Fanfic: Aconteceu Você - Adaptada (Vondy) | Tema: Vondy

DULCE

     Era final de agosto e tudo parecia tão sem sentido como qualquer outro dia. Eu já não sabia o que fazer, ou o que esperar do meu futuro, porém, cada vez que Henry tomava meu corpo, eu me afundava em um rio congelante. Eu estava me perdendo, assim como imaginei que aconteceria.

      Sentada na sacada lateral da casa, observei entediada o temporal cair lá fora enquanto abraçava minhas pernas e apoiava o queixo em meus joelhos para me proteger do frio. Eu tinha passado toda a manhã esperando Henry aparecer para mais uma das suas visitas, mas hoje eu estava certa de que conseguiria pôr um fim em tudo.

      Eu queria a minha liberdade de volta, não importava tudo que eu precisaria abrir mão para que isso acontecesse. Eu só precisava deixar toda essa merda para trás.

       A lembrança do meu último encontro com o Christopher ainda ardia em minha memória, assim como todas aquelas coisas que ele me disse...Não tinha um dia que eu não me olhava no espelho e me perguntava o que teria sido de mim se eu tivesse dito sim a ele. Será que nós ainda estaríamos juntos? Porque, ao contrário do que imaginei, eu ainda pensava nele.

                           ***

        - Está tudo bem, Dulce? - Henry perguntou horas depois, nós já tínhamos jantado e eu o deixei me contar coisas do seu dia a dia enquanto fingia escutar. Mas, no fundo, estava apenas esperando o momento certo para poder dizer a verdade a ele.

         Pela primeira vez na noite, eu o encarei verdadeiramente. Seu rosto austero, o cabelo grisalho, as rugas evidenciando sua idade...Deus, eu tinha aguentado mais do que imaginei que conseguiria e juro que nunca estive tão cansada.

       - Eu acho que não posso mais fazer isso, Henry... - o interrompi, esperando temerosa por sua reação. Enquanto me avaliava, eu percebi que ele não parecia irritado, até porque acho que sentia que eu já não suportava mais os seus toques e jogos. E odiava ainda mais viver enfurnada dentro dessa casa, vendo a vida passar sem que eu pudesse fazer nada. 

        - Você quer ir embora?

        - Sim, eu...não suporto mais viver presa, eu abandonei todos os meus sonhos por isso aqui...e essa não sou eu.

        - Por que agora? Tem meses que eu vejo você se arrantando infeliz nessa casa, você acha que eu estou satisfeito com isso? Toda vez que eu te toco é como se eu estivesse tomando algo de você, Dulce, eu tenho minhas necessidades e realmente queria que nosso acordo fosse benéfico para ambas as partes, mas desde que o Christopher reapareceu, você me parece oca.

        - Eu sinto muito. - E era verdade. - Sou muito grata ao que você fez por mim, toda a proteção e o cuidado que teve comigo por todos esses meses, mas...

          - Não sinta - ele me interrompeu. - Apesar do apreço que eu tenho por você, eu nunca a obrigaria a permanecer comigo contra a sua vontade. O problema é que você escolheu o pior momento para me dizer isso. Eu estou no meio da campanha eleitoral.

           - Eu sei, eu sei. E eu não quero nada, juro. Não vou dizer nada a ninguém também. Eu só preciso sair daqui, eu quero minha vida de volta.

          - Tudo bem - Henry falou calmo e apertou minha mão por cima da mesa, em um gesto atípico da sua personalidade.

          - Tudo bem? - Isso me deixou surpresa.

          - Sim, eu vou sentir a sua falta, mas tenho um partido pelo qual lutar, meus adversários irão virar minha vida ao avesso à procura de algum escândalo... - Respirei aliviada enquanto ele dizia os riscos que estava correndo ao me manter nessa mansão de luxo às vias das eleições. Claro que eu seria obrigada a assinar alguns documentos garantindo minha confidencialidade, mas isso era o de menos. - No fundo, eu desejo que você seja feliz - ele disse sincero, e eu o encarei fixamente, o admirando muito mais por ter minha decisão respeitada.

            Aliviada, eu comecei a pensar que, quando saísse daqui, a primeira coisa que faria seria ir atrás de um lugar para morar e voltaria para a universidade. Com o dinheiro da venda do meu carro e de todas as minhas joias, tinha certeza de que poderia manter meus custos por um bom tempo sem precisar me preocupar.

          E quando generosamente Henry garantiu que não me deixaria desamparada, eu rejeitei a sua proposta de ajuda. Não queria sentir como se devesse algo a ele porque tudo o que mais queria era ir atrás da vida que sonhei desde que era uma criança.

            Já tinha fugido demais, dado as costas ao que me fazia mal diversas vezes. Dessa vez, eu iria enfrentar cada obstáculo, não importava o quão difícil pudesse vir a ser.