Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

                Os dias foram se passando e a aflição dentro de mim aumentando a cada dia.Faltavam apenas dois dias para a viagem do Christopher e até agora, ele não tinha dado nenhum sinal de que iria desistir de ir para Londres.

                   Meu coração estava tão pequeninho que fui me entregando aos poucos à tristeza, deixando a dor tomar conta de cada célula do meu corpo. Maria e Ângela estavam preocupadas porque eu não conseguia parar de chorar, ou sair da cama, mas eu precisava desse tempo para mim. Precisava sentir todo esse sofrimento porque eu estava cansada de ser forte e de sempre consegui me reerguer. E se neste momento eu estivesse tão quebrada que não quisesse mais seguir em frente?

                   - Olha quem eu troxe para poder animar a mamãe. - Maria entrou com Alice e Alfonso, me fazendo sorrir de tanto amor que eu tinha por aquelas carinhas bochechudas. Eles eram as únicas pessoas que conseguiam arrancar de mim um sorriso verdadeiro nas últimos dias.

                 Alice, com todo o seu jeitinho carinhoso, subiu na cama e correu para me abraçar, enquanto o Alfonso me olhou com aqueles olhinhos marejados, como se algo o tivesse magoado.

                - O que aconteceu, Alfonso? - perguntei com a minha pequena no colo toda sorridente. Alice era um amor que conquistava a todos com sua constante alegria.

                  E sempre que eu a via assim toda feliz e sorridente, eu me lembrava do Alfonso. Ela era tão parecida com o pai, que nos momentos de maior fraqueza chegava a doer ver nela todos os detalhes que eu tanto amava dele.

                 - Ele não quer falar nada, Dulce, nem comer ele quis essa manhã. - Cortava meu coração ver o Alfonso assim.

                 - Lice, meu  amor, você quer ir brincar com a Maria? - perguntei e ela acenou com a cabecinha e mandou beijinho para a Maria toda contente. Esperei as duas saírem do quarto e peguei meu anjinho no colo.

                   - Que foi, meu bebê? - perguntei suavemente. A doutora Carla havia me proibido de ficar com eles no colo por muito tempo por causa do problema que tive na primeira gravidez, mas com o Alfonso era impossível não ter que fazer isso. - Você quer brincar com a mamãe? - Passei a mão pelo seu cabelo comprido o bastante para que caísse em sua testinha.

                       - Bicá com papa.... - ele murmurou baixinho e isso para mim foi a gota d` água. Não dava mais para continuar desse jeito, meus filhos estavam sofrendo pelos meus erros e me dar conta disso acabou comigo.

                    - Brinca com a mamãe, Alfonso - tentei convencê-lo com a voz abafada pela vontade de chorar. 

                       - Nã. - Desde quando ele sabia falar não?

                       Não pude deixar de sorrir entre o rio de lágrimas que desciam pelo meu rosto. Meu anjinho fez uma cara tão brava, que mesmo que eu estivesse para baixo com os meus problemas, ver ele assim, crescendo e construindo sua própria personalidade, me deixava completamente orgulhosa.

                        No fundo, eles eram a única coisa em minha vida que estava certa.

                                                   ***

                   Era madrugada quando despertei e não consegui voltar a dormir. O dia da viagem do Christopher finalmente tinha chegado, e enquanto os gêmeos dormiam pesadamente ao meu lado, os últimos anos da minha vida foram passando em minha mente como um flashback. Mais precisamente desde o momento, lá atrás em que eu conheci o Christopher. Tinham sido tantas discussões, tantas brigas e ofensas. Mas também tinha havido aquela paixão louca, explosiva e que parecia não ter fim, por mais que tivéssemos tentado lutar contra.

                   E agora, depois de tudo, o desejo e o amor que eu sentia continuava latente em minha pele, como uma lembrança insistente do que eu poderia ter.

                    Mas por que tinha que ser tão difícil?

                    Christopher e eu estávamos prestes a ter um bebê, fruto de toda essa loucura, mas ao mesmo tempo era o nosso pequeno milagrezinho. Eu sentia isso.

                   E lá no fundo, eu sabia que se me encontrava nessa situação agora, era porque estava sendo birrenta, porque queria que ele sofresse tanto quanto eu sofri. Queria vê-lo sentir, pelo menos, um pouquinho de toda dor que ele me causou em todos esses anos.

                    Não que tivesse sido apenas sofrimento, porque quando ele queria, Christopher conseguia me fazer a mulher mais feliz desse mundo. Ele se dedicava, era carinhoso, atencioso. Quando ele se permitia ser o homem que eu amava, meu coração quase explodia de felicidade. Eu só queria que  ele se lembrasse desses momentos, dos momentos em que me fez feliz e não me machucasse novamente. Nunca mais, nunca mais....