metro e 80 de altura e aqueles ombros largos, um verdadeiro Baldwin.


E era comigo que ele estava falando. Comigo! - Caramba,
você está bem? - quis saber. - Obrigado. Meu Deus! Acho que você salvou a minha
vida.


-Ora, não foi nada - disse eu, e não resisti a esticar
a mão e pinçar uma farpa de madeira do seu suéter. Caxemira. Exatamente como eu
imaginara.


-O que está acontecendo aqui?


Um sujeito alto metido num monte de túnicas e com uma
calota vermelha na cabeça abria caminho na multi­dão. Quando viu aquela madeira
toda no chão e olhou para cima para avaliar o buraco que fora aberto, ele se
virou para o padre Dom e disse:


- Viu? Está vendo, Dominic? É nisto que dá permitir
que os seus lindos passarinhos façam ninhos onde bem enten­dem! O sr. Savinon
nos avisou que isto podia acontecer,- e agora veja só! Ele tinha razão! Alguém
podia ter morrido!


Só podia mesmo ser monsenhor Constantine.


-Sinto muito, monsenhor, sinto muito mesmo - disse
padre Dom. - Não sei como uma coisa dessas foi aconte­cer. Graças a Deus
ninguém ficou ferido - e, voltando-se para Bryce e para mim: - Vocês dois estão
bem mesmo? Parece-me que a senhorita Savinon está meio pálida. Vou levá-la para
ver a enfermeira, se não se importa, Dulce. E vocês, crianças, voltem todas
para a sala de aula. Todos estão bem. Foi apenas um acidente. Agora vão indo.


Incrivelmente, todo mundo obedeceu. Padre Dominic era
assim mesmo. De uma maneira ou de outra, você acaba­va fazendo o que ele dizia.
Felizmente ele usava seus poderes para o bem, e não para o mal!


Gostaria de poder dizer o mesmo sobre o monsenhor. Lá
estava ele de pé no corredor, que de repente ficara vazio, contemplando o
enorme pedaço de madeira. Qualquer um poderia dizer só de olhar que ele não
tinha nada de po­dre. Claro que a madeira não era nova, mas estava perfei­tamente
seca.


- Vou mandar tirar daí esses ninhos, Dominic - disse monsenhor,
asperamente. - Todos eles. Nós simplesmente não podemos correr este tipo de
risco. E se um turista esti­vesse em pé aqui? E Deus nos livre, o arcebispo!...
O arce­bispo estará aqui no mês que vem, como você sabe. E se o arcebispo
Rivera estivesse bem aqui e esta viga caísse? E en­tão, Dominic?


As freiras que haviam acorrido, ouvindo todo aquele
fuzuê, lançavam olhares de tamanha reprovação para o po­bre padre Dominic que
eu quase disse alguma coisa. Cheguei até a abrir a boca, mas o padre Dom
apertou mais o meu braço e começou a caminhar comigo para longe dali.


-Naturalmente - concordou. - Tem toda razão. Vou mandar
o pessoal da manutenção cuidar disso imediata­mente, monsenhor. Imagine se o
arcebispo fosse ferido!... Nem pensar.


-Meu Deus, quanta besteira! - desabafei, assim que nos
vimos dentro do gabinete do diretor, com a porta fechada. - Ele só pode estar
brincando, pensar que um casal de passa­rinhos podia fazer tudo aquilo.


Padre Dominic tinha atravessado todo o gabinete dire­to
para um armário onde se encontravam alguns troféus e placas - prêmios de
magistério, como eu viria a descobrir. Antes de ser removido pela diocese para
um cargo adminis­trativo, padre Dominic havia sido um professor de biolo­gia
muito popular e estimado. Ele estendeu o braço por trás de um dos troféus e
apanhou um maço de cigarros.


 



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Autor(a): tatalsrv

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-Receio que talvez seja um pouco sacrílego, Dulce, dizer que um monsenhor da Igreja católica pensa bestei­ras - disse ele, de olhos baixos sobre o maço vermelho e branco. -Ainda bem então que eu não sou católica - disse eu. - E pode ficar à vontade para fumar se quiser. Não vou dizer a ninguém. Ele c ...


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