Fanfic: A Sereia(adaptada) | Tema: Vondy
Folheei minhas cadernetas até encontrar. Por fim, na página de um naufrágio que talvez já tivesse uns doze anos, achei o rosto da bebê do meu sonho. A Água me garantiu que eu não lembraria de nada disso no futuro, então por que aqueles rostos ainda permaneciam na minha memória? Anahí diria que é porque insisto em documentar tudo, mas eu sabia que não. Pelo menos não só isso.
Tinha estabelecido uma regra para mim mesma de não olhar para o rosto das pessoas durante os naufrágios, mas a quebrei mais vezes do que gostaria de admitir. Era difícil ignorar as pessoas pedindo para que as salvássemos. Às vezes eu via alguém e depois jamais encontrava um registro público. Nenhum obituário ou blog ou qualquer outra coisa. Conhecia aqueles rostos tão bem quanto os dos meus recortes.
Às vezes eu me perguntava se tinha algum defeito, e isso me preocupava tanto quanto nosso próximo canto. Se eu era capaz de lembrar das dezenas de milhares de pessoas que tinha matado, como conseguiria sobreviver quando acabasse minha vida de sereia?
Observei a foto da bebê, uma garotinha chamada Norah, e chorei pela vida que ela nunca teve a chance de viver.
Embora eu soubesse que o nosso próximo canto só seria dali a quase seis meses, lamentava como se fosse acontecer no dia seguinte. Tinha a sensação de que a minha própria alma se desfazia cada vez que precisávamos cantar. Já tinham se passado oitenta longos anos. Havia mais vinte pela frente. E cada dia trazia a impressão de que o fim não chegaria nunca.
Na segunda-feira de manhã, saí de casa o mais rápido que pude. Peguei um dos muitos cadernos de rascunho de Maite e o enfiei na bolsa junto com alguns lápis. Tinha me arriscado a desenhar e a pintar desde que Maite voltou para casa com suas primeiras telas. Embora soubesse que jamais seria a artista que ela era, gostava da ideia de ocupar um pouco as mãos.
Segui para o campus, escolhendo as ruas mais tranquilas que pudesse encontrar, e atravessei o pátio principal perto da fonte e da biblioteca enquanto as pessoas se dirigiam para as salas de aula. Parte de mim se sentia mal por ser tão dura com Anahí e Maite. Elas se sentiam bem em bares e boates. Eu me sentia bem na biblioteca. Talvez o jeito com que lidavam com as coisas não funcionasse para mim, mas isso não o invalidava.
Sentei embaixo de uma árvore e peguei o caderno com o intuito de desenhar alguns modelos de roupa que pudesse observar. Eu adorava ver como a moda mudava ao longo do tempo, e embora preferisse um estilo mais clássico, era divertido ver como uma bandana ou um modelo de sapato ou o corte de uma gola trazia de volta elementos de vinte anos antes.
Contudo, eu já tinha percebido que isso era um problema para boa parte das pessoas. Algumas estavam presas aos anos 80, fazendo coisas impensáveis com o cabelo; outras vestiam calça boca de sino quando isso já não era uma boa ideia. Talvez permanecer na época favorita fosse uma espécie de porto seguro, algo a que se agarrar quando todo o resto mudava. Ajeitei minha saia rodada e cheguei à conclusão de que estava certa.
Então, do nada, alguém sentou ao meu lado sob a sombra da árvore.
— Bom, eu estava pensando que você estudava gastronomia, mas agora imagino que estuda artes.
Era o garoto da biblioteca, Christopher.
— Eu mesmo estou bem indeciso.
Você não está me julgando, está? Abri um sorriso e fiz que não com a cabeça. Achei legal ele simplesmente começar a falar como se estivéssemos no meio de uma conversa.
— Ótimo. Andei considerando algumas opções. Tipo, economia parece um caminho inteligente a se seguir, mas sou quase tão ruim com dinheiro quanto na cozinha.
Ainda sorrindo, escrevi no canto da página: Mas não é por isso que as pessoas estudam? Para melhorar?
— É um bom argumento, mas acho que você está superestimando minhas capacidades.
Ele retribuiu o sorriso, e lembrei do quão normal ele me fizera sentir na primeira vez que nos encontramos. Mais uma vez, ele não se incomodou com o meu silêncio. E de repente percebi o que me deixava tão desconfortável nas aventuras de Anahí. As pessoas que ela atraía ficavam fascinadas com as mesmas coisas que fascinavam todo mundo: nossa pele brilhante, olhos sonhadores e um ar misterioso. Mas esse garoto? Parecia enxergar mais do que isso. Me enxergava não só como uma beleza misteriosa, mas como uma garota que ele queria conhecer.
Ele não ficava me encarando. Ele conversava comigo.
— Então você não fez aquele bolo épico no fim de semana?
Fiz que não com a cabeça. Saí para dançar pela primeira vez, escrevi, contente por aquela confissão parecer tão normal.
— E?
Não é a minha praia.
— É, fui nomeado o motorista na sexta passada e, de verdade, não consigo suportar o fedor das baladas. É como se um cheiro velho de cigarro ainda estivesse grudado nas paredes apesar de não ser mais permitido fumar lá dentro — Christopher torceu o nariz de nojo. — E por mais que eu goste dos meus colegas do alojamento, não gosto tanto a ponto de achar que tudo bem limpar o vômito deles. Acho que meus dias de chofer estão oficialmente encerrados.
Fiz uma careta e balancei a cabeça. Eu compreendia bem demais a sensação de ser babá dos outros.
— Ainda tem aula hoje?
Nada!
— Que inveja. Escolhi aulas à tarde para poder dormir mais, o que foi um plano brilhante da minha parte, já que agora estou num relacionamento sério com o sono.
Eu também.
— Bom, acho que eu deixaria o relacionamento um pouco de lado se pudesse fazer mais coisas à tarde. Olha só pra você: está livre para sentar ao sol e desenhar gente que nem conhece por algum motivo bizarro. Não é incrível?
Achei graça. Sempre me achei meio bizarra. Essa foi a primeira vez que isso soou como uma coisa boa.
São as roupas!, argumentei, apontando para as páginas.
— Aham, sei. Mas não ligue para o que eu digo, só estou com inveja. Sou completamente incapaz de desenhar. A única coisa que sei desenhar é um sapo. Aprendi no primeiro ano e nunca mais esqueci. O ponto fundamental é começar com uma bola de futebol americano — ele disse, fingindo um tom de especialista. — Se você errar o começo, o resto vai ladeira abaixo.
Não sabe cozinhar. Não sabe desenhar. O que você sabe fazer?
— Excelente pergunta. Hum… Eu sei pescar. Coisa de família, tipo o meu nome péssimo. Também sei mandar mensagens de texto com frases completas. Sem dúvida isso é uma habilidade. — Ele sorriu, orgulhoso dos próprios méritos. — E, graças ao fato de a minha mãe ter participado de concursos de dança na adolescência, sei dançar lindy hop e jitterbug.
Autor(a): leticialsvondy
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Endireitei as costas de imediato, e Christopher fez uma cara de descrença. — Juro que se você me disser que sabe dançar jitterbug eu vou… Nem sei o que vou fazer. Talvez botar fogo em alguma coisa. Ninguém consegue dançar isso. Apertei os lábios e fingi tirar pó dos ombros, um gesto que vi Anahí fazer quan ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 57
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anne_mx Postado em 06/10/2022 - 22:45:17
Que fanfic linda, uau, o amor da água pela Dulce e o amor da Dulce pela água e pelo Christopher é lindo, ainda que parece algo meio que fora de órbita mas foi uma história linda e foi lindo ver a entrega das amigas para com a Dul, obrigadaaaa <3
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jucinairaespozani Postado em 02/07/2016 - 12:35:11
Amei *---* é uma história perfeita, vou correr para a outra fic já kkk
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millamorais_ Postado em 02/07/2016 - 00:13:59
Ameiiii, menina onde vc encontra no essas lindezas? XD parabéns gatinha. Próxima fic? Estarei lá com certeza
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Luana Postado em 01/07/2016 - 23:17:53
Adorei o final! Cheguei até chorar. Parabéns por mais uma adaptação! Amei! Amei! Amei!
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:48
Posta mais
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:27
Continua meu aniversário ta longe kkk eu to desesperada aqui kkk
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jucinairaespozani Postado em 28/06/2016 - 12:11:15
Você está resumindo ou colocando todos os capítulos e páginas do livro? Posta mais, eu vou ganhar o livro então tô me controlando pra não comprar kkkk mais meio que li o "final" por alto, to desesperada aqui, posta mais logo por favor
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millamorais_ Postado em 28/06/2016 - 00:22:27
Muito suspeito, muito suspeito mas uma coisa é certa, o amor cura tudo, o amor tudo pode, tudo supera. Acredito que a água já começou a entender o que realmente está acontecendo mas egoísta como é prefere fingir que não... Gatinha quantos capítulos tem essa história? Só pra mim ter uma noçãozinha de quanto tempo vou ficar com essa dorzinha no peito sem saber ao certo o final kkkkk continuaaaaa
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Luana Postado em 28/06/2016 - 00:12:35
Ah meu Deus! Estou preocupada com os dois! Espero que eles fiquem melhor. Continuaaa <33
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jucinairaespozani Postado em 26/06/2016 - 03:36:18
Acho que a Dul esta começando a perder os poderes, então posso imagina que isso seja bom = talvez o amor que ela tem por Christopher estaja fazendo ela mudar. Espero que ele não morra, posta mais