Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

BOAS VINDAS : Dultchi

DULCE

    - Eu estou morrendo de saudades - disse ciente de que ele estava fora há apenas três dias, mas para mim era como se fosse uma eternidade.

  - Eu também, Dulce. As coisas aqui estão um pouco complicadas, Christopher encontrou muita documentação fora do lugar e tivemos que organizar tudo. Pensei que fosse conseguir estar aí amanhã, mas não vai ter como,amor.

     - Ah não...

    - Prometo que vou tentar adiantar tudo ao máximo e assim que chegar tirarei alguns dias para poder mimar você do jeitinho que merece.

   -Mais? Parece que todo mundo acha que eu estou doente, a Maite me trata como se eu fosse uma criança e a sua tia como se eu não tivesse cérebro.

    - Ela so está tentando ser legal, Dulce, eu pedi para ela estar ao seu lado pessoalmente. Quero que Alexandra te ajude quando eu não puder estar por perto.

     - Eu tenho a Ângela, Alfonso...

     - Olha, eu sei que ela não é fácil, mas, em momento algum, desde que perdi minha mãe, ela me tratou de maneira diferente do Christopher. É por isso que tenho certeza de que ela os tratará como se fossem seus próprios netos.

      - Tudo bem, eu só...só tenho medo que ela queira interferir na forma como criaremos nossos filhos.

      - Isso não vai acontecer, fique tranquila. Agora me diga como estão os bebês.

      - Ah, Alfonso, eles estão ótimos e posso garantir que com muita fome. - Sorri, um pouco mais animada.

      - Isso é bom...

      - Estou te achando preocupado.

     - Só estou com muita coisa na cabeça e não consigo me concentrar. Se estou ao telefone com você, penso no trabalho; se estou no trabalho penso em você. Acaba que não não consigo fazer nada direito.

       - Se isso te deixar mais tranquilo, eu posso ligar  para a Alexandra e pedir que ela venha hoje. O que acha?

       - Você faria isso?

      - Por você eu faço, vou ligar agora mesmo, mas me prometa que vai parar de me telefonar de a cada meia hora, combinado?

       - Combinado.

             ****

     Depois de passar a tarde inteira escutando Alexandra me dar conselhos e mais conselhos sobre gravidez, eu consegui perceber que, por trás de toda aquela arrogância, ela era uma mulher carente. No fundo, eu tinha um pouco de pena, Christopher chegou a me contar que seu pai os abandonou uma vez para poder fugir com uma garota de programa quando ele ainda era um adolescente.

        Sempre pensei que esse pudesse ser um dos principais motivos que o impediram de ficar comigo no final das contas, porque o que não faltavam eram motivos para que ficássemos separados.

       Acho que se tivéssemos tentando ficar juntos, Alexandra teria feito de tudo para nos separar. Ela parecia não entender que essa mania de interferir na vida dele e do Alfonso só os prejudicavam. Christopher principalmente, porque estava claro que ele era infeliz.

        Isso me fez lembrar do dia que ele admitiu me amar e no quanto eu quis acreditar que fosse verdade. Só que, como era possível crer nesse amor, quando ele não era capaz de lutar pelo que poderíamos ter? Fora  todas as vezes que ele havia me ofendido e machucado. Isso que ele dizia sentir podia ser qualquer coisa, menos amor. De tudo o que vi e conheci dele até hoje, eu tinha certeza de que Christopher tinha se tornado incapaz de sentir o que quer que fosse depois da morte da sua esposa.

       Horas depois, já sozinha e prestes a me deitar, comecei a sentir uma pontada de dor um pouco abaixo do umbigo. Parecia a mesma cólica que senti há algumas semanas só que, dessa vez, bem mais intensa.

       - Meu Deus a senhorita está bem? - Ângela perguntou assim que subiu para me verificar anter de ir se deitar.

      - Não, Ângela. Estou com uma dor chata na barriga e não sei se ligo ou não para o Richard. Talvez não seja nada, não é?

     - Acho melhor ligarmos, Alfonso me disse que qualquer coisa que acontecesse era para entrar em contato com ele - falou nervosa, já pegando o telefone no meu criado-mudo e discando o número pessoal dele que andava com ela para todos os lados.

