Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 4? Capítulo

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E eu nunca comentei. Nunca falei com ninguém sobre o meu primeiro fantasma, nem nunca comentei com nin¬guém sobre as centenas de fantasmas que viria a encontrar nos anos seguintes. E no fim das contas, comentar o quê? Eu os via. Eles falavam comigo. Na maioria das vezes, eu não entendia o que eles estavam dizendo, o que queriam, e geralmente eles iam embora. Ponto final.
Provavelmente a coisa teria continuado assim indefini¬damente se meu pai não tivesse morrido de repente.
Isso mesmo. Simples assim. Lá estava ele um belo dia na cozinha, cozinhando e contando piadas como sempre fazia, e no dia seguinte tinha partido.
E durante toda a semana que se seguiu à sua morte - que eu passei na varanda em frente ao nosso prédio, esperando meu pai voltar para casa - as pessoas ficavam me dizendo a toda hora que ele nunca voltaria.
Claro que eu não acreditava. E por que haveria de acredi¬tar? Meu pai não ia voltar? Eles tinham ficado malucos? Tudo bem, ele podia ter morrido. Esta parte eu tinha pego. Mas certamente ia voltar. Quem ia me ajudar com o dever de matemática? Quem ia acordar cedo comigo nos sábados para fazer waffles e ver desenhos animados? Quem ia me ensinar a dirigir quando eu tivesse 16 anos, como ele havia prometido? Meu pai podia ter morrido, mas com toda certeza eu voltaria a vê-lo. Todo dia eu estava vendo uma quantidade de pessoas mortas. Por que não haveria de ver o meu pai?
E no fim eu estava certa. Puxa vida, meu pai tinha mor¬rido. Quanto a isto não havia a menor dúvida. Ele morreu de um enfarte fulminante. Minha mãe mandou cremar seu corpo, e guardou suas cinzas numa antiga caneca de cerveja alemã - aquela com alça. Meu pai adorava cerveja. Ela botou a caneca numa prateleira bem alta, onde o gato não pudesse derrubá-la, e às vezes, quando achava que eu não estava por perto, eu a surpreendia conversando com ela.
Isto me deixava muito triste. Quer dizer, ela não tinha culpa. Se estivesse na situação dela, sem saber o que eu sabia, provavelmente eu também conversaria com a caneca.
Mas, como você vê, era aí que todas aquelas pessoas do meu quarteirão se enganavam. Meu pai estava morto, é ver¬dade. Mas eu realmente voltei a vê-lo.
Na realidade, é provável que o veja mais hoje em dia do que quando ele estava vivo. Quando estava vivo, ele tinha de ir para o trabalho quase todo dia. Agora que está morto, já não tem muito o que fazer. De modo que o vejo um bocado. Às vezes até demais, no fundo. O passatempo fa¬vorito dele é aparecer de repente quando eu menos espero. É meio chato.
Foi meu próprio pai que finalmente me explicou tudo. De modo que num certo sentido é bom que ele tenha mor¬rido, pois de outra forma eu nunca ficaria sabendo.
Mas eu sabia. Não sabia que nome davam, mas sabia o que era. Meu pai não tinha explicado as coisas exatamente daquela maneira quando falou comigo, mas de qualquer modo eu peguei a raiz da questão: simplesmente eu sou o contato para praticamente todo mundo que estica as canelas deixando as coisas... digamos, incompletas. E aí, quando posso, eu ajeito as coisas.
É a única maneira que eu consigo explicar a coisa. Não sei por que fui ter tanta sorte - quer dizer, nas outras coisas eu sou tão normal. Bom, quase... Simplesmente e infelizmente tenho essa capacidade de me comunicar com os mortos.
Mas não qualquer morto. Só os que estão infelizes.
Você já entendeu então que nos últimos 16 anos a mi¬nha vida tem sido mesmo um mar de rosas.
Imagine só, ser assombrada - literalmente assombrada - pelos mortos, a cada minuto de cada dia da sua vida. Não é nada agradável. Você vai ali na lanchonete tomar um re¬frigerante... opa, falecido na esquina. Alguém o baleou. E se você puder levar os tiras ao sujeito que fez aquilo, ele pode finalmente descansar em paz.
E tudo que você queria era um refrigerante.
Ou você vai à biblioteca... e pá, lá vem o fantasma de uma dona de livraria querendo que você vá dizer ao sobri¬nho dela que está furiosa com a maneira como ele passou a tratar os gatos depois que ela bateu as botas.
E esses são só os caras que sabem por que ainda estão rondando por aí. A metade deles não tem a menor idéia de por que ainda não foram para o tipo de vida que os espera¬va depois que morreram.
O que não deixa de ser um saco, claro, pois eu sou a boboca que tem de ajudá-los a tomar rumo.
Eu sou a mediadora.
Pode crer que não é o destino que eu desejaria a ninguém.
Não se pode dizer que nesse campo da mediação as recom¬pensas sejam generosas. Ninguém nunca se deu ao traba¬lho de me oferecer um salário ou coisa parecida. Nem se¬quer um pagamento por hora. Só aquele calorzinho gostoso, de vez em quando, quando você faz alguma coisa boa para alguém. Como por exemplo dizer a uma garota que não conseguiu se despedir do avô antes de ele morrer que ele realmente a ama, e a perdoa por aquela vez em que ela jo¬gou fora sua coleção de selos. Esse tipo de coisa realmente pode acalentar o coração.
A maioria das vezes, no entanto, são mesmo calafrios o tempo todo. Além do estresse - estar sendo o tempo todo atormentada por gente que só você consegue ver -, o fato é que muitos fantasmas são estúpidos à beça. Isso mesmo. São chatos de doer. Esses são em geral os que realmente querem ficar mesmo rondando aqui neste mundo em vez de seguirem para o outro. Provavelmente eles sabem que por seu comportamento na vida mais recente não podem esperar muito boa coisa na que está por vir. De modo que ficam por aí atazanando as pessoas, batendo portas, fazen¬do barulho com os objetos, provocando frio, gemendo. Você sabe do que estou falando. A velha história de fantasmas...
Mas às vezes eles são bem brutos. É quando tentam machucar as pessoas. De propósito. É aí que em geral eu fico danada. É quando me dá vontade de dar um pontapé no traseiro de um fantasma.



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Autor(a): tatalsrv

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E era disso que minha mãe estava falando quando disse aquela frase - "Ah, Dulce, outra vez?!..." Quando eu chuto os fundilhos de um fantas ma, as coisas tendem a ficar um pouco... complicadas. Não que eu tivesse a menor intenção de bagunçar meu novo quarto. Por isto é que dei as costas para o fantasma sentado perto da minha janela ...


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