Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Christopher
O sol ainda não havia terminado de se pôr quando caímos no sono, mas acordo poucas horas depois, à meia-noite. Minha mente está agitada demais para descansar, cheia de pensamentos, questões e dúvidas. Dul soltou a minha mão há um tempo, e seus dedos agora tocam o chão. Ela está espalhada no colchão, com o cabelo cobrindo os olhos.
Enfio os pés nos sapatos e caminho pelos corredores, arrastando os cadarços pelo carpete. Estou tão acostumado com o complexo da Audácia que o ranger de tábuas corridas sob meus pés não me parece nada familiar. Eu me habituei a ouvir meus passos se arrastando e ecoando nas pedras e ao ronco e pulsar da água do abismo.
Uma semana depois do começo da minha iniciação, Amah, preocupado com o meu isolamento e minha obsessão crescentes, convidou-me para jogar Desafio com alguns membros mais velhos da Audácia. Fui desafiado a ir até o Fosso para fazer a minha primeira tatuagem, as chamas da Audácia que cobrem as minhas costelas. Foi doloroso, mas gostei de cada minuto daquilo.
Chego ao final do corredor e me encontro em um átrio, cercado pelo cheiro de terra molhada. Ao meu redor, plantas e árvores estão suspensas sobre a água, como nas estufas da Amizade. No centro da sala há uma árvore em um enorme tanque d’água erguido bem alto, e consigo ver sob a planta os emaranhado de raízes estranhamente humanas, como nervos.
– Você está menos atento do que antigamente – diz Amah atrás de mim. – Segui você desde o lobby do hotel.
– O que quer? – Bato com os nós dos dedos no tanque, formando marolas na água.
– Imaginei que você gostaria de saber por que não estou morto.
– Estive pensando sobre isso. Eles nunca permitiram que víssemos o seu corpo. Não seria tão difícil forjar a morte de alguém sem nunca apresentar o corpo.
– Parece que você já entendeu tudo. – Amah bate palmas. – Bom, se não está
curioso, então acho que vou embora...
Cruzo os braços.
Amah corre a mão pelo cabelo preto, amarrando-o com um elástico.
– Eles forjaram a minha morte porque eu era Divergente, e Jeanine havia começado a matar os Divergentes. Tentaram salvar o maior número possível deles antes que ela os pegasse, mas era difícil, sabe, porque ela estava sempre um passo à frente.
– Existem outros? – pergunto.
– Alguns – responde ele.
– Algum chamado Saviñón?
Amah balança a cabeça.
– Não, Blanca Saviñón está morta, infelizmente. Foi ela quem me ajudou a sair.
Ela também ajudou outro cara... George Wu. Você o conhece? Ele está na patrulha agora, senão teria vindo buscar vocês comigo. A irmã dele continua na cidade.
O nome causa um nó na minha barriga.
– Meu Deus – digo, apoiando-me na parede do tanque.
– O que foi? Você o conhece?
Balanço a cabeça.
Nem consigo imaginar aquilo. Poucas horas separam a morte de Maite da nossa chegada aqui. Em um dia normal, poucas horas podem conter longos períodos nos quais as pessoas apenas conferem o relógio. Tempo livre. Mas ontem algumas horas colocaram uma barreira intransponível entre Maite e seu irmão.
– Maite era irmã dele – explico. – Ela tentou deixar a cidade conosco.
– Tentou – repete Amah. – Ah. Nossa. Isso é...
Nós dois ficamos em silêncio por um tempo. George nunca reencontrará a irmã, e ela morreu pensando que ele fora assassinado por Jeanine. Não há nada a dizer a respeito disso. Pelo menos, nada que valha a pena.
Agora que meus olhos se ajustaram à escuridão, vejo que as plantas aqui foram selecionadas por sua beleza, e não sua praticidade. São flores, trepadeiras e grupos de folhas roxas e vermelhas. As únicas flores que vi na vida eram selvagens, ou flores das macieiras nos pomares da Amizade. Estas são mais extravagantes, vibrantes e complexas, com pétalas dobradas sobre outras pétalas.
Seja lá o que for este lugar, ele não precisou ser tão pragmático quanto a nossa
cidade.
– A mulher que encontrou o seu corpo – digo. – Ela estava... mentindo?
– Não podemos confiar que alguém vá mentir de maneira consistente. – Ele mexe a sobrancelha. – Nunca pensei que diria isso, mas é verdade. A memória dela foi apagada e alterada para que pensasse ter me visto saltando da Pira, e o corpo plantado não era meu. Mas ele estava em um estado tão ruim que ninguém percebeu.
– A memória dela foi apagada. Você quer dizer, com o soro da Abnegação?
– Nós o chamamos de “soro da memória”, já que, tecnicamente, ele não pertence apenas à Abnegação. Mas, sim. Foi com ele mesmo.
Antes, eu estava com raiva dele. Não sei bem por quê. Talvez só estivesse irritado porque o mundo se tornou um lugar tão complicado, e eu nunca soube nem uma fração da verdade a seu respeito. Ou porque me permiti sofrer pela morte de alguém que nunca esteve morto de verdade, da mesma maneira que sofri pela perda da minha mãe durante todos os anos em que achei que ela estivesse morta. Fazer uma pessoa sofrer, levando-a a acreditar que você se foi, é a mentira mais cruel à qual alguém pode ser submetido, e já fui submetido a ela duas vezes.
Contudo, ao olhar para ele, minha raiva se esvai, como uma mudança de maré. E, no lugar da raiva, encontra-se o meu instrutor de iniciação e amigo, vivo novamente.
Abro um sorriso.
– Então, você está vivo.
– O mais importante – diz ele, apontando para mim – é que você não está mais chateado por isso.
Ele agarra o meu braço e me puxa para um abraço, batendo nas minhas costas com uma das mãos. Tento mostrar o mesmo entusiasmo, mas não é algo que me vem com naturalidade. Quando nos afastamos, meu rosto está quente. E, pela maneira como ele cai na gargalhada, devo estar vermelho também.
– Uma vez Careta, sempre Careta – diz ele.
– Tá bom... Mas e aí, você gosta daqui?
Amah dá de ombros.
– Não tenho muita escolha, mas, sim, até que gosto. Trabalho na segurança, é claro, já que só fui treinado para isso. Adoraríamos que trabalhasse conosco, mas acho que você merece coisa melhor.
– Ainda não decidi ao certo se quero mesmo ficar. Mas obrigado.
– Não há nenhum lugar melhor lá fora. Todas as outras cidades, onde a maioria da população do país mora, são sujas e perigosas, a não ser que você conheça as pessoas certas. Aqui temos pelo menos água limpa, comida e segurança.
Troco o meu pé de apoio. Estou desconfortável. Não quero pensar em ficar, em fazer deste lugar o meu lar. Já me sinto aprisionado em minha própria decepção. Não era isso que eu esperava quando pensava em escapar dos meus pais e das memórias ruins que eles me causavam. Mas não quero estragar tudo com Amah agora, quando enfim sinto que tenho meu amigo de volta, então digo apenas:
– Vou pensar a respeito.
– Ouça, preciso contar outra coisa.
– O quê? Mais ressurreições?
– O meu caso não é bem de ressurreição, já que nunca morri, não é? – Amah balança a cabeça. – Não, é algo a respeito da cidade. Alguém ouviu na sala de controle hoje que o julgamento de Víctor está marcado para amanhã de manhã.
Eu sabia que esse dia chegaria. Eu sabia que Alexandra deixaria o julgamento dele por último e que ela saborearia cada momento que passasse assistindo-o se contorcer sob o efeito do soro da verdade, como se fosse sua última refeição. Só não imaginei que teria a opção de ver tudo se eu quisesse. Pensei que tivesse finalmente me livrado deles, de todos eles, para sempre.
– Ah. – É tudo o que consigo dizer.
Ainda me sinto entorpecido e confuso no caminho de volta para o dormitório e, mais tarde, quando me deito na cama. Não sei o que farei.
Comentem!!
Autor(a): Fer Linhares
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Dul Acordo pouco antes do nascer do sol. Ninguém mais se mexe na cama.O braço de Christopher cobre seus olhos, mas agora ele está calçado, como se tivesse se levantado no meio da noite. Anahí está com a cabeça enfiada embaixo do travesseiro. Permaneço deitada por alguns minutos, descobrindo formas no teto,&nb ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa