Fanfic: A Sereia(adaptada) | Tema: Vondy
Eu tinha me apegado a algumas coisas nos últimos oitenta anos: uma vaga lembrança do rosto da minha mãe, a consciência de que meu pai usava bigode, e o fato de que eu tinha dois irmãos, embora não recordasse o nome deles. Mas Maite só se lembrava do nome do vilarejo e dos detalhes de sua história porque os contávamos para ela.
Anahí se apegou a muita coisa, embora quase sempre desse a impressão de que o fez por desprezo. Ela não gostava muito da família, e era como se tivesse guardado os nomes para poder maldizê-los mentalmente: “Viu, Jacob? Viajei pela Europa. Viu, mãe? Estou comendo iguarias. Viu, todo mundo? Faço mais do que vocês seriam capazes”.
Eu não sabia do que Belinda se lembrava. Ela nunca tinha me dito.
Mas foi a lembrança de Maite, tão pequena e abalada depois de ter sido varrida para fora do barco, que me motivou a ir ajudar aquela estranha com tanta pressa. Por mais velozes que nos movêssemos, queria ir ainda mais rápido.
— Dulce!
Me virei e vi Belinda, que assumia seu lugar ao nosso lado.
— Oi — respondi, com preocupação na voz. — Parece que vai ser complicado. Vamos ter que ser muito cuidadosas desta vez.
— Acho que você devia fazer o discurso.
— Mas eu nunca fiz isso antes. — Me voltei para Belinda. —Você é a mais velha. Tem que ser você!
— Vou embora logo, Dulce. Faltam só algumas semanas. É melhor que seja alguém com quem ela terá tempo de criar um vínculo.
Não consegui esconder o nervosismo. Era uma responsabilidade enorme explicar para a nossa nova irmã no que ela estava se metendo.
Belinda enlaçou os dedos nos meus enquanto nadávamos.
— Vou ajudar caso você precise, certo?
O que ela disse fazia sentido, embora eu ainda estivesse com medo de errar alguma coisa. Mas não podia desapontar Belinda. Era como a Água tinha dito: eu dava tudo de mim quando tinha uma missão.
— Certo.
Concentramos os olhares à frente, procurando na superfície a silhueta de um corpo milagrosamente deitado na água, como se estivesse numa cama. Por fim, nós quatro desaceleramos ao chegar no mar Arábico.
— Lá em cima! — Maite disse.
Nadamos em direção à garota, sem saber ao certo como ela reagiria.
Subimos à superfície, onde deparamos com a cena mais doentia que eu já tinha visto em meus muitos, muitos anos.
A garota vestia um sári simples e sem graça. Estava rasgado em vários lugares, e era óbvio que os estragos não tinham nada a ver com a queda ou com qualquer outro pequeno acidente. Eram rasgos propositais, feitos de maneira selvagem. Seus braços e pernas estavam cobertos de feridas recentes. O mais horrível, porém, foi seguir as trilhas de hematomas até seus tornozelos e pulsos, onde havia blocos de concreto amarrados, mantendo-a presa.
— Soltem as cordas. Depressa! — ordenei, enquanto eu mesma começava a desfazer um nó no braço dela.
A pobre coitada virou languidamente a cabeça na minha direção, resfolegando, ainda exausta do esforço.
— Por favor, não me matem — ela disse com a voz fraca.
Meu coração doía.
— Não, não vamos machucar você. Vamos soltar estas coisas para podermos conversar.
Ela concordou com a cabeça.
— Pronto — Anahí anunciou.
— Aqui também — Belinda disse, para em seguida tomar a garota pelo braço e ajudá-la a sentar.
Aquela garota, com pele de cor clara e olhos sonolentos, encarou os braços machucados e passou a tocar várias das suas feridas, como se as contasse.
— Por quê? — lamentou. — Não foi culpa minha.
— O que não foi culpa sua? — perguntei, acariciando seu cabelo.
— Nascer menina.
Maite e Anahí se aproximaram, na esperança de confortá-la, mas Belinda manteve distância e se concentrou em mim.
— Como você se chama? — perguntei.
— Angelique — ela respondeu enquanto limpava o nariz escorrendo.
— Quantos anos você tem? — continuei, tentando manter um tom calmo e bondoso.
Ela se esforçou para pensar em meio à confusão.
— Dezesseis.
— Angelique, do que você se lembra?
Ela sacudiu a cabeça.
— Não quero lembrar.