             ***

       - Fez bem em telefonar, Dulce, essas pequenas cólicas não têm exatamente uma causa, mas requerem bastante atenção. - Ângela e eu o escutamos atentas, ela mais impaciente do que eu. - Essa é a segunda vez que você a sente, não é?

          - Sim.

       - Certo, quero que fique atenta. Quanto maior o tempo de gestação, maior o risco dessas cólicas levarem a um parto prematuro.

         - Eu nunca mais quero engravidar, Richard. Você não tem ideia da tortura quer é ter todos ao meu redor em cima de mim o tempo inteiro...-disse fazendo um pouco de drama e ele achou graça da minha situação.

          - Isso é normal, Dulce, ainda mais quando se é a primeira gravidez. Foi a mesma coisa com a minha esposa e, veja nós estamos na terceira gestação agora.

         - Meu Deus! - Ele pediu que eu voltasse a relaxar para que pudesse escutar as batidas do coração dos meus bebês.

          - Então, ela pode dormir tranquila, doutor? - Ângela perguntou depois dele garantir que estava tudo bem com eles.

          - Pode e deve, o medicamento que eu receitei vai deixá-la mais calma e evitar o incômodo. Quanto mais ela descansar, melhor será.

         No dia seguinte, sem o menor motivo, eu acordei assustada, com uma sensação ruim dentro do peito. Não me sentia tão tranquila quanto o médico falou que estaria, muito pelo contrário. Sem conseguir prolongar a tortura, eu me levantei e tentei afastar o mal-estar sem sucesso.

           Fui até o banheiro caminhando lentamente e me encarei em frente ao espelho, eu ainda estava pálida e meus olhos pareciam fundos, com manchas roxas ao redor. Eu odiava admitir, mas estava me sentindo uma merda! Cansada, com medo...

            - Dulce, o que está fazendo em pé? - Ângela perguntou preocupada ao me pegar em flagrante.

            - Eu estou bem, só precisava tomar um banho...- disse, estranhando a sua expressão, era como se ela tivesse acabado de receber uma notícia ruim.

            - Está tudo bem, Ângela?

           - Si-sim...Quer dizer, eu não sei, a Alexandra está lá embaixo. Ela insistiu em subir, mas eu não sei se é uma boa ideia...

          - Por que não? - Ela não soube o que responder e isso me deixou tensa. - O que está acontecendo?

         - Eu...olha, eu acho melhor a senhorita descer e falar com ela. Alexandra disse que é urgente. - Urgente? Minhas pernas ficaram bambas e eu recuei, batendo contra o armário do banheiro.

          - Eu vou descer, me deixe só terminar aqui, tudo bem? - Ela concordou e saiu, me deixando com um vazio dentro do peito. Fiz tudo automaticamente e adiei o momento até não poder mais e finalmente desci.

        - A senhora não pode contar nada, ela passou mal durante a noite e isso só irá deixá-la preocupada...- Escutei Ângela dizer para Alexandra, mas nenhuma das duas tinha me visto ainda.

          - Eu tenho que contar, é bom que ela esteja preparada.

          - Preparada para quê? - perguntei e as duas ficaram lívidas ao me ver.

        - Nada, senhorita. - Ângela tentou me convencer e Alexandra permaneceu em silêncio, apenas me olhando.

           - Como nada? O que aconteceu, Alexandra?

           - Acho melhor você se sentar, Dulce.

           - E eu acho melhor as duas me contarem logo o que estão escondendo.

         - Eu não sei direito os detalhes, só sei o que Victor me contou. Foi ele quem atendeu a equipe de paramédicos que ligou. - Paramédicos? - E eu sinto muito Dulce, mas o ...Alfonso e o Christopher sofreram um acidente de carro nessa madrugada, os dois estavam indo encontrar um cliente e houve uma colisão e... - Ah, meu Deus, pus a mão sobre o meu peito, me sentidno incapaz de respirar ou emitir qualquer som. A dor veio rápida e com uma intensidade sufocante.

           A ideia de perder qualquer um dos dois era horrível. Era como se eu estivesse sendo dividida ao meio, meu coração não suportaria passar por isso, era demais...

            - Querida, o Victor já está voando para lá e, assim que ele tiver alguma notícia vi me avisar, tente não ficar preocupada. - Eu não consegui dizer nada, algo dentro de mim sabia que alguma coisa muito ruim tinha acontecido. O meu coração sabia.

