Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Dul
Olho pelo microscópio. O soro flutua diante de mim, marromalaranjado.
Eu estava tão preocupada em identificar se Nita estava mentindo que mal registrei a verdade: se o Departamento queria este soro, eles devem tê-lo desenvolvido, e, de alguma maneira, entregaram-no para Jeanine. Eu me afasto do microscópio. Por que Jeanine trabalharia com o Departamento quando queria tanto ficar na cidade, longe dele?
Mas acho que o Departamento e Jeanine tinham um objetivo em comum. Os dois queriam que o experimento continuasse. Os dois morriam de medo do que aconteceria se ele fosse encerrado. E os dois estavam dispostos a sacrificar vidas inocentes para que isso acontecesse.
Pensei que este lugar poderia ser o meu lar. Mas o Departamento está cheio de assassinos. Recuo de repente, como se estivesse sendo empurrada por uma força invisível, e deixo o laboratório com o coração batendo rápido.
Ignoro as poucas pessoas paradas no corredor do lado de fora. Apenas sigo em frente, em direção ao centro do complexo, em direção ao estômago da besta.
Lembro-me do que disse para Anahí: Talvez este lugar pudesse ser o meu lar.
E as palavras de Christopher ecoam na minha mente: Essas pessoas assassinaram seus pais.
Não sei para onde estou indo, mas preciso de espaço e de ar. Agarro a minha credencial e atravesso a passos largos o posto de segurança em direção à escultura. Não há nenhuma luz brilhando dentro do tanque agora, embora a água continue a cair nele, uma gota a cada segundo. Fico parada um instante, observando a escultura. De repente, vejo o meu irmão do outro lado da pedra.
– Você está bem? – pergunta ele, hesitante.
Não estou bem. Eu tinha começado a sentir que havia encontrado um lugar para ficar, um lugar que não era tão instável, corrupto ou controlador, ao qual poderia enfim pertencer. Eu já deveria ter aprendido que tal lugar não existe.
– Não – respondo.
Ele começa a contornar o bloco de pedra, vindo em minha direção.
– O que houve? – pergunta ele.
– O que houve? – Solto uma risada. – É o seguinte: acabei de descobrir que você não é a pior pessoa que conheço.
Agacho-me e corro os dedos pelo cabelo. Sinto-me entorpecida e apavorada com o meu próprio torpor. O Departamento é responsável pela morte dos meus pais. Por que preciso ficar repetindo isso a mim mesma para acreditar? Qual é o meu problema?
– Ah – diz ele. – Eu... lamento?
Só consigo responder com um curto grunhido.
– Sabe o que a mamãe me disse certa vez? – pergunta ele, e a maneira como diz mamãe, como se não a tivesse traído, faz com que eu trinque os dentes. – Ela disse que todas as pessoas têm algo de mau dentro de si e que o primeiro passo para amar qualquer pessoa é reconhecer o mesmo mal dentro de nós para que possamos perdoá-la.
– É isso que você quer que eu faça? – pergunto em um tom monótono ao me levantar. – Posso ter feito coisas ruins na minha vida, Caleb, mas nunca o levaria à sua própria execução.
– Você não pode afirmar isso – diz ele, e parece que está suplicando, implorando para que eu diga que sou exatamente como ele, que não sou melhor.
– Não sabe como Jeanine era persuasiva...
Algo dentro de mim arrebenta, como um elástico gasto.
Soco o rosto dele.
Só consigo pensar em como a Erudição tirou o meu relógio e os meus sapatos e me levou até a mesa vazia, onde eles tirariam a minha vida. Uma mesa que talvez Caleb até tenha sido o responsável por arrumar.
Pensei que já tivesse superado esse tipo de perigo, mas, quando ele se afasta, cobrindo o rosto com as mãos, eu o persigo, agarrando a frente da sua camisa e lançando-o contra a escultura de pedra, gritando que ele é um covarde e um traidor, e que vou matá-lo, vou matá-lo.
Uma das guardas se aproxima de mim, e ela só precisa apoiar a mão no meu ombro para me fazer sair do transe. Solto a camisa de Caleb. Balanço a minha mão, que está ardendo. Viro as costas e vou embora.
