Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 28? Capítulo

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- Minha nossa! - exclamei ao dar com o reflexo dele
por trás do meu no espelho em que eu estava me olhando. Eu juro, há anos que
vejo fantasmas, mas sempre me dá um calafrio quando algum deles se materializa
na minha frente. Dei meia-volta, muito danada, não porque ele estivesse ali,
mas por ter me apanhado de surpresa. - Por que ainda está por aqui? Achei que
tinha dito para você se mandar.


Ucker estava recostado no maior relax numa das
pilastras da minha cama. Com seus olhos castanhos, me examinava do alto do meu
capuz à ponta dos meus tênis.


-Não acha que já é um pouco tarde para sair, Dulce? -
perguntou ele, com a maior naturalidade, como se esti­véssemos no meio de uma
conversa sobre, sei lá, digamos, a segunda Lei dos Escravos Foragidos, que deve
ter sido pro­mulgada mais ou menos na época em que ele morreu.


-Hmm - fiz eu, tirando o capuz. - Olha só, sem querer
ofender,Ucker, mas isto aqui é o meu quarto. Que tal você tentar se mandar? E
que tal deixar que eu cuide da minha vida?


Ucker nem se mexeu.


-Sua mãe não vai gostar de saber que você está saindo
tão tarde da noite.


-Minha mãe? - E fiquei olhando para ele, lá em cima,
pois era surpreendentemente alto para alguém que está mor­to. - Que é que você
sabe da minha mãe?


-Gosto muito da sua mãe - disse Ucker calmamente. - É
uma boa mulher. Você tem muita sorte de ter uma mãe que a ame tanto. Acho que
ela ficaria muito preocupada em ver que você está se expondo ao perigo.


Me expondo ao perigo... É isso aí!


- Tudo bem. Segura esta agora, Ucker. Há muito tempo
eu saio de noite e minha mãe nunca disse uma palavra so­bre isto. Ela sabe
perfeitamente que eu sei cuidar de mim.


OK, uma bela duma mentirinha, mas ele não tinha como
saber mesmo...


- Sabe mesmo? - perguntou ele, erguendo
dubitativamente uma das sobrancelhas negras. Não pude deixar de perceber que
havia uma cicatriz cortando pelo meio essa sobrancelha, como se alguém tivesse
zunido uma faca de raspão em seu rosto. Eu meio que senti a sensação que de­via
dar. Especialmente quando ele deu uma risadinha de satisfação e disse: - Acho
que não sabe não, hermosa. Não neste caso.


Eu levantei as duas mãos.


- OK. Para começo de conversa: não fale comigo em es­panhol.
Número dois: você nem sabe aonde eu estou indo, de modo que sugiro que largue
do meu pé.


- Mas eu sei perfeitamente aonde você está indo,Dulce.
Você está indo para o colégio para tentar falar com aquela garota que está
tentando matar o rapaz, aque­le de que você parece estar... gostando. Mas estou
lhe avisando, hermosa, você não agüenta com ela sozinha. Se tiver mesmo de ir,
devia levar o padre com você.


Fiquei olhando para ele. Tinha a sensação de que meus
olhos estavam saltando para fora, mas não podia acreditar no que estava
acontecendo.


- O quê? Como pode estar sabendo de tudo isso? Por
acaso você está... me perseguindo?


Ele deve ter percebido pela minha reação que não devia
ter dito aquilo, pois se endireitou e disse:


-Não sei o que significa esta palavra, perseguindo. Só
sei que você está se expondo ao perigo.


-Você anda me seguindo - insisti, apontando para ele
um dedo acusador. - Vai dizer que não anda? Tenha dó, Ucker, eu já tenho um
irmão mais velho, não preciso de outro não. Não preciso que ande por aí me
espionando...


-Oh, claro - disse ele, com todo sarcasmo. - Esse
irmão cuida muito bem de você. Quase tão bem quanto cuida do próprio sono.


-Espera aí! - exclamei, saindo em defesa do Poncho,
contra todas as probabilidades. - Ele trabalha de noite, está sabendo? Está
economizando para comprar um Camaro!


Ucker fez um gesto que muito provavelmente era gros­seiro,
lá pelos idos de 1850.


-Você não vai a lugar nenhum - disse então.


-Ah, é mesmo? - desafiei, rodando no calcanhar e
saindo porta afora. - Tente me segurar, bafo de cadáver.


Ele foi de uma precisão cirúrgica. Minha mão já estava
na maçaneta quando a tranca da porta se fechou. Eu nem tinha notado ainda que
havia uma tranca na minha porta - ela devia ser muito antiga. O controle manual
estava ar­rebentado e só Deus sabia onde é que podia estar a chave.


Fiquei parada ali bem meio minuto, olhando para mi­nha
mão sem acreditar muito enquanto ela girava em vão a maçaneta. Até que resolvi
respirar bem fundo, como havia sugerido a terapeuta da minha mãe. Ela não
estava querendo dizer que eu devia respirar fundo quando estivesse en­frentando
um fantasma perseguidor. Achava apenas que de­via fazê-lo de maneira geral,
sempre que estivesse me sentindo estressada.


Mas o fato é que ajudou. E ajudou muito.


- OK - disse afinal, voltando-me. - Ucker, isto não é
nada legal.


Ucker ficou muito sem graça. Bastava olhar para ele
para entender que não estava nada satisfeito com o que acabara de fazer. Não
sei o que foi que causou a sua morte na vida anterior, mas certamente não foi
por ele ser um sujeito cruel ou por gostar de machucar as pessoas. Ele era um
bom su­jeito. Ou pelo menos estava tentando ser.


- Eu não posso... - disse ele, já agora bem na minha
frente. - Dulce, não vá. Essa mulher... essa garota, a Heather, não é como os
outros espíritos que você pode ter encontrado. Ela está cheia de ódio. Se
puder, vai matá-la.


Eu dei um sorriso encorajador:


- Aí mesmo é que eu devo acabar com ela, não? Vamos
lá, abra a porta.


Ele hesitou. Por um momento, achei que ele ia abri-la.
Mas ele acabou não abrindo. Apenas ficou lá, meio sem graça, mas firme.


- Como quiser - disse eu, e o contornei, caminhando
direto para a janela. Botei um pé no assento que o Juan havia feito e levantei
a persiana da janela. Já estava com uma perna passando sobre o peitoril quando
senti sua mão agarrando meu pulso.


Voltei-me para olhar para ele. Não consegui ver seu
ros­to, pois a luz da minha cabeceira estava por trás dele, mas ouvia
perfeitamente sua voz e o tom suave em que pedia:


- Dulce...


Só isso: apenas o meu nome.


Eu não disse nada. Nem podia. Quer dizer, claro que po­dia,
não era como se houvesse um caroço na minha gargan­ta ou coisa assim.
Simplesmente... sei lá.


Em vez disso, fiquei olhando para a mão dele, que era
muito grande e meio escura, mesmo por cima do couro pre­to da minha jaqueta.
Ele tinha um bocado de força naque­la mão, para um sujeito que estava morto. E
até para um sujeito vivo. Viu que o meu olhar estava baixando, olhou na mesma
direção e se deu conta de que sua mão estava agarrando o meu pulso,


E então me soltou de repente, como se minha pele
tivesse começado a queimar ou coisa parecida. Eu continuei subindo na janela.
Quando consegui atravessar o telhado da varanda e chegar ao chão lá embaixo,
voltei-me em di­reção à janela do meu quarto.


Mas é claro que ele já tinha ido embora.


 


 


 



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Autor(a): tatalsrv

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