Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 3? Capítulo

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Dedicado a minha primeira leitora:debrbd2009


 


Vou ter de explicar. É que eu
não sou exatamente c
omo qualquer garota de 16 anos. Quer dizer, acho que eu
pareço bastante normal. Não uso drogas, nem bebo, nem fumo, não tenho nenhum
piercing,não tenho ne­nhuma tatuagem,não uso esmalte escuro nas unhas. No final
das contas, sou uma ado­lescente americana perfeitamente normal e comum.


Só que eu falo com os mortos.


Talvez não devesse dizer
assim. Talvez devesse dizer que os mortos é que falam comigo. Quer dizer, eu
não ando por aí procurando esse tipo de conversa. Na realidade, tento evitar
essa coisa toda o mais que posso.


Mas o negócio é que às vezes
eles não me largam. 


Estou me referindo aos
fantasmas.


Não acho que eu seja maluca.
Pelo menos não mais malu­ca que qualquer outra adolescente de 16 anos. Suponho
que posso parecer maluca para certas pessoas. A maioria do pessoal no bairro
onde eu morava certamente achava isto. Que eu era biruta. Mais de uma vez
puseram os conselhei­ros da escola para cuidar de mim. Às vezes chego a pen­sar
que talvez até fosse mais fácil simplesmente deixar que me trancafiassem.


Ainda me lembro do primeiro.
Lembro-me dele com a mesma clareza das minhas outras lembranças daquela época,
o que significa que não me lembro muito bem, pois tinha apenas cerca de dois
anos. Acho que me lembro tão bem quanto me lembro de ter livrado um camundongo
das garras do nosso gato, mantendo-o protegido em meus braços até que minha
mãe, horrorizada, o arrancasse das minhas mãos.


Puxa vida, eu só tinha 2
anos, tá? Na época, ainda não sabia que a gente devia ter medo de ratos. Nem de
fan­tasmas, por sinal. Por isto é que, quatorze anos depois, nenhum dos dois me
assusta. Talvez me espantem, às vezes. E certamente me chateiam um bocado. Mas
me dar medo?


Nunca.


A aparição, exatamente como o
camundongo, era peque­na, cinzenta e desprotegida. Até hoje não sei quem era.
Mas eu falei com ela, algum tatibitate de bebê que ela não enten­deu. Os
fantasmas não entendem crianças de dois anos, como aliás ninguém entende. Ela
só ficou me olhando tristemente do alto da escada do nosso prédio. Acho que eu
estava com pena dela, assim como tivera pena do camundongo, e que­ria ajudá-la.
Só não sabia como. De modo que fiz o que qual­quer criança de dois anos faria.
Corri para a minha mãe.


Foi então que aprendi minha
primeira lição a respeito dos fantasmas: só eu sou capaz de vê-los.


Quer dizer, é claro que
outras pessoas também podem vê-los. Caso contrário, não teríamos casas
mal-assombradas, histórias de fantasmas, seriados de mistério e tudo mais. Mas
existe uma diferença. A maioria das pessoas que vêem fantasmas só vêem um. Já
eu vejo todos os fantasmas.


Todos mesmo. Qualquer um.
Qualquer pessoa que tenha morrido e por algum motivo ainda esteja por aí, em
vez de ir para onde deveria ir, eu sou capaz de ver.


E posso lhe garantir que isto
significa um bocado de fan­tasmas.


No mesmo dia em que vi meu
primeiro fantasma tam­bém descobri que a maioria das pessoas - até mesmo minha
mãe - não consegue vê-los. E aliás ninguém que eu tenha conhecido consegue. Ou
pelo menos ninguém confessa.


O que me faz lembrar da
segunda coisa que aprendi so­bre os fantasmas naquele mesmo dia, há quatorze
anos: no fim das contas, é sempre melhor não dizer que você viu um fantasma.
Ou, no meu caso, qualquer fantasma.


Não estou dizendo que minha
mãe entendeu que eu es­tava apontando para um fantasma ao mesmo tempo que
balbuciava umas coisas incompreensíveis naquela tarde, quando tinha 2 anos.
Duvido que ela soubesse. Provavel­mente pensou que eu estava querendo dizer
alguma coisa sobre o camundongo que ela havia tirado de mim naque­la manhã. Mas
ela parecia descontraída lá no alto da esca­da e concordou com a cabeça,
dizendo:


- Rã-rã... Escuta, Dulce. O
que vai querer para o almoço? Queijo quente? Atum?


Eu não esperava exatamente
uma reação semelhante à que ela teve no caso do camundongo. Minha mãe, que na
época também estava cuidando do bebê de uma vizinha, soltara um berro daqueles
ao ver o camundongo nos meus braços e berrara mais alto ainda quando eu
anunciei orgu­lhosamente que agora também tinha o meu bebê - e hoje eu me dou conta
de que ela podia não ter entendido, já que não sacou a história do fantasma.


Mas eu esperava pelo menos
que ela percebesse aquela coisa que estava flutuando no alto da escada.
Diariamente estavam me dando explicações sobre praticamente tudo que eu encontrava
pela frente, dos hidrantes às insta­lações elétricas. Por que não sobre aquela
coisa no alto da escada?


Mas quando eu estava comendo
o meu queijo quente, um pouco depois, entendi que minha mãe não havia explicado
nada sobre aquela coisa cinzenta porque não a tinha visto. Para ela, a coisa
não estava lá.


Com dois anos de idade, isto
não me pareceu absurdo. Na época, pareceu simplesmente mais uma coisa que tor­nava
as crianças diferentes dos adultos. As crianças tinham de comer os legumes até
o fim. Os adultos não precisavam. As crianças podiam andar no carrossel no
parque. Os adul­tos, não. As crianças podiam ver as coisas cinzentas. Os
adultos não conseguiam.


E embora eu tivesse apenas
dois anos, entendi que aque­la coisinha cinzenta no alto da escada não deveria
ser co­mentada. Não deveria ser comentada com ninguém. Nunca.


 


 



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Autor(a): tatalsrv

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E eu nunca comentei. Nunca falei com ninguém sobre o meu primeiro fantasma, nem nunca comentei com nin¬guém sobre as centenas de fantasmas que viria a encontrar nos anos seguintes. E no fim das contas, comentar o quê? Eu os via. Eles falavam comigo. Na maioria das vezes, eu não entendia o que eles estavam dizendo, o que queriam, e geralmente el ...


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