Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

      Dois meses depois....

       - Você está tão linda, mamãe - Maite falou enquanto eu terminava de me vestir em meu quarto. Nós tínhamos passado a tarde comprando móveis e o restante do enxoval dos bebês, eu já estava instalada no novo apartamento há um mês, mas ainda precisava deixá-lo com a minha cara.

         - Eu estou enorme, Maite. - Enorme e muito mimada, todos ficavam à minha volta, fazendo de tudo para espantar a minha tristeza.

         Não que funcionasse, eu poderia sorrir e insistir que estava tudo bem, mas lá no fundo do meu coração estava tudo desabendo a cada noite, a cada dia. E não era a lembrança do Alfonso que me deixava em prantos, era a sua ausência.

         Eu estava dividida entre estar vivendo um dos momentos mais especiais na vida de uma mulher ao mesmo tempo que tentava lidar com o luto de ter perdido o homem que me fez tão feliz.

          - Não está não, você é a mamãe mais sexy que eu já vi. - "Até parece", pensei. Eu não tinha engordado tanto, mas a barriga estava grande e pesada.

           - Você é um amor - falei, sorrindo, já pronta para sair. Alexandra tinha me ligado mais cedo, pedindo que eu desse uma passadinha em sua casa para assinar os papéis da transferência do imóvel e eu queria fazer isso antes que esses dois me cansassem e eu acabasse adiando a visita.

           ***

         - Alexandra? - Entrei sem bater no escritório, procurando por ela.

         - Minha mãe não está. - Ah, meu Deus! Christopher? Eu só continuava vindom aqui porque o risco de encontrá-lo era quase nulo e agora isso...

        - E o que você está fazendo aqui? - perguntei confusa.

        - Bem, meus pais moram aqui.

         - Eu sei, mas...- comecei a falar, mas depois fiquei quieta. Ele estava encarando minha barriga de maneira estranha e isso me incomodou. - Qual é o problema? - perguntei ofendida.

        - Nenhum. É que é estranho te ver assim.

        - Assim como? Grávida? - A última vez que nos vimos tinha sido no hospital, porque eu prometi a Alexandrea que ficaria longe dele. Na época, eu estava com um pouco mais de dezesseis semanas de gravidez, minha barriga não estava tão evidente quanto agora. Acho que isso meio que o assustou, coitado.

         - Sim, a última vez que te vi, você não estava tão...

         - Barriguda? - Não pude deixar de rir.

         - Sim, sua barriga está...grande - ele respondeu sem graça.

         - Também me assustei, há algumas semanas eu quase não me sentia grávida, sabe? Mas agora? Basta me olhar no espelho e me ver que já é o bastante. - Dei de ombros.

         - Você está com quantos meses?

         - Quase sete? - falei sem jeito.

         - Minha mãe contou que seria um casal.

         - Sim.

         - Isso é bom, certo?

         - Isso é perfeito! - disse sem esconder minha alegria e acariciei minha barriga.

         - Você está bem? Quer dizer...Eles estão?

         - Estão ótimos, tive uma consulta essa semana e o médico me garantiu que tudo está indo bem. - Ele me encarou diretamente nos olhos, como se estivesse tentando ler a minha alma e ficamos em silêncio por um longo tempo até que tomei a iniciativa e falei: -Onde está sua mãe?

          - Lá em cima, ela não se sentiu bem e pediu que eu resolvesse com você a papelada que o Edgar mandou.

          - Tudo bem - disse e lhe dei um meio sorriso, não sabendo mais o que dizer.

          - Dulce?

          - Hum?

          - Eu sinto a sua falta. - Como?

          - Não...não sente. 

         - Sinto, e a única coisa que me impediu de ir atrás de você nessas últimas semanas é porque todo mundo parece tão preocupado com a sua gravidez e... eu não sabia se você ainda me amava. Se iria me perdoar...

              - Eu não te amo - respondi na defensiva.

           - Por que não consigo acreditar em você? - Revirei os olhos, nervosa, totalmente agitada. A maneira como ele estava me olhando...- Eu te amo, Dulce, juro que amo - ele murmurou.

             - Você não sabe o que é amor, Christopher.

            - Eu sei o que é, tanto sei que estou cansado de fugir dele. Eu amo você e vou fazer de tudo para que perceba isso.

             - E a Bianca? - O lembrei, não levando muita fé no que ele dizia.

             - Eu vou pedir o divórcio.

         - Sorte a sua, então. - Christopher estava perto o suficiente nesse momento, e eu não sabia se recuava ou deixava ele se aproximar ainda mais.

            - Eu posso tocar em você?

            - O quê?

          - Na sua barriga, Dulce, eu posso tocar? - ele perguntou e me lançou um sorriso genuíno que fez meu coração bater mais forte. Assenti, sem conseguir pronunciar qualquer palavra que fosse, e sorri de volta.

            Levantei a bata soltinha de renda que usava, por mais íntimo que fosse esse gesto, e o deixei olhar minha barriga enorme

            - Não machuca, pode tocar. - O incentivei.

          - Eu sei que não, é só que... - Nesse momento, um dos dois me chutou, forçando a pele e ele me olhou preocupado.

            - Dói quando eles fazem isso?

            - Não, eu até gosto e acho que sua voz os agrada.

            - Sério?

         - Sim, eles não costumam ficar agitados assim, sempre deixam para me chutar quando estamos sozinhos. - Quase sempre à noite, depois de um dia exaustivo é que eles decidiam se comunicar comigo.

           Tomando consciência do que estava acontecendo, da sua mão sobre a minha barriga e dos dedos acariciando minha pele por mais tempo que o aceitável, eu me afastei, ficando vermelha e confusa. Tudo ao mesmo tempo.

            - Não, não se afaste...

            - Christopher, não dá. - Ele não tinha ideia do quanto seu toque mexeu comigo. Tinha sido íntimo demais.

         - Você está linda. - Sua voz saiu sussurrada, rouca e lembrei-me de todas as vezes em que a escutei assim, dos murmúrios em meu ouvido, dos gemidos roucos e violentos enquanto transávamos.

          - Por favor, eu preciso voltar para casa, vamos terminar isso logo - disse definitivamente enquanto enterrava dentro de mim todos esses pensamentos.

          - Claro - ele respondeu friamente, mudando drasticamente de humor. - Sente-se, eu pretendo ser rápido.

           Fiz o que ele pediu, e escutei atenta o que dizia a respeito dos documentos que passavam imóveis me ações para o meu nome, além da pensão que receberia mensalmente do Edgar.

          - Acho que, no final das contas, você acabou conseguindo o que queria, não é? - Eu parei de ler o contrato em minhas mãos assim que o escutei despejar seu rancor sobre mim.

           - Como você pode dizer algo assim? - o ataquei magoada.

           - Esquece, Dulce, não foi isso que eu quis dizer, eu só...

           - Você só disse, não é? Será que nunca vai conseguir me enxergar de outra maneira, Christopher?

          - Eu estou tentando.

          - Pois está tentando muito mal - falei e me levantei assim que assinei os papéis, pronta para sair e ficar o mais longe possível dele. 

        - Eu não vou desistir de você dessa vez - Christopher disse, me fazendo parar antes de sair pela porta.

          - A questão é que, dessa vez, não serei apenas eu, Christopher, eu venho com um pacote completo: dois bebês e um passado que você não tolera. - Ele cerrou o maxilar, mas não falou nada. - Então, não diga que está tentando, porque na primeira oportunidade que aparece, você mais que depressa me ofende.

           - Eu não queria dizer nada daquilo.

        - Mas disse, e o pior é que... como você ainda acha que nós ficaremos juntos algum dia? Como ainda pode virar para mim e dizer algo assim? Você me destruiu tantas vezes, e de tantas maneiras diferentes, que é muita pretensão pensar que te aceitarei novamente na minha vida! - praticamente gritei e andei apressada até o lado de fora escritório.