Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

             Acordei com a maior crise de enxaqueca que eu tinha sentido em toda a minha vida. Elas sempre foram frequentes, mas nos últimos meses tinham praticamente desaparecido. Acabei tendo que desistir de todos os meus compromissos, incluindo a ida ao shopping e a reunião com o meu orientador. 

              No fim da tarde por volta das 17h30, eu meio que fui obrigada a levantar para comer alguma coisa, e aproveitei que Babi tinha me feito uma visita rápida e, como uma boa amiga, preparado uma saladinha e uma sopa para quando eu estivesse melhor.

           Não que agora eu estivesse me sentindo bem, a dor ainda era intensa e eu tinha tido enjoos durante toda a tarde. Mas eu precisava forçar algo para dentro e comer, já que normalmente não sentia fome depois dos programas que fazia, e ontem, quando Henry tinha finalmente decidido encerrar a noite, a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi ir para debaixo do chuveiro, arrancar o seu cheiro do meu corpo e me enfiar debaixo do cobertor logo depois.

             Sentada na bancada da cozinha, eu estava pensando que a oferta insistente do meu orientador em me dar uma bolsa não era nem um pouco viável. Eu viajava muito, e acabava tendo que estudar o dobro para compensar minhas faltas e manter minhas notas altas. O desconto que receberia não me ajudaria em nada, não quando eu pagava uma mensalidade exorbitante.

         Com a cabeça longe em meus devaneios, demorei a perceber que minha campainha tocava. Estranhei porque a única pessoa que costumava vir aqui era Babi e mais ninguém. E logo hoje, quando estava completamente acabada, algum vizinho intrometido tinha que decidir aparecer?

             Ignorei em um primeiro momento, esperando que a pessoa desistisse, mas não, além do toque irritante, comecei a escutar batidas fortes em minha porta. Antes que minha cabeça explodisse, desisti e fui ver quem era a visita indesejada.

                Sem paciência, decidi ignorar o fato de que ainda estava descalça e usando pijamas de algodão. Os momentos que passava em casa eram os únicos em que eu era capaz de me sentir como uma garota da minha idade, dentro desse apartamento eu não precisava ser o que os outros queriam que eu fosse. Eu era o que eu queria ser e ponto.

                 - Finalmente. - Sua voz ressoou grave pelo corredor antes mesmo que eu o identificasse, e vê-lo foi como um banho de água fria no inverno em algum canto da Antártida. Desnecessário.

             - O que você está fazendo aqui? - murmurei confusa, tentando esconder o meu estado. Ficar vulnerável na frente desse homem estava fora de questão.

                - Me convide para entrar, Dulce. - " Não mesmo! ", consegui raciocinar apesar da dor.

               - Você não vai entrar aqui. Olha, eu não estou me sentindo bem, estava tentando comer algo pela primeira vez hoje e... - Minha voz soou mais baixa do que pretendia. - agora tudo que consigo é sentir náusea, então, por favor, podemos ter essa conversa outra hora? - perguntei, enquanto me segurava no batente da porta. Meus joelhos ficaram trêmulos e não sabia se era por causa da sua presença ou se porque meu corpo estava desistindo de me manter em pé.

               - Sem chances, eu preciso entrar e isso não é discutível. - Será que ele sempre estava nervoso? - Preciso acertar essa merda ainda hoje, e melhor, preciso saber que raios você pensa conseguir se envolvendo com Bianca e a sua família. Ela não sabe o que faz, sabe?

              Balancei a cabeça sem olhá-lo diretamente, eu não sei porque me sentia tão ameaçada na sua presença, e como um animalzinho indefeso eu sabia que estava prester a ser caçada...E escutá-lo falar sobre Bianca, a única amiga que eu tinha, me fez querer gritar, revidar, dizer qualquer coisa. Mas, ao invés disso, minha cabeça girou, minha visão ficou turva e em um conflito de interesses, eu não sabia se desmaiava, vomitava ou se fechava a porta na cara desse idiota.

             Olhei para baixo, com os dedos brancos segurando o batente e quando dei por mim, tudo ficou escuro.