Eu estava sentada a frente de Dulce. Ela tinha um papel nas mãos que poderia mudar a minha vida. Dulce sempre fora minha melhor amiga.
- Anda logo com isso, Dulce Maria. - apressei, minhas mãos estavam trêmulas.
Dulce me encarou e esperou que Michele, outra amiga chegasse. Ela sentou ao meu lado e Dulce finalmente começou a abrir o envolepe em que o papel estava. Duraram poucos segundos para Dulce abrir e ler, mas para mim pareceu uma eternidade.
- E ai? - perguntei novamente.
O olhar que ela lançou para mim, era de pena. Michele apertou meus ombros tentando me passar conforto.
- Deu positivo. - Dulce murmurou. - Você está grávida.
Aquilo foi um choque. Levantei pegando o papel das mãos da minha amiga, e o resultado era mesmo positivo. Em um rompante de raiva, o rasguei em mil pedaços e logo em seguida um choro desesperado me invadiu. Dul e Michele me abraçaram forte, mas eu não queria abraço, me afastei das duas. Minha vontade era gritar e gritei. Bem alto. Elas deixaram que eu descarregasse tudo que estava sentindo. Quando conseguir me acalmar um pouco, as duas se aproximaram.
- Não é o fim do mundo. - Michele disse. Eu a encarei transtornada.
- É o fim do meu mundo. - limpei as lágrimas que ainda insistiam em cair.
- Você vai ter um filho de alguém que ama, sua mãe te apoia em tudo, não é um bicho de sete cabeças. O Joaquim é um amor de bebê. - continuou Michele.
- Michele você tem 17 anos, eu tenho 15. É muita diferença. - suspirei. Eu sabia que era praticamente a mesma coisa, mas na minha cabeça não havia comparações de casos.
- Você tem que conversar com o Poncho. - eu assenti.Poncho não era o problema, ele aceitaria. O problema era eu, eu não queria ser mãe.
- Por que isso tá acontecendo comigo?
- Porque você transou sem camisinha. - Dulce disse, óbvia.
- Eu não quero ficar em casa trocando fralda de bebê, sendo que podia estar numa festa. - exaltei-me. - Bebês choram, irritam. Eu não quero isso pra mim. - puxei meus próprios cabelos.
- Annie, quando ele nascer, você vai esquecer de tudo, falo por experiência própria. - Michele disse. - Joaquim é bem calminho.
- Michele, eu não quero ser mãe, não estou preparada.
As meninas me encararam, nada poderiam fazer, apesar de não querer eu jamais abortaria, era um fruto do meu amor com a pessoa que eu mais amava, porém eu queria achar uma saída, na idade que eu me encontrava, não seria boa mãe.
- Liga para ele. - pegou o telefone fixo, me entregando. - Marca um encontro.
Eu assim fiz, disquei os números da casa de Poncho, e ele logo atendeu.
- Alô?
- Poncho? - disse com voz trêmula.
- Princesa, eu já ia ligar pra você. - notei o tom de felicidade na voz dele. - Tenho uma notícia para te contar.
- Precisamos conversar. - eu disse seria.
- Tá tudo bem? - perguntou Poncho, ele me conhecia.
- Sim. - menti. - Me encontra daqui a trinta minutos na pedra do Arpoador.
- Ok. - ele desligou.
Costumávamos namorar ali naquela pedra, sempre foi nosso cantinho, era como se fosse mágico. As meninas buscaram água com açúcar, afim de me acalmar. Sai da casa de Dulce, que morava com os pais em Ipanema. Elas se ofereceram para me acompanhar, mas preferir ir sozinha. A praia do Arpoador não ficava longe, andei 5 minutos e cheguei. Caminhei até a pedra e me sentei abraçando meus joelhos. Havia chovido horrores antes, o mar estava revolto e o céu num tom de cinza, fazia um pouco de frio. Fiquei ali pensando, tentando me imaginar cuidando de um bebê. Eu que há menos de 1 mês antes vivi o maior sonho da minha vida, a minha festa de 15 anos, Poncho foi o meu príncipe e eu realmente me senti uma princesa vivendo o mais lindo dos contos de fada, mas hoje descobrir que a minha vida vai mudar, para sempre. Senti duas mãos cobrirem meus olhos e logo senti o perfume dele. Era Poncho.
- Chegou cedo. - ele disse me beijando nos lábios e eu sorrir. - Ta tudo bem?
Eu ia dizer que não, que minha vontade era se atirar naquele mar e morrer. Mas notei a felicidade nos olhos do meu namorado, e decidi segurar a notícia para depois.
- Você disse que queria me dar uma notícia. Pela sua cara, é boa não é? - Alfonso assentiu me puxando para seus braços. Eu me aconcheguei ali, era minha proteção.
- Lembra que te falei sobre estudar na Harvard? - assenti.
- E que ia me levar junto, mas você sabe que não sou tão inteligente como você.
- Você é inteligente sim. Mas eu recebi um email hoje e eu fui aceito. - ele disse feliz. - Embarco em uma semana.
Eu levantei do peito dele, assustada com o que disse.
- Você nem terminou o ensino médio.
- Serve como conclusão de curso.
- Mas, você vai me deixar aqui? - levantei e ele levantou também, me encarando.
- Claro que não meu amor, eu nunca vou te deixar, venho te ver sempre que eu tiver condições. - pegou minhas duas mãos. Na minha cabeça era inaceitável e logo uma súbita raiva tomou conta do meu ser.
- VOCÊ VAI PARA LONGE DE MIM, ESTÁ ME DEIXANDO. - gritei, e ele se assustou com a minha reação. - Porque precisa ir para Havard se a minha mãe pode te pagar qualquer faculdade aqui perto de mim? - cruzei os braços.
- Anahi, eu nunca aceitaria isso. E nem os meus pais. - disse paciente. - Você sabe o quanto é difícil conseguir uma vaga na Havard? Eu não posso desperdiçar isso, eu nunca me perdoaria, nem os meus pais.
- Mas pode me deixar aqui. Você me enganou todo esse tempo dizendo que me amava. - cuspi as palavras, estava cega de ódio.
- Eu te amo, Anahi. - ele tentou se aproximar, mas eu desviei dele. - Te amo muito.
- SE ME AMASSE DE VERDADE NÃO ME DEIXARIA AQUI SOZINHA. - gritei novamente. Aquela ideia não entrava em minha cabeça.
- Anahi, confia em mim. - ele suplicou. Eu encarei o mar e o céu cinza. - Eu só preciso que me espere, são só cinco anos. - me virei vermelha para ele.
- Só cinco anos. - ironizei.
- Quando eu tiver com dinheiro eu virei te ver, Any. - ele disse com calma. Apesar dos meus gritos e histeria, Alfonso sempre teve toda paciência do mundo comigo, e isso me fazia ama-lo ainda mais.
- Você mal tem dinheiro para se manter, vai ter pra vir a passeio ao Brasil. - rir pelo nariz, não medindo minhas palavras. Sei que aquilo o machucou, mas eu não estava dando a mínima.
- Você precisa me entender, princesa. - ele suspirou.
- Não vou entender. - virei de costas para ele, sentindo meu ventre queimar.
- Não quer ir comigo? - sugeriu.
- Alfonso. - virei-me para ele. - Papai jamais deixaria eu ir, eu tenho 15 anos.
- Eu também.
- Mas pobre quando ver oportunidade, tem que agarrar com todas as forças ne? - ele apertou os olhos como se minhas palavras o atingisse em cheio.
- Porque está comigo, sempre soube que sou pobre. - ele disse ficando vermelho.
- Porque eu ... - mordi os lábios. A imagem dele longe de mim era desesperador. - Quer saber? Some da minha vida. - Poncho me fitou, eu podia sentir os olhos verdes carreados de mágoas.
- Você... - ele não conseguiu terminar.
- Isso mesmo. - cruzei os braços. - SUMA DA MINHA VIDA. ESQUEÇA QUE EU EXISTO. - gritei e dessa vez eu vi uma lágrima solitária rolar pelo rosto dele.
- Não faz isso, meu amor. - ele tentou se aproximar, e agora ele chorava, mas eu me mantinha firme, a dor queimava em meu peito, mas eu nunca daria o braço a torcer.
- Eu não sou o seu amor. Eu quero você longe de mim, não me procura mais. - seus olhos verdes me encaravam cheio de dor como se não acreditasse no que eu estava falando. Senti a chuva fina começar a cair novamente.
- Você ta terminado comigo? Não vai dar nem uma chance para o nosso amor?
- Não tem chance, nem amor. - cuspi. - Eu quero você longe, entendeu? LONGE.
A chuva aumentou em questão de segundos e eu andei para fora da pedra. Ele veio atrás.
- Anahi, por favor. - me virei para ele que chorava.
- Já falei. Não venha atrás de mim. - a chuva nos molhava, eu abracei meu corpo e corri pelo calçadão de Ipanema deixando as lágrimas tomarem conta de mim. Ouvi Poncho gritar meu nome diversas vezes, e eu corria o quanto podia para longe dali. E tudo piorou quando eu lembrei que dentro da minha barriga eu carrega um pedacinho dele, um fruto do nosso amor.
Bom, comecei! Quero que sejam bem vindas e espero sinceramente que gostem. As surpresas por aqui serão muitas, boas e ruins. Quanto a Alérgicos, a reta final está se aproximando. Provável que o tempo corra rápido, pois ainda quero uma mini 2° temporada, pelo menos é o que está nos meus planos. Bom, comentem muito, pois isso me motiva a escrever. Bjs e boa leitura.
P.S: Os flashbacks serão em itálico e muitas vezes serão grandes para que não percam nada.