Fanfics Brasil - Capítulo 12 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 12

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Eu me reviro sobre o colchão e solto um suspiro. Faz dois dias que lutei com Peter, emeus hematomas estão ganhando um tom roxo azulado. Já me acostumei a sentir dores a cada movimento que faço, e por isso já consigo me mexer melhor, mas ainda estou longe de ficarboa.
Embora eu ainda esteja machucada, fui obrigada a lutar outra vez hoje. Por sorte, desta vez minha oponente foi Myra, que não conseguiria acertar um soco nem se alguém estivesse controlando seu braço. Consegui bater bastante nela nos primeiros dois minutos. Ela caiu e ficou tonta demais para se levantar. Eu deveria estar me sentindo triunfante, mas não há nenhum mérito em socar uma garota como a Myra.
No instante em que encosto a cabeça no travesseiro, a porta do dormitório se abre e um grupo de pessoas carregando lanternas invade o quarto. Levanto o tronco do colchão, quase batendo com a cabeça no estrado da cama de cima, e me esforço para ver o que estáacontecendo em meio à escuridão.
– Todos de pé! – grita alguém. Uma lanterna ilumina o ambiente por trás de uma cabeça, fazendo com que os piercings brilhem. Eric. Ao redor dele, estão outros membros da Audácia, entre eles alguns que eu já vi no Fosso e outros que nunca vi antes. Quatro também está entre eles.
Seus olhos se voltam para os meus e me encaram. Eu os encaro de volta, sem perceber que todos os transferidos ao redor de mim estão levantando de suas camas.
– Ficou surda, Careta? – grita Eric. Sou arrancada de meu torpor e pulo para fora do cobertor. Felizmente, durmo inteiramente vestida, porque Anahí está ao lado do nosso beliche usando apenas uma camiseta, com as longas pernas à mostra. Ela dobra os braços e encara Eric. De repente, sinto que adoraria conseguir encarar alguém com tanta ousadia usando tão poucas roupas, mas sei que nunca serei capaz de fazer algo assim.
– Vocês têm cinco minutos para se trocar e nos encontrar nos trilhos – diz Eric. – Nós vamos fazer outra excursão.
Enfio os sapatos e saio correndo atrás de Anahí em direção ao trem, contraindo o rosto de dor. Um pingo de suor escorre pela minha nuca à medida que subimos correndo as passagens da parede do Fosso, empurrando os membros que encontramos em nosso caminho.


Eles não parecem surpresos por nos ver. Pergunto-me quantas pessoas correndo desesperadas eles veem por semana.
Chegamos logo depois dos iniciandos nascidos na Audácia. Há uma pilha escura ao lado dos trilhos. Em meio à escuridão, consigo distinguir alguns canos de armas e protetores de
gatilho.
– Vamos atirar em alguma coisa? – Anahí sussurra no meu ouvido.
Ao lado da pilha, há caixas de algo que parece munição. Aproximo-me para conferir uma das caixas, onde está escrito PAINTBALLS.
Nunca ouvi falar nisso, mas o nome já diz tudo. Solto uma risada.
– Todos peguem uma arma! – grita Eric.
Corremos em direção à pilha de armas. Como já estou mais perto, pego a primeira que vejo, que é pesada, mas não o bastante para me impedir de sustentá-la, além de uma caixa de paintballs. Enfio-a no bolso e penduro a arma nas costas, com a alça cruzando meu peito.
– Qual é a previsão de horário? – pergunta Eric a Quatro.
Quatro confere o relógio.
– Já está quase na hora. Será que você nunca vai conseguir decorar os horários dos trens?
– Para quê, se tenho você para memorizá-los por mim? – diz Eric, dando um empurrão no ombro de Quatro.
Um círculo de luz surge à minha esquerda, distante. Ele cresce à medida que se aproxima, iluminando a lateral do rosto de Quatro e criando uma sombra no vão sutil sob a maçã de seu rosto.
Quatro é o primeiro a embarcar no trem, e corro atrás dele, sem esperar Anahí, Afonso e Al. Ele vira-se para trás enquanto acelero os passos ao lado do trem e estende a mão para mim. Agarro seu braço e ele me puxa para dentro. Até mesmo os músculos de seus antebraços são tesos e definidos.
Largo-o rapidamente, sem olhar para ele, e sento-me no outro lado do vagão.
Quando todo mundo já embarcou, Quatro se pronuncia.
– Nos dividiremos em dois times para um jogo de caça-bandeira. Cada time será composto igualmente de iniciandos nascidos na Audácia e transferidos. Um time sairá para esconder sua bandeira primeiro. Depois, será a vez do outro time. – O vagão balança, e Quatro segura a lateral da porta para manter o equilíbrio. – Isso é uma tradição da Audácia, portanto sugiro que a levem a sério.
– Qual será o prêmio para o time vencedor? – grita alguém.
– Este é o tipo de pergunta que alguém da Audácia nunca faria – diz Quatro, erguendo uma sobrancelha. – O prêmio será a vitória, é claro.
– Quatro e eu seremos os capitães dos seus times – diz Eric. Ele olha para Quatro. – Que tal dividirmos os transferidos primeiro?
Inclino a cabeça para trás. Se eles forem nos escolher, serei a última a ser chamada, tenho certeza.
– Você primeiro – diz Quatro.
Eric dá de ombros.
– Edward.
Quatro se apoia no batente da porta e acena com a cabeça. O luar faz com que seus olhos se acendam. Ele passa os olhos rapidamente pelos iniciandos transferidos e, sem hesitar, diz:
– Eu quero a Careta.
Risadas abafadas soam dentro do vagão. O calor se espalha pelas minhas bochechas. Não sei se devo ficar brava por estarem rindo de mim ou lisonjeada pelo fato de ele ter me escolhido primeiro.
– Você está tentando provar alguma coisa? – pergunta Eric, com seu tradicional sorriso de deboche. – Ou está apenas escolhendo os mais fracos para ter a quem culpar se você perder?
Quatro dá de ombros.
– É, por aí.
Brava. Devo ficar brava, com certeza. Franzo as sobrancelhas e olho para minhas mãos.
Qualquer que seja a estratégia de Quatro, ela está pautada no fato de eu ser mais fraca que os outros iniciandos. Isso causa um gosto amargo em minha boca. Preciso provar que ele está errado. Realmente preciso.
– Sua vez – diz Quatro.
– Peter.
– Anahí.
Isso complica minha estratégia. Anahí não é um dos fracos. O que ele está planejando, afinal?
– Molly.
– Afonso – diz Quatro, roendo uma unha.
– Al.
– Drew.
– A última que sobrou é a Myra, então ela está no meu time – diz Eric. – Agora vamos aos iniciandos nascidos na Audácia.
Paro de prestar atenção depois disso. Se Quatro não está tentando provar alguma coisa por escolher os mais fracos, então o que será que está fazendo? Olho para cada pessoa escolhida por ele. O que temos em comum?
Quando eles chegam à metade dos iniciandos nascidos na Audácia, acho que começo a entender aonde ele quer chegar. Fora o Afonso e alguns outros, todos nós compartilhamos o mesmo tipo físico: ombros estreitos e fisionomia magra. Todas as pessoas do time do Eric são largas e fortes. Ontem mesmo, Quatro disse que sou rápida. Todos nós seremos mais rápidos que os do time do Eric, o que provavelmente será uma vantagem no caça-bandeira. Embora eu nunca tenha jogado antes, sei que é uma brincadeira que exige muito mais rapidez do que força
bruta. Cubro um sorriso com a mão. Eric é mais brutal, mas Quatro é mais esperto.
Eles terminam de escolher os times, e Eric sorri para Quatro.
– Seu time pode começar em segundo – diz Eric.
– Não preciso de nenhum favor seu – responde Quatro. Ele sorri discretamente. – Você sabe que não preciso que eles ganhem.
– Não, o que eu sei é que você perderá começando em primeiro ou em segundo – diz Eric, mordendo um dos piercings em seu lábio. – Você e seu time de fracotes podem começar em primeiro, então.
Todos nos levantamos. Al lança um olhar desamparado em minha direção e eu sorrio de volta, esperando transmitir-lhe alguma tranquilidade. Se algum de nós quatro tinha que parar no time do Eric, do Peter e da Molly, é melhor que tenha sido o Al. Eles não costumam implicar com ele.
O trem está prestes a descer ao nível do solo. Desta vez, estou determinada a cair em pé.
Quando estou prestes a pular, alguém empurra meu ombro com força, quase me lançando para fora do vagão. Não olho para trás para ver quem foi: Molly, Drew ou Peter, não importa.
Antes que eles tentem me empurrar de novo, eu pulo. Desta vez, estou pronta para o impulso que o trem dá à minha queda, correndo um pouco para não o quebrar e ao mesmo tempo manter meu equilíbrio. Um prazer selvagem invade meu corpo e sorrio. É apenas um pequeno feito, mas faz com que me sinta da Audácia.
Uma das iniciandas nascidas na Audácia toca o ombro de Quatro e pergunta:
– Quando o seu time venceu, onde vocês esconderam a bandeira?
– Responder isso iria contra o espírito deste exercício, Marlene – diz ele de maneira casual.
– Fala para mim, Quatro – reclama ela, lançando um sorriso sedutor em sua direção. Eleafasta a mão dela do seu braço e, por algum motivo, isso me faz sorrir.
– No Navy Pier – grita outro iniciando nascido na Audácia. Ele é alto, com pele morena e olhos escuros. É bonito. – Meu irmão estava no time vencedor. Eles esconderam a bandeira no carrossel.
– Vamos para lá, então – sugere Afonso.
