Fanfic: Tentadora Paixão | Tema: Adaptada Vondy

Ainda sorrindo, estudou-o com frieza, consciente de seus ferimentos, seus meses de dolorosa reabilitação, seu prog­nóstico. Ele tivera sorte de escapar com vida de um aciden­te extremamente grave. A pancada na cabeça tinha sido tão séria que os médicos chegaram a acreditar que sofreria de danos cerebrais permanentes.
Felizmente, não houve seqüelas. Suas habilidades mo­toras poderiam voltar, mas sua visão era uma interrogação. Algumas vezes, o cérebro curava a si mesmo, outras, não. Só com tempo e terapia continuada poderia obter alguma melhora.
— Bem, isso agora é passado — disse ela, forçando uma nota mais leve na voz. — As enfermeiras machados de guer­ra se foram. Estou aqui...
— E você é provavelmente pior do que elas todas.
— Na verdade, sou. Dizem nas minhas costas que sou o pior pesadelo de cada paciente.
— Então posso chamá-la de enfermeira Dul?
— Se quiser. Ou pode me chamar pelo meu nome, que é Saviñón. Mas são tão semelhantes que responderei de qual­quer maneira.
Ele ficou em silêncio, sua expressão cada vez mais des­confiada. Dulce sorriu. Ele não podia atormentá-la, in­timidá-la. Sabia como eram os magnatas gregos.
Já fora casada com um deles.
— Hora de agir — acrescentou, enérgica. — E o melhor lugar para começar é com suas refeições. Sei que é tarde, Sr. Uckermann, mas já almoçou?
— Não estou com fome.
Dulce fechou a agenda e guardou a caneta.
— O senhor precisa comer. Seu corpo precisa de nutrição. Vou providenciar uma refeição leve. — Moveu-se para a porta, sem querer perder tempo discutindo.
Christopher jogou a cadeira para a frente, com visível frustra­ção em cada linha de seu rosto.
— Não quero comer...
— É claro que não. Comer para quê, se é viciado em anal­gésicos? — Sorriu de leve. — Agora, se me dá licença, vou providenciar sua refeição.
A cozinha era na torre, ou pyrgos, e lá estavam o mor­domo, a cozinheira e a governanta, conversando com tanta concentração que não a viram entrar. Quando a perceberam, ficaram em silêncio e olharam para ela. Com graus diferentes de hostilidade.
Dulce não ficou surpresa. Não era grega, mas falava grego fluentemente, e não mostrava a deferência que acha­vam que seu patrão, um homem poderoso e muito rico, me­recia.
— Alô — disse Dulce, ignorando a fria recepção. — Pensei em ajudar com o almoço do Sr. Uckermann.
Pano foi o único a falar.
— O Sr. Uckermann não almoça.
— Toma um farto café-da-manhã, então?
— Não, só café.
— Então, quando toma sua primeira refeição?
— Só à noite.
— Compreendo. — Olhou os três empregados, avaliando-os. — Ele come bem?
— De vez em quando — disse a cozinheira. — E, às ve­zes, não come quase nada. Costumava ter bom apetite, mas isso foi antes do acidente.
Dulce ficou contente de saber que pelo menos um de­les estava com seu paciente havia anos.
— Teremos que melhorar seu apetite — disse. — Começando com uma refeição leve agora. Talvez uma horiatiki salata — sugeriu, referindo-se ao que os estrangeiros chamavam de salada grega.
— Deve haver algum lugar fora de casa, um terraço enso­larado, onde ele possa comer com prazer. O Sr. Uckermann precisa de sol e ar fresco...
— Desculpe, senhora — interrompeu Pano —, o sol inco­moda os olhos do Sr. Uckermann.
— O Sr. Uckermann passa tempo demais sentado no es­curo. A luz lhe fará bem. A luz do sol estimula as glândulas pituitárias, ajuda a diminuir a depressão e promove a cura. Mas, por ele estar há tempo demais no escuro, podemos fa­zer uma transição e lhe servir o almoço num lugar à sombra. Presumo que parte do terraço é coberta.
— Sim, senhora — respondeu a cozinheira. — Mas o Sr. Uckermann não vai.
— Oh, vai sim.