Fanfic: Memories - Um Conto de Daryl Dixon e Beth Greene | Tema: The Walking Dead
- Estou cansada de ficar andando para lugar nenhum. – murmurou Beth.
Daryl torceu o nariz quando olhou para trás e a viu sentando no meio da estrada. Seu cansaço estava desgastando-lhe até os ossos, mas não podia parar. Muito menos no meio da estrada correndo risco de ser encontrado por algum zumbi maluco. Adorava e odiava a menina ao mesmo tempo e não conseguia compreender como conseguia ser tão mimada às vezes. Lembrou-se de quando ela tentou o suicídio na fazenda de Hershel, seu pai, logo depois de toda a confusão. No começo via uma garota mimada e confusa, nada mais, ela não estava nenhum pouco preparada para enfrentar a merda que o mundo se tornara. Agora já não tinha mais tanta certeza, já que a mesma garota despreparada ainda vivia depois de tudo o que passou.
Mas agora parecia estar perdendo as forças e querendo desistir. Daryl não entendia muito bem o que era desistir, afinal, homens como ele pareciam se sentir a vontade em um mundo destruído e totalmente desolado como o atual. Antigamente não conseguia se imaginar desistindo também, sentando no meio da estrada e esperando uma horda zumbi vir fazer um lanche com a sua carne. Afinal, não se via como um pedaço de bife suculento. “Sou apenas osso, oras”. Resmungou para si mesmo enquanto continuava a caminhar. Finalmente parou e olhou para trás.
Beth pranteava copiosamente com os joelhos dobrados e o rosto encostado nos próprios joelhos. Os braços envolviam as pernas e o seu corpo tremia como Daryl nunca havia visto. Pensou em deixá-la para trás por um minuto, mas algo em seu coração dizia para que não fizesse isso. “Você se tornou fraco, Darylzinho. Eu não disse? A garota o tornou fraco. Rick o tornou fraco. Deixe a menina e ganhe tempo, que os zumbis peguem ela. Dará mais tempo para que você escape”. Disse Merle em sua mente. Daryl percebeu que não era Merle Dixon falando, e sim seu antigo “eu”. Alguns zumbis ouviram os zumbidos do pranto da menina e se aproximaram pela floresta com suas faces rasgadas e corpos apodrecidos.
Ele tomou a sua Besta e avançou na direção de Beth, disparando uma flecha contra o zumbi que estendia a mão para agarrá-la. O tiro fora certeiro no olho direito do desgraçado. Após engatilhar outra flecha, ele acertou o crânio do segundo que se aproximava antes que ele pudesse tocá-la. Avançou o mais rápido que pôde com uma motivação que não compreendia, mas sentia dentro de si uma necessidade sem igual de proteger a garota.
Abraçou-a por um momento enquanto a menina ainda estava no chão, então tomou seu facão e começou a retalhar os zumbis a sua volta de uma forma que jamais havia feito antes e com uma fúria que ele próprio desconhecia. Nunca se importa muito com outras pessoas, afinal, era um homem muito reservado para si mesmo e não ligava muito com os problemas alheios. Mas aquela garota tinha algo diferente que ainda não conseguia compreender. Levantou-a rapidamente em meio aos gritos e correu em direção a floresta como um louco desvairado.
- Você é burra? – vociferou Daryl enquanto corria. Estava ofegante e irritado. – Por que tem que ficar fazendo essas merdas?
- Era só ir embora! – Beth se soltou da mão dele em meio a um grito. Ela parou e ficou frente a frente com o seu salvador, olhando-o com raiva, penetrando-lhe a alma. – Não pedi para que ficasse por mim!
- E o que você acha que aconteceria contigo? – disse Daryl apontando o dedo para ela e se aproximando. Andava de um lado para o outro, tão nervoso e cansado que mal podia falar. – Por que tem que ficar dizendo a todos que não quer viver? Se estiver disposta a morrer, garota, ao menos não me coloque na mesma merda de situação que você!
Respirou fundo e percebeu que os zumbis, sem dúvida, ouviram a gritaria. Daryl não tinha muito tempo para discutir, então precisava tirá-la dali.
