Fanfic: Mulher Em Fuga *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

— Marissa com certeza não. — Herrera fez um gesto à garçonete para que lhes trouxesse a conta. — Ela está sempre tentando manter a cabeça para fora da água, igual a qualquer outro negociante em Simpson.

— É a Teoria da Janela Quebrada. — disse Anahí pensativamente.

— O que? — Herrera perguntou e ficou quieto.

— A Teoria da Janela Quebrada. Li uma vez em uma revista.

Em outra vida, pensou.

Ela lembrava-se perfeitamente onde estava quando leu essa teoria, tomando café em uma lanchonete tão encantadora como a que estava agora, afundando a cabeça nos problemas do mundo e sem ser consciente de que em pouco tempo seu mundo se desmoronaria aos seus pés.

— Fizeram um estudo sobre as favelas e conjuntos habitacionais, alguns são mantidos pelos moradores, enquanto outros se transformam em terrenos baldios. Os pesquisadores queriam saber por que alguns se salvavam da desolação e outros não. E chegaram à conclusão de que todos que vivem em algum lugar têm que se preocupar com ele, tudo o que precisamos nestes casos é de uma janela quebrada para o lugar se degenerar. É como se fosse um símbolo de ninguém se importa, o sinal que precisam para que se transforme o lugar em um lixo.

— Sim. — concordou pensativamente Herrera. — Suponho que Simpson é um pouco assim. Faz muito tempo que ninguém faz nada, várias lojas se fecharam nos últimos dez anos e ninguém investe no local. Se ninguém fizer nada, o povoado não vai durar muito. Os lugares precisam de atenção, assim como as pessoas.

Os lugares precisam de atenção, assim como as pessoas, pensou Anahí com uma repentina pontada de dor. As palavras de Herrera ressonaram em sua cabeça.

Ela mesma era culpada de negligência. Estava morando em uma pequena casa e não tinha feito absolutamente nada para deixá-la mais bonita ou agradável. Isso era inédito para uma Portilla.

Chegou a Simpson coagida, é verdade, mas sua mãe também havia chegado à Riad coagida e fez de sua casa seu triunfo pessoal em decoração.

Não fiz absolutamente nada para que minha vida aqui seja um pouquinho melhor, pensou. Sua mãe não estaria nada orgulhosa dela.

— Herrera, você acha que poderia...? — Anahí interrompeu-se.

— Poderia o que?

— Nada... — Anahí moveu uma mão. Ele já havia feito muitos favores a ela. — Deixa pra lá.

— Fale Any.

— Esquece Herrera. — encolheu os ombros. — Foi apenas um pensamento bobo.

Herrera a olhava fixamente com seus profundos e impenetráveis olhos verdes.

A garçonete chegou com a conta, mas Herrera indicou com um gesto que partisse. Para surpresa de Anahí, Herrera encostou-se à cadeira e cruzou os braços.

— Só sairemos daqui quando você terminar esta frase.

Anahí mordeu o lábio e olhou para Herrera.

Tinha o rosto sério e impenetrável. Quase podia sentir a força de sua vontade através da mesa, assim deu-se por vencida.

— Tudo bem! — disse baixinho. — Você sabe se tem alguma loja de decoração por aqui?

— Uma... loja de decoração? — disse com cuidado, descruzando os braços e inclinando-se para frente.

— Sim, decoração... tinta, papel de parede, estampas, tecidos. O que normalmente se vende em uma loja de decoração.

— Tinta, papel de paredes, tecidos... — Herrera ficou pensando. — Acho que no Schwab's deve ter.

Anahí se sentiu culpada. Ele já estava arrumando sua casa inteira, acompanhou-a até Rupert, levou-a a livraria e agora para almoçar.

— Você teria tempo de parar em mais uma loja, Herrera? Ou tem muita coisa para fazer hoje?

Herrera fez um gesto à garçonete para que trouxesse a conta e pagou. Quando a garçonete se foi, ele se inclinou sobre a mesa.

— Não estou muito certo se você está compreendendo bem nossa situação, Any. — disse em voz baixa e suave. — Não há nada que você não possa me pedir. Absolutamente nada. Faço qualquer coisa por você. — olhou-a fixamente com seus olhos verdes. — Mataria por você. Ter que parar em uma loja, não é nada.

Durante o caminho de volta, Herrera esperou que Any virasse para ele e dissesse "fale comigo Herrera", se ela falasse isso, conversaria com ela. Tinha algumas ideias em mente que praticou silenciosamente. Estava preparado. Tudo o que ela precisava fazer era pedir.

Mas Any não pediu nada. Na verdade, ela não estava fazendo praticamente nada sentada ao seu lado além de olhar pela janela perdida em pensamentos.

O silêncio era o companheiro constante de Herrera, era algo que estava acostumado, algo que podia controlar.

Mas por alguma razão, o silêncio e Any Puente era uma coisa que não se encaixava bem.