Fanfic: Tentadora Paixão | Tema: Adaptada Vondy

Não podia ficar ali, viver ali, ser atormentada daquela forma.
Desprezava os gregos mimados, especialmente os ricos magnatas com tempo demais à sua disposição.
Depois do divórcio, jurara nunca mais voltar à Grécia, mas ali estava ela. Não apenas na Grécia, mas presa no alto de uma montanha, num monastério medieval, com Christopher Uckermann, um homem tão rico, tão poderoso, que faria um xeique árabe parecer pobre.
Não podia deixar que o dia seguinte fosse uma repetição de hoje. Já estava perdendo o controle sobre a situação e sobre Uckermann. Isso não podia continuar. Seu paciente não a respeitava, não a ouvia e se sentia à vontade para zombar dela.
Amanhã, disse a si mesma severamente, voltando a seu quarto. Amanhã ela mostraria a ele quem estava no coman­do. Podia fazer isso. Tinha que fazer.
Christopher Uckermann estava acostumado a dominar seu mundo. Precisava que ele trabalhasse com ela, cooperasse com ela, ou ele destruiria completamente sua empresa e sua reputação.
Preparou-se para se deitar. Diante do espelho, enrolou os longos cabelos e segurou-os com um grampo no alto da ca­beça. Estudou seu reflexo. Cabelos ruivos, olhos castanhos, um rosto oval com um queixo firme.
No passado, quando tivera um estilo luxuoso de vida, era uma ruiva, mais suave, mais bonita. Mas desistira dos caros cuidados dos cabeleireiros e dos estilistas de Nova York e de Londres. Não tinha um só vestido de grife nem propriedades dispendiosas. A vida que conhecera e que desfrutara desde que nascera não existia mais. Estava superada.
A medicina, a enfermagem, lhe dera um meio de fuga, uma estrutura de vida, uma rotina e uma satisfatória medida de controle. Aliada à administração de empresas, a enferma­gem se tornara mais segura e previsível.
Na manhã seguinte, Dulce acordou cedo, pronta para trabalhar. Vestiu-se com uma blusa azul claro e uma saia azul mais escuro, uma espécie de uniforme de enfermeira, e des­ceu para o café-da-manhã.
Procurou Pano e soube que Christopher geralmente dormia até tarde e tomava o café na cama, antes de ir para a bibliote­ca, onde passava o dia.
— O que ele faz o dia todo? — perguntou. 
Pano hesitou e finalmente deu de ombros.
— Nada? — perguntou.
— É difícil para ele.
— Sei que no começo fazia terapia física. O que aconte­ceu?
— Foram as cirurgias nos olhos, as tentativas de reparar as retinas. Até então, via alguma coisa, não muito, mas o bastante para distinguir luzes, sombras e formas. Mas algo saiu errado e agora ele está cego.
— Vi em seu prontuário que ainda há uma leve chance de ele recuperar um pouco da visão, com outro tratamento. Não quer fazer?
— Acho... que tem medo. É sua última esperança. 
Dulce ficou calada e Pano tentou fazê-la entender.
— Enquanto não fizer a cirurgia, pode ter a esperança de que um dia verá de novo. Mas depois, se não funcionar, não haverá mais nada para esperar.
Dulce realmente compreendeu.
Mas, enquanto as horas se passavam e chegava o meio-dia, Dulce se tornou cada vez menos solidária.
Que espécie de vida era aquela? Apenas dormir o dia todo? Foi ao quarto dele e o viu dormindo profundamente. Dulce voltou a procurar Pano para perguntar sobre seus há­bitos de sono.
— É comum que Christopher durma até tão tar­de?
— Não é tarde para ele. Pode dormir até as 13 ou 14h. 
Incapaz de esconder sua incredulidade, perguntou:
— As outras enfermeiras permitiam isso?
— As outras enfermeiras não podiam controlá-lo. Ele é um homem, faz o que quer.
— Não quando seus cuidados médicos custam milhares de libras por semana.
— Ninguém diz a um homem adulto o que fazer. Sim, diz. Se o que ele está fazendo é destrutivo.
Pano não respondeu, e depois de ver as horas ela se voltou e foi diretamente para o quarto de Christopher. O que encontrou em sua mesa-de-cabeceira explicava seu sono longo e pro­fundo.