Ninguém se opõe, então seguimos para o leste, em direção ao pântano que costumava ser um lago. Quando eu era mais nova, costumava imaginar como devia ser o lago sem a cerca construída na lama para proteger a cidade. Mas tenho dificuldade em imaginar tanta água em um único lugar.
– Estamos perto da área da Erudição, não estamos? – pergunta Anahí, esbarrando no ombro de Afonso.
– Sim, ela fica ao sul daqui – diz ele. Vira o rosto para o lado e, por um segundo, vejo que um olhar de saudade domina seu semblante. Mas logo depois se desfaz.
Devo estar a pouco mais de um quilômetro de distância do meu irmão. A última vez que estivemos tão perto foi há uma semana. Balanço a cabeça um pouco para afastar o pensamento.
Não devo pensar nele hoje. Minha prioridade deve ser passar pelo primeiro estágio. Não devo pensar nele em dia nenhum.
Atravessamos a ponte. Ainda precisamos dela, porque a lama abaixo é molhada demais para pisar. Há quanto tempo será que o rio secou?
Depois da ponte, a cidade muda. Antes, a maioria das construções ainda estava em uso, e, mesmo as que não estavam, continuavam bem cuidadas. Diante de nós agora encontra-se um oceano de ruínas de concreto e vidros quebrados. O silêncio neste trecho da cidade é macabro; parece saído de um pesadelo. É difícil enxergar meu caminho porque já passa da meia-noite e todas as luzes da cidade estão apagadas.
Marlene pega uma lanterna e ilumina a rua à nossa frente.
– Está com medo do escuro, Mar? – O iniciando da Audácia com olhos escuros debocha dela.
– Se você quiser pisar nos vidros quebrados, Uriah, fique à vontade – responde ela,
nervosa. Mesmo assim, apaga a lanterna.
Já percebi que ser da Audácia, em parte, significa estar disposto a dificultar as coisas para si mesmo, para que você se torne uma pessoa autossuficiente. Vagar por ruas escuras sem uma lanterna não é algo particularmente corajoso, mas o fato é que nós não devemos depender de ajuda, nem mesmo da luz. Devemos ser capazes de encarar qualquer coisa.
Gosto disso, porque pode haver um dia em que não tenhamos uma lanterna, ou uma arma, ou alguém para nos guiar. E quero estar pronta para este dia.
Os prédios terminam um pouco antes do pântano. Uma faixa de terra se projeta para dentro da área alagadiça, e erguendo-se sobre ela há uma enorme roda branca com dezenas de compartimentos para passageiros pendurados em intervalos regulares. A roda-gigante.
– Vocês já pararam para pensar que as pessoas realmente andavam nessa coisa? Por pura diversão – diz Afonso, balançando a cabeça.
– Aposto que eles eram da Audácia – digo.
– É, mas uma versão mais fraquinha da Audácia. – Anahí ri. – Uma roda-gigante da
Audácia de verdade não teria carros. A pessoa simplesmente se penduraria pelas mãos, e seja o que Deus quiser.
Seguimos a lateral do píer. Todas as construções à minha esquerda estão vazias, com letreiros arrancados e janelas fechadas, mas é um tipo de vazio organizado. Quem quer que tenha deixado estes lugares foi embora por escolha própria, e não às pressas. Alguns lugares da cidade não são assim.
– Duvido de que você pule dentro do pântano – diz Anahí diz para Afonso.
– Você primeiro.
Alcançamos o carrossel. Alguns dos cavalos estão arranhados e desgastados, com os rabos quebrados e as selas lascadas. Quatro tira a bandeira do bolso.
– Dentro de dez minutos, o outro time escolherá seu local – diz ele. – Sugiro que vocês usem esse tempo para bolar uma estratégia. Podemos não ser da Erudição, mas o preparo mental é um dos aspectos importantes do treinamento da Audácia. Há quem diga que é o mais importante.
Ele está certo. De que serve um corpo preparado se você tem uma mente confusa?
Afonso pega a bandeira da mão de Quatro.
– Algumas pessoas deveriam ficar aqui montando guarda enquanto as outras vão procurar a localização do outro time – diz Afonso.
– Nossa, você acha mesmo? – Marlene arranca a bandeira da mão de Afonso. – Quem disse que você está no comando, transferido?
– Ninguém – diz Afonso. – Mas alguém tem que estar.
– Talvez devêssemos desenvolver uma estratégia mais defensiva. Esperar que eles venham até nós e então acabar com eles – sugere Anahí.
– Essa é uma solução para os maricas – diz Uriah. – Por mim, nós os atacamos com tudo o que temos. É só esconder bem a bandeira para eles não conseguirem encontrá-la.
De repente, todos começam a conversar ao mesmo tempo, falando cada vez mais alto. Anahí defende o plano de Afonso; os iniciandos nascidos na Audácia preferem um plano mais ofensivo; todos discutem a respeito de quem deve tomar a decisão. Quatro senta-se na beirada do carrossel, apoiando-se contra o casco de plástico de um dos cavalos. Levanta os olhos para o céu, onde não há nenhuma estrela, apenas a lua redonda nos espreitando por uma fina camada de nuvens. Os músculos dos seus braços estão relaxados e ele descansa uma mão na nuca. Parece estar quase confortável, apoiando a arma sobre o ombro.
Fecho os olhos por um instante. Por que me distraio tão facilmente quando olho para ele? Preciso me concentrar.
O que eu diria se conseguisse gritar mais alto do que toda a discussão que está acontecendo atrás de mim? Não podemos agir até sabermos onde o outro time está. Eles podem estar em qualquer lugar em um raio de três quilômetros, embora eu saiba que o pântano não é uma possibilidade. A melhor maneira de os encontrarmos não é discutindo como devemos procurálos ou quantas pessoas devem sair em busca deles.
A melhor maneira de encontrá-los é subindo no ponto mais alto possível.
Olho de relance para ter certeza de que ninguém está me vendo. Ninguém olha para mim, então caminho até a roda-gigante com passos leves e silenciosos, apertando a arma contra as costas com uma das mãos para evitar que faça barulho.
Ao olhar para o topo da roda-gigante, minha garganta aperta. Ela é mais alta do que eu pensava; tão alta que mal consigo ver os carros balançando no topo. A única coisa boa da sua altura é que é construída para aguentar peso. Se eu escalá-la, ela não vai desabar sob meus pés. Meu coração bate mais rápido. Será que realmente devo arriscar minha vida por isso; para ganhar um jogo apreciado pelos integrantes da Audácia?
Olhando para as enormes e enferrujadas pilastras de sustentação da roda, identifico os degraus de uma escada de mão, embora mal consiga vê-los no escuro. Cada degrau tem apenas a largura dos meus ombros e não há qualquer grade para me proteger de uma queda, mas subir por uma escada ainda é melhor do que pelas armações de metal da roda.
Agarro um dos degraus. Ele está enferrujado e é fino, e parece que pode se desfazer em minha mão. Apoio o peso no degrau mais baixo para testá-lo e salto sobre ele, checando seconsegue me sustentar. O movimento faz com que minhas costelas doam, e faço uma careta.
– Dul – diz uma voz grave atrás de mim. Não sei como não me assusto com ela. Talvez seja porque estou me adaptando à Audácia, e a prontidão mental é algo que devemos desenvolver.
Ou talvez seja porque a voz é grave, suave e quase tranquilizadora. Seja qual for o motivo, olho para trás. Quatro está atrás de mim com a arma presa às costas, da mesma maneira que a minha.
– Sim – digo.
– Eu vim aqui descobrir o que você acha que está fazendo.
– Estou procurando um lugar mais alto – respondo. – Não acho que eu esteja fazendo nada demais.
Vejo seu sorriso no escuro.
– Tudo bem. Eu vou junto.
Paro por um segundo. Ele não me olha da mesma maneira que Afonso, Anahí e Al às vezes me olham, como se eu fosse pequena e fraca demais para ser útil, sentindo pena de mim por isso. Mas se insiste em vir comigo, deve ser porque duvida da minha capacidade.
– Eu vou ficar bem – digo.
– Não tenho dúvidas disso – responde ele. Embora não pareça ter falado de maneira sarcástica, suspeito dele. Só pode ter sido sarcasmo.
Começo a subir a escada e, quando já estou a alguns metros do chão, ele me segue. Move-se mais rápido do que eu, e logo suas mãos seguram os degraus onde meus pés acabaram depisar.
– Então, me diga... – sussurra ele à medida que subimos. Ele parece estar sem fôlego. – Qual você acha que é o objetivo deste exercício? Refiro-me ao jogo, não à escada. 


Olho para o concreto abaixo de nós. Ele já parece bem longe, mas ainda não subi nem um terço do caminho. Acima de mim há uma plataforma, logo abaixo do centro da roda.
Concentro-me em chegar até lá. Nem penso em como vamos descer depois. A brisa que soprava contra o meu rosto agora bate forte contra a lateral do meu corpo. Quanto mais alto subirmos, mais forte ela ficará. Preciso estar preparada.
– Aprender táticas de estratégia – digo. – Ou talvez de trabalho em equipe.
– Trabalho em equipe – repete ele. Uma risada chia em sua garganta. Parece uma respiração nervosa.
– É, talvez não – digo. – O trabalho em equipe não parece ser uma prioridade na Audácia.
O vento aperta. Aproximo-me da pilastra branca para evitar uma queda, mas isso dificulta a subida. Abaixo de mim, o carrossel parece pequeno. Mal consigo ver minha equipe sob a tenda. Alguns deles não estão mais lá; devem ter sido enviados em uma equipe de busca.
– Deveria ser uma prioridade, sim. Costumava ser – diz Quatro.