- Vá embora, me deixe aqui. – disse Beth. – Deixe-me, viva, esqueça tudo e não olhe para trás. Não desejo prendê-lo a mim, apenas quero que seja livre! Sou seu fardo, então me abandone!
Daryl Dixon estava sem palavras, apenas lhe restou encará-la.
- Oras, cala a boca menina! – agarrou o braço direito dela com força. – Vem logo e pare de falar asneiras, parece uma mula relinchando!
Puxou-a o mais forte que pôde e correu em direção à campina. Preferia usar aquele campo aberto para não ser pego de surpresa por zumbis que estivessem rondando aquela região. Daryl atravessou a passos largos os campos esmeraldinos que reluziam sob a luz do sol, correndo na direção do som de um córrego cuja existência somente fora detectada pelos seus ouvidos até então. Arrastou-se pela grama verde por alguns quilômetros antes de alterar seu trajeto para o leste, na direção do córrego, onde pretendia despistar qualquer caminhante.
O vento soprava forte no momento em que avistou um grupo de zumbis vindo do leste. Também havia os que o seguiam e percebeu que não deveria se arriscar tomando outro rumo. Deveria despistá-los ali. Ele empurrou Beth na direção de uma bifurcação entre as rochas, grande o suficiente para que pudessem entrar e desaparecer. A bifurcação deveria ter algo em torno de um metro de largura, então poderiam entrar sem dificuldades. Encontraram uma série de caminhos em meio à pedra que giravam como estranhas espirais. Talvez pudesse levá-los ao seu destino, mas Daryl não queria arriscar em um terreno pedregoso que desconhecia. Decidiu avançar alguns metros e esperar abaixado até que os zumbis passassem. Longe suficiente para que não sentissem o seu cheiro, mas perto suficiente para que não perdesse o caminho que deveria levá-lo de volta a sua trilha.
Empurrou a garota que despencou e machucou o braço direito. Daryl não tinha muita delicadeza, era bem verdade, mas o momento exigia mais velocidade do que delicadeza. Antes um braço arranhado do que um corpo sendo mastigado pelas criaturas. Jogou-se logo em seguida e caiu de costas, sentindo o baque surdo de suas espáduas ao se chocar contra as pedras. Não eram pontudas e muito menos irregulares, mas a rocha o machucou no momento da queda. Apontou sua Besta na direção do vazio, mas nada apareceu. Decidiu cambalear até encontrar abrigo por detrás de uma rocha que estava no centro de uma espécie de círculo naquela espiral. Depois de descer duas vezes, esperava que realmente estivesse seguro e, acima de tudo, a garota tola e insensata.
- Valeu a pena bancar a idiota, sua estúpida? – disse Daryl no tom mais baixo que pôde. – Arriscou a sua vida por nada, por uma infantilidade. Vê se cresce sua imbecil! Acha mesmo que Hershel iria desejar isso pra...
O sopapo que a garota lhe deu deveria ter acordado até mesmo os zumbis que estavam lá embaixo da terra. Olhou-a com a mesma cara amarrada que sempre tinha e com uma vontade de esbravejar que não cabia dentro de si, porém o medo dos zumbis superava qualquer vontade ou raiva que poderia ter naquele momento.
- Se acha mesmo que falei algo errado, então...
Beth Greene repousou o dedo indicador nos lábios de Daryl Dixon levemente.
- Pode não estar errado. – rebateu Beth. – Mas estar certo não lhe dá o direito de agir como um animal raivoso!
Ouviu os gemidos de zumbis ao longe e respirou fundo. Fez sinal para que a garota fizesse o mesmo em uma tentativa de evitá-los. Por alguns minutos trancou a respiração em um sentimento de medo que desconhecia até então. O vento aumentou e evitou que pudesse ouvir melhor o que estava acima, mas também impediu que continuasse a caminhar pela trilha, já que a poeira não lhe dava uma noção exata do que havia a frente.
- Isso é um tornado. – resmungou Beth no ouvido de Daryl.
