Fanfics Brasil - Capítulo 20 (3ª Temporada) Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 20 (3ª Temporada)

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Christopher



– Não sabia se você viria mesmo – diz Nita.
Quando ela se vira para me guiar até sabe-se lá onde, vejo que sua camisa folgada deixa uma parte das costas à mostra, e há uma tatuagem ali, mas não consigo decifrar o que é.
– Vocês também fazem tatuagens aqui? – pergunto.
– Algumas pessoas, sim – diz ela. – A das minhas costas é um vidro quebrado.
– Ela faz uma pausa. O tipo de pausa que as pessoas fazem quando estão decidindo se devem ou não compartilhar algo pessoal. – Eu a fiz porque ela sugere dano. É... tipo uma piada.
De novo esta palavra: “dano.” A palavra que fica indo e voltando, indo e voltando à minha mente, desde o teste genético. Se a tatuagem é uma piada, não acho que seja muito engraçada, e parece que Nita também não. Ela cospe a explicação como se deixasse um gosto amargo na boca.
Passamos por um dos corredores cobertos de ladrilhos, quase vazio agora que o expediente está acabando, depois descemos um lance de escadas. Ao descermos, luzes azuis, verdes, roxas e vermelhas dançam pela parede, mudando de tom a cada segundo. O túnel no fim da escada é largo e escuro, e a única coisa que nos guia é a estranha luz. O chão é de ladrilho antigo, e, mesmo através das solas dos meus sapatos, sinto a terra e a poeira.
– Esta parte do aeroporto foi completamente restaurada e expandida quando eles se mudaram para cá – diz Nita. – Durante um tempo, depois da Guerra da Pureza, todos os laboratórios ficavam no subterrâneo para que estivessem maisprotegidos de ataques. Agora apenas a equipe de apoio visita este lugar.
– São eles que você quer que eu conheça?
Ela faz que sim com a cabeça.
– Ser da equipe de apoio não é apenas um emprego. Quase todos nós somos GDs: geneticamente danificados, restos dos experimentos fracassados das cidades ou descendentes de outros restos, ou pessoas trazidas para cá do lado de fora, como a mãe de Dul, só que sem a vantagem genética dela. E todos os cientistas e líderes são GPs: geneticamente puros, descendentes de pessoas que resistiram ao movimento da engenharia genética. É claro que há algumas exceções, mas são tão poucas que eu posso listar todas para você se quiser.
Estou prestes a perguntar por que a divisão é tão rígida, mas posso deduzir sozinho. Os chamados “GPs” cresceram nesta comunidade, em um mundo de experimentos, observação e aprendizado. Os “GDs” cresceram dentro dos experimentos, onde tinham que aprender apenas o bastante para sobreviver até a geração seguinte. A divisão é pautada no conhecimento e nas qualificações. Mas, como aprendi com os sem-facção, qualquer sistema que dependa de um grupo de pessoas sem educação para fazer o trabalho sujo sem uma chance de ascensão não é muito justo.
– Mas acho que sua garota tem razão – diz Nita. – Nada mudou; agora, você apenas tem mais noção das suas próprias limitações. Qualquer ser humano tem limitações, até mesmo os GPs.
– Então, existe um limite máximo... do quê? Da minha compaixão? Da minha consciência? – pergunto. – É isso que você tem a me oferecer como conforto?
Nita me analisa com cautela, mas não responde.
– Isso é ridículo – digo. – Que direito você, eles ou qualquer pessoa tem de determinar os meus limites?
– É assim que as coisas são, Christopher – fala Nita. – É apenas genética, nada mais.
– Isso é mentira. A questão aqui tem a ver com coisas que vão além de genes, e você sabe disso.
Sinto que preciso ir embora, dar as costas e voltar correndo para o dormitório.
A raiva está fervendo dentro de mim, enchendo-me de calor, e nem sei ao certo a quem ela é direcionada. A Nita, que apenas aceitou a ideia de que é limitada, ou a quem a convenceu disso? Talvez eu tenha raiva de todos.
Alcançamos o fim do túnel, e ela empurra com o ombro uma pesada porta de madeira. Do outro lado, há um mundo movimentado e brilhante. A sala é iluminada por pequenas lâmpadas penduradas, mas os fios estão tão emaranhados que uma teia amarela e branca cobre o teto. Em um dos cantos da sala, há um balcão de madeira com garrafas incandescentes atrás, coberto por um mar de copos. Há mesas e cadeiras no lado esquerdo da sala e um grupo de pessoas com instrumentos musicais no lado direito. A música preenche o ambiente, mas os únicos sons que reconheço da minha convivência limitada com a Amizade são os das cordas dos violões e dos tambores.
Sinto que estou sob um holofote e que todos estão me observando, esperando que eu me mova, fale, faça algo. A princípio, é difícil ouvir qualquer coisa além da música e do ruído de conversas, mas, depois de alguns segundos, me acostumo e ouço a voz de Nita:
– Venha por aqui! Você quer um drinque?
Estou prestes a responder quando um homem entra correndo na sala. Ele é baixo e usa uma camiseta grande demais, uns dois números maior. Gesticula para que os músicos parem de tocar, e eles param apenas o tempo suficiente para ele gritar:
– Está na hora do veredicto!
Metade das pessoas se levanta e corre em direção à porta. Olho para Nita, pedindo explicações, e ela franze a sobrancelha, criando uma ruga em sua testa.
– O veredicto de quem? – pergunto.
– De Víctor, com certeza – responde ela.
E eu começo a correr também.


 


 


 


                                                              + + +


 


 


 


Desço o túnel correndo, tentando passar entre as pessoas, empurrando-as quando não consigo me espremer entre elas. Nita corre logo atrás de mim, gritando para que eu pare, mas não consigo. Sinto-me à parte deste lugar, destas pessoas e do meu próprio corpo, e, além disso, sempre fui bom em correr.
Corro escada acima, subindo os degraus de três em três, agarrando o corrimão para me equilibrar. Não sei por que estou tão ansioso. Será que é pela condenação de Víctor? Ou pela sua exoneração? Será que espero que Alexandra o julgue culpado e o execute ou que ela o poupe? Não sei dizer. Para mim, cada resultado parece feito da mesma substância. Tudo se resume ou à maldade de Víctor ou à sua máscara, à maldade de Alexandra ou à sua máscara.
Não preciso tentar me lembrar de onde fica a sala de controle, porque as pessoas no corredor já me mostram o caminho. Quando a alcanço, espremo-me entre elas até a frente da sala, e lá estão eles, meus pais, expostos em metade dos monitores. Todos se afastam de mim, cochichando, exceto Nita, que para ao meu lado, recuperando o fôlego.
Alguém aumenta o volume para que todos possam ouvir o que é dito. Suas vozes estalam, distorcidas pelos microfones, mas conheço a voz do meu pai; consigo ouvi-la mudando em todos os momentos certos, subindo de tom em todos os lugares certos. Consigo quase prever suas palavras, antes mesmo que eles as diga.
– Você não teve pressa – diz ele com desprezo. – Está saboreando o momento?
Fico paralisado. Essa não é a máscara de Víctor. Essa não é a pessoa que a cidade conhece como o meu pai. O líder calmo e paciente da Abnegação, que nunca machucaria ninguém, muito menos o filho e a mulher. Este é o homem que tirava o cinto devagar e o enrolava no punho. Esse é o Víctor que conheço melhor, e enxergá-lo agora, como quando o vejo na paisagem do medo, transforma-me em uma criança.
– É claro que não, Víctor – diz minha mãe. – Você serviu bem esta cidade durante muitos anos. Esta não foi uma decisão fácil para mim ou para qualquer um dos meus conselheiros.
Víctor não está usando a sua máscara, mas Alexandra está usando a dela. Ela soa tão sincera que quase me convence.
– Eu e os antigos representantes das facções tivemos muito a considerar. Seus anos de serviço, a lealdade que você inspirou entre os membros da sua facção, os sentimentos que ainda sinto por você como meu ex-marido...
Uma bufada de desdém escapa de meus lábios.
– Ainda sou seu marido – diz Víctor. – A Abnegação não permite o divórcio.
– Eles permitem em casos de violência doméstica – responde Alexandra, e sou tomado por aquele mesmo sentimento antigo, o vazio e o peso. Não acredito que ela acabou de admitir isso em público.
Mas o fato é que ela agora quer que as pessoas da cidade a enxerguem de outra maneira. Não como a mulher desalmada que assumiu o controle de suas vidas, mas como a mulher que Víctor oprimiu com sua força, o segredo que ele escondeu por trás de uma casa asseada e de roupas cinzentas bem passadas.
De repente, sei qual será o desfecho.
– Ela vai matá-lo – digo.
– Mas o fato – continua Alexandra, quase com carinho –, é que você cometeu crimes egrégios contra esta cidade. Você enganou crianças inocentes, levando-as a arriscar a própria vida por seus propósitos. Sua recusa em seguir minhas ordens e as de Maite Wu, ex-líder da Audácia, resultou em incontáveis mortes durante o ataque da Erudição. Você traiu seus pares ao deixar de fazer o que estava combinado e ao deixar de lutar contra Jeanine Matthews. Você traiu sua própria facção ao revelar o que deveria ser um segredo confidencial.
– Eu não...
– Não terminei de falar – diz Alexandra. – Dado o seu histórico de serviço a esta cidade, decidimos adotar uma solução alternativa. Ao contrário dos outros antigos representantes de facções, você não será perdoado, nem poderá opinar nos assuntos que dizem respeito a esta cidade. Mas também não será executado como traidor. Você será enviado para o lado de fora da cerca, para além do complexo da Amizade, e não poderá voltar jamais.
Víctor parece surpreso. Eu não o culpo.
– Parabéns – diz Alexandra. – Você ganhou a chance de recomeçar.
Será que eu deveria sentir alívio por meu pai não ser executado? Ou raiva, por ter chegado tão perto de enfim me ver livre dele, mas ver que ele continuará neste mundo, pairando sobre a minha cabeça?
Não sei. Não sinto nada. Minhas mãos ficam dormentes, e isso é um indício de que estou entrando em pânico, mas não me sinto assim ou pelo menos não como costumo me sentir. A necessidade de estar em algum outro lugar toma conta de mim, então me viro e deixo os meus pais, Nita e a cidade onde costumava morar para trás.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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