Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

    Seis meses depois...

    - Assim não, Christopher. - Tentei ficar séria, mas não consegui. A maneira como ele segurava o Alfonso, arrancando gargalhadas do meu filho, sempre me deixava apreensiva. Os dois tinham a sua própria maneira de se entrosarem e o Alfonso era completamente apaixonado por ele. 

       - Relaxe, Dulce, ele gosta - Christopher retrucou quase divertido e meu coração teimoso se derreteu por ele realmente estar se esforçando para se manter presente em nossa vida.

        - Ele acabou de mamar... - murmurei vendo o sorrisinho sapeca do meu menino, que olhava para mim como se soubesse que eu estava prestes a acabar com a brincadeira.

        Não querendo ser chata, eu me afastei com a Alice enquanto os observava de longe. Agora era a vez dela de mamar e eu preferia fazer isso sentada porque esses dois ja estavam começando a ficar pesadinhos.

         Christopher parecia relaxado essa noite, sua camisa estava dobrada até metade do braço, seu cabelo bagunçado depois de um dia inteiro de trabalho e os pés descalços por conta do carpete do quarto dos bebês.

        Não se parecia em nada com o homem frio e controlador que eu conheci quando tinha dezenove anos. E eu queria tanto acreditar nessa mudança dele que meu peito chegava a doer.

           Ainda com esse pensamento na cabeça, esperei Alice terminar e, calminha do jeito que ela era, logo pegou no sono. Aproveitei o momento e pedi que Ângela subisse para ficar com eles enquanto eu e Christopher descíamos para poder jantar.

            Tinha se tornado um hábito ele aparecer para jantar aqui em casa. Na maioria das vezes, ele me ajudava e nós jantávamos juntos depois que os gêmeos dormiam. Às vezes ficávamos até tarde conversando sobre nossas vidas, o nosso passado...e eu percebia a cada dia que estava me apaixonando ainda mais por ele.

          Christopher era um homem instintivamente controlador, sua personalidade não mudaria de um dia para o outro, mas a cada dia ele me mostrava um nova faceta. Ele podia ser carinhoso quando queria, podia ser gentil e respeitador. E por incrível que pareça...tinha tudo para ser um pai maravilhoso. Uma pena que...

             - No que você está pensando? - ele me perguntou de repente.

          - Em tudo e em nada - respondi envergonhada, sem a menor vontade de contar que eu estava pensando exatamente nele. Querendo mudar de assunto, eu fui direto ao ponto e trouxe o avô dos meus filhos para a conversa.

           - Edgar esteve aqui hoje.

           - E como foi?

           - Tranquilo, eu acho. Ele quer que eu passe alguns dias com ele no próximo mês - falei receosa da reação do Christopher.

           - E você vai?

          - Não sei ainda, não é o que eu gostaria de fazer por agora, sabe? Quero que os gêmeos cresçam um pouco mais.

            - Concordo, eles ainda estão muito pequenos para fazerem uma viagem tão longa.

            Terminados de jantare, ao invés de ir embora como ele costumava fazer nas noites em que estava mais cansado, Christopher prolongou a conversa, me surpreendendo ao negar a pequena dose de uísque que lhe ofereci, o que de certa maneira me deixou feliz, porque já tinha notado o quanto ele era dependente do álcool e isso me incomodava.

           Era tarde quando ele decidiu encerrar a noite. Porém, sentindo o quanto estava cansado por causa da nossa noite e, por conta de todo o trabalho que vinha tendo nos últimos meses no escritório, eu acebei agindo por impulso e pedindo que ele ficasse.

           - Christopher...por que não passa a noite aqui?

           Me olhando seriamente, ele respondeu:

          - Acho melhor não, anjo, eu consigo chegar em casa em menos de meia hora. - Eu sabia que ele conseguiria, mas já era quase madrugada e exausto do jeito que estava...

          - Eu sei, mas prefiro que passe a noite aqui, você está cansado e...eu ficaria preocupada. - Ele me encarou por um longo tempo e percebeu que eu não tinha nenhuma segunda intenção com o meu pedido.

            - Tem certeza de que é isso o que você quer?

           - Tenho.

           Senti uma agitação estranha em meu estômago quando ele relaxou mais confortavelmente no sofá. E sem pensar direito, eu me aproximei dele com os dedos tremendo e tirei sua gravata, seus sapatos e meias, fugindo da maneira intensa que ele passou a me olhar e tentando não notar a rigidez do seu corpo.

          - Se você não quer que eu te toque, acho melhor se afastar agora.

          - Eu...eu só queria te deixar mais à vontade. - Puxando minha mão para longe dele, ele agradeceu e eu me aconcheguei ao seu lado, apoiando minha cabeça em seu ombro timidamente.

              ****

           - O que você está fazendo? - perguntei assustada ao ver que estava sendo carregada para o andar de cima.

            - Te levando para o quarto, nós dois pegamos no sono lá em baixo.

            - Hum...

            - Christopher..

            - Sim?

            - Fique aqui comigo essa noite. - Ele me olhou confuso.

            - Em sua cama?

            - Hum-hum. - Vendo para onde estava indo seus pensamentos, eu logo me corrigi. - Mas é apenas para dormir...nada de...você sabe.

            - Só dormir, hein?

            - Sim. - Ele sorriu, uma coisa bastante incomum nele, e eu fiquei insegura da minha decisão. Talves não fosse uma boa ideia me arriscar assim. Christopher era perigoso e eu sempre fui fraca quando se tratava dele.

            Arregalei os olhos quando ele, do nada, começou a desabotoar a camisa e tirou o cinto.

            - Não tire a calça!

            - Está com medo de mim?

           - Não, eu só não quero que a Ângela entre aqui e o encontre só de ...cuecas. - Mentira, eu não queria era vê-lo assim.

            - E quem falou que eu iria dormir de cueca?

            - Nem em sonho, Christopher, mantenha a calça - falei firme, mas no fundo já estava pensando em todas as vezes que estivemos juntos. O sexo era uma das poucas coisas que sempre deram certo entre a gente. Era intenso e selvagem, quase bruto, e me deixava virada do avesso.

            Com um sorriso cínico no rosto, Christopher se deitos ao meu lado e eu joguei um cobertor para ele, que foi completamente ignorado, já que fez questão de entrar embaixo do meu.

           - Christopher...- murmurei quando ele me envolveu em seus braços.

           - Eu sé estou te abraçando, meu anjo, agora durma. - Mesmo sabendo o quão errado isso era, eu me aconcheguei ainda mais contra o seu corpo e adormeci.

             ***

          Fui acordada pelo som dos bebês chorando através da babá eletrônica e me levantei rapidamente. Sair dos braços do Christopher é que foi o problema, ele levou a sério essa coisa de me abraçar durante a noite e nem dormindo parecia disposto a me soltar.

           Corri até o quarto dos gêmeos e encontrei Alfonso se acabando de chorar, dos dois ele era o mais impaciente e, por mais estranho que fosse, Alice parecia seguir o seu humor. Quando ele estava calmo, ela também estava, quando ele chorava ela também chorava.

          O peguei no colo e ele, mais do que depressa, sugou o bico do meu peito, meu pequeno estava esfomeado e, enquanto ele mamava, eu me sentei na poltrona do lados dos dois berços. Alice já não chorava mais, apenas sugava o dedinho, como se soubesse que a próxima seria ela.

           - Ei, o que aconteceu? - Christopher apareceu na porta preocupado.

           - Está na hora deles mamarem.

           - Posso ajudar?

           - Se você tivesse um peito com leite, você poderia...- brinquei e antes que pedisse ele já havia tirado Alice do berço e aninhado em seu colo.

          - Calma, amor, eu sou só uma... - sussurrei para o meu menino, que ainda não parecia satisfeito. Com um sorriso no rosto, eu desviei a atenção do meu menininho e olhei para cima, só para encontrar Christopher me encarando intensamente. - Você está me deixando sem graça.

            - Por quê? Eu acho a coisa mais linda do mundo ver você amamentando. - Eu devo ter ficado vermelha, roxa, azul...

             Ficamos em silêncio por um tempo até dar de mamar a Alice e os dois pegarem no sono.

           Voltamos para o quarto logo em seguida, e pensei que Christopher fosse me puxar novamente para os seus braços, mas, ao em vez disso, ele se deitou de frente para mim e me encarou.

           - O que foi? - perguntei baixinho.

           - Você é linda. - Revirei os olhos, envergonhada. - Estou falando sério, você é uma das mulheres mais lindas que já conheci e eu gosto de saber que você é assim por dentro também.

           - Você tirou a noite para me deixar sem graça?

          - Não, é só que eu tenho orgulho de você, Dulce. Depois de tudo o que passou, e, eu sei que tenho culpa por grande parte do seu sofrimento, mesmo assim você é uma mãe maravilhosa e uma mulher incrível. - Christopher pareceu pensar um pouco e continuou: - Às vezes, eu sinto que o Alfonso não esteja aqui para ver isso. - Falar do Alfonso sempre me emocionava e as lágrimas apareceram sem que eu pudesse controlar.

        - Não falei isso para te fazer chorar, venha aqui... - Ele me abraçou novamente e afagou meu cabelo repetidas vezes. - Eu amo você, anjo, e pode ter certeza de que eu vou esperar o tempo que for preciso até que você me dê outra chance. - Escutar isso me fez chorar ainda mais, porque eu queria acreditar nele. Queria muito.

         Fui surpreendida quando Christopher se inclinou e me beijou, foi suave e lento, e durou tempo o suficiente para fazer o meu coração despertar. Confusa, eu tentei me afastar, mas ele impediu.

           - Durma. - Como eu conseguiria dormir depois disso?