Fanfic: A Sereia(adaptada) | Tema: Vondy
Sempre cavalheiro, ele me acompanhou até o lado do passageiro e abriu a porta para mim. No sul, abril era sinônimo de “preparem-se para usar shorts”, mas no Maine o inverno ainda pairava no ar. Uma fresta na janela nos proporcionava uma brisa maravilhosa durante o trajeto pela cidade.
— Bom dia, sra. Jenkens — Christopher saudou quando passamos por uma mulher sentada na varanda.
Ele cumprimentava ou acenava para quase todo mundo com quem cruzávamos pelo caminho. Parecia ser amigo de toda a cidadezinha, e essa energia melhorou meu ânimo. Contemplei a paisagem com uma fascinação renovada. Tinha passado muito tempo em cidades grandes ao longo dos últimos anos, e não estava acostumada com quintais de grama alta ou com terrenos vazios que davam para a praia. A tinta era sempre fosca, e eu não sabia se tinha sido uma escolha ou se o sol a desgastara com o tempo.
— Alguma coisa aqui parece familiar? — ele me perguntou enquanto dirigia devagar por uma estrada longa e levemente sinuosa. — Qualquer coisa que faça você se lembrar de como veio parar aqui?
Passamos por uma igreja e por casas com decorações de metal no jardim. Barcos encalhados em bancos de areia esperavam que a maré alta os resgatasse. Notei vários anúncios de lagostas, como se ninguém soubesse onde encontrá-las.
Fiz que não com a cabeça. Era verdade. Eu jamais tinha visto aquela cidade na vida.
Ele balançou a cabeça.
— Você deve ter sido trazida pelas ondas então. É a única maneira de chegar a Port Clyde. Ontem foi um dia difícil no mar.
Fiz que não. Ele não fazia ideia.
Ele murmurava a melodia da música no rádio, soltando em voz alta algum trecho da letra de vez em quando, envergonhando-se logo em seguida.
— Nunca fui um bom cantor. Minha mãe que era boa.
Ele apontou para a beira da estrada. Duas pequenas cruzes de madeira estavam perto de uma árvore cuja casca machucada ainda estava fechando. Pensei que se eu tivesse que passar pelo local do meu naufrágio sempre que quisesse ir a algum lugar, meu coração encolheria. Mas Christopher sorriu como se ali estivesse um lembrete de que os dois viveram, não de que morreram.
Ele beijou rapidamente o indicador e o dedo do meio duas vezes e soprou, dando um simples “olá”. Enquanto passávamos pelo local, ele continuou animado, como se carregasse os pais consigo.
Quando finalmente chegamos ao fim da estrada, Christopher virou à direita. Por um minuto pensei que seguiríamos por mais uma estrada rural. Mas os sinais de civilização começaram a aparecer aos poucos: uma franquia de fast-food, uma loja de materiais de construção, um posto de gasolina iluminado com neon. Seguimos e seguimos até a estrada fazer um retorno e eu avistar a Água parada em mais uma baía. Eu ainda podia ouvi-La me chamar, uma súplica constante e suave, e me esforcei para ignorar. Eu voltaria para Ela logo. Por enquanto, acompanharia Christopher: o dia pertencia a nós.
Estacionamos. Virei para Christopher e ele respondeu à pergunta no meu olhar:
— Estamos em Rockland. É a maior cidade da região.
Quis descer da caminhonete antes que Christopher chegasse à minha porta, mas ele apareceu rápido do meu lado.
— Não é muito grande, mas é maior que Port Clyde. Pensei que a gente podia dar uma olhada.
Fiz o sinal de “sim” e ele o imitou.
— Já sei três sinais até agora. Acho que cedo ou tarde você vai precisar me dar umas aulas.
Assenti. Eu era a favor de qualquer coisa que permitisse nos comunicarmos.
— Então, aquilo ali é uma joalheria, ali tem uma sorveteria… Essa sorveteria só abre daqui a algumas horas, mas é boa demais. Com certeza vamos lá. Hum, os livros são por ali.
Bati palmas.
— Boa escolha. Vamos.
Era um dia de semana e as ruas estavam praticamente vazias. Eu já tinha ouvido pessoas relembrarem com saudade o charme das avenidas centrais das cidades pequenas. Naquele momento, passei a entender o fascínio delas. Havia um senso de intimidade, de previsibilidade. Eu apostava que aquela mesma avenida era palco de festivais, feiras de rua e desfiles de Natal.
Caminhei sonhadora até a livraria; só voltava à realidade quando meus dedos roçavam nos de Christopher sem querer.
Ele não dizia nada, mas ria um pouco.
— É aqui.
Um balconista simpático nos cumprimentou quando entramos. Diferente das livrarias enormes e enceradas das grandes cidades, aquela era bem rústica. Uma mistura de decorações preenchia as paredes, dando um ar íntimo e peculiar.
Instantaneamente comecei a correr os dedos pelas lombadas nas prateleiras, já apaixonada por cada um dos títulos. Os livros eram um porto seguro, um mundo separado do meu. Não importava o que acontecesse naquele dia, naquele ano, sempre existia uma história de alguém que havia superado seu momento mais sombrio. Eu não estava só.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 57
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anne_mx Postado em 06/10/2022 - 22:45:17
Que fanfic linda, uau, o amor da água pela Dulce e o amor da Dulce pela água e pelo Christopher é lindo, ainda que parece algo meio que fora de órbita mas foi uma história linda e foi lindo ver a entrega das amigas para com a Dul, obrigadaaaa <3
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jucinairaespozani Postado em 02/07/2016 - 12:35:11
Amei *---* é uma história perfeita, vou correr para a outra fic já kkk
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millamorais_ Postado em 02/07/2016 - 00:13:59
Ameiiii, menina onde vc encontra no essas lindezas? XD parabéns gatinha. Próxima fic? Estarei lá com certeza
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Luana Postado em 01/07/2016 - 23:17:53
Adorei o final! Cheguei até chorar. Parabéns por mais uma adaptação! Amei! Amei! Amei!
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:48
Posta mais
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:27
Continua meu aniversário ta longe kkk eu to desesperada aqui kkk
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jucinairaespozani Postado em 28/06/2016 - 12:11:15
Você está resumindo ou colocando todos os capítulos e páginas do livro? Posta mais, eu vou ganhar o livro então tô me controlando pra não comprar kkkk mais meio que li o "final" por alto, to desesperada aqui, posta mais logo por favor
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millamorais_ Postado em 28/06/2016 - 00:22:27
Muito suspeito, muito suspeito mas uma coisa é certa, o amor cura tudo, o amor tudo pode, tudo supera. Acredito que a água já começou a entender o que realmente está acontecendo mas egoísta como é prefere fingir que não... Gatinha quantos capítulos tem essa história? Só pra mim ter uma noçãozinha de quanto tempo vou ficar com essa dorzinha no peito sem saber ao certo o final kkkkk continuaaaaa
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Luana Postado em 28/06/2016 - 00:12:35
Ah meu Deus! Estou preocupada com os dois! Espero que eles fiquem melhor. Continuaaa <33
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jucinairaespozani Postado em 26/06/2016 - 03:36:18
Acho que a Dul esta começando a perder os poderes, então posso imagina que isso seja bom = talvez o amor que ela tem por Christopher estaja fazendo ela mudar. Espero que ele não morra, posta mais