            - Eu não posso perder nenhum dos dois...-falei sem pensar.

            - O que voce falou? - Alexandra me perguntou confusa.

            - Nada...- Alguns segundos se passaram em um  silêncio perturbador enquanto eu olhava para ela. Talvez Alexandra soubesse mais do que estava me dizendo e não queria falar. - O que os paramédicos disseram, Alexandra?

            - Vamos esperar pelo Victor, Dulce.

           - Não, eu quero saber, eu tenho que saber, por favor... - Isso fez Ângela desaparecer para a cozinha balançando a cabeça nervosamente e o quê...chorando? Quando ela voltou, me entregou um copo com água e um pequeno comprimido.

         - Beba toda a água e tome o remédio.

         - Eu não quero voltar a dormir, Ângela.

        - Você escolhe, ou toma ou eu faço o Richard vir aqui, Dulce, e posso garantir que o sermão que ouvirá dele será muito pior.

        - Por favor, eu só quero saber o que está acontecendo, vocês duas não podem de esconder nada...Por favor - pedi entre lágrimas, não suportando a angústia. As duas perceberam o meu desespero e se entreolharam deixando óbvio que estavam me escondendo algo.

          - A situação é confusa, os dois eram os únicos no carro e os paramédicos não souberam, ou não quiseram dizer para o  Victor qual deles faleceu. A única coisa que eu sei é que...só conseguiram tirar um com vida e...- Alexandra não conseguiu continuar e eu percebi que tudo ao meu redor tinha virado um zumbido. Eu não queria vê-la chorando e também não queria ter que ver o olhar desolado da Ângela. A vida, mais uma vez, tinha me quebrado de alguma forma me tirado alguém que eu amava e, o pior de tudo, era que eu não sabia qual dos dois eu tinha perdido. Qual dos dois eu nunca mais veria...

            Alfonso era o meu conforto, o pai dos meus filhos. Eu era apaixonada por ele e ele tinha me dado muito mais do que os melhores meses da minha vida. Ele me fez verdadeiramente feliz. Me fez sentir amada e nunca, em momento algum, me decepcionou.

             Já o Christopher...o Christopher significava tudo de ruim que aconteceu comigo nos últimos tempos, ele me quebrou tantas e tantas vezes, mas era tolice minha negar que eu era imune a ele. A química que tínhamos, o desejo incontrolável que me deixava vulnerável. Só eu sei quantas vezes eu rezei para tirá-lo de dentro de mim, mas eu não conseguia, eu poderia me enganar o resto da vida e até mesmo amar outro homem, porque o que eu sentia pelo Christopher continuaria ali, me consumindo até que não restasse nada em minha alma.

               Vendo que eu estava prestes a desabar, Ângela me ajudou a subir e me colocou na cama. Eu tomei o bendito comprimido e fechei os olhos, deixando as lágrimas descerem descontroladas pelo meu rosto, guardando tão profundamente o meu desespero que cheguei a sentir dor em cada parte do meu corpo.

              Meu coração não batia mais, eeu não conseguia respirar...e mesmo com a Ângela ao meu lado pedindo que eu tivesse fé em Deus, eu não conseguia alcançar o conforto que necessitava. Simplesmente não conseguia.

              Eu quis tanto poder gritar, voltar no tempo, não deixar que qualquer um dos dois se afastasse de mim...Mas a minha vida nunca mais seria como antes.

             Vários minutos depois, ou horas, não sabia dizer ao certo, eu escutei a porta do meu quarto se abrir e senti Ângela se afastar da cama tentando não me acordar, mas foi impossível porque eu nem ao menos tinha adormecido.

            Como poderia se cada vez que fechava meus olhos, eu era invadida pelas lembranças do que vivi com os dois?

             E chorando, eu levantei-me da cama e olhei desconsolada para Alexandra querendo tanto que ela tirasse esse sentimento ruim de dentro de mim, que dissesse que tudo tinha sido apenas um engano. Que os dois estava vivos, e não apenas um...

           Mas bastou olhar para o seu rosto que eu percebi que era tudo verdade, que querendo ou não, eu teria meu coração despedaçado assim que escutasse o nome sair de sua boca.

           Atormentada, eu tentei em vão permanecer de pé, mas a dor que percorreu o meu corpo foi maior e me fez cair em uma escuridão agonizante.