Mas não estou escutando muito bem, porque a altura está me deixando tonta. Minhas mãos doem de tanto segurar os degraus e minhas pernas estão tremendo, mas não sei bem o motivo.
Não é a altura que me assusta; ela faz com que me sinta viva e cheia de energia, com cada órgão e veia e músculo do meu corpo soando no mesmo tom.
De repente, percebo o que está me deixando tonta. É ele. Algo nele faz com que me sinta prestes a despencar. Ou derreter. Ou arder em chamas.
Minha mão quase erra o degrau seguinte.
– Agora me diz... – pede ele, em meio a uma respiração ofegante – ...qual você acha que é a conexão entre o aprendizado de estratégia e a... coragem?
Sua pergunta me lembra de que ele é meu instrutor e que devo aprender algo com esta experiência. Uma nuvem passa em frente à lua e sua luz refletida em minha mão se transforma.
– A estratégia... nos prepara para agir – digo finalmente. – Aprendemos estratégia para que possamos usá-la.
Ouço-o respirar atrás de mim, rápido e alto.
– Você está bem, Quatro?
– Você é humana, Dul? A uma altura destas... – Ele puxa o ar com força. – Você não está nem um pouco assustada?
Olho para trás, para o chão abaixo de nós. Se eu cair agora, morrerei. Mas não acredito que vou cair.
Uma rajada de vento bate contra o lado esquerdo do meu corpo, jogando o meu peso para a direita. Perco o fôlego e aperto os degraus, desequilibrando-me. A mão fria de Quatro segura o lado do meu quadril, e um dos seus dedos encosta em uma parte exposta de pele logo abaixo da minha camiseta. Ele me aperta, ajudando-me a me equilibrar novamente e me empurrando suavemente para a esquerda.
Agora eu é que não consigo respirar. Fico parada, olhando para minhas mãos, com a boca seca. Sinto a presença de sua mão que já não encosta mais em mim, de seus dedos longos e estreitos.
– Você está bem? – pergunta ele calmamente.
– Sim – respondo, com a voz falha.
Retomo a subida, em silêncio, até alcançar a plataforma. A julgar pelas pontas quebradas de barras de metal, a plataforma costumava contar com uma grade de proteção, mas agora não há mais nada. Eu me sento no chão e me arrasto até o canto, para que Quatro também tenha espaço para se sentar. Sem pensar, deixo as pernas balançarem da beirada. Quatro, no entanto,
agacha-se e aperta as costas contra a pilastra de metal, respirando com dificuldade.
– Você tem medo de altura – digo. – Como você consegue sobreviver no complexo da Audácia?
– Eu ignoro o medo – diz ele. – Ao tomar decisões, finjo que ele não existe.
Eu o encaro por um instante. Não consigo evitar. Para mim, há uma diferença clara entre alguém que não tem medo e alguém que toma atitudes, apesar do medo, como ele.
Estou encarando-o há mais tempo do que deveria.
– O que foi? – diz ele calmamente.
– Nada.
Desvio o olhar e fito a cidade. Preciso me concentrar. Há um motivo pelo qual subi até aqui.
A cidade está mergulhada no breu, mas, mesmo que não estivesse, não conseguiria enxergar muito longe. Há um prédio bloqueando minha visão.
– Não estamos alto o bastante – digo. Olho para cima. Sobre minha cabeça, há um
emaranhado de barras brancas, formando as armações da roda. Se eu subir com cuidado, posso apoiar o pé entre os suportes e as barras laterais e me manter segura. Ou pelo menos o mais segura possível.
– Vou subir – digo, levantando-me. Seguro uma das barras acima de mim e puxo o corpo para cima. Pontadas de dor castigam meus machucados, mas eu as ignoro.
– Pelo amor de Deus, Careta – diz ele.
– Você não precisa me seguir – respondo, estudando o labirinto de barras de metal acima de mim. Enfio o pé no encontro entre duas barras e me propulsiono mais para o alto, segurando outra barra mais adiante. Meu corpo balança por um instante, fazendo com que o coração bata com tanta força que não consigo sentir mais nada. Todos os meus pensamentos se concentram nas batidas do meu coração e movem-se no mesmo ritmo.
– Preciso, sim – diz ele.
O que estou fazendo é loucura, e tenho consciência disso. Qualquer erro, por menor que seja, ou qualquer segundo de hesitação, e minha vida já era. Um calor rasga meu peito e eu sorrio ao agarrar a barra seguinte. Puxo meu peso, com os braços tremendo, e me esforço para
erguer a perna até que consiga apoiá-la em outra barra. Quando sinto que estou equilibrada, procuro Quatro abaixo de mim. Mas, em vez de vê-lo, olho diretamente para o chão.
Perco o fôlego.
Imagino meu corpo desabando, chocando-se contra as barras durante a queda, e vejo os membros do meu corpo em ângulos quebrados no concreto, como os da irmã da Rita quando não conseguiu alcançar o telhado do prédio. Quatro segura uma barra com cada mão e puxa o corpo para cima com facilidade, como se estivesse apenas se levantando da cama. Mas ele não está confortável ou à vontade aqui; todos os músculos dos seus braços estão tensos. É idiotice pensar nisso quando estamos a trinta metros do chão.
Agarro outra barra e acho outro lugar para apoiar o pé. Ao olhar para a cidade novamente, vejo que o prédio já não está mais no caminho. Estou alto o bastante para ver os outros prédios no horizonte. A maior parte deles é negra contra o azul-escuro do céu, mas consigo ver as luzes vermelhas acesas sobre o Eixo. Elas piscam duas vezes mais devagar do que o ritmo do meu coração.
Sob os prédios, as ruas parecem túneis. Durante alguns segundos, vejo apenas um tapete negro cobrindo o terreno abaixo, com pequenas diferenças entre os prédios, o céu, as ruas e o
chão. De repente, percebo uma pequena luz trepidando no chão.
– Está vendo aquilo? – digo, apontando para o local.
Quatro para de escalar ao alcançar as barras de metal logo atrás de mim e olha para o local que eu aponto, aproximando o queixo da minha cabeça. Sinto sua respiração na minha orelha e fico trêmula novamente, como me senti ao subir a escada.
– Estou – diz ele. Ele abre um sorriso. – Está vindo do parque no final do píer. Faz sentido.
O local é cercado por campo aberto, mas as árvores oferecem alguma camuflagem. Mas parece que não o suficiente.
– Ótimo – digo. Olho para o seu rosto atrás de mim. Estamos tão perto um do outro que esqueço onde estou; reparando apenas que os cantos da sua boca são naturalmente reclinados, assim como os meus, e que ele tem uma cicatriz no queixo. – Bem... – Limpo a garganta. – Comece a descer. Seguirei você.
Quatro acena com a cabeça e começa a descer. Sua perna é tão longa que ele encontra rapidamente um apoio para o pé, passando o corpo entre as barras. Mesmo na escuridão, percebo que suas mãos estão muito vermelhas e trêmulas.
Desço um dos meus pés, apoiando o peso sobre uma das barras laterais. A barra range e se solta, chocando-se ruidosamente contra várias outras barras no caminho antes de quicar no chão de concreto. Fico pendurada nas barras, com os pés balançando no ar. Solto um arquejo abafado.
– Quatro!
Tento encontrar outro apoio para o meu pé, mas a barra mais próxima fica a mais de um metro de distância e não consigo alcançá-la. Minhas mãos estão suadas. Lembro-me de quando as enxuguei nas calças antes da Cerimônia de Escolha, antes do teste de aptidão, antes
de cada momento importante, e reprimo um grito. Vou cair. Vou cair.
– Segure firme! – grita ele. – Apenas segure firme, que eu tenho uma ideia.
Ele continua a descer. Está indo para o lado errado; deveria estar vindo na minha direção, e não se afastando de mim. Olho para minhas mãos, que estão agarradas à estreita barra de metal com tanta força que as juntas dos meus dedos estão brancas. Já meus dedos estão vermelho-escuros, quase roxos. Eles não vão aguentar muito tempo.
Eu não vou aguentar muito tempo.
Fecho os olhos com força. É melhor não olhar. É melhor fingir que nada disso está
acontecendo. Ouço o som do tênis de Quatro contra as barras de metal, depois seus pés descendo rapidamente os degraus da escada.
– Quatro! – grito. Talvez ele tenha ido embora. Talvez tenha me abandonado. Talvez esteja testando a minha força, a minha coragem. Puxo o ar pelo nariz e solto-o pela boca. Conto a quantidade de vezes que respiro para tentar manter a calma. Um, dois. Para dentro, para fora.
No entanto, a única coisa que consigo pensar é: Vamos, Quatro! Vamos, faça alguma coisa.
De repente, ouço algo chiando e estalando. A barra que seguro treme e solto um grito por entre meus dentes cerrados, e me esforço para me segurar.
A roda está se movendo.
O ar envolve meus calcanhares e meus pulsos à medida que o vento começa a se mover para cima, como em um gêiser. Abro os olhos. Estou me movendo em direção ao chão. Começo a rir, tonta de histeria, à medida que o chão se aproxima cada vez mais de mim. Mas a roda gigante está acelerando. Se eu não soltar a barra na hora certa, os carros e a estrutura de metal vão arrastar meu corpo junto com eles, e então realmente morrerei.
Todos os músculos do meu corpo tensionam à medida que acelero em direção ao chão.
Quando já estou perto o bastante para ver as rachaduras na calçada, solto a barra de metal e meus pés se chocam contra o asfalto. Minhas pernas desmontam sob o peso da queda e trago os braços para junto do corpo, rolando para o lado o mais rápido que consigo. O cimento arranha meu rosto, e me viro bem a tempo de ver um dos carros descendo em minha direção,
como um gigantesco sapato que está prestes a me esmagar. Rolo o corpo para o lado novamente e a parte de baixo do carro apenas esbarra no meu ombro.