Acariciei o cabelo dela de novo, sentindo seu medo crescer.
— Tudo bem. Mas pode nos dizer como caiu no mar?
Ela olhou ao redor com uma expressão de curiosidade e vergonha.
— Meu pai.
— Isso é doentio — Anahí murmurou.
— Seja forte. Por Angelique — Belinda insistiu com ela.
Eu também estava disposta a fazer tudo o que pudesse para facilitar as coisas para a garota.
Aquele momento não dizia respeito a nenhuma de nós. Era única e exclusivamente dela. Naquele momento soube como Zoraida devia ter se sentido quando falou comigo e com Maite, como Belinda devia ter ser sentido em relação a Anahí. No fim das contas, apesar do que viria pela frente, só queria que aquela garota vivesse.
— Ele me jogou — Angelique confessou, olhando para as próprias mãos. — Nada de dote. Uma garota é cara demais. Ele bateu na minha mãe e depois em mim. Não lembro como cheguei até o mar, mas ainda sinto as tábuas do cais nas costas. Acordei antes do meu pai me empurrar. Ele não parecia nem um pouco triste.
Engoli em seco na tentativa de me recompor.
Conhecia o desprezo da família de Maite pelos medos dela. Sabia que a família de Anahí não gostava do caráter rebelde da filha. Mas nenhuma de nós jamais havia se deparado com uma coisa dessas.
— Angelique — comecei a falar com suavidade —, meu nome é Dulce. Estas são Belinda, Anahí e Maite.
Por favor, que eu explique direito, rezei. Por favor, que as minhas palavras a façam querer ficar.
— Somos jovens muito especiais, e gostaríamos que você se juntasse a nós — continuei.
— Me juntar a vocês onde?
Abri um sorriso.
— Em toda parte, para ser sincera. Somos cantoras, sereias. Você deve ter lido histórias a nosso respeito nos livros, ou ter ouvido menções a nós nos contos de fadas. Pertencemos à Água. Cantamos por Ela, para que Ela possa viver, para que Ela possa sustentar a terra. Você compreende?
— Não.
Belinda começou a rir.
— Nem eu compreendia.
— Eu também não — Anahí disse, e Maite concordou com a cabeça.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 57
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anne_mx Postado em 06/10/2022 - 22:45:17
Que fanfic linda, uau, o amor da água pela Dulce e o amor da Dulce pela água e pelo Christopher é lindo, ainda que parece algo meio que fora de órbita mas foi uma história linda e foi lindo ver a entrega das amigas para com a Dul, obrigadaaaa <3
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jucinairaespozani Postado em 02/07/2016 - 12:35:11
Amei *---* é uma história perfeita, vou correr para a outra fic já kkk
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millamorais_ Postado em 02/07/2016 - 00:13:59
Ameiiii, menina onde vc encontra no essas lindezas? XD parabéns gatinha. Próxima fic? Estarei lá com certeza
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Luana Postado em 01/07/2016 - 23:17:53
Adorei o final! Cheguei até chorar. Parabéns por mais uma adaptação! Amei! Amei! Amei!
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:48
Posta mais
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:27
Continua meu aniversário ta longe kkk eu to desesperada aqui kkk
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jucinairaespozani Postado em 28/06/2016 - 12:11:15
Você está resumindo ou colocando todos os capítulos e páginas do livro? Posta mais, eu vou ganhar o livro então tô me controlando pra não comprar kkkk mais meio que li o "final" por alto, to desesperada aqui, posta mais logo por favor
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millamorais_ Postado em 28/06/2016 - 00:22:27
Muito suspeito, muito suspeito mas uma coisa é certa, o amor cura tudo, o amor tudo pode, tudo supera. Acredito que a água já começou a entender o que realmente está acontecendo mas egoísta como é prefere fingir que não... Gatinha quantos capítulos tem essa história? Só pra mim ter uma noçãozinha de quanto tempo vou ficar com essa dorzinha no peito sem saber ao certo o final kkkkk continuaaaaa
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Luana Postado em 28/06/2016 - 00:12:35
Ah meu Deus! Estou preocupada com os dois! Espero que eles fiquem melhor. Continuaaa <33
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jucinairaespozani Postado em 26/06/2016 - 03:36:18
Acho que a Dul esta começando a perder os poderes, então posso imagina que isso seja bom = talvez o amor que ela tem por Christopher estaja fazendo ela mudar. Espero que ele não morra, posta mais