Any já havia arrumado as malas antes do show ter iniciado, ficou no quarto deitada na cama esperando o tempo de voltar novamente para a vã, não retirou nem arrumou a maquiagem, nem o figurino do show, não tinha vontade de nada. Só queria ficar deitada ouvindo o silêncio naquele quarto de hotel, olhou o relógio em cima da mesinha de cabeceira, faltavam dez minutos para uma hora da madrugada, ela não estava com sono!
-O que está acontecendo com a gente, Poncho? –Perguntou olhando tristonha para a parede branca do quarto sem esperar uma resposta, mas recebeu uma.
-Não está acontecendo nada, meu amor –Poncho entrara no seu quarto, Anahí levou seu olhar até ele que estava parado com uma flor murcha ao lado da porta de madeira grossa daquele quarto de hotel sem vida. Ela levantou-se rapidamente da cama e correu em direção ao namorado, enroscou seus braços em volta do pescoço dele e ficou em silêncio, acariciando os cachos do cabelo dele. O silêncio dizia muitas coisas. Anahí engolia o choro enquanto ainda estava abraçada a Poncho, ele acariciando os cabelos dela e mantinha os olhos fechados –Hoje só foi um dia longo, um pouco cansativo, emocionante e foi isso o que aconteceu! Mas tudo está bem, eu amo você! Sempre vou amar. Não está acontecendo nada com a gente.
-Eu acredito em você! –Ela o abraçou com mais força e uma lágrima solitária caiu sobre seu rosto enquanto ela ainda mantinha os olhos fechados igual a ele. Ela conseguia controlar o desespero, mas não conseguia esconder a tristeza estampada em toda sua face. –Eu não quero que você se afaste de mim, Poncho.
-Any, eu recebi um telefonema –Ele a fez parar de abraça-lo e entregou-lhe a flor murcha que havia achado no corredor do hotel enquanto se encaminhava ao quarto da sua noiva, ela sorriu para ele mesmo a flor não sendo tão bela. Poncho guiou Any até a cama e sentou-se com ela –Vou passar quatro messes gravando Venezzia na Venezuela.
-Quatro meses? –Repetiu num sussurro tristonho a loira.
-Mas quatro meses passam rápido! –Ele tentava confortá-la –Vou ligar para você todos os dias! E quando passar esse tempo eu vou te ver, vou falar com seus pais e me casar com você! –Ele não conseguira iluminar o rosto de Anahí com um sorriso verdadeiro como imaginava, ao invés disso ganhou um sorriso tristonho de lado acompanhado por lágrimas.
-Oh, meu amor! Não fique triste assim –ele enxugou as lágrimas do rosto maquiado de Anahí sentindo-se culpado por faze-la chorar –Essa vida de artista você sabe como é! Sabe que estamos sempre viajando, de um lado para o outro...
-Mas é diferente, Poncho, antes viajávamos juntos. Não era ruim para mim, eu podia estar sempre perto de você. Agora vamos ter que viver assim, separados. –Ela olhou espantada para ele, antes de falar algo que realmente o tocou –Você vai esquecer de mim!
Ele apenas olhou o rosto daquela que amava e mexia a cabeça demonstrando negação, pois ele sabia que jamais a esqueceria e que aqueles olhos azuis lhe perseguiria por toda a vida. E não seria uma viagem de alguns meses que o faria deixar de amar a mulher mais especial que conhecera durante sua vida, o tempo não destrói o que é verdadeiro, a saudade só aumenta com o tempo.
-Eu nunca vou te esquecer! Eu só vou passar um tempo longe. Mas todos os dias vou acordar pensando no teu olhar. Você me acompanha a tanto tempo! Não posso te esquecer, Any, eu penso em você a todo o momento. Todos os dias. –Ele conseguiu fazê-la sorrir com timidez. Segurou no queixo dela e levantou seu rosto como sempre fazia –Ei, você é a dona do meu coração! Ninguém, nunca vai conseguir me roubar de você.
Ele segurou firme o rosto dela e olhou profundamente na pequena imensidão azul concentrada naqueles olhos que tanto amava, beijou-lhe as bochechas coradas, o nariz afilado, o queixo suado e os lábios molhados.
***
Poncho acompanhou Anahí até o térreo de mãos dadas, onde os seus amigos os esperavam a sorrir ao verem os dois unidos como deviam continuar. A avenida em frente ao hotel, a esta hora não estava tão movimentada. Podia ouvir-se a melodia da madrugada sem grande esforço na calçada.
-Vamos, entrem! Entrem! –Dizia Pedro sinalizando com a mão para que os integrantes entrassem na vã –O piloto já está nos esperando para decolar.
Ucker, Dul, Mai e Chris entraram em fileira na vã, todos muito bem agasalhados para enfrentarem o frio da Espanha naquele horário, carregando suas malas e mochilas, Dulce com um fone de ouvido pendurado no pescoço para ouvir uma boa música durante a viagem. Maite com o cabelo preso em um coque relaxado, Christian agitado ainda cantando um trecho de uma canção do RBD e Ucker mascando um chiclete rosado. Anahí entrou em seguida e pôs sua mala aos seus pés, olhou para fora da vã, Poncho continuava parado com um sorriso fino e com as mãos enfiadas no casaco. Um vento frio, fez com que ele passasse as mãos nos cabelos ondulados desorganizados.
-O que está esperando, Poncho? –Perguntou Any já sentada em um dos assentos do veículo. –Vem! Temos que ir, ouviu o Pedro.
Poncho continuou em silêncio olhando para Anahí ainda vestida como uma colegial e olhos então avermelhados de tantas lágrimas que deixou escapar durante todo aquele dia, um casal passou por ele em direção a entrada do hotel os dois sorriam abraçados, Anahí leu o olhar de Poncho e observou mais atentamente o seu sorriso estampando uma falsa felicidade. Ela começou a entender ali, que ele já não viria com ela.
-Vem, Poncho –Ela o chamava com dor na voz já embargada, ela já não aguentava mais nada, sentiu emoções suficientes durante as horas passadas. Sentia seu corpo congelando por dentro enquanto chamava por ele e não recebia resposta, nem reação. Estava começando a ficar rouca a frieza a que estava exposta ajudara para isso –Vem, vem Poncho! Temos que ir para casa. -Ela apertou a alça da sua mala com força. Seus lábios se contorceram -Temos que ir.
-Nos veremos em breve –Ele começou a aproximar-se da vã e Any começou a sorrir sem vida acreditando rapidamente que ele viria sentar ao seu lado, surpreendeu-se ao ver ele fechar a porta da vã. O som sumiu e ela ficou muito triste ao ver o rosto de Poncho através do vidro escuro se distanciando cada vez mais, o motorista deu partida e foi deixando para trás a imagem daquele homem que Anahí já não sabia como viver sem.