Estou salva.
Cubro o rosto com as mãos. Não tento me levantar. Sei que apenas desabaria novamente se tentasse. Ouço passos, e as mãos de Quatro envolvem meus pulsos. Deixo que ele afaste minhas mãos do rosto.
Ele aninha perfeitamente uma das minhas mãos entre as suas. O calor da sua pele se
sobrepõe à dor que sinto nos dedos, depois de segurar a barra de metal por tanto tempo.
– Você está bem? – pergunta, apertando sua mão contra a minha.
– Estou.
Ele começa a rir.
Um segundo depois, eu começo a rir também. Com a mão livre, empurro meu corpo para cima e me sento. Percebo a enorme proximidade entre nós, de no máximo quinze centímetros.
O espaço parece carregado de eletricidade, e sinto que deveríamos estar ainda mais perto um do outro.
Ele se levanta, puxando-me para cima. A roda ainda está girando, criando uma corrente de vento que joga meu cabelo para trás.
– Você podia ter me falado que a roda-gigante ainda estava funcionando – digo. Tento falar de maneira tranquila. – Não precisaríamos nem ter escalado.
– Eu teria dito, se eu soubesse – assegura ele. – Não podia deixar você pendurada lá daquele jeito, então arrisquei. Vamos, está na hora de roubar a bandeira deles.
Quatro hesita por um instante, depois segura meu braço, pressionando com as pontas dos dedos a parte interna do meu cotovelo. Em qualquer outra facção, me seria dado um tempo para me recuperar, mas ele é da Audácia, então apenas sorri para mim e segue em direção ao carrossel, onde os membros da nossa equipe estão guardando a bandeira. Eu corro ao seu lado, mancando. Ainda me sinto fraca, mas minha mente está desperta, especialmente com sua mão me segurando dessa maneira.
Anahí está sentada em um dos cavalos, suas longas pernas cruzadas e a mão segurando a barra que sustenta o animal de plástico. Outros três iniciandos nascidos na Audácia estão entre os animais gastos e sujos. Um deles apoia a mão na cabeça de um dos cavalos, e o olho arranhado do animal me encara por trás de seus dedos. Uma menina mais velha da Audácia está sentada na beirada do carrossel e coça a sobrancelha, perfurada por três piercings, com o dedão.
– Onde foram parar os outros? – pergunta Quatro.
Ele parece estar tão animado quanto eu e seus olhos arregalados estão radiando.
– Vocês ligaram a roda-gigante? – diz a garota mais velha. – O que diabos vocês pensam que estão fazendo? Por que não gritam logo, Olhem para cá! Estamos aqui! – Ela balança a cabeça. – Se eu perder outra vez este ano, será vergonhoso demais. Perder três anos seguidos?
– A roda-gigante não importa – diz Quatro. – Nós sabemos onde eles estão.
– Nós? – pergunta Anahí, desviando o olhar de Quatro para mim.
– É, enquanto todos vocês estavam de bobeira, Dul escalou a roda-gigante para procurar o outro time – explica ele.
– E o que faremos agora, então? – pergunta um iniciando nascido na Audácia, em meio a um bocejo.
Quatro olha para mim. Lentamente, os olhos dos outros iniciandos, incluindo os de
Anahí, migram dele para mim. Eu tensiono os ombros, quase os levantando para dizer que não sei, e então uma imagem do píer estendido diante de mim me vem à mente. Tenho uma ideia.
– Vamos nos separar em dois grupos – digo. – Quatro de nós para o lado direito do píer, e três para o lado esquerdo. O outro time está no parque no final do píer, então o grupo de quatro pessoas ataca enquanto o de três passa escondido por trás deles para pegar a bandeira.
Anahí olha para mim como se não me reconhecesse mais. Eu compreendo seu olhar.
– Parece um bom plano – afirma a garota mais velha, batendo uma mão contra a outra. – Então, vamos acabar logo com isso?
Anahí se junta a mim no grupo que vai pela direita, assim como Uriah, que tem um
sorriso branco, contrastando com sua pele bronzeada. Não havia percebido antes, mas ele tem uma cobra tatuada no pescoço. Observo por um instante como a cauda do animal se enrosca ao redor do lóbulo de sua orelha, mas então Anahí começa a correr e sou obrigada a segui-la.
Preciso correr duas vezes mais rápido para conseguir equiparar meus passos curtos aos dela. Ao correr, me dou conta de que apenas um de nós conseguirá tocar na bandeira, e não importará que foi o meu plano e as minhas informações que nos levaram até ela se eu não conseguir pegá-la primeiro. Embora já esteja respirando com dificuldade, começo a correr mais rápido e quase alcanço Anahí. Puxo a arma para a frente do corpo e coloco o dedo sobre o gatilho.
