Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

     Mais tarde, naquele mesmo dia, eu saí do elevador que dava de frente para a cobertura do Christopher e apertei um pouco mais forte o casaco em volta do meu corpo. . A porta se abriu quase que imediatamente, como se ele tivesse calculado até mesmo os segundos que eu levaria da recepção até seu apartamento.

     - Oi...

     - Entre - falou e eu o encarei rapidamente. Seu cabelo estava desalinhado, sua camisa amarrotada e com os primeiros botões desabotoados. Seu olhar cruzou com o meu enquanto eu o avaliava e estranhei o quão cansado ele parecia. - Obrigado por ter vindo. - Me retraí ao sentir sua mão cobrir minha cintura mesmo por cima do casaco.

      - Você não me deu muita escolha, Christopher. - Me afastei do seu toque, sentindo o calor vibrar vergonhosamente pelo meu corpo. Eu era mais forte do que meus desejos, tinha que ser.

      - Eu não sei mais o que fazer, Dulce. Já te ofereci dinheiro e você se recusa a aceitar...O que eu tenho que fazer, para você que entenda que eu preciso de você? - Suas palavras me afetaram mais do que poderia imaginar. Ele precisava de mim? Desde quando? Dei mais alguns passos, me distanciando dele.

      - Eu não quero seu dinheiro, não quero nada que venha de você - admiti ressentiida. - Quantas vezes vou precisar dizer isso?

        - Você tem que querer alguma... - Ele me alcançou e cobriu meu rosto com suas mãos, uma de cada lado. - Eu quero você, só me diz o que tenho que fazer para que você entenda isso. Eu posso te dar muito mais do que o Henry, Dulce. Eu posso te comprar...

        - Você não pode estar falando sério...-o interrompi.

        - Eu estou....-Seu nariz roçou o meu, nossas bocas ficando a poucos milímetros de distância. - porque não suporto nem imaginar você na cama com aquele bastardo todas as noites. Eu estou disposto a esquecer tudo...Eu quero você só para mim.

         - Você quer? - perguntei. - Por quanto tempo?

        - Eu não sei, dias, meses...Não sei. Tudo o que eu sei é que estou perdendo a cabeça longe de você, Dulce. - Eu não deveria nem estar cogitando as coisas que ele estava me dizendo, mas saber que eu não era a única louca nessa história me dava um certo conforto.

         - Eu não posso.

       - Por que não? - perguntou agitado e diminuiu a distância entre nós dois, que já não era grande. - Você me quer, eu sinto....A forma como me olha, a maneira como corresponde ao meu toque. Diria a té mesmo que você gosta bastante de mim...- O empurrei nervosa, desviando meu olhar do dele, mas não consegui.

         - Eu...não gosto - disse repudiando meus próprios sentimentos. Será que eu era tão óbvia assim? - Não gosto - repeti.

         - Gosta sim, anjo, e é por isso que aceitou vir me ver, é por isso que quando eu te toco toda sua pele arrepia...-Ele delineou a linha do meu pescoço e afundou seus dedos em minha nuca, comprovando o que dizia. - Diga sim, Dulce, e juro que posso te proporcionar muito mais do que o Henry, só me deixe tentar.

        - Eu não preciso do seu dinheiro.

       - Qual é o problema com o meu dinheiro?! - Seu tom de voz me assutou. Ele vale tanto quanto do Henry. E veja, você se vendeu a ele...

        - Vocês dois são diferentes - disse, não fazendo questão de explicar a maior diferença era que eu não era apaixonada pelo Henry, ir para cama com ele em troca de dinheiro não me fazia me sentir uma pessoa horrível.

         Furioso com minhas palavras, Christopher cerrou o maxilar e me soltou bruscamente.

       - Você deveria estar comigo. Comigo, porra! - grunhiu mais para ele do que para mim e socou o punho contra a porta, o que foi suficiente para me fazer reagir.

         - Eu estaria com você como? Como sua amante ou como sua noiva? - Com o cenho franzido, ele se virou e me encarou por longos segundos.

         - Você sabe que seria como amante.

         - Então, não há nada a ser discutido, Christopher. - Me apressei para pegar minha bolsa em cima do sofá da sua sala, mas ele me alcançou e puxou meu braço sem me machucar.

         - Você sabe o que é ir para cama com alguém e imaginar outra pessoa? O que é dormir e acordar pensando em alguém que você sabe que está em outros braços? - Claro que eu sabia, como ele podia me perguntar isso? Ou será que ele achava que sua relação com a Bianca não me machucava? Que quando o Henry estava dentro de mim eu só podia desejar que fosse ele? - Eu não tenho paz, não consigo me concentrar em nada, seu sorriso, sua voz...tudo me atormenta, Dulce, mas eu juro, que se você aceitar ficar ao meu lado, eu posso fazer você feliz. Do meu jeito, mas posso. - Não, ele não podia. Eu me recusava a ser seu segredinho sujo, sabendo o quanto eu sofreria vendo-o me abandonar todas as noites para voltar para os braços de outra mulher. - A única coisa que eu nunca poderei te dar, Dulce, é o lugar que Bianca ocupa na minha vida. - Lágrimas amargas desceram pelo meu rosto, isso tudo era tão injusto. Christopher estava apenas reabrindo a porcaria da ferida dentro do meu peito só para me dizer que eu não seria mais do que uma amante para ele.

      - Eu odeio tanto o que você faz comigo...- Afundei meu rosto em seu peito, não querendo e ao mesmo tempo querendo o seu conforto, e ele me abraçou, fazendo-me sentir pequena dentro dos seus braços. Deus, como eu queria arrancar ele da minha vida! - Você destruiu tudo, Christopher, tudo...Desde que eu te conheci, minha vida se tornou um inferno. - Eu chorava de soluçar agora, a dor consumindo aos poucos a raiva e a decepção que sentia.

       - Esqueça o passado - ele sussurrou enquanto acariciava as longas mechas do meu cabelo.

       - Eu não consigo. - Essa era a mais pura verdade. Esquecer tudo o que ele tinha feito exigiria de mim um cinismo que eu não sei se algum dia teria. Me tornar sua amante, então...me destruiria.

       Christopher arrancaria o restante do meu orgulho, ele me transformaria no tipo de mulher fraca que jurei nunca me tornar.

        - Eu tenho que ir - falei ciente de que precisava me afastar e me forcei a desvencilhar dos seus braços antes que fosse tarde demais.

         - Fique - pediu

         - Não vou mudar de ideia Christopher, não posso. Só, por favor, me deixe em paz dessa vez. - Peguei minha bolsa sem que ele me impedisse dessa vez e saí porta afora, com o meu coração destroçado, mais uma vez.

        No dia seguinte, enquanto observava Henry dar o nó em sua gravata com perfeição, tirei um tempo para pensar na minha vida enquanto ainda estava deitada na cama, apenas esperando ele sair para começar o meu dia, que normalmente - quando não estávamos viajando - era ocupado com uma hora de natação, algum tempo na academia e o restante era dividido entre um e outro livro, alguma série de TV e as ligações que recebia dele diariamente. Não era uma vida exatamente divertida, mas, enfim...era a única que eu tinha agora.

       - Seu telefone está tocando. - O escutei dizer e puxei automaticamente o celular de cima do criado-mudo, ficando perplexa ao reconhecer o número. - Quem é, Dulce? - Ele parou o que estava fazendo e me estudou.

         - Ninguém.

         - Atende.

         - Depois eu retorno...Não deve ser ninguém, provavelmente uma ligação por engano - garanti e lhe dei um meio sorriso que não o convenceu. Desconfiado, ele puxou o telefone da minha mão e atendeu.

         - Henry James falando. - Ele se afastou e foi na direção da sacada, mas eu ainda conseguia ouvir a discussão que se prosseguiu e, conforme ia escutando as ameaças que ele fazia ao Christopher, eu ia me afundando ainda mais na cama.

           Quando voltou para o quarto, Henry não parecia nem um pouco fora de controle. Eu meio que admirava isso nele, pois ser político exigia muita frieza e isso refletia em todas as áreas de sua vida.

          - Foi com ele que esteve ontem? - Eu meio que tinha escapado para poder me encontrar com o Christopher no dia anterior e, quando cheguei em casa, todo o complexo de segurança estava desesperado porque tinham me perdido de vista.

            - Christopher insistiu, Henry, mas eu juro que não aconteceu nada. Não fiquei nem meia hora...

            - Mas meia hora é tempo suficiente para se fazer muita coisa, Dulce! - Ele me deu as costas para poder pegar o paletó do seu terno. - Será que, por acaso, você pensou que ele faria uma proposta melhor do que a minha, ou então, deixe-me adivinhar...achou que ele abandonaria a noiva para ficar com você? -  Sacudi a cabeça veemente.

          - Foi ele quem me chamou...-Consegui dizer e Henry deu alguns passos até ficar na beirada da cama e me encarou.

             - Desista, Dulce! Eu conheço Christopher há anos. O orgulho dele o controla, ele não é um homem bom. Não que eu conheça algum homem realmente bom no meio em que vivo. Mas de todos por quem poderia se apaixonar, você apenas escolheu o pior. - "Como se eu já não soubesse disso", pensei amargurada. - Não seja idiota a ponto de achar que vocês dois podem fazer hora com a minha cara, porque posso até não ser violento, mas faço você se arrepender amargamente se sair da linha, entendeu?

            - Entendi.

            " Perfeitamente, por sinal", pensei enquanto voltava a afundar na cama. Dessa vez, completamente abalada com a ligação do Christopher. Será que o ocorrido ontem não tinha sido o bastante para fazê-lo entender que eu não cederia?