Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Christopher
Apoio o sapato na ponta da cama de Dul e firmo os nós dos cadarços. Pela grande janela, vejo a luz da tarde se refletindo nos painéis laterais dos aviões estacionados na pista de pouso. GDs de uniformes verdes caminham sobre as asas e se enfiam embaixo dos bicos, conferindo os aviões antes da decolagem.
– Como anda o seu projeto com Matthew? – pergunto para Cara, que está a duas camas de distância. Dul deixou que Cara, Caleb e Matthew testassem seu novo soro da verdade nela hoje de manhã, mas não a vi desde então.
Cara está penteando o cabelo. Antes de responder, ela olha ao redor para se certificar de que o dormitório está vazio.
– Nada bem. Por enquanto, Dul continua imune à nova versão do soro que desenvolvemos. Ela não foi afetada. É muito estranho os genes de uma pessoa a tornarem mais resistente a qualquer tipo de manipulação mental.
– Talvez não sejam os genes dela – digo, dando de ombros. Troco o pé apoiado na cama. – Talvez seja apenas algum tipo de teimosia sobre-humana.
– Ah, vocês estão naquela fase pós-término na qual as pessoas começam a se insultar? Porque pratiquei muito isso com Dul depois do que aconteceu com Afonso.
Se quiser, tenho algumas coisas interessantes para dizer sobre o nariz dela.
– Não terminamos o namoro. – Abro um sorriso. – Mas é bom saber que você nutre sentimentos tão calorosos em relação à minha namorada.
– Peço desculpas. Não sei por que tirei essa conclusão precipitada. – As bochechas de Cara ficam vermelhas. – Sim, meus sentimentos em relação à sua namorada às vezes são contraditórios, mas, de maneira geral, tenho muito respeito por ela.
– Eu sei. Só estava brincando. É bom ver que você também fica vermelha de vez em quando.
Cara me olha feio.
– Aliás, o que há de errado com o nariz dela?
A porta do dormitório se abre, e Dul entra, descabelada e com uma expressão perturbada. Não gosto de vê-la tão agitada. Parece que o chão que estou pisando deixa de ser sólido. Levanto-me e passo a mão pelo cabelo dela para arrumá-lo.
– O que houve? – pergunto, pousando a mão em seu ombro.
– A reunião do conselho – diz Dul. Ela cobre a minha mão com a sua por um instante, depois se senta em uma das camas, com as mãos entre os joelhos.
– Detesto ser repetitiva – diz Cara –, mas... o que aconteceu?
Dul balança a cabeça como se estivesse tentando tirar poeira do cabelo.
– O conselho traçou planos. Planos importantes.
Ela nos conta, de maneira nervosa e truncada, sobre os planos do conselho para reprogramar os experimentos. Ao falar, põe as mãos sobre as pernas e as pressiona até que os pulsos ficam vermelhos.
Quando ela termina, sento-me ao seu lado, colocando o braço sobre seus ombros. Olho pela janela para os aviões parados na pista, brilhando e preparados para o voo. Em menos de dois dias, estes aviões devem lançar o vírus do soro da memória sobre os experimentos.
– O que você pretende fazer? – pergunta Cara para Dul.
– Não sei – diz Dul. – Sinto que não sei mais o que é certo e o que é errado.
Dul e Cara são parecidas. Duas mulheres endurecidas pela perda. A diferença é que a dor de Cara a fez ter certeza de tudo enquanto Dul guardou sua incerteza, protegeu-a, apesar de tudo pelo que passou. Ela ainda encara tudo como uma pergunta, e não uma resposta. É uma característica que admiro nela, mas que provavelmente deveria admirar ainda mais.
Durante alguns segundos, permanecemos em silêncio, e tento organizar meus
pensamentos enquanto eles se reviram na minha cabeça.
– Eles não podem fazer isso – digo. – Não podem apagar a memória de todo mundo. Eles nem deveriam ter o poder de fazer isso. – Faço uma pausa. – Só consigo pensar em como isso seria muito mais fácil se estivéssemos lidando com um grupo diferente de pessoas, gente que consegue ouvir a voz da razão. Aí talvez conseguíssemos encontrar um equilíbrio entre proteger os experimentos e buscar outras soluções.
– Talvez devêssemos trazer um novo grupo de cientistas – diz Cara, suspirando. – E descartar os antigos.
Dul faz uma careta e leva a mão à testa, como se estivesse tentando aliviar uma pontada de dor inconveniente.
– Não – responde ela. – Não precisamos chegar a tanto.
Ela olha para mim, e seus olhos claros me mantêm imóvel.
– O soro da memória – diz ela. – Alan e Matthew descobriram uma forma de fazer os soros agirem como vírus, para que pudessem se espalhar por toda uma população sem que fosse necessário injetá-lo em todo mundo. É assim que eles estão planejando reprogramar os experimentos. Mas nós poderíamos reprogramar os cientistas. – Ela fala mais rápido à medida que a ideia toma forma na sua cabeça, e sua empolgação é contagiosa; borbulha dentro de mim, como se a ideia fosse minha, e não de Dul. Mas, para mim, esse plano não parece sugerir uma solução para o nosso problema. Parece sugerir que causemos outro problema. – Podemos reprogramar o Departamento e apagar toda a doutrinação e o desdém pelos GDs. Assim, eles nunca mais vão considerar apagar as memórias das pessoas dos experimentos. O perigo passará para sempre.
Cara ergue uma sobrancelha.
– Será que apagar suas memórias também não apagaria o seu conhecimento?
Se isso ocorrer, eles vão se tornar inúteis.
– Não sei. Acho que existe um modo seletivo de apagar a memória, dependendo de onde o conhecimento está armazenado no cérebro, senão os
primeiros membros das facções não saberiam nem falar, amarrar o cadarço nem fazer qualquer outra coisa. – Dul se levanta. – É melhor perguntarmos para Matthew. Ele sabe como o soro funciona melhor do que eu.
Também me levanto, bloqueando o caminho dela. Os raios de sol refletidos pelas asas dos aviões me cegam, e não consigo ver seu rosto.
– Dul – digo. – Espere. Você quer mesmo apagar as memórias de toda uma população à força? É exatamente o que eles estão planejando fazer com nossos amigos e familiares.
Protejo os olhos do sol para ver o olhar frio dela, a expressão que vi em minha mente antes mesmo de enxergá-la. Ela me parece mais velha do que nunca, inflexível, resistente e esgotada pelo tempo. Também me sinto assim.
– Essas pessoas não têm o menor respeito pela vida humana – diz Dul. – Estão prestes a apagar as memórias de todos os nossos amigos e vizinhos. São responsáveis pelas mortes da grande maioria da nossa antiga facção. – Ela se desvia de mim e marcha em direção à porta. – Acho que eles deveriam é agradecer por eu não pretender matá-los.
Autor(a): Fer Linhares
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Dul Matthew fecha as mãos atrás das costas.– Não, não, o soro não apaga todo o conhecimento da pessoa – explica ele. – Você acha que criaríamos um soro que fizesse as pessoas esquecerem como andar ou falar? – Ele balança a cabeça. – O soro ataca memórias explí ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa