Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

     O dia do enterro do Alfonso foi o mais triste da minha vida, eu não tinha ideia de como levantei da cama, tomei meu mcafé ou me vesti. Eu não me olhei no espelho, não quis enfrentar a pessoa do outro lado do reflexo, porque eu tinha pena dela.

      Pena por tudo o que foi tirado de sua vida.

     O clima na casa da Alexandra estava tão nublado quanto o meu interior, Christopher ainda estava no hospital e o Edgar parecia tão atordoado, que me deixava com o coração partido. Fui impedida pelo médico de sofrer grandes emoções, a medicação que davam para " me acalmar" era forte, mas não o suficiente para não perceber a tristeza de todos ao meu redor.

       Fiquei poucos minutos no enterro, não conseguindo escutar as palavras do padre, ou vendo todos aqueles olhares sobre mim. Por isso, fugi de todos na recepção e me tranquei no quarto que ocupava na casa da Alexandra. Todos estavam muito preocupados comigo, mas nenhum conforto, ou palavra de apoio que escutava, era o suficiente para aliviar meu sofrimento. Eu odiava essa sensação, mas tinha que admitir que não tinha a menor ideia do que fazer a partir de agora. Eu estava destruída.

             ***

           Passaram-se seis dias desde o enterro, e eu ainda vagava pela casa da Alexandra meio sem rumo. Os empregados me olhavam preocupados a cada instante, Ângela e ela não saíam do meu pé e me obrigavam a comer, mesmo que eu estivesse sem fome.

            Pelo pouco que sabia, Christopher estava se recuperando mais a cada dia, e eu não tinha mais ideia do que fazer para conseguir convencer Alexandra a me deixar visitá-lo.

           Por isso é que hoje, depois de uma noite mal dormida, e cansada de ficar presa a essa casa, eu decidi sair escondida e ir até o hospital vê-lo. Eu precisava fazer isso, caso contrário enlouqueceria.

            Cheguei poucos minutos depois de pegar um táxi e me dirigi ao terceiro andar, o horário de visitas iria começar em breve e não queria correr o risco de ser vista por ninguém.

            - Pode entrar, senhorita, mas tente não cansá-lo muito. - Assenti ao receber a autorização da enfermeira e me adiantei pelo corredor sem esconder a minha ansiedade. E, claro, a primeira sensação que senti ao pôr meus olhos sobre ele, que estava imobilizado na cama, foi a do meu coração acelerando violentamente. O alívio tomou conta do meu corpo exausto e uma ou duas lágrimas caíram quando uma vozinha dentro de mim sussurrou o meu amor por esse homem.

             - Dulce?! - Christopher abriu os olhos ao escutar a porta se abrir e me olhou confuso, formando aqueles dois vincos na testa e comprimindo os lábios em uma linha fina. Ele parecia tão cansado, além dos vários hematomas pelos braços, dos ombros enfaixados e o pescoço imobilizado...

             - Me desculpe, eu...eu só precisava ter certeza de que você estava bem - disse limpando as lágrimas. - Sua mãe não me deixou vir antes.

               - Eu também queria te ver. - Ele tentou sentar, mas foi difícil e eu me aproximei da cama para que ele não se esforçasse mais.

              - Eu fiquei tão assustada, tive medo de que estivessem mentindo para mim sobre o seu estado, não sei o que faria se você também...- As palavras desapareceram quando eu me dei conta do que estava prestes a dizer e a culpa m e fez recuar. Alfonso tinha morrido, e eu estava aqui desmoronando em cima de um homem casado?

              - Está tudo bem, eu estou bem, mas o que eu fiz... eu não tinha o direito de ter... - Eu sabia o que ele estava pensando, porque eu pensei o mesmo a todo instante.

            Mas eu não o considerava culpado pela morte de Alfonso, ele nunca poderia saber que algo assim poderia acontecer.

             - Não fale sobre isso, por favor... - pedi e ele revirou os olhos, se autorecriminando.

             - Como estão os bebês, Dulce? - Christopher mudou de assunto, mas não me encarou.

             - Estão bem.

             - Só bem?

             - Sim, pelos menos é o que acho. Eu os senti mexer essa manhã, mas não tenho certeza.

             - Sei que você não quer escutar isso, mas eu sinto muito pelo que aconteceu. Eu nunca desejei um final como esse para o Alfonso. Nós crescemos juntos, Dulce, podíamos ter desavenças, mas no fundo eu o amava. Acho que...acho que nunca vou me perdoar pelo que causei, eu o tirei de você...o tirei dos seus filhos...Ele não queria ter ido, e mesmo assim eu insisti. - Seu desabafo me atingiu em cheio, bem no meu peito, e comecei a me afastar, não querendo ouvir mais nada.

              - Eu não quero escutar, talvez nada disso estaria acontecendo se você não fosse tão rancoroso, Christopher, mas remoer isso não vai adiantar de nada agora. Eu não o culpo, como também não entendo porque as coisas assim precisam acontecer. Eu...eu só vim aqui para saber como você estava... - disse em um murmúrio e lhe dei as costas.

             - Por favor, Dulce, não vá. - Eu não olhei para trás, acho que nós não tínhamos mais o que falar um com o outro. Agora que eu sabia que estava tudo bem, podia ficar tranquila e me focar no que era verdadeiramente importante . Meus filhos.

              Saí tão desesperada do seu quarto, que quase desisti de esperar o elevador, mas depois achei melhor não arriscar a descer pelas escada. Só que para o meu azar, dei de cara com a Bianca assim que as portas se abriram.

             - O que você está fazenfdo aqui?! - ela gritou e eu tentei passar por ela. Não estava com paciência para suas birras hoje. - Me diga! - Ela agarrou meu braço. - Que eu saiba, você não tem nada a falar com o meu marido, e nem adianta fazer essa cara de sonsa que eu não caio na sua, garota. Não sei o que Alexandra pensa, te abrigando na casa dela, mas isso vai acabar. - Não abri a boca para dizer um "A" a ela. Bianca era louca e não valia a pena perder o meu tempo.

            Apertei os botões seguidamente, até que vi as portas se fecharem e me apoiei contra o metal frio do elevador. Será que minha vida seria sempre assim? Eu estava cansada de perder as pessoas que amava, cansada de viver com medo de descobrirem sobre o meu passado. Não queria que meus bebês nascessem nessa confusão, eu tinha que dar um jeito na minha vida, e logo.

          Quando finalmente cheguei a casa da Alexandra, a encontrei me esperando.

          - Por que você não me avisou que iria visitar o Christopher, Dulce? - Pisquei surpresa com a rapidez da minha querida ex-melhor amiga. Ela não perdia tempo.

           - Eu queria dizer, mas você não iria me autorizar. Não queria ter que esconder isso, Alexandra, mas eu precisava vê-lo.

           - Acho que nós precisamos conversar sobre isso. - Gelei ao escutá-la, o que mais Bianca havia contado? - Quero que me explique, por que você foi a primeira pessoa por quem meu filho perguntou assim que acordou? - O quê? Eu não tinha como explicar isso.

            - Eu...eu não sei.

            - Então, por que você se preocupa tanto com ele? Por que insistiu em ir vê-lo? Não entendo, mas não estou gostando do rumo que essa história está tomando...

            - Não está...

            - O Christopher é um homem casado, Dulce. Eu realmente espero que vocês não tenham feito o que estou pensando.

           - Nós não fizemos, eu nunca trairia o Alfonso, Alexandra, nunca! - disse desesperada.

           - Então me explique, eu preciso saber, porque tudo leva a crer que vocês dois estão escondendo alguma coisa. - Derrotada, eu decidi contar uma parte da história. Pelo menos, a parte menos dolorosa.

           - Eu conheci o Christopher bem antes do Alfonso, antes até dele se envolver com a Bianca. Nós duas éramos amigas na época, mas ela não sabia que eu saía com ele. Tudo terminou tão rápido que eu não posso nem dizer se tivemos alguma coisa, Alexandra. Acho que nunca signifiquei nada para o seu filho, porém quando eu descobri que ele e Bianca estavam saindo, eu simplesmente me afastei. - Açexandra levou um  tempo para compreender o que eu estava dizendo, acho que ela não esperava uma coisa assim sendo jogada em cima dela do nada.

              - Nós temos um problema aqui, Dulce. Se você não significa nada para ele, por que toda essa preocupação? Era por isso que Alfonso e ele andavam se estranhando tanto, não era?

             - Acho que sim, Alfonso evitava me contar esse tipo de coisa.

             - Eu realmente não esperava por uma situação como esta, querida.

             - Eu sinto muito, juro que ele e eu não temos mais nada. Eu amo o..eu amava o Alfonso, Alexandra, ele era tudo para mim.

             - Existem muitas formas de se amar uma pessoa.

             - Eu sei - falei sem olhá-la nos olhos.

             - Bianca sabe sobre vocês dois?

             - Não e nem pode saber!

             - Concordo, e preciso que você me escute. Eu, como mãe, poderia até interferir. Mas não vou, pelo menos não por agora - falou séria. - Bianca não quer você no hospital, não sei o motivo, e como esposa ela tem o direito de decidir quem o visita, entende? - Não podia acreditar no que estava ouvindo.

             - Entendo. - Entendia também que Bianca tinha se tornado uma pessoa nojenta.

            - Ele é um homem casado e, por mais que tenha certeza que vocês dois sentem algo um pelo outro, não quero que o casamento dele acabe. Bianca é uma boa moça, e sei que ela não suportaria se ele a deixasse. - Eu balancei a cabeça, entendendo o seu ponto, Dulce, mas também a quero longe do Christopher. - Eu sabia que seria assim, nunca imaginei o contrário. - Tem outra coisa, Victor andou conversando com o Edgar e os dois querem que você assimne alguns documentos. Mesmo não tendo se casado com o Alfonso, Edgar quer que você tenha direito a uma pensão e que os netos dele tenham onde morar.

              - Mas eu tenho um apartamento, Alexandra, ele está fechado porque Alfonso queria que eu morasse com ele, eu não preciso de...

             - Você nãoi acha que nós vamos deixá-la morar em um lugar como aquele, não é? Você terá dois filhos para cuidar, Dulce, vai precisar de um espaço maior e de alguém para te ajudar diariamente. Não seja orgulhosa e aceite o inevitável porque, um dia, tudo o que era do meu sobrinho passará para seus filhos. Eles serão parte da Uckermann & Associados. Além disso Edgar nunca deixaria você passar necessidade quando ele tem tanto..

              - Eu não sei se isso é certo.

              - Errado seria você viver em um minúsculo apartamento por orgulho. Se não fosse pelo acidente, você estaria se casando em menos de duas semanas. Eu e Edgar conversamos e chegamos à conclusão de que Alfonso nunca nos perdoaria se você não tivesse acesso ao que era dele. - Será que ela não entendia? Não era o dinheiro dele que eu queria, era o Alfonso.

              - Dulce?

             - Eu não estou me sentindo bem, Alexandra, acho que vou... Acho que vou descansar um pouco - disse e subi para o meu quarto sem me importar com o que ela pensaria. Eu estava engasgada com tudo isso, com a Bianca, com o Christopher e até mesmo com o Alfonso por ter me abandonado quando eu mais precisava dele.

               A partir de agora eu sabia: precisaria ser forte apenas pelos meus filhos e por mais ninguém.