Fanfics Brasil - 💖Capitulo 22💖 Tentadora Paixão

Fanfic: Tentadora Paixão | Tema: Adaptada Vondy


Capítulo: 💖Capitulo 22💖

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Um helicóptero!
No alto de um dos picos de Taygetos.
Ela piscou, balançou a cabeça e olhou de novo, pensando que talvez fosse sua imaginação. Mas, não, lá estava ele, bri­lhando sob os raios do sol poente.
— Sempre me perguntei como você subia e descia a mon­tanha — disse ela. — Você não parece o tipo que gosta de montar burros.
Christopher riu.
— Suponho que deveria ter mandado o helicóptero bus­cá-la.
— Não, não, eu detestaria perder as horas de solavancos e trancos na charrete de madeira. Christopher riu de novo.
— Já voou num helicóptero antes?
— Já, mas foi há muito tempo.
O piloto avisou que podiam embarcar. Só depois que es­tavam voando Dulce se lembrou que os piores ferimentos de Chrsitopher tinham sido causados pela queda de um helicóp­tero, não pela avalancha.
Voltou-se para ver como ele se sentia. Parecia muito calmo.
— Você se feriu num acidente de helicóptero.
— Sim.
Ela esperou, mas ele não disse mais nada.
— Não está preocupado em voar de novo?
— Não, conheço bem Yanni, o piloto, e sendo eu mesmo um piloto...
— Você é piloto?
— Estava pilotando no momento da queda.
— E os outros?
— Estavam em lugares diferentes e em diversos estágios de recuperação.
Ela esperou e finalmente Christopher continuou.
— Um deles conseguira descer a montanha de esqui e se salvou. Cosima e um guia foram resgatados. Dois ainda estavam enterrados na neve e os outros já estavam mortos quando foram encontrados.
Sua dificuldade de falar no assunto era tão evidente que ela não perguntou mais nada. Ficaram em silêncio depois disso.
— Estamos quase chegando — disse Christopher de repente, tocando de leve o joelho dela.
Ela sentiu seu estômago se contrair e olhou o joelho, ain­da quente com o toque de seus dedos, embora sua mão não estivesse mais lá. Queria que a tocasse de novo. Queria sentir sua mão deslizar por sua coxa e subir... Queria sentir-lhe a pele de encontro à dela. Mas isso não iria acontecer, pensou. Tentou controlar a imaginação e as fortes emoções que sentia quando pensava nele. Mas era difícil, não podia mais fingir que não estava terrivelmente atraída por ele.
O helicóptero desceu. O piloto abriu a porta e ajudou os dois a saírem. Dulce viu as luzes dos faróis de um carro bem próximo, que os aguardava.
Dulce entrou, seguida por Christopher, que se sentou mui­to perto, sua coxa tocando a dela.
— Onde estamos? — perguntou, consciente da proximi­dade do corpo de Christopher.
— Kithira, uma ilha aos pés do Peloponeso — disse ele. — Há muito tempo, antes da construção do canal de Corinto, no fim do século XIX, era muito próspera, com seu porto movimentado. Mas depois da construção do canal a riqueza e a população da ilha diminuíram muito.
O carro passava por estradas tranqüilas, onde poucos postes lançavam uma luz amarela que rompia suavemente a escuridão. Dulce não conseguia tirar os olhos da perna encostada à dela.
— É bom sair de casa — disse ele. — Adoro viver em Taygetos, mas, de vez em quando, gosto de sair para jantar, comer bem e não me sentir tão isolado.
— Então se sente isolado vivendo tão longe de todo mundo?
— Sou grego.
As duas palavras revelavam muito. Os gregos dão grande valor à família, mesmo às pessoas que passam a fazer parte dela pelo casamento, e cada geração era respeitada pelos fi­lhos que tinham e que aumentavam seu número.
Os velhos gregos raramente viviam sozinhos, e o dinheiro nunca era guardado, mas partilhado entre eles. Um pai ja­mais deixaria a filha se casar sem lhe dar uma casa, terrenos ou o que pudesse, e um filho grego sempre contribuía para os cuidados com os pais. Não era uma questão de respeito ou dever, apenas amor.
— É por isso que Cosima o quer de volta a Atenas — dis­se Dulce com gentileza. — Lá você tem seu parea, seu círculo de amigos.
E, para os gregos, os amigos eram quase tão importantes como a família. Um bom parea era tão necessário como co­mida e água.
Mas Christopher ficou calado. Dulce tocou de leve sua manga e insistiu:
— Seus amigos sentem sua falta.
— Meu parea desapareceu.
— Não...
— Dulce — ele a interrompeu —, eles se foram, mor­reram com meu irmão na França. Todos os que pereceram, sufocados na neve, eram meus amigos. Mas não eram apenas amigos, eram colegas também.
Magoada, ela fechou os olhos. Por que insistia, por que achava que sabia tudo? Como podia ser presunçosa a ponto de achar que podia lhe dar conselhos?
— Desculpe.
— Você não sabia.
— Mas pensei... Cosima disse...
— Cosima? — repetiu Christopher com amargura. — Em breve descobrirá que não pode acreditar em tudo o que ela diz.
— Mesmo se suas intenções são boas?
Ele não respondeu e mais uma vez Dulce sentiu que tinha dito a coisa errada, e seu desconforto aumentou.
— Talvez eu deva lhe falar sobre o jantar — disse Christopher finalmente. — Estamos indo para uma pequena aldeia praticamente intocada pelo turismo e pelo tempo. Bem na entrada da aldeia fica um dos meus restaurantes favoritos, um lugar preparado por um arquiteto grego e sua mulher artista. A comida é simples, mas bem feita, e a vista é ainda melhor.
— Você poderia ir a qualquer lugar para comer e escolhe um restaurante rústico e remoto?
— Gosto de lugares calmos. Não estou interessado em barulho ou confusão.
— Sempre foi assim ou...
— Não é resultado do acidente, não. Andreas era o extro­vertido, gostava de festas e da vida em sociedade.
— Você não ia com ele?
— Claro que ia, era meu irmão, meu melhor amigo. Mas me contentava em deixá-lo tomar o centro do palco, diver­te todo mundo. Eu gostava mais de me sentar nos fundos e apreciar.
Enquanto Christopher falava, a lua surgiu de trás de uma nuvem. Dulce pôde ver suas feições e seu perfil rude, suavi­zado apenas pelo forte lábio inferior.
Tinha uma bela boca, com a largura certa, lábios perfeitos. Beijar aqueles lábios...
Sentiu os nós se apertarem em seu ventre, nós que tinham relação com desejo. Sentia-se tão atraída por ele que era di­fícil controlar suas emoções, impedir que sua necessidade se tornasse aparente.
O que precisava era escorregar no assento para manter alguma distância, porque, sentada tão perto, com sua coxa encostada à dele e seus braços se tocando de vez em quando, sentia-se muito consciente do seu corpo.
Olhou suas mãos, descansando no colo, e lembrou-se da sensação do seu toque em seu joelho, de como quisera que a mão dele escorregasse sob sua saia, tocando, excitando-a, deixando-a em fogo.
A mão, o corpo dele, a pele dela!
Engoliu com força, o coração batendo em ritmo acelera­do, e lutou contra a adrenalina que invadia seu sangue. Isso é ridículo, disse a si mesma, movendo-se de novo, cruzando as pernas para o outro lado. Precisava se acalmar.
— Você parece inquieta — disse Christopher, ouvindo com atenção.
— Acho que estou. Provavelmente, preciso esticar as per­nas, estou sentada há muito tempo.
— Estamos quase chegando.
— Não estou reclamando.
— Não pensei que estava.
Tentou sorrir, a imaginação trabalhando o tempo todo. Es­tava consciente demais de Christopher perto dela, de seu calor, de seu tamanho, de sua respiração.
— Está muito cansada? — perguntou. 
— Não — respondeu.
— Com fome?
— Não. Sim, pode ser — ela riu. — Não sei o que está errado comigo.
Ele estendeu o braço, sua mão encontrando a dela com facilidade, e sentiu seu pulso.
— Seu coração está acelerado.
— Eu sei — sussurrou, olhando a mão dele na sua, en­quanto as luzes de um estacionamento e de um restaurante iluminavam o carro.
A mão dele era duas vezes maior do que a dela; a pele queimada de sol fazia a sua parecer um creme.
— Está com medo de mim? 
— Não.
— Mas talvez esteja com medo de estar sozinha comigo?
— Por que estaria?
Seu polegar acariciou-lhe a pele delicada do pulso antes que ele o soltasse.
— Porque, esta noite, você não é minha enfermeira e não sou seu paciente, somos apenas duas pessoas jantando juntas.
— Apenas amigos.
— Um homem e uma mulher podem ser apenas amigos? A garganta de Dulce se fechou.
O carro entrou no estacionamento, parou, e o motorista desceu para abrir as portas. Dulce quase pulou do carro, ansiosa por recuperar o controle.
À entrada do restaurante foram recebidos pelo proprietá­rio, que abraçou Christopher e o beijou em cada face.
— Ucker, Christopher — disse, emocionado. — Ucker. É bom ver você.
— É bom estar de volta.
— Parakalo, venha. — Levou-os para uma das mesas mais afastadas, perto das janelas. — A melhor mesa para você. Só o melhor para você, meu filho. Qualquer coisa para você:
Quando o proprietário saiu, Dulce se voltou para Christopher:
— Ele o chamou de filho?
— A ilha é pequena, todo mundo aqui é família.
— Então o conhece bem?
— Costumava passar muito tempo aqui.
Ela olhou pela janela a deslumbrante vista. Estavam no alto de uma colina, acima de uma pequena aldeia, e, adiante, se estendia o mar.
O proprietário voltou com um presente: uma garrafa do vinho favorito de Alfonso, e encheu os copos, deixando a garrafa sobre a mesa ao sair.
— Yiassis — disse ela, erguendo o copo e batendo-o no dele. — À sua saúde.
— Yiassis — respondeu.
Então, o silêncio se fez e de repente tudo pareceu errado. Christopher se moveu e um pequeno músculo se contraiu em sua face. Dulce observou-o, sentindo a tensão aumentar e a mudança de humor. Christopher pareceu de repente tão só, tão afastado do mundo!
— O que está errado? — perguntou, temendo ter dito ou feito alguma coisa que o aborrecera.
Ele sacudiu a cabeça.
— Fiz alguma coisa? — persistiu.
— Não.
— Christopher — pediu —, me conte.
O rosto dele se contraiu e ele riu, um som duro.
— Por Deus, queria poder ver você.
Por um momento ela não soube o que dizer ou fazer.
— Por quê? — sussurou.
— Só quero ver você.
O calor se espalhou por todo o seu corpo, fazendo-a se sentir sensível demais.
— Por quê? Sou apenas mais um machado de guerra.
— Ohi. De modo algum. As mãos dela tremiam.
— Você não pode saber...
— Sei como é seu som e seu cheiro. Sei que mal alcança meus ombros, mesmo de salto alto, e sei como é a textura da sua pele, muito lisa e macia, como o mais delicado cetim ou uma flor.
— Acho que você achou seus velhos remédios para dor.
— E acho que você sente medo por estar aqui comigo.
— Está errado.
— Estou?
— Sim.
Ela tomou um pouco de água.
— Não estou com medo. Como poderia ter medo de você?
Ele sorriu suavemente.
— Não sou gentil como os outros homens.
— Não vou nem me dar ao trabalho de comentar.
— Por quê?
— Você está me armando uma cilada. Ele riu.
— Minha garota inteligente.
O coração dela pulou. Sua garota inteligente. Agora a es­tava torturando, fazendo-a desejar ser mais do que era, fazen­do-a desejar ter mais do que tinha. Não mais coisas, amor.
O amor dele!
Mas ele era comprometido, e ela passara pelo inferno com um homem que não tinha palavra, nem honra.
— Christopher, não posso fazer isso. — Teria se levantado e fugido se tivesse algum lugar para onde ir — Não posso entrar nesses jogos com você.
Ele franziu a testa.
— Que jogos?
— Esses... esse... o que quer que você o chame. Nós. Sei o que você disse antes, que esta noite não somos paciente e enfermeira, apenas um homem e... mulher. Mas não está certo. Eu sou sua enfermeira. Isso é tudo que sou, tudo o que posso ser.
Ele se curvou e descansou um braço sobre a mesa, a mão relaxada. Sua expressão se tornou meditativa.
— E você ainda será minha enfermeira quando voltar para Londres daqui a dois dias?
— Três dias.
— Dois dias.
Ela segurou a respiração, vendo-o repuxar os lábios.
— Dulce, latrea mou, não vamos jogar, como você diz. Por que tem que voltar?
— Tenho uma empresa para dirigir. E Christopher, você tam­bém. Seus funcionários e diretores estão ansiosos pela sua volta a Atenas, para assumir a liderança de novo.
— Posso fazer isso de Taygetos. Ela sacudiu a cabeça, impaciente.
— Não, não pode, não da maneira certa. Há compromis­sos, reuniões, encontros com a imprensa....
— Outros podem fazer isso.
Observando-o, sentiu a frustração crescer. Nunca parece­ra tão arrogante como agora.
— Mas você é Uckermann, é em você que os investi­dores acreditam, e com quem seus sócios querem encontrar. Você é fundamental para o sucesso da Uckermann Incorporated.
Ele rejeitou seus argumentos.
— Cosima lhe disse isso?
— Não, claro que não. E não é essa a questão, a questão é que você tem que retomar suas responsabilidades.
— Dulce, eu ainda comando a firma.
— Mas uma liderança ausente? Não é eficiente e, com franqueza, não é você.
— Como uma mulherzinha inglesa pode ter tantas opi­niões sobre coisas que não conhece?
A face de Dulce flamejou.
— Conheço você melhor do que pensa — respondeu, zan­gada.
— Estou me referindo ao mundo corporativo...
— Tenho uma empresa. Foi a vez dele de escarnecer.
— Que já concordamos que é muito mal administrada. Magoada, ela se afastou e o olhou.
— Isso foi indelicado e desnecessário.
— Mas verdadeiro. Sua agência me forneceu serviços muito ruins. Seduzido e chantageado por uma enfermeira e humilhado pelas outras.
Ela jogou o guardanapo e afastou a cadeira.
— Talvez você fosse um paciente muito ruim.
— E possível?
— Possível? — repetiu, a voz trêmula de raiva e indig­nação. — Meu Deus, você é ainda mais presunçoso do que imaginei. Possível? Quer a verdade? Sem palavras açuca­radas?
— Não comece a medir palavras agora — disse, com uma voz tão entediada como sua expressão.
Os dedos dela se fecharam, o sangue latejava em suas veias. Queria bater nele, realmente queria.
— A verdade, Christopher, é que você foi impossível. Foi o pior paciente na história da minha agência, e cuidamos de centenas de pacientes por ano. Tenho minha empresa há anos e nunca encontrei ninguém tão voltado para si mesmo e tão manipulador como você. — Tomou fôlego. — E, outra coisa, acha que queria deixar meu escritório, deixar de lado minhas obrigações para ficar a seu lado? Acha que minha vinda para a Grécia foi um feriado? Não, e não de novo. Mas vim por que mais ninguém viria, e você tem uma namorada deses­perada para vê-lo inteiro e bem de novo. — Com as pernas trêmulas, Dulce se levantou. — Por falar em namorada, é hora de você telefonar para ela. É a vez de Cosima ficar com você agora!



Um helicóptero!
No alto de um dos picos de Taygetos.
Ela piscou, balançou a cabeça e olhou de novo, pensando que talvez fosse sua imaginação. Mas, não, lá estava ele, bri­lhando sob os raios do sol poente.
— Sempre me perguntei como você subia e descia a mon­tanha — disse ela. — Você não parece o tipo que gosta de montar burros.
Christopher riu.
— Suponho que deveria ter mandado o helicóptero bus­cá-la.
— Não, não, eu detestaria perder as horas de solavancos e trancos na charrete de madeira. Christopher riu de novo.
— Já voou num helicóptero antes?
— Já, mas foi há muito tempo.
O piloto avisou que podiam embarcar. Só depois que es­tavam voando Dulce se lembrou que os piores ferimentos de Chrsitopher tinham sido causados pela queda de um helicóp­tero, não pela avalancha.
Voltou-se para ver como ele se sentia. Parecia muito calmo.
— Você se feriu num acidente de helicóptero.
— Sim.
Ela esperou, mas ele não disse mais nada.
— Não está preocupado em voar de novo?
— Não, conheço bem Yanni, o piloto, e sendo eu mesmo um piloto...
— Você é piloto?
— Estava pilotando no momento da queda.
— E os outros?
— Estavam em lugares diferentes e em diversos estágios de recuperação.
Ela esperou e finalmente Christopher continuou.
— Um deles conseguira descer a montanha de esqui e se salvou. Cosima e um guia foram resgatados. Dois ainda estavam enterrados na neve e os outros já estavam mortos quando foram encontrados.
Sua dificuldade de falar no assunto era tão evidente que ela não perguntou mais nada. Ficaram em silêncio depois disso.
— Estamos quase chegando — disse Christopher de repente, tocando de leve o joelho dela.
Ela sentiu seu estômago se contrair e olhou o joelho, ain­da quente com o toque de seus dedos, embora sua mão não estivesse mais lá. Queria que a tocasse de novo. Queria sentir sua mão deslizar por sua coxa e subir... Queria sentir-lhe a pele de encontro à dela. Mas isso não iria acontecer, pensou. Tentou controlar a imaginação e as fortes emoções que sentia quando pensava nele. Mas era difícil, não podia mais fingir que não estava terrivelmente atraída por ele.
O helicóptero desceu. O piloto abriu a porta e ajudou os dois a saírem. Dulce viu as luzes dos faróis de um carro bem próximo, que os aguardava.
Dulce entrou, seguida por Christopher, que se sentou mui­to perto, sua coxa tocando a dela.
— Onde estamos? — perguntou, consciente da proximi­dade do corpo de Christopher.
— Kithira, uma ilha aos pés do Peloponeso — disse ele. — Há muito tempo, antes da construção do canal de Corinto, no fim do século XIX, era muito próspera, com seu porto movimentado. Mas depois da construção do canal a riqueza e a população da ilha diminuíram muito.
O carro passava por estradas tranqüilas, onde poucos postes lançavam uma luz amarela que rompia suavemente a escuridão. Dulce não conseguia tirar os olhos da perna encostada à dela.
— É bom sair de casa — disse ele. — Adoro viver em Taygetos, mas, de vez em quando, gosto de sair para jantar, comer bem e não me sentir tão isolado.
— Então se sente isolado vivendo tão longe de todo mundo?
— Sou grego.
As duas palavras revelavam muito. Os gregos dão grande valor à família, mesmo às pessoas que passam a fazer parte dela pelo casamento, e cada geração era respeitada pelos fi­lhos que tinham e que aumentavam seu número.
Os velhos gregos raramente viviam sozinhos, e o dinheiro nunca era guardado, mas partilhado entre eles. Um pai ja­mais deixaria a filha se casar sem lhe dar uma casa, terrenos ou o que pudesse, e um filho grego sempre contribuía para os cuidados com os pais. Não era uma questão de respeito ou dever, apenas amor.
— É por isso que Cosima o quer de volta a Atenas — dis­se Dulce com gentileza. — Lá você tem seu parea, seu círculo de amigos.
E, para os gregos, os amigos eram quase tão importantes como a família. Um bom parea era tão necessário como co­mida e água.
Mas Christopher ficou calado. Dulce tocou de leve sua manga e insistiu:
— Seus amigos sentem sua falta.
— Meu parea desapareceu.
— Não...
— Dulce — ele a interrompeu —, eles se foram, mor­reram com meu irmão na França. Todos os que pereceram, sufocados na neve, eram meus amigos. Mas não eram apenas amigos, eram colegas também.
Magoada, ela fechou os olhos. Por que insistia, por que achava que sabia tudo? Como podia ser presunçosa a ponto de achar que podia lhe dar conselhos?
— Desculpe.
— Você não sabia.
— Mas pensei... Cosima disse...
— Cosima? — repetiu Christopher com amargura. — Em breve descobrirá que não pode acreditar em tudo o que ela diz.
— Mesmo se suas intenções são boas?
Ele não respondeu e mais uma vez Dulce sentiu que tinha dito a coisa errada, e seu desconforto aumentou.
— Talvez eu deva lhe falar sobre o jantar — disse Christopher finalmente. — Estamos indo para uma pequena aldeia praticamente intocada pelo turismo e pelo tempo. Bem na entrada da aldeia fica um dos meus restaurantes favoritos, um lugar preparado por um arquiteto grego e sua mulher artista. A comida é simples, mas bem feita, e a vista é ainda melhor.
— Você poderia ir a qualquer lugar para comer e escolhe um restaurante rústico e remoto?
— Gosto de lugares calmos. Não estou interessado em barulho ou confusão.
— Sempre foi assim ou...
— Não é resultado do acidente, não. Andreas era o extro­vertido, gostava de festas e da vida em sociedade.
— Você não ia com ele?
— Claro que ia, era meu irmão, meu melhor amigo. Mas me contentava em deixá-lo tomar o centro do palco, diver­te todo mundo. Eu gostava mais de me sentar nos fundos e apreciar.
Enquanto Christopher falava, a lua surgiu de trás de uma nuvem. Dulce pôde ver suas feições e seu perfil rude, suavi­zado apenas pelo forte lábio inferior.
Tinha uma bela boca, com a largura certa, lábios perfeitos. Beijar aqueles lábios...
Sentiu os nós se apertarem em seu ventre, nós que tinham relação com desejo. Sentia-se tão atraída por ele que era di­fícil controlar suas emoções, impedir que sua necessidade se tornasse aparente.
O que precisava era escorregar no assento para manter alguma distância, porque, sentada tão perto, com sua coxa encostada à dele e seus braços se tocando de vez em quando, sentia-se muito consciente do seu corpo.
Olhou suas mãos, descansando no colo, e lembrou-se da sensação do seu toque em seu joelho, de como quisera que a mão dele escorregasse sob sua saia, tocando, excitando-a, deixando-a em fogo.
A mão, o corpo dele, a pele dela!
Engoliu com força, o coração batendo em ritmo acelera­do, e lutou contra a adrenalina que invadia seu sangue. Isso é ridículo, disse a si mesma, movendo-se de novo, cruzando as pernas para o outro lado. Precisava se acalmar.
— Você parece inquieta — disse Christopher, ouvindo com atenção.
— Acho que estou. Provavelmente, preciso esticar as per­nas, estou sentada há muito tempo.
— Estamos quase chegando.
— Não estou reclamando.
— Não pensei que estava.
Tentou sorrir, a imaginação trabalhando o tempo todo. Es­tava consciente demais de Christopher perto dela, de seu calor, de seu tamanho, de sua respiração.
— Está muito cansada? — perguntou. 
— Não — respondeu.
— Com fome?
— Não. Sim, pode ser — ela riu. — Não sei o que está errado comigo.
Ele estendeu o braço, sua mão encontrando a dela com facilidade, e sentiu seu pulso.
— Seu coração está acelerado.
— Eu sei — sussurrou, olhando a mão dele na sua, en­quanto as luzes de um estacionamento e de um restaurante iluminavam o carro.
A mão dele era duas vezes maior do que a dela; a pele queimada de sol fazia a sua parecer um creme.
— Está com medo de mim? 
— Não.
— Mas talvez esteja com medo de estar sozinha comigo?
— Por que estaria?
Seu polegar acariciou-lhe a pele delicada do pulso antes que ele o soltasse.
— Porque, esta noite, você não é minha enfermeira e não sou seu paciente, somos apenas duas pessoas jantando juntas.
— Apenas amigos.
— Um homem e uma mulher podem ser apenas amigos? A garganta de Dulce se fechou.
O carro entrou no estacionamento, parou, e o motorista desceu para abrir as portas. Dulce quase pulou do carro, ansiosa por recuperar o controle.
À entrada do restaurante foram recebidos pelo proprietá­rio, que abraçou Christopher e o beijou em cada face.
— Ucker, Christopher — disse, emocionado. — Ucker. É bom ver você.
— É bom estar de volta.
— Parakalo, venha. — Levou-os para uma das mesas mais afastadas, perto das janelas. — A melhor mesa para você. Só o melhor para você, meu filho. Qualquer coisa para você:
Quando o proprietário saiu, Dulce se voltou para Christopher:
— Ele o chamou de filho?
— A ilha é pequena, todo mundo aqui é família.
— Então o conhece bem?
— Costumava passar muito tempo aqui.
Ela olhou pela janela a deslumbrante vista. Estavam no alto de uma colina, acima de uma pequena aldeia, e, adiante, se estendia o mar.
O proprietário voltou com um presente: uma garrafa do vinho favorito de Alfonso, e encheu os copos, deixando a garrafa sobre a mesa ao sair.
— Yiassis — disse ela, erguendo o copo e batendo-o no dele. — À sua saúde.
— Yiassis — respondeu.
Então, o silêncio se fez e de repente tudo pareceu errado. Christopher se moveu e um pequeno músculo se contraiu em sua face. Dulce observou-o, sentindo a tensão aumentar e a mudança de humor. Christopher pareceu de repente tão só, tão afastado do mundo!
— O que está errado? — perguntou, temendo ter dito ou feito alguma coisa que o aborrecera.
Ele sacudiu a cabeça.
— Fiz alguma coisa? — persistiu.
— Não.
— Christopher — pediu —, me conte.
O rosto dele se contraiu e ele riu, um som duro.
— Por Deus, queria poder ver você.
Por um momento ela não soube o que dizer ou fazer.
— Por quê? — sussurou.
— Só quero ver você.
O calor se espalhou por todo o seu corpo, fazendo-a se sentir sensível demais.
— Por quê? Sou apenas mais um machado de guerra.
— Ohi. De modo algum. As mãos dela tremiam.
— Você não pode saber...
— Sei como é seu som e seu cheiro. Sei que mal alcança meus ombros, mesmo de salto alto, e sei como é a textura da sua pele, muito lisa e macia, como o mais delicado cetim ou uma flor.
— Acho que você achou seus velhos remédios para dor.
— E acho que você sente medo por estar aqui comigo.
— Está errado.
— Estou?
— Sim.
Ela tomou um pouco de água.
— Não estou com medo. Como poderia ter medo de você?
Ele sorriu suavemente.
— Não sou gentil como os outros homens.
— Não vou nem me dar ao trabalho de comentar.
— Por quê?
— Você está me armando uma cilada. Ele riu.
— Minha garota inteligente.
O coração dela pulou. Sua garota inteligente. Agora a es­tava torturando, fazendo-a desejar ser mais do que era, fazen­do-a desejar ter mais do que tinha. Não mais coisas, amor.
O amor dele!
Mas ele era comprometido, e ela passara pelo inferno com um homem que não tinha palavra, nem honra.
— Christopher, não posso fazer isso. — Teria se levantado e fugido se tivesse algum lugar para onde ir — Não posso entrar nesses jogos com você.
Ele franziu a testa.
— Que jogos?
— Esses... esse... o que quer que você o chame. Nós. Sei o que você disse antes, que esta noite não somos paciente e enfermeira, apenas um homem e... mulher. Mas não está certo. Eu sou sua enfermeira. Isso é tudo que sou, tudo o que posso ser.
Ele se curvou e descansou um braço sobre a mesa, a mão relaxada. Sua expressão se tornou meditativa.
— E você ainda será minha enfermeira quando voltar para Londres daqui a dois dias?
— Três dias.
— Dois dias.
Ela segurou a respiração, vendo-o repuxar os lábios.
— Dulce, latrea mou, não vamos jogar, como você diz. Por que tem que voltar?
— Tenho uma empresa para dirigir. E Christopher, você tam­bém. Seus funcionários e diretores estão ansiosos pela sua volta a Atenas, para assumir a liderança de novo.
— Posso fazer isso de Taygetos. Ela sacudiu a cabeça, impaciente.
— Não, não pode, não da maneira certa. Há compromis­sos, reuniões, encontros com a imprensa....
— Outros podem fazer isso.
Observando-o, sentiu a frustração crescer. Nunca parece­ra tão arrogante como agora.
— Mas você é Uckermann, é em você que os investi­dores acreditam, e com quem seus sócios querem encontrar. Você é fundamental para o sucesso da Uckermann Incorporated.
Ele rejeitou seus argumentos.
— Cosima lhe disse isso?
— Não, claro que não. E não é essa a questão, a questão é que você tem que retomar suas responsabilidades.
— Dulce, eu ainda comando a firma.
— Mas uma liderança ausente? Não é eficiente e, com franqueza, não é você.
— Como uma mulherzinha inglesa pode ter tantas opi­niões sobre coisas que não conhece?
A face de Dulce flamejou.
— Conheço você melhor do que pensa — respondeu, zan­gada.
— Estou me referindo ao mundo corporativo...
— Tenho uma empresa. Foi a vez dele de escarnecer.
— Que já concordamos que é muito mal administrada. Magoada, ela se afastou e o olhou.
— Isso foi indelicado e desnecessário.
— Mas verdadeiro. Sua agência me forneceu serviços muito ruins. Seduzido e chantageado por uma enfermeira e humilhado pelas outras.
Ela jogou o guardanapo e afastou a cadeira.
— Talvez você fosse um paciente muito ruim.
— E possível?
— Possível? — repetiu, a voz trêmula de raiva e indig­nação. — Meu Deus, você é ainda mais presunçoso do que imaginei. Possível? Quer a verdade? Sem palavras açuca­radas?
— Não comece a medir palavras agora — disse, com uma voz tão entediada como sua expressão.
Os dedos dela se fecharam, o sangue latejava em suas veias. Queria bater nele, realmente queria.
— A verdade, Christopher, é que você foi impossível. Foi o pior paciente na história da minha agência, e cuidamos de centenas de pacientes por ano. Tenho minha empresa há anos e nunca encontrei ninguém tão voltado para si mesmo e tão manipulador como você. — Tomou fôlego. — E, outra coisa, acha que queria deixar meu escritório, deixar de lado minhas obrigações para ficar a seu lado? Acha que minha vinda para a Grécia foi um feriado? Não, e não de novo. Mas vim por que mais ninguém viria, e você tem uma namorada deses­perada para vê-lo inteiro e bem de novo. — Com as pernas trêmulas, Dulce se levantou. — Por falar em namorada, é hora de você telefonar para ela. É a vez de Cosima ficar com você agora!





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Prévia do próximo capítulo

Dulce saiu correndo do restaurante, mas assim que che­gou do lado de fora se sentiu profundamente envergonhada. Abandonara Christopher Uckermann, um dos mais poderosos e amados entre os magnatas gregos. Rajadas de vento gelavam seu corpo, enquanto pensava no que fizera. Abandonara um homem que não podia ver e, pior, deixara-o em meio a uma refeiçã ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 26



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  • julia_souza_ Postado em 21/07/2018 - 13:21:27

    Tem mais de um ano que você não posta, não abandona a fanfic não!!! Continua por favor.

  • Lilly Perronita Postado em 10/04/2017 - 23:29:29

    ooooown, agora siiim

  • Lilly Perronita Postado em 05/04/2017 - 23:36:11

    Dulce vai arregar agora? Que isso!! Hauahaua e adorei ela jogando essas verdades na cara do Ucker

  • Lilly Perronita Postado em 04/04/2017 - 16:41:21

    huuuum que chique!!!!

  • Lilly Perronita Postado em 30/03/2017 - 13:37:22

    O que gosto da fic é que conta bastante detalhes e vc posta bastante hahaha eles já estão super envolvidos hahahaa

    • Juliana_ Postado em 03/04/2017 - 12:32:04

      Postadoooooo

  • Lilly Perronita Postado em 28/03/2017 - 17:48:47

    eu tenho uma fic vondy tbm, se puder dar uma passadinha lá depois!! beijooos https://fanfics.com.br/fanfic/56211/meu-programa-de-tv-favorito-vondy

    • Juliana_ Postado em 29/03/2017 - 22:31:49

      OIEEEEEE MUITO OBRIGADO POR COMENTAR. Eu li sua fanfic e gostei posta missssss lá em. POSTADOOOOOOOO

  • Lilly Perronita Postado em 28/03/2017 - 17:48:16

    Muito boa a sua fic!! Ucker era bem rígido e dificl de dobrar hein? Dulce teve bastante paciência. Mas esse jeitinho dela acabou virando contra o feiticeiro e ela se envolveu mais do que devia (ou que queria hhahahaha) continua que quero saber o desenrolar dela!!!!! hahah

  • Lilly Perronita Postado em 28/03/2017 - 17:35:11

    oieeee favoritei e estou lendo!! Amei que vc escreve bastante!!! vou terminar de ler e já comento

  • Anja Candy Postado em 16/09/2016 - 06:28:03

    Juli ce vai mesmo abandonar a Fic??

  • Anja Candy Postado em 12/09/2016 - 06:38:06

    Julita sua gostosa, cadê os capítulos?? Já faz 5 dias, 5 DIAS, sem capítulo!!! HELLOW, volta aqui logo que eu quero saber das coisas vondy!! N vejo a hora de rolar o beijo vondy!! Arrase logo com os demais capítulos!! Beijos^-^


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