Fanfics Brasil - A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-

Fanfic: A Mediadora-A Terra das Sombras.-Vondy-


Capítulo: 7? Capítulo

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Eu não tinha muita certeza, mas estava com a impressão de que ele estava zombando de mim. E eu não gosto nada que zombem de mim. Não gosto mesmo. No Brooklyn, o pessoal costumava fazer isso toda hora - pelo menos até eu descobrir que um punho bem fechado no nariz é capaz de calar uma boca.
Eu ainda não estava em condições de dar um murro na¬quele cara - ainda não. Mas faltava pouco. Simplesmente, eu tinha viajado um quaquilhão de quilômetros, num per¬curso que parecia ter tomado dias e dias, para viver com um bando de garotos bobocas; ainda nem tinha desfeito as malas; praticamente já tinha feito a minha mãe chorar; e de repente dou com um fantasma no meu quarto... Al¬guém poderia me acusar de estar sendo... digamos, injus¬ta com ele?
-Olhe aqui - fui dizendo, levantando de um salto e pas¬sando a perna por cima do encosto da cadeira. - Você pode ficar andando por aí o quanto quiser, amigo. Vai fundo. Não estou dando a mínima. Mas aqui, não.
-Ucker - disse ele, sem se mexer.
-O quê?
-Você me chamou de amigo. Achei que gostaria de ficar sabendo que eu tenho um nome. Eu me chamo Ucker.
Eu fiz que sim com a cabeça.
-Certo. Faz sentido. Muito bem então, Ucker. Você não pode ficar aqui.
-E você?
Ucker agora estava sorrindo para mim. Ele tinha um belo rosto. Uma cara boa. O tipo de rosto que no meu colégio antigo bastaria para ser eleito na hora o rei do baile. O tipo de rosto que a Angel recortava das revistas para colar na parede do quarto.
-E eu o quê? - retruquei, sabendo que estava sendo rude, mas não dando a mínima.
-Como se chama?
Eu olhei bem fixo para ele.
- Olha aqui. Vai dizendo logo o que você quer e cai fora. Estou com calor e quero trocar de roupa. Não tenho tem¬po para...
Ele me interrompeu com perfeita amabilidade, como se não estivesse me ouvindo:
-Aquela mulher, sua mãe, chamou-a de Dulcinha - disse ele, com os olhos negros brilhando para mim. - É apelido de Dulce?
-Dulce Maria - eu disse, corrigindo-o automaticamente.
Ele sorriu:
-Quer dizer então que este agora é o seu quarto, Dulce Maria?
-Isso mesmo - respondi. - Isso aí, este agora é o meu quarto. De modo que você vai ter que se mandar.
-Eu vou ter que me mandar? - fez ele, levantando uma sobrancelha. - Esta aqui é a minha casa há um século e meio. Por que eu teria de sair?
-Porque sim - e eu já estava ficando realmente muito danada, em grande parte porque estava com tanto calor, e queria abrir uma janela, mas a janela estava atrás dele, e eu não queria me aproximar tanto assim. - Este quarto é meu. Não vou dividi-lo com um caubói morto.
Dessa vez ele entendeu direitinho. Levou o pé de volta ao piso, batendo com força, e se endireitou. Imediatamente eu lamentei ter dito o que disse. Ele era alto, bem mais alto que eu, e olhe que com minhas botas eu tenho um metro e setenta e cinco.
- Não sou nenhum caubói - informou ele, zangado. E acrescentou alguma coisa baixinho em espanhol, mas como eu sempre optara por francês na escola, não tinha a menor idéia do que ele estava dizendo. Ao mesmo tempo, o espe¬lho antigo pendurado sobre minha nova penteadeira come¬çou a balançar perigosamente no gancho que o prendia à parede. E eu sabia que aquilo não se devia a nenhum terremo¬to californiano, mas à agitação do fantasma que estava na minha frente, cujos poderes, obviamente, eram do tipo telecinético, aquele negócio de mover coisas com a mente.
É este o problema com os fantasmas: eles são tão susce¬tíveis! Ficam alterados ao menor motivo.
- Uaaau! - fiz eu, esticando os braços para cima, com as palmas das mãos voltadas para fora. - Menos! Calma aí, rapaz!
Todos na minha família - enfureceu-se Ucker, com o dedo em riste no meu rosto - trabalharam feito escravos para conseguirem alguma coisa neste país, mas nunca, nun¬ca houve nela nenhum vaqueiro...
-Ei! - interrompi, e foi aí que cometi o meu maior erro; muito irritada com aquele dedo na minha cara, eu o agarrei com toda força, torcendo sua mão e puxando-o para mim para ter certeza de que ele ia me ouvir dizer bem bai¬xinho: - Pare com o espelho agorinha. E tira este dedo do meu nariz. Se fizer de novo, será um dedo
quebrado.
Empurrei sua mão para o lado e constatei com satisfação que o espelho parará de balançar. Mas foi então que olhei para o seu rosto.
Fantasmas não têm sangue. E como poderiam ter? Pois se não estão vivos... Mas posso jurar que naquele momen¬to o rosto de Ucker ficou completamente sem cor, como se cada gota de sangue que por acaso lá estivesse tivesse se evaporado de uma hora para outra.
Como não estão vivos nem têm sangue correndo nas veias, é claro que os fantasmas também não são feitos de matéria. De modo que não fazia o menor sentido que eu tivesse conseguido agarrar o seu dedo. Minha mão devia ter atravessado ele, certo?
Errado. É assim que acontece com a maioria das pessoas. Mas não com pessoas como eu. Com os mediadores não é assim. Nós vemos fantasmas, falamos com fantasmas e, se necessário, podemos perfeitamente dar um pontapé no tra¬seiro de um fantasma.
Mas eu não gosto de sair por aí dizendo isto para todo mundo. Sempre tento o máximo possível não tocar neles - e aliás, não tocar em ninguém. Quando falham todas as tentativas de mediação e eu preciso recorrer a uma certa dose de coerção física com um espírito recalcitrante, geral¬mente prefiro que ele ou ela não fique sabendo antes da hora que eu sou capaz disto. Os ataques inesperados são a melhor coisa quando estamos tratando com integrantes do outro mundo, que, como todo mundo sabe, sempre jogam sujo.
Olhando para o próprio dedo como se eu tivesse feito um buraco nele, Ucker parecia completamente incapaz de dizer o que quer que fosse. Provavelmente era a primeira vez em que ele era tocado por alguém em um século e meio. O tipo da coisa que pode deixar um sujeito de cabeça zon¬za. Sobretudo um sujeito morto.



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Autor(a): tatalsrv

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Aproveitando que ele estava atarantado, eu disse, com a voz mais firme e séria do mundo: - Agora ouça bem, Ucker. Este quarto é meu, entendido? Você não pode ficar aqui. Ou você me deixa ajudá-lo a ir para onde deve estar ou vai ter de achar outra casa para as­sombrar. Sinto muito, mas é assim. Uckker tirou o ...


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