Fanfic: A Sereia(adaptada) | Tema: Vondy
Logo abaixo, o sol se desfazia sobre as costas da Água.
Há tanta beleza no mundo! Não consigo deixar de pensar que coisas boas estão por vir!
Quase ri. A expressão dele em todas as fotos que encontrei me fazia pensar que ele nunca tinha exclamado nada na vida. Mas não pude afastar o pensamento de que alguma coisa tinha acontecido logo antes daquela viagem fatídica. Será que ele tinha motivos para achar que o rumo de sua vida estava mudando? Ou seria apenas mais uma das mentiras que contamos na segurança do quarto quando ninguém pode enxergar a falsidade das palavras?
Imprimi a melhor foto dele, uma piada que ele tinha postado, e algumas informações sobre seus irmãos. Não gostava de andar com as cadernetas por aí, então guardei a papelada com cuidado na bolsa para levar para casa.
Desculpe, Warner. Juro que não foi por mim que você morreu.
Com isso resolvido, consegui focar em algo mais divertido. Eu tinha aprendido ao longo dos anos a compensar cada página devastadora da minha caderneta com alguma coisa feliz. Na noite anterior, tinha olhado uns vestidos antes de colar as últimas fotos de Kerry. Naquele dia, seriam bolos. Descobri a seção de culinária e carreguei uma pilha de livros até um espaço vazio no terceiro andar. Me debrucei sobre receitas, coberturas, arranjos de bolo. Preparei bolos imaginários, um de cada vez, desfrutando do mais consistente dos meus devaneios. O primeiro, um clássico com recheio de baunilha com cobertura azul- clara e enfeites de flores brancas. Três andares. Muito lindo. O seguinte tinha cinco andares; era quadrado, com uma fita preta e broches alinhados verticalmente na frente. Mais apropriado para um casamento à noite.
Talvez esse fosse meu próximo grande sonho. Talvez eu pudesse virar confeiteira e tornar o dia dos outros especial caso nunca tivesse meu dia.
— Você vai dar uma festa?
Levantei os olhos e deparei com um garoto meio desleixado, loiro, que empurrava um carrinho cheio de livros. Ele usava um crachá meio gasto que eu não conseguia ler e vestia o uniforme de todo aluno de faculdade: calça cáqui e uma camisa com as mangas arregaçadas até os cotovelos. Ninguém mais inovava.
Contive o suspiro. Essa parte da sentença era inevitável. Atraíamos as pessoas naturalmente, e os homens eram particularmente vulneráveis. Baixei a cabeça de novo sem responder, na esperança de que ele entendesse o recado. Eu não tinha sentado nos fundos do último andar para socializar.
— Você parece estressada. Uma festa cairia bem.
Não consegui segurar um sorrisinho. Ele não fazia ideia. Infelizmente, ele tomou o sorriso como um convite para prosseguir.
Ele passou a mão no cabelo, o equivalente moderno para o “Bom dia, senhorita” e apontou para os livros.
— Minha mãe diz que o segredo para preparar bolos é usar uma travessa aquecida. Não que eu saiba. Mal consigo preparar uma tigela de cereal.
O sorriso sem graça dele sugeria que aquilo era bem provável, e fiquei levemente encantada quando ele enfiou a mão no bolso, envergonhado.
Era uma pena, de verdade. Eu sabia que ele não era uma ameaça, e não queria magoá-lo. Mas eu estava prestes a recorrer à minha atitude mais grosseira e simplesmente sair andando quando ele tirou a mão do bolso e a estendeu para mim.
— Meu nome é Christopher, aliás — ele disse, à espera de que eu respondesse. Fiquei boquiaberta. Não estava acostumada com pessoas insistentes diante do meu silêncio.
— Sei que é estranho — ele acrescentou, interpretando errado meu ar de confusão. — É um nome de família. Mais ou menos. Era o sobrenome da família da minha mãe.
Ele manteve a mão estendida, esperando. Normalmente, minha reação seria fugir. Mas Anahí e Maite conseguiam interagir com os outros. Céus, Anahí trocava de namorado o tempo todo sem jamais dizer uma palavra. E algo naquele garoto parecia… diferente. Talvez a maneira como seu lábio se erguia num sorriso sem que ele percebesse, ou o jeito com que sua voz saía suave como as nuvens. Tive certeza de que ignorar aquele rapaz magoaria mais a mim do que a ele.
Com cuidado, como se eu pudesse quebrar a nós dois, apertei sua mão, esperando que ele não notasse como minha pele era fria.
— E você se chama…? — ele deu a deixa.
Suspirei, certa de que isso encerraria o diálogo apesar das minhas melhores intenções. Gesticulei meu nome, e os olhos dele se arregalaram.
— Ah, puxa. Então você estava lendo meus lábios esse tempo todo?
Fiz que não com a cabeça.
— Você ouve?
Fiz que sim.
— Mas não fala… Hum, tudo bem.
Ele começou a apalpar os bolsos enquanto eu tentava combater o medo que me tomava o corpo. Não havia muitas regras, mas todas eram absolutas. Permanecer em silêncio na presença dos outros, até a hora de cantar. Quando essa hora chegasse, deveríamos cantar sem hesitação. Quando não estivéssemos cantando, não deveríamos fazer nada que pudesse expor nosso segredo. Andar pela rua era uma coisa, assim como sentar embaixo de uma árvore. Mas isso? Uma tentativa de conversa real? Isso me deixava em uma área muito perigosa.
— Achei — ele anunciou, sacando uma caneta. — Não tenho papel, então você vai ter que escrever na minha mão.
Olhei para a pele dele, ponderando. Que nome deveria usar? O da carteira de motorista que Maite tinha comprado para mim pela internet? O que usei para alugar nossa atual casa na praia? O que usei na última cidade em que estivemos? Eu tinha uma centena de nomes para escolher.
Talvez tenha sido tolice, mas escrevi meu nome verdadeiro.
— Dulce? — ele leu na mão.
Fiz que sim com a cabeça, surpresa ao me dar conta de como era libertador que um humano vivo soubesse meu nome de batismo.
— Bonito. Prazer em conhecê-la.
Abri um sorriso tímido, ainda desconfortável. Não sabia bater papo.
— É muito legal você frequentar uma faculdade tradicional apesar de usar língua de sinais. Me achava corajoso só por mudar de estado — ele disse, rindo de si mesmo.
Apesar de eu não estar à vontade, admirei o esforço dele para sustentar a conversa. Era mais do que a maioria das pessoas faria na situação dele. Ele apontou de novo para os livros.
— Então, hã, se você um dia der essa festa e precisar de ajuda com o bolo, juro que posso ser disciplinado por tempo suficiente para não estragar tudo.
Arqueei a sobrancelha para ele.
— É sério! — ele riu como se eu tivesse contado uma piada. — Enfim, boa sorte. Vejo você por aí.
Ele deu um aceno tímido e continuou a empurrar o carrinho pelo corredor. Fiquei observando. Eu sabia que ia me lembrar do seu cabelo, que parecia bagunçado pelo vento mesmo dentro da biblioteca, e da bondade do seu olhar. E me odiaria por lembrar de tudo isso se nossos caminhos voltassem a se cruzar num desses dias sombrios, dias como os que Kerry ou Warner me encontraram.
Ainda assim, fiquei grata. Não conseguia lembrar da última vez que tinha me sentido tão humana.
Autor(a): leticialsvondy
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3 — O QUE VOCÊS QUEREM FAZER HOJE À NOITE? — Anahí perguntou ao se jogar no sofá. Do lado de fora da janela atrás dela, o céu passava de azul para rosa, de rosa para laranja, e eu risquei mentalmente mais um dia entre os milhares que ainda faltavam para mim. — Não estou muito a fim de ir numa balada. ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 57
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anne_mx Postado em 06/10/2022 - 22:45:17
Que fanfic linda, uau, o amor da água pela Dulce e o amor da Dulce pela água e pelo Christopher é lindo, ainda que parece algo meio que fora de órbita mas foi uma história linda e foi lindo ver a entrega das amigas para com a Dul, obrigadaaaa <3
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jucinairaespozani Postado em 02/07/2016 - 12:35:11
Amei *---* é uma história perfeita, vou correr para a outra fic já kkk
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millamorais_ Postado em 02/07/2016 - 00:13:59
Ameiiii, menina onde vc encontra no essas lindezas? XD parabéns gatinha. Próxima fic? Estarei lá com certeza
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Luana Postado em 01/07/2016 - 23:17:53
Adorei o final! Cheguei até chorar. Parabéns por mais uma adaptação! Amei! Amei! Amei!
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:48
Posta mais
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jucinairaespozani Postado em 30/06/2016 - 02:12:27
Continua meu aniversário ta longe kkk eu to desesperada aqui kkk
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jucinairaespozani Postado em 28/06/2016 - 12:11:15
Você está resumindo ou colocando todos os capítulos e páginas do livro? Posta mais, eu vou ganhar o livro então tô me controlando pra não comprar kkkk mais meio que li o "final" por alto, to desesperada aqui, posta mais logo por favor
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millamorais_ Postado em 28/06/2016 - 00:22:27
Muito suspeito, muito suspeito mas uma coisa é certa, o amor cura tudo, o amor tudo pode, tudo supera. Acredito que a água já começou a entender o que realmente está acontecendo mas egoísta como é prefere fingir que não... Gatinha quantos capítulos tem essa história? Só pra mim ter uma noçãozinha de quanto tempo vou ficar com essa dorzinha no peito sem saber ao certo o final kkkkk continuaaaaa
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Luana Postado em 28/06/2016 - 00:12:35
Ah meu Deus! Estou preocupada com os dois! Espero que eles fiquem melhor. Continuaaa <33
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jucinairaespozani Postado em 26/06/2016 - 03:36:18
Acho que a Dul esta começando a perder os poderes, então posso imagina que isso seja bom = talvez o amor que ela tem por Christopher estaja fazendo ela mudar. Espero que ele não morra, posta mais