Fanfics Brasil - Capítulo 14 (3ª Temporada) Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 14 (3ª Temporada)

339 visualizações Denunciar


Christopher



Fico em pé na beirada da caçamba da caminhonete, segurando a estrutura que sustenta a cobertura de pano. Gostaria que esta nova realidade fosse uma simulação possível de ser manipulada e que eu pudesse pelo menos compreendê-la.
Mas ela não é uma simulação, e não consigo compreendê-la.
Amah está vivo.
Um dos comandos preferidos dele durante a minha iniciação era: “Adapte-se!”
Às vezes, ele gritava isso tanto que invadia meus sonhos; eu era acordado por aquilo, como um despertador, exigindo mais de mim do que eu conseguia
dar. Adapte-se. Adapte-se mais rápido, adapte-se melhor, adapte-se a coisas às quais ninguém deveria ter que se adaptar.
Como esta: deixar um mundo completamente formado e descobrir outro.
Ou esta: descobrir que seu amigo morto na verdade está vivo e está dirigindo a caminhonete onde você se encontra.
Dul está sentada atrás de mim, em um banco no interior da caçamba, com a foto amassada em suas mãos. Seus dedos pairam sobre o rosto da mãe, quase encostando nele, mas sem chegar a tocá-lo. Anahí e Caleb estão sentados junto dela, um de cada lado. Ela deve estar permitindo que ele fique ali só para ver a foto; mas todo o seu corpo o evita, espremendo-se contra o de Anahí.
– É a mãe de vocês? – pergunta Anahí.
Tris e Caleb assentem.
– Ela está tão jovem na foto. E bonita também – diz Anahí.
– Ela é mesmo. Quer dizer, era.
Esperava que a resposta de Dul soasse triste, como se a memória da beleza desvanecente de sua mãe causasse dor. Mas sua resposta é nervosa, e seus lábios estão contraídos de expectativa. Espero que ela não esteja alimentando falsas esperanças.
– Deixe-me ver – diz Caleb, estendendo a mão na direção da irmã.
Em silêncio e sem de fato olhar para ele, ela lhe entrega a foto.
Volto a observar o mundo que estamos deixando para trás, para o final dos trilhos. Os enormes campos desertos. E, a distância, o Eixo, quase invisível em meio à bruma que cobre o horizonte da cidade. É uma sensação estranha ver o Eixo deste lugar, como se ainda pudesse tocá-lo ao esticar bem o braço, embora tenha viajado para tão longe.
Peter vai até a beirada da caçamba, para o meu lado, segurando o pano para se equilibrar. Os trilhos de trem fazem uma curva na direção oposta da nossa, e não consigo mais ver os campos. Os muros dos dois lados do nosso caminho desaparecem aos poucos enquanto o terreno se torna mais plano, e vejo edifícios por toda parte, alguns pequenos, como as casas da Abnegação, e outros largos, como prédios urbanos virados de lado.
Árvores, descuidadas e enormes, crescem para além das estruturas de cimento que deveriam cercá-las, e suas raízes se espalham pelas calçadas. Umafila de pássaros negros, como os tatuados na clavícula de Dul, encontra-se empoleirada na beirada de um dos telhados. Quando a caminhonete passa, eles guincham e voam.
Este é um mundo selvagem.
De repente, não consigo mais aguentar aquilo e preciso me afastar da beirada e me sentar em um dos bancos. Apoio a cabeça nas mãos, os olhos fechados para não absorver mais nada. Sinto o braço forte de Dul nas minhas costas, puxando-me para o lado, para perto de seu corpo pequeno. Minhas mãos estão dormentes.
– Concentre-se apenas no aqui e agora – diz Cara do outro lado da caçamba. – Na maneira como a caminhonete está se movendo. Isso ajudará.
Eu tento. Penso em como o banco em que estou sentado é duro e em como a caminhonete vibra mesmo quando o terreno é plano, causando um zunido em meus ossos. Detecto seus movimentos suaves, para a esquerda e para a direita, para a frente e para trás, e absorvo cada quique quando o automóvel passa por cima dos trilhos. Concentro-me até que tudo ao nosso redor escurece e não sinto mais a passagem do tempo ou o pânico da descoberta. Sinto apenas o nosso
movimento sobre a terra.
– Acho que você deveria olhar agora – diz Dul com uma voz fraca.
Anahí e Uriah estão em pé onde eu estava, olhando por trás do pano. Espio atrás dos seus ombros, para ver para onde estamos indo. Há uma grade alta que se estende pela paisagem. Parece vazia comparada aos vários edifícios que vi antes de me sentar. A cerca é composta de barras pretas verticais e pontiagudas que apontam para fora, como se estivesse destinada a espetar qualquer pessoa que tentasse passar por cima dela.
A alguns metros de distância, vejo outra cerca de arame, como a que envolve a cidade, com arame farpado enrolado em cima. Ouço um zumbido alto vindo da segunda cerca, uma carga elétrica. Pessoas caminham no espaço que as divide, carregando armas parecidas com as nossas armas de paintball, mas muito mais letais e poderosas do que elas.
Em uma placa presa à primeira cerca, está escrito: DEPARTAMENTO DE AUXÍLIO GENÉTICO.
Ouço a voz de Amah conversando com os guardas armados, mas não sei o que está dizendo. Um portão na primeira cerca se abre para nos deixar entrar, e depois um portão na segunda. Após as duas cercas, encontra-se... a ordem.
Até onde consigo ver, a paisagem é tomada por edifícios baixos separados por gramados aparados e mudas de árvores. As ruas que conectam os edifícios são bem-cuidadas e sinalizadas, com setas apontando para várias direções: ESTUFAS, em frente; POSTO DE SEGURANÇA, esquerda; RESIDÊNCIAS DOS OFICIAIS, direita; COMPLEXO PRINCIPAL, em frente.
Eu me levanto e me debruço na caminhonete para ver o complexo, metade do meu corpo pendurado para fora. O Departamento de Auxílio Genético não é alto, mas, mesmo assim, é enorme, mais largo do que consigo ver, um gigante de vidro, aço e concreto. Atrás do complexo, vejo algumas torres altas com pontas arredondadas. Não sei por quê, mas elas me lembram a sala de controle, e me pergunto se é mesmo isso que elas são.
Fora os guardas entre as grades, vejo poucas pessoas. As que vejo param para
nos olhar, mas passamos tão rápido de caminhonete que não consigo ver suas
expressões.
Paramos diante de portas duplas, e Peter é o primeiro a saltar. Nós o seguimos, saltando para a calçada atrás dele, e ficamos colados uns nos outros, tão perto que consigo ouvir o ritmo da respiração de cada um. Na cidade, nós nos dividíamos por facção, idade, histórico, mas aqui todas as divisões desaparecem.
Só temos uns aos outros.
– Lá vamos nós – murmura Dul quando Zoe e Amah se aproximam.
Lá vamos nós, repito para mim mesmo.


 


 


 


                                                              + + +


 


 


 


– Sejam bem-vindos ao complexo – diz Zoe. – Este edifício costumava ser o Aeroporto O’Hare, um dos mais movimentados dos Estados Unidos. Hoje, ele é a sede do Departamento de Auxílio Genético, ou simplesmente o Departamento, como o conhecemos por aqui. É uma agência do governo dos Estados Unidos.
Sinto o meu rosto ficar inexpressivo. Conheço todas as palavras que ela está dizendo, mas não sei bem o que os termos “aeroporto” e “estados unidos” significam, e a frase não está fazendo muito sentido de maneira geral. Não sou o único que parece confusa. Peter ergue as sobrancelhas, como se quisesse fazer uma pergunta.
– Desculpem-me – diz ela. – Esqueço que vocês não sabem muita coisa.
– Acho que a culpa de não sabermos nada é de vocês, e não nossa – diz Peter.
– É melhor eu reformular a minha frase. – Zoe sorri com delicadeza. – Esqueço que fornecemos poucas informações a vocês. Aeroportos são centros
para viagens aéreas, e...
– Viagens aéreas? – pergunta Anahí, incrédula.
– Um dos avanços tecnológicos sobre os quais não era necessário que soubéssemos quando estávamos dentro da cidade eram as viagens aéreas – diz Amah. – Elas são seguras, rápidas e incríveis.
– Uau! – exclama Dul.
Ela parece animada. Eu, no entanto, quando penso em voar pelo céu, bem acima do complexo, sinto vontade de vomitar.
– Enfim. Quando os experimentos começaram a ser desenvolvidos, o aeroporto foi convertido neste complexo para que pudéssemos monitorar os experimentos a distância – diz Zoe. – Vou levá-los até a sala de controle, para que vocês conheçam David, o líder do Departamento. Vocês verão muitas coisas que não entenderão, mas é melhor receberem algumas explicações preliminares antes de começarem a me fazer perguntas. Portanto, lembrem-se das coisas sobre as quais desejam aprender mais e sintam-se à vontade para perguntar a mim ou a Amah sobre elas depois.
Ela começa a andar na direção da entrada, e as portas se abrem para deixá-la passar, puxadas por dois guardas armados que a cumprimentam com um sorriso.
O contraste entre a saudação simpática e as armas apoiadas em seus ombros é quase engraçado. As armas são enormes, e me pergunto qual deve ser a sensação de dispará-las e se é possível sentir seu poder mortal apenas apoiando o dedo no gatilho.
O ar gelado atinge meu rosto quando entro no complexo. Janelas arqueiam-se, altas, sobre a minha cabeça, deixando entrar uma luz fraca, mas esse é o aspecto mais interessante do lugar. O chão de azulejos está opaco por causa da sujeira e porque é antigo, e as paredes são cinzentas e vazias. À nossa frente, há um mar de pessoas e máquinas, e uma placa sobre elas diz: POSTO DE VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA. Não entendo por que eles precisam de tanta segurança se já estão protegidos por duas cercas, uma delas eletrificada, e algumas fileiras de guardas, mas este não é o meu mundo, e não devo questioná-lo.
Não, este definitivamente não é o meu mundo.
Dul encosta no meu ombro e aponta para o longo saguão de entrada.
– Veja só.
Do outro lado do recinto, fora do posto de verificação de segurança, encontrase um enorme bloco de pedra e um aparato de vidro suspenso sobre ele. É um claro exemplo das coisas que veremos aqui e que não entenderemos. Também não entendo a avidez que vejo nos olhos de Dul, devorando tudo ao redor, como se só aquilo fosse capaz de nutri-la. Às vezes, acho que somos iguais, mas outras, como agora, parece que a diferença entre nossas personalidades nos leva a dar de cara contra uma parede.
Anahí diz algo para Dul e as duas sorriem. Tudo que ouço está abafado e distorcido.
– Você está bem? – pergunta Cara.
– Estou – respondo de forma automática.
– Sabe, seria bastante lógico você entrar em pânico agora – diz ela. – Não precisa ficar insistindo o tempo todo na sua masculinidade inabalável.
– A minha... o quê?
Ela sorri, e percebo que está brincando.
Todas as pessoas do posto de verificação de segurança abrem caminho para
nós, formando um túnel para atravessarmos. À nossa frente, Zoe anuncia:
– Armas não são permitidas dentro do edifício, mas, ao deixarem as suas no posto de verificação de segurança, podem pegá-las novamente ao sair se desejarem. Depois que vocês as entregarem, passaremos pelos detectores e poderemos seguir em frente.
– Essa mulher é irritante – diz Cara.
– O quê? – pergunto. – Por quê?
– Ela não consegue se distanciar do próprio conhecimento – diz ela enquanto pega a sua arma. – Fica falando coisas como se fossem óbvias, mesmo quando está claro que não são.
– Tem razão – concordo sem convicção. – Isso é mesmo irritante.
À minha frente, vejo Zoe colocar sua arma em um recipiente cinza e entrar no detector, uma caixa do tamanho de uma pessoa, com um túnel no meio, onde mal passa um ser humano. Saco a minha arma, ainda pesada com as balas que não usei, e a coloco no recipiente que o guarda me entrega, onde se encontram todas as outras armas.
Vejo Zoe passando pelo detector, depois Amah, Peter, Caleb, Cara e
Anahí. Ao alcançar a beirada do detector, com suas paredes que me esmagarão, sinto o começo de um novo ataque de pânico. Minhas mãos ficam dormentes, e meu peito aperta. O detector me lembra da caixa de madeira que me cerca na paisagem do medo, espremendo os meus ossos.
Não posso, não vou entrar em pânico aqui.
Forço os meus pés a entrarem no detector e paro no meio, onde todos os outros pararam. Ouço algo se movendo dentro das paredes nos dois lados, depois ouço um apito agudo. Estremeço e tudo o que vejo é a mão do guarda pedindo para que eu siga em frente.
Já posso escapar.
Saio do detector, cambaleante, e o ar se abre ao meu redor. Cara me olha
fixamente, mas não fala nada.
Quando Dul passa pelo detector e segura a minha mão, quase não a sinto.
Lembro-me de passar pela minha paisagem do medo com ela, dos nossos corpos apertados um contra o outro dentro da caixa de madeira que nos aprisionava, da palma da minha mão em seu peito, sentindo seu batimento cardíaco. Isso é o bastante para me trazer de volta à realidade.
Depois que Uriah passa pelo detector, Zoe faz um sinal para que sigamos em frente.
Após o posto de verificação de segurança, o edifício não é tão decrépito quanto antes. O chão ainda é de ladrilho, mas eles estão perfeitamente polidos, e há janelas por toda parte. Seguindo um longo corredor, vejo fileiras de mesas de laboratório e computadores que me lembram da sede da Erudição, embora este ambiente seja mais claro, e não pareça haver nada escondido aqui.
Zoe nos guia por um corredor mais escuro à direita. Ao passarmos pelas pessoas, elas param para nos observar, e sinto seus olhares em mim, como pequenos raios de calor, me esquentando da garganta às bochechas.
Andamos por muito tempo, adentrando cada vez mais o complexo, e Zoe para, virando-se para nós.
Atrás dela, há um grande círculo de monitores apagados, como mariposas ao redor de uma chama. Pessoas dentro do círculo estão sentadas diante de mesas baixas, digitando furiosamente em outros monitores, que por sua vez estão voltados para fora, e não para dentro. É uma sala de controle, mas aberta, e não sei ao certo o que estão observando aqui, já que todos os monitores parecem apagados. Amontoados ao redor dos monitores voltados para dentro há cadeiras, bancos e mesas, como se pessoas tivessem se reunido ali para assistir aos monitores por puro prazer.
Alguns metros à frente da sala de controle está um homem mais velho com um sorriso no rosto e um uniforme azul-escuro como os de todas as outras pessoas. Ao notar a nossa aproximação, ele abre os braços para nos dar boas-vindas.
Imagino que seja David.
– Isto – diz o homem – é o que estamos esperando desde o princípio.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Fer Linhares

Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Dul Tiro a foto do bolso. O homem diante de mim, David, está nela, ao lado da minha mãe, com o rosto um pouco menos enrugado e um pouco mais magro.Cubro o rosto da minha mãe com a ponta do dedo. Toda a esperança dentro de mim já desapareceu. Se minha mãe, meu pai ou meus amigos estivessem vivos, eles estariam nos espe ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais