Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

     Depois que saímos do observatório, Christopher me convidou para ir jantar em um bistrô italiano próximo ao Central Park, ele estava me contando dos seus planos para a expansão do escritório e tudo o que ele pretendia melhorar caso conseguisse trazer a diretoria para Nova Iorque.

      Eu estava meio abobada enquanto escutava, ele definitivamente era um homem de negócios  e me perguntava internamente se algum dia eu poderia falar com a mesma paixão sobre a minha carreira.

        Minha faculdade estava trancada desde o nascimento dos bebês, e eu ainda não tinha previsão de quando voltaria. Alexandra, Ângela, Edgar e até mesmo o Christopher, conseguiram me convencer a esperar um pouco mais antes de dar um passo maior que a perna e tentar abraçar  o mundo.

        Eu estava tentando, mas odiava a ideia de que, enquanto a vida dos outros girava, a minha estava estacionada no mesmo lugar. Eu não queria ser apenas a mulher ao lado do Christopher, ou então a mãe dos netos do Edgar.

         Distraída, eu não prestei atenção a nada ao meu redor e só quando estávamos prestes a fazer o pedido é que me dei conta do desastre que estava prestes a acontecer.

        - Dulce? - A voz estridente da minha prima ressoou pelo pequeno restaurante e me virei automaticamente. Confesso que demorei a reconhecê-la e quando o fiz, preferia mil vezes não ter feito.

         - Desculpe, eu não me lembro de você...- disse escondendo o terror dentro de mim e evitando a todo custo encarar o Christopher.

          - Jura? - Porque eu me lembro muitíssimo bem de você. Você quase matou meus pais de susto quando fugiu de casa! - ela estava falando tão alto que eu fiquei constrangida. - A última notícia que tivemos a seu respeito foi quando a esposa do seu queridinho chefe nos contou que você era amante dele. - Prendi a respiração e pensei seriamente em me levantar e correr para fora, eu queria sumir da frente dessa louca. Camila nunca gostou de mim, assim como a sua mãe e as duas roubaram tudo o que deveria ter sido meu.

          - Eu acho melhor a senhorita abaixar o tom de voz! - Christopher a alertou.

          - Você não a conhece, meu querido, ela fugiu por causa de um homem casado, ela é uma vadia...- minha prima murmurou, tentando não chamar a atenção, mas foi inútil. Todos ao nosso redor estava prestando atenção à conversa.

          - Já chega, ou você sai daqui agora ou eu irei chamar o gerente. - Foi aí que percebi que ela estava com o uniforme de garçonete. O que ela estava fazendo em Nova Iorque, afinal de contas? O quão azarada eu podia ser?

           - Christopher, eu perdi a fome, vamos embora?

          - Você não vai fugir assim, Dulce, meus pais saberão que eu a encontrei... - ela ameaçou e eu fiquei aterrorizada, só a ideia de ver meu tio novamente conseguia me deixar doente.

          - Christopher, por favor...vamos? - eu implorei e ele me tirou daquele lugar o mais rápido que pôde. Passamos o caminho até a casa dos pais dele em completo silêncio e tive medo  do que o Christopher faria comigo quando ficássemos a sós.

            Subi rapidamente, com a desculpa de que precisava ver os gêmeos, mas Maria garantiu que eles estava bem e dormindo. Então, não pude demorar tanto quanto gostaria.

             Peguei o corredor até o quarto onde estava ficando e encontrei Christopher sentado na cama me esperando. Não foi fácil decifrar o que ele estava sentindo e isso me deixou ainda mais amedrontada.

             - Eles estão bem?

            - Sim.

            - Bom... - Ele se levantou e começou a tirar a gravata.

            - Christopher, eu sinto muito...

            - Não precisa deizer nada disso, Dulce, mas espero que realmente me conte o que aconteceu com você antes de nos conhecermos.

            - Eu não posso...

            - Pode e vai. Se você me ama, vai ter que aprender a confiar em mim. Não me deixe de fora sem saber o que fazer ou dizer quando, por uma fatalidade, esbarramos com algum parente seu novamente.

            - Você nunca entenderia.

            - Eu vou tentar.

            Bufei, irritada. Não era para nada disso estar acontecendo. Não agora.

            Por pressão, eu acabei contando tudo. Sobre o John, sobre os maus-tratos da minha tia e as humilhações que passava por causa da minha prima. Contei também como consegui sair de casa e o porquê tinha decidido ser garota de programa e, no final, Christopher parecia tão furioso como nunca o tinha visto antes.

           E olha que eu já o vi nervoso muitas e muitas vezes.

            - Meu Deus, Dulce, por que você nunca contou a ninguém? Esse homem deveria estar preso! - ele se alterou e recuei. Não tive como me segurar, foi uma reação involuntária. - Eu não vou te bater, merda! Não me olhe como se eu fosse fazer algo assim novamente.

           - Eu sei... foi sem querer, eu juro. - Atordoado, ele se afastou e começou a andar de um lado para o outro dentro do quarto. - Eu sei que deveria ter contado a alguém...mas ele dizia que ninguém acreditaria em mim, que todo mundo diria que eu era uma mentirosa.

           - Se eu soubesse disso...Porra, eu me sinto um canhalha ainda pior agora, Dulce! Tudo o que fiz com você, tudo...

             - Por favor, pare, isso não tem nada a ver com a gente e eu não quero que ninguém sinta pena de mim, entendeu?

             - A última coisa que eu sinto é pena. Eu estou puto da vida, isso sim. Juro, que se algum dia eu ficar cara a cara com esse filho da puta, eu acho que sou capaz de matá-lo com as próprias mãos.

                - Não diga isso, tudo o que quero é esquecer que ele algum dia encostou em mim. - Christopher xingou e me puxou para os seus braços, me abraçando tão forte que eu fiquei sem ar.

               - Me desculpe, anjo. Me desculpe por todas as merdas que fiz, por todas as idiotices que eu disse... Você nunca mereceu a minha raiva, o problema nunca foi você. O problema era comigo e com o meu maldito orgulho. Entende isso?

               - Sim, eu entendo, mas isso tudo é passado. Eu só quero esquecer.

              - Eu juro que ninguém nunca mais irá te fazer sofrer, eu não deixarei porque você é minha, anjo, e eu cuido do que é meu. - Ele estava tão nervoso que tive que acalmá-lo quando ele se inclinou para me beijar. E foi só depois de termos feito amor apaiconadamente que eu pude, enfim, respirar aliviada.

              O fato dele ter ficado ao meu lado hoje significou para a nossa relação mais do que ele poderia imaginar.