+ + +
Há um suéter bege pendurado em uma cadeira vazia no laboratório de Matthew, com a manga arrastando no chão. Ainda não conheço o supervisor dele. Estou começando a suspeitar que Matthew faz todo o trabalho sozinho.
Sento-me sobre o suéter e examino as juntas dos meus dedos. Algumas estão feridas e manchadas com pequenos pontos roxos por causa do soco que dei em Caleb. Parece justo que o golpe deixe marcas em nós dois. É assim que o mundo funciona.
Ontem à noite, quando voltei para o dormitório, Christopher não estava lá, e eu estava irritada demais para dormir. Nas horas que permaneci acordada, encarando o teto, decidi que, embora não fosse participar do plano de Nita, também não iria impedi-lo. A verdade sobre a simulação de ataque gerou um ódio dentro de mim pelo Departamento, e quero vê-lo ruir de dentro para fora.
Matthew está dando explicações científicas. Não estou conseguindo prestar muita atenção.
– ...fazendo um pouco de análise genética, o que não tem problema algum, mas antes estávamos desenvolvendo um método para fazer o composto da memória se comportar como um vírus – diz ele. – Com a mesma replicação rápida, a mesma capacidade de se espalhar pelo ar. E desenvolvemos uma vacina para ele. É apenas temporária, tem duração de apenas quarenta e oito horas, mas enfim.
Assinto com a cabeça.
– Então... vocês estavam tentando arrumar um jeito de estabelecer outros experimentos urbanos com mais facilidade, não é? – pergunto. – Não seria necessário injetar o soro da memória em todo mundo. Vocês poderiam simplesmente soltá-lo no ar e deixar que ele se espalhasse.
– Exatamente! – Ele parece empolgado por eu estar interessada em suas explicações. – E é um modelo mais avançado, já que podemos selecionar membros específicos da população para ficar de fora. É só vaciná-los. O vírus se espalha em vinte e quatro horas e não teria qualquer efeito sobre eles.
Concordo com a cabeça mais uma vez.
– Você está bem? – pergunta Matthew com a caneca de café parada perto da boca. Ele a baixa. – Ouvi dizer que os seguranças tiveram que separar uma briga em que você estava envolvida ontem à noite.
– Foi com o meu irmão. Caleb.
– Ah. – Matthew ergue uma sobrancelha. – O que ele fez desta vez?
– Na verdade, nada. – Belisco a manga do suéter. As pontas estão todas puídas, gastas pelo tempo. – Eu estava à flor da pele. Ele só apareceu na minha frente.
Já sei, só de olhá-lo, a pergunta que ele quer fazer, e quero lhe explicar tudo,
tudo o que Nita me mostrou e contou. Será que posso confiar nele?
– Fiquei sabendo de uma coisa ontem – digo com cuidado. – Sobre o Departamento. Sobre a cidade e as simulações.
Ele ajeita o corpo e me olha de forma estranha.
– O que foi? – pergunto.
– Você ficou sabendo por Nita?
– É. Como você sabia?
– Já a ajudei algumas vezes. Fui eu quem a liberou para entrar no depósito.
Ela disse mais alguma coisa?
Matthew é o informante de Nita? Eu o encaro. Nunca imaginei que Matthew, que se esforçou tanto para me mostrar a diferença entre meus genes “puros” e os genes “danificados” de Christopher, poderia ajudar Nita.
– Ela falou algo sobre um plano – digo devagar.
Ele se levanta e caminha na minha direção, estranhamente tenso. Por instinto, eu me afasto dele.
– Eles vão levar a cabo o plano? – pergunta ele. – Você sabe quando?
– O que está acontecendo? Por que você ajudaria Nita?
– Porque toda essa baboseira sobre “danos genéticos” é ridícula – diz ele. – É muito importante que você responda as minhas perguntas.
– Sim, eles vão colocar o plano em prática. Não sei quando, mas acho que será em breve.
– Droga. – Matthew cobre o rosto com as mãos. – Nada de bom resultará disso.
– Se você não parar de falar em códigos, vou lhe dar um tapa – digo, levantando me da cadeira.
