Fanfic: Tentadora Paixão | Tema: Adaptada Vondy

 Cosima?
O maxilar de Christopher endureceu e sua voz se tornou pé­trea. Como poderia Cosima pagar por seus cuidados de saú­de? Ela podia ser a ex-noiva de Andreas e a socialite mais popular de Atenas, mas tinha mais dificuldades financeiras do que qualquer pessoa que ele conhecia.
— Cosima a contratou? — repetiu, ainda sem acreditar. — Foi com ela que você teve contato em Londres?
— Sim. Mas eu prometi a ela, prometi, que não lhe con­taria.
— Por quê?
— Ela disse que você ficaria muito aborrecido se soubes­se, disse que você é tão orgulhoso... — Dulce se calou por um minuto, as lágrimas evidentes em sua voz. — Ela disse que precisava fazer alguma coisa para provar o quanto acredita em você.
Cosima acreditava nele?
Silenciosamente, desdenhosamente, Christopher repetiu as palavras de Dulce. Ou talvez Cosima se sentisse em dí­vida com ele. Talvez se sentisse culpada, como ele. Porque, afinal, ela vivera e Andreas morrera, e fora Christopher que to­mara a decisão, que brincara de Deus aquele dia.
Não era de admirar que tivesse pesadelos, dormindo ou acordado. Não conseguia aceitar sua decisão, nem que era impossível mudá-la.
Christopher, rico e poderoso, não pudera comprar ou garantir o que mais queria: a vida do irmão.
Mas Dulce não sabia da raiva e do ódio de Christopher, e pressionou.
— Agora que sabe — continuou — o contrato não é mais válido. Não posso ficar...
— Claro que pode — interrompeu, sintético. — Ela não precisa saber que eu sei. Não há motivo para atrapalhar seu pequeno plano.
Suas palavras foram recebidas em silêncio e por um mo­mento pensou que Dulce tinha saído, mas então ouviu um leve som de movimento e um suspiro suave.
— Ela só quer o melhor para você — disse Dulce, cansada. — Por favor, não fique com raiva dela. Parece uma pessoa muito boa.
Naquele momento, Christopher descobriu uma coisa muito importante sobre Dulce Saviñón: podia ter intenções ho­nestas, mas era uma péssima juíza de caráter. Esteve a ponto de perguntar se sabia que Cosima e Calista tinham sido co­legas de escola. Perguntar-lhe se sabia que as duas mulheres tinham morado juntas por mais de um ano e trabalhado jun­tas como modelos.
Podia lhe contar que Calista e Cosima tinham sido ami­gas íntimas até suas vidas tomarem rumos totalmente dife­rentes.
Cosima conhecera Andreas Uckermann e se tornara a namorada e, depois, a noiva de um dos homens mais ricos da Grécia.
Calista, incapaz de encontrar um namorado rico ou em­pregos bons como modelo, se tornara dançarina exótica.
As duas pareciam não ter mais nada em comum depois de dois anos. Cosima viajara pelo mundo como a noiva mi­mada de um homem rico, Calista continuara a luta para se sustentar.
E, então, a tragédia ocorrera, e as duas ficaram em igual posição.
Andreas morrera na avalancha, Cosima sobrevivera, mas perdera seu estilo de vida, e Calista, que continuava na luta, pensara ter encontrado um protetor rico, embora inválido.
Os cantos de sua boca se curvaram num sorriso de des­dém, escondendo a profundidade de sua raiva e de seu des­prezo por todas as mulheres daquele tipo.
— Então se encontrou com Cosima — disse, inexpressi­vo.
— Só nos falamos pelo telefone, mas sua preocupação, e ela está preocupada, me comoveu. — Dulce acrescentou: — Ela, certamente, tem bom coração e não seria justo puni-la por tentar ajudá-lo.
— Não, você tem razão. E você disse que ela parece mui­to ansiosa para me ver recuperado.
— Sim. Sim... e está muito preocupada com você. Chorou muito durante o telefonema. Acho que tem medo de você impedir que ela o veja.
— Verdade? — Christopher ficou intrigado. Cosima estaria imaginando algum tipo de futuro para os dois? A ideia era tão grotesca quanto risível.
— Ela disse que você se tornara recluso aqui.
— Esta é a minha casa.
— Mas teme que você esteja deprimido e desesperançado demais.
— Foram estas as palavras dela? — ele perguntou, evitan­do demonstrar sarcasmo.
— Sim, anotei o que disse, se quiser ver...
— Não, acredito em você — respondeu, sua curiosidade afetada pela descrença. Cosima não era sentimental.
Também não era particularmente emotiva ou sensível. En­tão, por que estaria tão ansiosa para ele voltar a Atenas?
— E, assim — acrescentou, querendo saber mais so­bre a preocupação de Cosima —, você foi enviada para me socorrer.
— Não socorrer, apenas motivar. Conseguir que reaja.
— E olhe! — ele disse, grandioso, movendo as mãos. — Hoje fiquei em pé. Amanhã escalo o monte Everest.
— Não o Everest — corrigiu Dulce, divertida. — Bas­ta andar a tempo para o seu casamento.
Casamento?
Casamento?
Christopher ouvira tudo o que precisava. Só não sabia como reagir, com uma risada ou com angústia. Seu casamento. Com Cosima, a amante de seu irmão. Meu Deus, parecia uma comédia grega antiga, uma ousada obra concebida por Aristófanes. Cheia de divertimento obsceno, mas baseada em tragédia.
Mas, agora que sabia, ele mesmo escreveria uma peque­na peça grega. E, se tudo corresse bem, sua boa enfermeira Dul poderia até ajudar, desempenhando o papel principal.
— Não vamos contar a ela — disse Christopher. — Vamos trabalhar muito e surpreendê-la com meu progresso.
— Então, onde começamos? — perguntou Dulce. — O que fazemos primeiro?
Ele quase sorriu do entusiasmo dela. Parecia bastante sa­tisfeita com ele.
— Eu já contratei um fisioterapeuta de Esparta — respon­deu, deixando claro que não era uma decisão conjunta, mas só dele. — Chega amanhã.
— E até lá?
— Provavelmente, vou relaxar, dormir. Nadar.
— Nadar? — perguntou. — Você nada? 
A surpresa dela o fez curvar os lábios. Realmente pensava que estava em péssimas condições.
— Tenho nadado nas últimas duas semanas.
— Desde que a última enfermeira foi embora? —Christopher não respondeu, não era necessário. — Talvez você possa me mostrar a piscina — pediu.
Por um momento quase sentiu pena dela. Estava tentando com muito empenho fazer o que achava certo, mas sua concepção de certo não era, necessariamente, o que ele queria ou precisava.
— Claro, venha comigo.
Juntos atravessaram o pátio de pedras, onde haviam al­moçado. Christopher movia a cadeira e Dulce caminhava a seu lado. Passaram pela fonte e chegaram ao jardim, a um caminho de cascalhos.