- Merda! – a única reação possível era essa. Sentiu o sangue subir sua cabeça e começou a imaginar como se livraria de uma situação tão desastrosa. Nos dias atuais era completamente normal pensar muito nos zumbis e se esquecer de todo o resto, no que se referiam as condições climáticas e a temporada de tornados.
- Você não sabia sobre os tornados?
- Sim, eu sabia, mas quando se vive na cidade você esquece coisas básicas. – rebateu Daryl. – Você viveu na sua fazendinha, brincando de família e atenta às temporadas de tornados. Eu vivi esses malditos tor... – fez uma pausa. – Olha, que se foda! Não tenho tempo para isso! – Daryl cuspiu. – Zumbis, tornados, catástrofes! Foda-se!
Voltou a se abaixar, sentindo o forte vento empurrando toda a poeira possível na sua direção e na direção de Beth. Observou a menina por alguns minutos: desolada, algo feria aquele coração feito de gelo. Daryl Dixon sentiu medo por deixar seus sentimentos falarem mais alto do que tudo que ele sempre foi. Mas deveria deixar de lado toda a sua dureza?
“Darylzinho, seu imbecil. Seu coraçãozinho está palpitando por causa da loirinha bonitinha? Seu idiota. Eu disse que você era fraco”. Ouviu a voz de Merle em sua cabeça no mesmo momento que saltou na direção de Beth Greene e puxou-a na direção de uma fenda que havia entre as rochas onde poderia ficar segura. Daryl permaneceu na porta da fenda segurando sua mão firmemente. Ela sorria enquanto o sol desaparecia e o dia se tornava noite e as trevas dominavam os céus: o furacão estava passando e bem perto de onde estavam.
- Vai estar aqui quando tudo isso acabar? – indagou Beth.
Daryl não sabia muito bem o que era sorrir. Limitou-se a fungar como um cão raivoso.
- É claro, onde mais eu estaria?
- Não sei. – sussurrou Beth. – Talvez muito longe de mim, ou desistindo de mim.
Daryl corou, mas agradeceu às sombras por ter sido ocultado.
- Você tem que parar de falar bobagem, garota. – resmungou Dixon. – Esse papo não faz muito o seu estilo.
Beth Greene tocou o lado direito do seu rosto com suas mãos delicadas e sujas de terra e areia. Os ventos que outrora eram fortes começavam a diminuir. Percebeu que a tempestade estava passando, agradecido por ter sido algo distante e momentâneo.
- Quando vai me dizer realmente o que sente?
Daryl tentou não gargalhar, os zumbis poderiam ouvir. “Ou foram arrastados pela tempestade?”. Pensou Daryl. Respirou fundo.
- Não sou de falar sobre sentimentos. – fez uma pausa e desviou o olhar dela. – Nunca parei para tê-los. – Dixon se levantou e estendeu sua mão para que Beth pudesse se levantar devagar. Bastava que esperassem sentados e logo poderiam voltar à estrada. – Mas se tem tanto tempo e vontade para conversar assim, garota, deveria esperar o anoitecer. Pretendo encontrar alguma casa abandonada para passar a noite.
Beth assentiu com a cabeça.
- E pare de agir como uma estúpida. – continuou Daryl. – Sentimentos não estão em jogo aqui, são nossas vidas. A minha e a sua. Você as colocou em risco, então pare de bancar a criança mimada.
- Talvez se...
Daryl virou-se e a fuzilou com um olhar.
- Não existe “talvez”. – rebateu Daryl segurando a mão de Beth com firmeza e um sorriso no rosto. – Confie em mim.
Ela tentou esconder o sorriso, mas foi incapaz de fazê-lo.
- Esse é o seu jeito de dizer que se importa?
Autor(a): henriquevietri
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Finalmente encontrou uma casa boa suficiente para abrigá-los com segurança naquela noite. Daryl estava cansado até os ossos da bagunça que vivera horas mais cedo, então uma noite sob um teto e, talvez, com alguma comida no estômago seriam muito bem vindos. A garota caminhava ao seu lado em um silêncio mórbido e profundo, ...
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