Alcançamos o final do píer e fecho a boca com força para silenciar minha respiração
pesada. Corremos mais devagar para que nossos passos não soem tão alto, e procuro a luz trepidante que vi do alto da roda-gigante. Daqui do chão, ela é maior e mais fácil de encontrar. Aponto para ela e Anahí acena com a cabeça, liderando o caminho em sua direção.
De repente, escuto um coro de vozes gritando, tão alto que me faz sair do chão. Ouço as lufadas de ar das bolas de tinta sendo disparadas e explodindo ao se chocarem contra seus alvos. Nosso time atacou e o outro time contra-ataca, deixando sua bandeira praticamente desprotegida. Uriah mira e atinge a coxa da última pessoa que guarda a bandeira, uma garota baixinha de cabelo roxo, que joga a arma no chão em um ataque de raiva.
Acelero a corrida para alcançar Anahí. A bandeira está pendurada em um galho de
árvore bem mais alto do que eu. Tentamos alcançá-la.
– Vamos lá, Dul – diz ela. – Você já salvou o dia. E sabe que não vai conseguir alcançá-la, de qualquer maneira.
Ela me olha de uma maneira paternalista, como as pessoas às vezes olham as crianças que cismam em agir como adultas, e arranca a bandeira do galho. Sem olhar para mim, ela se vira e dá um grito de vitória. A voz de Uriah junta-se à dela, depois ouço um coro de gritos a distância.
Uriah bate em meu ombro, e tento não me lembrar do olhar que Anahí lançou sobre mim.
Talvez ela esteja certa; eu já provei minha capacidade hoje. Não quero ser egoísta; não quero ser como o Eric, com medo da potencialidade dos outros.
Os gritos de triunfo se espalham, e levanto a voz para participar também, correndo em direção a meus companheiros de equipe. Anahí levanta a bandeira no ar, e todos se amontoam a seu redor, segurando o seu braço para erguer a bandeira ainda mais alto. Não consigo alcançá-la, então me afasto, sorrindo.
Uma mão toca meu ombro.
– Bom trabalho – diz Quatro calmamente.


 


 


                                              +++


 


 


– Não acredito que não a encontrei primeiro! – diz Afonso mais uma vez, balançando a cabeça.


O vento que entra pela porta do trem bagunça seu cabelo.
– Você estava exercendo a função importantíssima de não nos atrapalhar – fala Anahí, radiante.
Al lamenta:
– Por que eu tinha que ficar no outro time?
– Porque a vida não é justa, Albert. E o mundo está conspirando contra você – diz Afonso. – Ei, posso ver a bandeira outra vez?
Peter, Molly e Drew sentam-se de frente para os membros da Audácia, em um canto. Seus peitos e costas estão manchados com tinta azul e rosa, e eles parecem bem abatidos.
Conversam silenciosamente, olhando de soslaio para as outras pessoas no trem, especialmente para Anahí. Esse é o lado bom de não estar segurando a bandeira agora: não sou o alvo de ninguém. Pelo menos, não mais do que o normal.
– Então você subiu mesmo na roda-gigante? – diz Uriah. Ele atravessa o vagão, tropeçando levemente com o balanço do trem pelo caminho, e senta-se ao meu lado. Marlene, a garota com o sorriso sedutor, o segue.
– Sim – confirmo.
– Você foi bem esperta. Esperta tipo... alguém da Erudição – diz Marlene. – Eu sou
Marlene.
– Dul – respondo.
De onde venho, ser comparado com alguém da Erudição seria um insulto, mas seu tom é de elogio.
– É, eu sei quem você é – diz ela. – É difícil se esquecer da primeira a pular.
Parece que se passaram anos desde que pulei do telhado de um prédio vestida com meu uniforme da Abnegação; parece que se passaram décadas.
Uriah tira uma das bolas de tinta de sua arma e a espreme entre o polegar e o indicador. O trem dá um tranco para a esquerda e Uriah cai sobre mim, seus dedos esmagando a bola de tinta até que um jato rosa e malcheiroso atinge meu rosto.
Marlene cai no chão e começa a rir. Limpo um pouco da tinta com a mão, lentamente, e a esfrego na bochecha dele. O cheiro de óleo de peixe se espalha pelo vagão.
– Eca! – Ele aperta a bola na minha direção outra vez, mas a abertura está do lado errado, e a tinta espirra em sua boca. Tosse e faz barulhos exagerados, como se estivesse engasgando.
Limpo o rosto novamente com a manga da camisa, rindo tanto que meu estômago dói.
Se o resto da minha vida for assim, com gargalhadas, atos corajosos e o tipo de exaustão que você sente depois de um dia gratificante, serei uma pessoa feliz. Enquanto Uriah raspa a língua com as pontas dos dedos, eu me dou conta de que a única coisa que preciso fazer é conseguir passar na iniciação, e, então, poderei ter essa vida.




 


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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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