• Aeroporto Internacional Rio Galeão •
- Não vejo a hora dele chegar. - disse Ruth ao marido.
- Calma, Ruth. - apertou os ombros da esposa.
- Como calma, Fernando? - o encarou. - Quase um ano sem ver o meu filhinho. - suspirou. Seus olhos percorreram o portão de desembarque e finalmente conseguiu ver o filho se aproximando empurrando um carrinho com malas. Estava lindo. Porém, o que chamou a atenção de Ruth foi uma loira que segurava o braço dele. Alfonso quando viu a mãe, acenou. Se aproximou dela a abraçando forte.
- Que saudade filho. - disse quando separaram o abraço.
- Veja pelo lado bom, eu vir pra ficar três meses, vai matar sua saudade. - Alfonso sorriu e cumprimentou o pai.
- Só três meses?
- Só três meses. Após o casamento da May, eu estou voltando. - a loira cutucou Alfonso, e ele se virou para ela.
- Não vai me apresentar? - perguntou olhando Ruth e Fernando.
- Mãe, pai. Essa é Patricia, minha namorada. - Patricia sorriu largo estendendo a mão para a sogra e depois o sogro.
- Prazer em conhecê-los. - disse simpática.
Alfonso havia se tornado um grande empresário devido aos árduos anos de estudo. Era dono de uma empresa multinacional de arquitetura, a qual comandava do Canadá, onde morava há anos. Porém, a filial ficava no centro do Rio. Com alguns problemas, Alfonso decidiu vir para resolve-los e ficaria até o casamento da irmã, Maitê.
- Como andam as coisas na empresa? - perguntou ao pai enquanto se dirigiam para fora do aeroporto. Patricia agarrada ao braço do namorado.
- Houve aqueles problemas com o dono dos prédios, está mais ou menos sob controle.
- Eu mesmo farei o maldito projeto, e quero conhecer esses novos arquitetos. - disse sério.
- Amor, onde vamos ficar? - perguntou Patricia.
- Na minha cobertura em Copacabana.
- Como assim meu filho? Minha casa não serve? - Ruth fez drama.
- Mãe, eu vou te visitar todos os dias, mas eu prefiro ficar no meu apartamento.
Ruth assentiu um pouco chateada. Os quatro entraram no carro onde o motorista da família os aguardava.
***
Algumas poucas horas depois, a família Portilla havia chegado a Búzios. Todos entraram na mansão praiana que ficava dentro de um condomínio, além do lindo quintal, nele havia um portão que dava acesso a uma das praias mais lindas de Búzios restrita aos moradores do condomínio.
- Bom dia, dona Tisha. - disse a empregada que morava ali com a família para cuidar da casa. - A senhora chegou cedo, meu marido nem terminou de limpar a piscina e varrer o jardim.
- Não se preocupe Cida. - sorriu. - Pede para o seu filho ajudar com as malas. - a mulher assentiu e foi atrás do garoto.
- Manu, larga esse celular e vem arrumar suas coisas. - disse ao ver que a menina ja havia sentado no sofá para mexer no iPhone.
- Já vou. - resmungou mostrando algo a Joaquim.
- Deixa ela, Any. - Valéria disse. - Vamos subir. - chamou e as duas subiram com Isabela.
Manuela e Joaquim riam no sofá da sala enquanto eram observados por Thais, filha de Cida.
- Af, essa garota chata aqui de novo. - resmungou baixo.
Thaís tinha 14 anos e simplesmente não aceitava o fato de ser pobre e seus pais serem empregados da mansão. Com aquela casa inteira em disposição, ela morava com a família em uma casinha nos fundos, nem sequer a piscina podia usar. Não achava justo Manuela ter tudo e ela não ter nada, tinha inveja, raiva. Porém, Manu também tinha antipatia com a menina. Mas dessa vez Thais não estava tão irritada, pois Joaquim havia vindo também.
- Oi. - disse ao se aproximar dos dois. Manuela a encarou, fez pouco caso.
- Oi Thais. - disse Joaquim.
- Oi, Manuela. - provocou. Manuela apenas forçou um sorrisinho.
Cida já havia conversado com a filha a respeito de provocar a neta da patroa. Temia pelo seu emprego que era sua única fonte de renda. Se saísse daquela casa, estava na rua com três filhos, além de Thaís que era a segunda mais velha. Porém, a raiva de Thaís com Manuela, era antiga. Quando Cida chegou aquela casa, morava na rua, no centro do rio e era uma pedinte. Tisha ao passar por ali, com seu grande coração, decidiu ajudar a mulher, oferecendo casa e emprego. A família aceitou e foram levadas a Búzios. Tisha logo se encantou com a pequena Thais, com 9 meses, magrinha devido a má alimentação. Como Aparecida já tinha Maicon, a mulher se ofereceu para cuidar da menina, depois de conversar muito com o marido, Cida aceitou, pois Thais teria uma vida de princesa. Porém, Anahi apareceu grávida, com apenas 15 anos, fazendo Tisha desistir da adoção da outra, pois teria que cuidar da neta e da filha. Tudo fora resolvido e esquecido, menos por Thais que desde que soube da história, carrega um ódio mortal de Manu, acreditando que a menina roubou o lugar dela.
- Porque você não sai daqui? - disse incomodada.
- Posso ficar onde eu quiser. Eu moro aqui. - respondeu sentando no sofá.
- Você não mora aqui. Você mora na casinha dos fundos, fique la. - rebateu e Thaís fechou a cara.
Cida apareceu na sala e Thaís levantou correndo do sofá, pois a mãe não gostava. Sempre se pôs no seu lugar de empregada.
- Olá meninos. - disse simpática. Diferente da filha, era um amor de pessoa. - Thais vem me ajudar com o almoço. - ordenou e ela saiu pisando duro atrás da mãe.
- Porque você faz isso? - Joaquim disse olhando para onde Thais tinha sumido.
- Não gosto de humilhar ninguém, mas se ela não gosta de mim, guarde para si. Nunca fiz nada de mal a ela.
- Ela só tem inveja. Pega leve, vai.
- Ta defendendo a Thais, Joaquim? - levantou com as mãos na cintura. Ele ia explicar, mas Manu nem sequer deixou. - Então vai lá ficar com ela. - subiu as escadas irritadinha.
Joaquim esboçou um sorrisinho. Ela ficava linda com raiva, além de fofa.
- Manu! - chamou e subiu as escadas atrás dela.
Antes que a garota pudesse fechar a porta do seu quarto, Joaquim segurou, impedindo-a.
- Para de ser idiota. - Manuela fechou mais a cara. - Eu não estava defendendo ela, sua boba.
Manu liberou a porta e Joaquim entrou.
- Tava sim. - rebateu. - Vai lá ficar com ela. - disse toda ciumenta e Joaquim sorriu.
- Vem cá. - a puxou para um abraço afagando os cabelos dela em seu peito. - Eu te amo, sua chatinha.
Manu sorriu e o abraçou pela cintura. Eram amigos desde que nasceram, foram criados juntos, pois Michele e Anahi são amigas e ambas tiveram seus filhos cedo, a diferença é que Michele hoje tem um família estabilizada com o pai do garoto. Os dois unha e carne e não se desgrudavam, apesar de uns tempos para cá, Manu está sentindo sensações estranhas perto dele, coisa que ela nunca sentiu antes.
- Também te amo. - se afastou do abraço, pois as sensações começaram a voltar. - Mas não fica de conversinha com essa garota, ela me odeia. - fez bico.
- Não liga pra ela, ok? - a menina assentiu e logo Joaquim a fez esquecer o assunto.
**
- Porque você tá com essa cara de c*u? - Valéria perguntou para Anahi, enquanto trocava a fralda da filha.
- Tava pensando na vida. - suspirou.
- Já pensou em voltar as suas consultas com a psicóloga? - terminou de colocar a fralda da menina e a deixou sentadinha no centro da cama que ela dividia com a irmã.
- Não preciso de psicóloga, eu estou bem. - disse convicta.
- Você continua tendo as crises de estresse e insônia.
- Eu sou médica, é normal. - rebateu.
- Anahi, você volta de plantões de 24h e não consegue dormir, eu sou residente 3, faço plantões e chego esgotada.
- Você é diferente de mim.
- Não é não. Você sabe que a rotina do médico é super cansativa e desgastante, eu acho que você deveria voltar com as consultas sim. Depois que o Marcelo te pediu em casamento, você está voltando a ser como era.
- Ta, eu vou voltar as consultas. - disse vencida. - Não vou voltar a ser como era, eu sou uma mulher e não uma adolescente, eu vou casar com ele e construir uma família que eu mereço. - Anahi disse querendo acreditar nas próprias palavras.
- Você não o ama.
- Não, mas eu não posso ficar sozinha pro resto da vida. A minha filha está crescendo, ela vai voar sozinha e eu vou ficar solitária. - suspirou.
- Você andou pensando nele né? Está melancólica.
- Na verdade, são aquelas sensações. Um aperto repentino no peito, eu o sinto perto de mim. - levou a mão ao coração. - As vezes acontece isso, e eu me sinto frágil. Como se ele pudesse aparecer na minha frente a qualquer momento.
- Sabe se ele não está aqui no Brasil?
- Eu não tenho notícias do Alfonso há anos. Eu o vi pela última vez antes da Manu nascer. - suspirou. - Eu nem sei se ele voltou ao Brasil, ou se está morando lá de vez. Faz muitos anos e eu não quero saber, só quero que ele esteja feliz, foi isso que ele escolheu. - disse melancólica.
- Bem, não foi ele. Você quis assim.
- Não vem com isso de novo. Já tá feito. E você sabe muito bem que ele teve escolhas.
- Sabe o mais incrível? - Anahi a encarou. - Desde que ele foi embora, você nunca mais conseguiu ser feliz.
Anahi foi pega de surpresa com o que a irmã disse.
- Sou feliz sim, tenho a Manu. No começo eu fiquei mal, mas hoje eu sou feliz. - se mexeu desconfortável e recolocou a chupeta de Isa que tinha caído da boca.
- Você não engana nem a sua própria filha. Todos sabem que suas crises emocionais são referentes ao passado que você insiste em esconder e fingir que não aconteceu. Mas a sua filha tem direito de saber, Anahi. Se ela descobrir so sozinha, será muito ruim. - suspirou. Nao adiantava dizer aquilo para Anahi, a irmã jamais contaria a verdade a Manuela e acreditava cegamente que a menina nunca descobriria.
Anahi suspirou, um lapso de memória passou pela sua mente. As lembranças de um dos piores dias de sua vida.