– Eu estava ajudando Nita até que ela me disse o que ela e aquelas pessoas da margem querem fazer – diz Matthew. – Querem entrar no Laboratório de Armas e...
– ...roubar o soro da memória, eu sei.
– Não. – Ele balança a cabeça. – Não, eles não querem o soro da memória; querem o soro da morte. É parecido com o que a Erudição tinha. O que queriam injetar em você quando quase foi executada. Eles vão usá-lo para matar pessoas, muita gente. É só usar uma lata de aerossol para soltar o soro no ar que isso se torna fácil, entende? Se eles o entregarem às pessoas erradas, teremos uma explosão de anarquia e violência, e isso é exatamente o que aquelas pessoas da margem querem.
Sim, eu entendo. Consigo ver a imagem de um frasco sendo virado, de um botão de uma lata de aerossol sendo apertado. Consigo ver os corpos de pessoas da Abnegação e da Erudição espalhados por ruas e escadas. Consigo ver os pequenos pedaços deste mundo aos quais conseguimos nos agarrar ardendo em chamas.
– Pensei que estivesse ajudando Nita com um plano mais inteligente – diz Matthew. – Se eu soubesse que estava ajudando a começar outra guerra, não teria feito aquilo. Precisamos tomar alguma providência.
– Eu avisei a ele – falo baixinho, não para Matthew, mas para mim mesma. – Eu avisei a ele que ela estava mentindo.
– Talvez a maneira como tratamos os GDs neste país seja um problema, mas
isso não será resolvido com um genocídio – diz ele. – Venha, vamos para o escritório de David.
Não sei mais o que é certo ou errado. Não sei nada sobre este país, sobre como ele funciona ou do que precisa para mudar. Mas sei que uma quantidade grande de soro da morte nas mãos de Nita e de algumas pessoas da margem é tão ruim quanto nas mãos do pessoal do Laboratório de Armas do Departamento.
Então sigo Matthew pelo corredor. Caminhamos depressa em direção à entrada principal, por onde entrei no complexo pela primeira vez.
Quando atravessamos o posto de segurança, vejo Uriah perto da escultura. Ele levanta a mão para acenar para mim, a boca contraída em uma linha que poderia ser um sorriso se ele se esforçasse mais. Sobre a sua cabeça, a luz refrata no tanque d’água, o símbolo do esforço lento e inútil do Departamento.
Acabo de passar pelo posto de segurança quando vejo a parede ao lado de Uriah explodir.
Parece uma chama brotando de um botão de flor. Cacos de vidros e pedaços de metal são lançados do centro do botão, e o corpo de Uriah está entre eles, como um projétil inanimado. Um ruído surdo e profundo atravessa o meu corpo como um abalo. Minha boca está aberta; estou gritando o nome dele, mas não consigo ouvir a minha voz porque meus ouvidos estão zumbindo.
Ao meu redor, todos estão agachados, cobrindo suas cabeças com os braços.
Mas eu estou de pé, olhando para o buraco na parede do complexo. Ninguém o atravessa.
Segundos depois, todos ao meu redor começam a fugir da explosão, e me jogo contra elas, abrindo caminho com o ombro, atrás de Uriah. Um cotovelo acerta as minhas costelas e eu desabo. Meu rosto raspa em algo duro e de metal, a lateral de uma mesa. Levanto-me com dificuldade, limpando o sangue da minha sobrancelha com a manga da camisa. Roupas raspam nos meus braços, e tudo o que consigo ver são braços, cabelos e olhos arregalados, exceto pela placa sobre suas cabeças, que diz SAÍDA DO COMPLEXO.
– Soem os alarmes! – grita um dos guardas do posto de segurança. Abaixo-me para desviar de um braço e tropeço para o lado.
– Já tentei! – grita outro guarda. – Não estão funcionando!
Matthew agarra o meu ombro e grita ao meu ouvido:
– O que você está fazendo? Não vá na direção...
Corro mais rápido até achar o caminho livre. Matthew corre atrás de mim.
– Não deveríamos estar indo para o local da explosão. Os responsáveis por ela já estão dentro do prédio – diz ele. – Laboratório de Armas! Vamos!
O Laboratório de Armas. Palavras sagradas.
