Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

CHRISTOPHER

              Quatro anos depois....

                - O que está acontecendo aqui? - perguntei, franzindo o cenho para os três encrenqueiros que, assim que escutaram a minha voz, congelaram no meio do corredor.

                Alfonso e Alice estavam discutindo mais uma vez, como sempre faziam quando não conseguiam entrar em consenso sobre algum dos tantos assuntos importantes que eles tinham um com o outro. E enquanto o meu garotão era um verdadeiro homenzinho, todo genioso e protetor, a irmã era uma arteira no melhor sentido da palavra. De um bebê calminho e sorridente, ela havia se tornado uma garotinha espevitada cheia de energia.

                   E sozinha, Alice, era capaz de colocar fogo nessa casa e atiçar os irmãos com suas ideias mirabolantes. Olhei dos gêmeos para a Cecília, que era a minha bonequinha tímida, que correu toda dengosa se agarrando às minhas pernas e fazendo a carinha mais inocente do mundo, como se até segundos atrás não estivesse ajudando seus irmãos mais velhos a aprontarem.

                     - Papai - ela murmurou carinhosa. - Não teceu nada. - Cecíl sorriu, sabendo que eu não resistia a ela, assim como não resistia aos encantos da sua mãe.

                     - Não mesmo? E essa bagunça no corredor? Quem foi que fez? - perguntei, já desconfiado quem era o culpado.

                 Eu tinha passado o dia inteiro com eles, já que Dulce estava envolvida com a organização do evento beneficiente que a fundação social em que trabalhava estava oferecendo essa noite. Porém, nos minutos em que me afastei para poder ir me arrumar, os três tinham conseguido pintar toda a parede do corredor de batom. E só havia uma pessoinha capaz disso, que estava aqui na minha frente, quietinha e com as mãos escondidas nas costas.

                       - Não foi a gente, papai...Teceu sozinho. - Cecíl tentou me convencer e Alfonso riu.

                      - Não é teceu, Cecíl é aconteceu.

                      - O teceu é meu, Al! - ela respondeu nervosa e eu me segurei para não rir, sabendo que precisava ser firme. Os três eram o bem mais valioso que eu tinha na minha vida, eram a alegria dessa casa, junto com o meu anjo, mas eu não podia deixar que eles pensassem que podiam tudo.

                        - É, Al...o teceu é dela - Alice se intrometeu e continuou a me olhar com aquela carinha de culpada que, por mais que tentasse, não conseguia esconder.

                      - Já chega vocês três, seus espertinhos! - eu disse percebendo que eles estavam tentando me enrolar e conferi a hora, preocupado em não me atrasar. - Como ninguém vai me dizer que foi, os três irão ficar sem televisão durante todo o final de semana. Entenderam?

                     - TV não, papai, eu gosto de TV - CEcília choramingou, fazendo drama, e Alfonso olhou sério para Alice, que fez uma careta em retribuição.

                         - Agora, vamos os três para o quarto, vamos, vamos...- Eu os vi marcharem um atrás do doutro, em escadinha.

                            Colocá-los na cama tinha se tornado um hábito desde a época que Dulce estava concluindo o seu curso de Psicologia e se empenhando no trabalho. Meu expediente passou a ser mais flexível na U&A, porém, em alguns casos, preferia até trabalhar em casa mesmo. Aproveitei que Edgar acabou adiando a sua aposentadoria e montei uma equipe de confiança dirigida por ele e que confiava plenamente. A verdade era que eu não gostava da ideia dos meus filhos sendo criados por babás e empregados e, por mais que Ângela e Maria fossem praticamente parte da nossa família, eu e Dulce sempre fazíamos o impossível para estarmos por perto.

                            Quando chegamos ao final do corredor, elesentraram correndo no quarto que era conjugado, dividido apenas por uma porta larga de corredor. Meu anjo tinha insistido em não separá-los, dizendo que apesar da bagunça que fariam, isso também os tornaria mais próximos e tive que concordar porque ela estava certa. Enquanto Cecíl e Alice dividiam um, Alfonso reinava sozinho no outro.

                    Agitadas, as minhas duas princesinhas correram para suas camas enquanto eu ficava para trás, para dar boa noite ao Alfonso primeiro.

                   - Boa noite, papai., pode ir ver a mamãe que eu cuido delas - ele me garantiu e eu sabia que era exatamente o que ele faria, da maneira de um garotinho de quatro anos, mas faria.

                  - Boa noite, filho. - Beijei sua testa e puxei o cobertor com estampa de dinossauros por cima dele, sem deixar de sorrir pela lembrança que tive do meu primo nesse momento. Alfonso era idêntico fisicamente ao pai e olhar para ele de certa forma me deixava atordoado. Acho que o mesmo acontecia com a Dulce, porque não eram poucas as vezes em que eu a pegava olhando emocionada para o filho. Meu filho tinha os mesmos olhos azul-escuro e a mesma cor de cabelo, a única coisa na qual eles diferiam era na personalidade porque Alfonso pensava e agia como eu.

                   E foi só quando eu me dei conta disso, do quanto ele se espelhava em mim, foi que passei a pensar duas vezes mais antes de dizer e agir na sua frente.

                   Eu sabia da influência que tinha nos três e a última coisa que eu queria era que no fututo eles me odiassem como eu pensei odiar meu pai. Não que a minha relação com ele ainda estivesse tensa, porque não estava mais. Surpreendentemente, depois do meu casamento com a Dulce, meu pai acabou cedendo e me pedindo perdão pelos anos dicíceis que me deu. Assim como eu, ele engoliu o orgulho e disse que queria fazer parte da vida dos netos, porque era assim que e ele e minha mãe enxergavam os gêmeos.

                    Mesmo assim, Dulce e eu decidinos não esconder nada a respeito do verdadeiro pai deles, tanto que no quarto de cada um havia uma foto do meu primo. Foi uma decisão em conjunto, sentar e explicar aos dois que eles tinham dois pais. O Alfonso que estava no céu e eu que estava aqui para cuidar e amá-los incondicionalmente.

                      Após me despedir do Alfonso, eu me dirigi ao quarto das meninas, Cecíl já estava toda embrulhadinha debaixo do cobertor, enquanto os olhinhos claros de Alice estavam bem arregalados. Eu me sentei primeiro na cama da caçula, que pediu para eu mandar um beijo "grande" para a mamãe dela e depois fui conversar com a Alice, que era uma minicópia da mãe, de personalidade forte, decidida e com os mesmos cabelos loiros e cor de olhos.

                          - Fui eu, papai, o Alfonso e a Cecíl não tiveram culpa....

                         - Eu já sabia disso, meu anjinho - respondi e afastei a franja comprida que caía em seu rosto, totalmente orgulhoso por ela ter decidido ser sincera comigo.

                         - Sabia?

                         - Claro que sim, eu sempre sei de tudo - brinquei e ela arregalou os olhinhos. -Agora, prometa para mim que, a partir de hoje, as paredes da casa estão fora da sua lista de arte?

                        - Eu prometo, papai. - Meu anjinho me abraçou toda carinhosa. - Obrigado por não brigar comigo.

                              Esperei até que todos eles pegassem no sono enquanto admirava a minha família, pensando em tudo o que eu tive que passar para tê-los em minha vida hoje. Todo o meu orgulho e frieza haviam ficado para trás, dando espaço ao sentimento mais forte e profundo que eu conhecia: o amor.

                        Eu já tinha mudado pela Dulce, mas esses três conseguiram me transformar radicalmente.