Fanfic: Tentadora Paixão | Tema: Adaptada Vondy

Emoções caóticas cruzaram seu rosto. Surpresa, depois confusão e, enquanto ela o olhava, raiva. Ela o apanhara desprevenido e o magoara.
Sentiu-se culpada e estava prestes a pedir desculpas, mas sentiu que qualquer coisa que dissesse, especialmente uma demonstração de empatia, apenas agravaria seu antagonis­mo. Com gentileza, disse:
— O senhor esquiou na mais inacessível montanha da Terra, pilotou um helicóptero durante uma tempestade de neve, salvou meia dúzia de...
— Chega!
— O senhor pode fazer qualquer coisa — persistiu. Mas o sofrimento dele era tão evidente que ela se sentiu uma cri­minosa.
Tornara-se enfermeira para ajudar os feridos, não para in­fligir novos ferimentos, mas alguns pacientes se tornavam tão atormentados pela dor física e pelo sofrimento mental que muitas vezes se autodestruíam.
Homens brilhantes, ousados, corajosos, talentosos eram particular-mente vulneráveis, e ela aprendera da maneira mais difícil que eles se destruíam se não encontrassem uma válvula de escape para sua raiva, para sua dor.
Dulce jurou encontrar a válvula para Christopher, canali­zar sua fúria de alguma forma, transformando a dor em algo positivo. Assim, antes que ele dissesse qualquer coisa, ela mudou de assunto.
— Seu pessoal se superou, Sr. Uckermann. Prepararam uma linda mesa no terraço. Sente a brisa? O perfume dos pinheiros no ar quente?
— Não sinto cheiro de nada.
— Então venha até aqui, onde estou.
Mas ele não foi e recuou até as sombras.
— É claro demais. A luz faz minha cabeça doer.
— Mesmo se eu puser as ataduras?
— Mesmo com as ataduras. — Sua voz se tornou áspera, cheia de dor. — E não quero almoçar. Já lhe disse, mas você não ouve. Não quer ouvir. Ninguém quer.
— Podemos levar o almoço para dentro...
— Não quero almoçar. — E com um forte impulso desa­pareceu na biblioteca, derrubando uma pequena mesa, o que o levou a praguejar. Ouviu-se depois outra batida.
Tensa, Dulce lutou contra a inclinação natural de aju­dá-lo. Queria correr para o lado dele, mas sabia que isso ape­nas prolongaria seu desamparo.
Em vez disso, deixou-o sozinho xingando, resmungando e batendo na mobília e se dirigiu lentamente para a mesa no terraço. Embora encantada com a arte com que fora posta a mesa, pensava apenas em Christopher Uckermann.
Fora difícil falar com ele com tanta franqueza, mas não sabia mais o que fazer naquele momento. Sua agência tinha tentado tudo, mandado enfermeiras capazes, procurado to­dos os tipos de terapia, sem resultado.
Quando se sentou à mesa, sabia que seu cansaço não fora provocado pela obstinação de Christopher, mas pelo próprio Christopher.
Ele a atraíra. E não fora sua beleza selvagem, disse a si mesma com severidade. Não era tão superficial a ponto de ser contagiada com a beleza de seu rosto e de seu corpo, em­bora ele fosse belo. Por que se sentia tão perto de chorar?
Conseguiu ignorar o tumulto que sentia e desdobrou o guardanapo no colo.
Pano apareceu, com uma garrafa de água mineral, e ser­viu-a. Depois perguntou:
— O Sr. Uckermann vai almoçar com a senhora? 
Ela olhou as portas fechadas da biblioteca.
— Não, Pano, hoje não.
— Devo lhe levar uma bandeja? 
Dulce hesitou por um momento.
— Não. Tentaremos novamente no jantar.
— Então não levo nada para ele, mesmo se pedir?
— Sei que parece duro, mas preciso chegar a ele. Preci­so fazê-lo reagir. Não pode se esconder aqui para sempre. É jovem demais e há muitas pessoas que o amam e sentem falta dele.
Pano pareceu entender e inclinou a cabeça.
— Seu almoço será servido agora.