Penso em Uriah jogado no chão de ladrilhos, cercado de vidro e metal. Meu corpo, todos os meus músculos, estão me puxando para perto dele, mas sei que não posso fazer nada por ele agora. O mais importante é usar o meu conhecimento de caos, de ataques, para impedir que Nita e seus amigos roubem o soro da morte.
Matthew estava certo. Nada de bom resultará disso.
Ele toma a dianteira, mergulhando na multidão de pessoas como se ela fosse uma piscina. Tento olhar apenas para a sua nuca a fim de conseguir acompanhá-lo, mas os rostos vindo na minha direção me distraem com suas bocas e seus olhos rígidos de terror. Eu o perco de vista por alguns segundos, depois o encontro novamente, a vários metros de distância, virando à direita no corredor seguinte.
– Matthew! – grito, abrindo caminho entre outro grupo de pessoas. Afinal o alcanço e agarro a parte de trás da sua camisa. Ele se vira e segura a minha mão.
– Você está bem? – pergunta ele, olhando para o corte logo acima da minha sobrancelha. Na correria, quase me esqueci do ferimento. Pressiono a manga da minha camisa no corte, e ela fica vermelha, mas, mesmo assim, faço que sim com a cabeça.
– Estou bem! Vamos!
Corremos lado a lado pelo corredor, que não está tão cheio quanto os outros, mas percebo que quem se infiltrou no prédio já passou por ele. Há guardas caídos no chão, alguns vivos e outros, não. Vejo uma arma sobre os ladrilhos ao lado de um bebedouro e a agarro, soltando a mão de Matthew.
Ofereço-a a Matthew, mas ele balança a cabeça.
– Nunca usei uma arma – diz ele.
– Ah, pelo amor de Deus.
Posiciono meu dedo sobre o gatilho. Esta arma é diferente das que tínhamos na cidade. Ela não tem um cano que vai para o lado, a mesma tensão no gatilho
nem a mesma distribuição de peso. Como não me traz as mesmas lembranças, ela é mais fácil de segurar.
Matthew está arquejando, sem ar. Eu também, mas não percebo da mesma maneira, porque já corri em meio ao caos muitas vezes. O próximo corredor para o qual ele me guia está vazio, exceto por uma soldada caída. Ela não está se movendo.
– Estamos quase chegando – diz ele, e eu levo o dedo aos lábios, pedindo silêncio.
Desaceleramos o passo, e seguro a arma com mais firmeza, porque o meu suor a deixa escorregadia. Não sei quantas balas há na arma e não sei conferir.
Quando passamos pela soldada, paro para checar se ela está armada. Encontro uma arma presa embaixo do seu quadril, que desabou sobre o pulso. Matthew a encara, sem piscar os olhos, enquanto pego a arma.
– Ei – digo baixinho. – Apenas continue andando. Ande agora, pense nisso depois.
Eu o cutuco com o cotovelo e sigo na frente. Os corredores são maliluminados, e o teto é coberto de barras e canos entrecruzados. Consigo ouvir pessoas adiante e não preciso das instruções sussurradas de Matthew para encontrá-las.
Quando alcançamos o corredor no qual devemos virar, encosto o corpo na parede e tento espiar, tomando cuidado para me manter o mais escondida possível.
Há um conjunto de portas de vidro duplo que parecem tão pesadas quanto portas de metal, mas estão abertas. Do outro lado, há um corredor apertado e vazio, exceto por três pessoas de preto. Estão vestindo roupas pesadas e carregando armas tão grandes que acho que nem conseguiria levantar uma delas. Seus rostos estão cobertos por um tecido preto, que oculta tudo, menos seus olhos.
David está ajoelhado diante das portas, com uma arma apontada para a sua cabeça e sangue escorrendo pelo queixo. E, entre os invasores, vestindo a mesma máscara dos outros, vejo uma garota com rabo de cavalo.
Nita.
Autor(a): Fer Linhares
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Dul – Coloque-nos para dentro, David – diz Nita com a voz abafada pela máscara.Bem devagar, os olhos de David se voltam para o homem que está apontando a arma para ele.– Acho que você não vai atirar em mim – fala ele. – Porque sou o único neste prédio que sabe essa informação ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa