Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

CHRISTOPHER

   Passei o dia inteiro ignorando Dulce. Até mesmo pensar nela estava proibido e, porra, tinha sido quase impossível. Principalmente porque a minha falta de controle da noite passada me trouxe recordações do tempo em que fui casado com a Anahí. Lembro da minha esposa ter me pedido em diversas ocasiões para que eu procurasse ajuda profissional, mas sempre me recusei. Não que alguma vez a tenha machucado ou ousado tocar mais agressivamente nela, nossas brigas sempre ficavam em bate-boca e ela quase sempre desistia  de argumentar comigo e cedia aos meus pedidos e eu gostava que fosse assim.

    Por isso, as explosões da Dulce me irritavam tanto. Por que ela não podia acatar o que eu dizia e ficar por isso mesmo?

    Claro que minha relação com a Anahí era o oposto da que era com a Dulce, meu amor pela minha esposa nunca foi discutível. Mas eu não podia fechar os olhos e ignorar as emoções intensas que eu sentia cada vez que estava ao lado da Dulce...E imaginar ela com outro homem, então? Pensar nisso me deixava a ponto de perder a sanidade.

    E eu que tanto julguei meu pai quando ele se envolveu com aquela desgraçada interesseira anos atrás, não podia estar mais fodido. Se ele sentiu metade do que eu estava sentindo agora, seu comportamento estúpido era completamente admissível.

    Pensar em tudo isso durante o dia me deixou com um humor terrível e, à noite, o jantar, que tinha tudo para ser agradável, se tornou uma porcaria do qual eu estava louco para me livrar.

    Dulce, por sua vez, estava mais calada que o normal. Recuava cada vez que eu a tocava e ignorava meus olhares. Queria avisar a ela que sua atuação estava uma merda, mas a deixei em paz até porque sabia o que a mantinha irritada.

    Minha diabinha, pelo visto, tinha odiado saber que eu estive com outra mulher na noite passada e se eu não fosse tão cético, poderia jurar que sua raiva não passava de ciúme.  

    Enquanto a escutava conversar com os convidados do Sr. Hudson durante a noite, eu a observei atentamente até que ela perdeu a compostura e pediu licença. Era muito fácil deixá-la afetada, constatei.

    No final da maldita noite, quando eu já não aguentava mais a expressão de nojo da Dulce, acabei aceitando o convite do Marcelo para tomar uma bebida no escritório assim que chegamos em casa. Vivian tinha tentado se aproximar um pouco mais cedo, mas eu logo tratei de dispensá-la sem um pin go de paciência para os seus jogos.

    Mesmo cansado, me joguei na poltrona e enchi o meu copo e o do meu amigo. Pensei que fôssemos ter um papo agradável, assuntos costumeiros, mas me vi sendo interrogado por ele, que não parecia ver com bons olhos a relação com a minha "noiva".

    - Por que Dulce saiu da boate sem dizer nada, Christopher?

    - Ela não estava bem, Marcelo. Nada de mais.

    - Serio? Achei muito estranho fora que foi uma tremenda falta de educação. E se tivesse acontecido alguma coisa?

    - Como o quê? Não aconteceu nada, ela está bem, eu estou bem e isso é o que importa - falei e virei a dose inteira do uísque em minhas mãos. A sensação de algo queimando surtiu efeito e aliviou a pressão que senti o dia inteiro.

    - Não consigo entender o que vocês dois fazem um com o outro. Até agora não decifrei se você a ama ou não...

     - E isso importa...por quê?

     - Porque conversei com a Vivian essa tarde, Christopher, e não gostei do que ela me contou. Se o que vocês tem é real, por que ela esteve no apartamento do Alfonso essa tarde? - Eu não sei se já estava bêbado a ponto de estar imagiando coisas ou se tinha realmente escutado essa merda. - Vivian garantiu que ela ficou bastante tempo com ele e que chegou em casa umas duas horas depois de tê-la visto entrar em seu prédio. Você sabe o que isso significa, certo?

     - Não, porra, eu não sei o que isso significa! - explodi e me levantei. Senti o álcool mexendo com a minha cabeça e a maldita pressão no peito novamente. Esse era o meu coração batendo forte?

    - Está vendo por que eu estou preocupado com você? Você tem agido feito um louco, fazendo coisas que nunca te vi fazer. Eu só quero entender o que você sente por ela.

     - Eu não sinto nada por aquela vadia! - gritei e Marcelo se assutou pela forma como me referi a ela

    - Então, você a está usando?

.    - Não. - Eu não sabia mais o que estava fazendo. Se era ela quem estava me usando ou se era eu quem estava se aproveitando desse acordo estúpido. Só sei que tudo ia mal!

    - Você acabou de admitir que não sente nada por ela...Como pode não estar usando-a?

    - Isso definitivamente não é da sua conta! - Ótimo, eu estava bêbado o suficiente para soluçar e isso significava que eu iria acordar amanhã sem lembrar dessa conversa ridícula.

    - É da minha conta porque, se os dois estiverem te enganando, eu não pretendo deixar meu amigo ser feito de palhaço... - Marcelo jogou o celular sobre a mesa, acenando para que eu o pegasse e eu vi a confirmação de tudo o que ele tinha dito. Dulce entrando no prédio dele, os dois sorrindo...A filha da p*** estava sorrindo para ele...

    - Christopher?! - O ódio agora transbordava, eu já não tinha consciência ou controle dos meus pensamentos e entornei a garrafa de uma vez só, tomando altos goles do uísque.

    Mas com que intuito? A bebida não iria camuflar a dor, nem me faria esquecer a traição dela.

    - Christopher?! - Olhei perdido o homem à minha frente e tomei uma decisão.

    - Não me siga! - Dei as costas ao meu amigo, ainda segurando a garrafa e saí do escritório.

    Cheguei ao quarto, Dulce estava digitando algo em seu celular e sorrindo, o que só me deixou mais irado. A cadela deveria, pelo menos, sentir um pouco de culpa, não?

     - Está tudo bem? - perguntou assutada avaliando a forma como eu a encarava.

    - Eu acho melhor você manter sua maldita boca calada! - rugi e avancei em sua direção enquanto ela recuava. Seu olhar aterrorizado não me fez recobrar o controle porque a raiva pulsava dentro de mim, ameaçando explodir. Ninguém me humilhava dessa maneira e escapava impune...