Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Dul
Meu imão está parado atrás do microscópio, o olho junto à lente. A luz da plataforma do microscópio lança sombras estranhas em seu rosto, fazendo-o parecer muito mais velho.
– Com certeza, é ele – diz Caleb. – Digo, o soro da simulação de ataque. Sem a menor dúvida.
– É sempre bom ter a confirmação de outra pessoa – diz Matthew.
Estou ao lado do meu irmão nas horas antes da sua morte. E ele está analisando soros. É tão idiota.
Sei por que Caleb queria vir aqui: para se certificar de que morrerá por uma boa razão. Eu compreendo. Depois de se morrer por algo, não há como voltar atrás. Pelo menos, acho que não.
– Diga-me o código de ativação mais uma vez – diz Matthew. O código de ativação acionará a arma do soro da memória, e outro botão vai dispará-la de maneira instantânea. Matthew tem obrigado Caleb a repetir os dois a cada cinco minutos desde que chegamos aqui.
– Não tenho nenhuma dificuldade em memorizar sequências de números! – gaba-se Caleb.
– Não duvido disso. Mas não sabemos qual será o seu estado mental quando o soro da morte começar a agir, e esse código precisa estar bem-gravado na sua cabeça.
Caleb faz uma careta ao ouvir o termo “soro da morte”. Encaro os meus sapatos.
– 080712 – diz Caleb. – Depois, aperto o botão verde.
Enquanto estamos aqui, Cara está com o pessoal da sala de controle para jogar soro da paz em suas bebidas e desligar as luzes do complexo enquanto eles estiverem entorpecidos demais para notar, assim como Nita e Christopher fizeram há algumas semanas. Quando ela fizer isso, correremos até o Laboratório de Armas, escondidos das câmeras pela escuridão.
Diante de mim, sobre a mesa do laboratório, encontram-se os explosivos que Reggie nos deu. Eles parecem tão comuns dentro de uma caixa preta com garras de metal nas pontas e um detonador remoto. As garras prenderão a caixa ao segundo conjunto de portas do laboratório. O primeiro conjunto ainda não foi consertado desde o ataque.
– Acho que é isso – fala Matthew. – Agora, tudo o que precisamos fazer é esperar.
– Matthew – digo. – Você poderia nos deixar a sós um pouco?
– É claro. – Matthew abre um sorriso. – Voltarei quando estiver na hora.
Ele fecha a porta ao sair. Caleb corre as mãos pela roupa de laboratório, pelos explosivos, pela mochila onde levará o equipamento. E alinha todos os objetos, ajeitando um canto, depois outro.
– Estive pensando sobre quando a gente era criança e brincava de “Franqueza” – conta ele. – Como eu colocava você sentada em uma cadeira na sala de estar e fazia perguntas? Você se lembra disso?
– Lembro – respondo. Apoio o quadril na mesa do laboratório. – Você costumava sentir o meu pulso e me dizer que, se eu mentisse, você saberia, porque membros da Franqueza sempre sabem quando os outros estão mentindo.
Não era muito legal.
Caleb solta uma risada.
– Uma vez, você confessou que havia roubado um livro da biblioteca da escola no exato momento em que a mamãe chegou em casa...
– E fui obrigada a me desculpar à bibliotecária! – Solto uma risada também. – Aquela bibliotecária era terrível. Ela chamava todo mundo de “minha jovem” e “meu jovem”.
– Ah, mas ela me adorava. Sabia que, quando trabalhei como voluntário na biblioteca, e deveria estar guardando livros nas prateleiras durante o horário de almoço, na verdade, eu passava o tempo todo entre as estantes, lendo? Ela me pegou algumas vezes, mas nunca disse nada.
– Sério? – Sinto uma pontada no peito. – Eu não sabia.
– Acho que havia muito que não sabíamos a respeito um do outro. – Ele tamborila os dedos na mesa. – Gostaria que tivéssemos conseguido ser mais honestos um com o outro.
– Eu também.
– E agora é tarde demais, não é? – Ele olha para mim.
– Nem tanto. – Puxo uma cadeira da mesa do laboratório e me sento nela. – Vamos brincar de Franqueza. Primeiro, eu respondo uma pergunta; depois, é a
sua vez de responder. Com honestidade, é claro.
Ele parece um pouco exasperado, mas aceita.
– Está bem. O que você fez para quebrar aqueles vidros na cozinha quando disse que estava apenas tentando limpar as manchas deles?
Reviro os olhos.
– É esta a pergunta para a qual você quer uma resposta honesta? Fala sério, Caleb.
– Está bem, está bem. – Ele limpa a garganta, e seus olhos verdes se fixam nos meus, sérios. – Você realmente me perdoou ou está apenas dizendo isso porque estou prestes a morrer?
Encaro as minhas mãos, pousadas no meu colo. Tenho conseguido ser gentil e agradável com ele porque toda vez que penso sobre o que aconteceu na sede da Erudição imediatamente afasto o pensamento. Mas isso não pode ser perdão. Se eu o tivesse perdoado, conseguiria pensar sobre o que aconteceu sem aquele ódio que sinto dentro de mim, não é?
Ou talvez o perdão seja apenas o afastamento contínuo de lembranças amargas até que o tempo diminua a dor e a raiva, e o mal seja esquecido.
Pelo bem de Caleb, decido acreditar na segunda opção.
– Sim, eu perdoei você – respondo, depois faço uma pausa. – Ou, pelo menos, quero desesperadamente perdoar, e acho que talvez isso seja a mesma coisa.
Ele parece aliviado. Levanto-me para que ele possa se sentar na cadeira. Sei o que quero perguntar desde que ele se ofereceu para se sacrificar.
– Qual é o principal motivo pelo qual você está fazendo isso? – pergunto. – O motivo mais importante?
– Não me pergunte isso, Dulce.
– Não é uma armadilha – digo. – Não vou deixar de perdoar você por isso. Só preciso saber.
Entre nós dois encontram-se a roupa de laboratório, os explosivos e a mochila, enfileirados sobre o aço escovado. São os instrumentos que vão fazê-lo ir embora e não voltar mais.
– Acho que eu sinto que essa é a única maneira como conseguirei escapar da culpa por todas as coisas que fiz – responde ele. – Nunca quis tanto alguma coisa quanto quero me livrar da culpa.
Suas palavras me ferem por dentro. Temia que ele dissesse isso. Já sabia que é o que ele iria dizer, mas queria que ele não tivesse dito.
De repente, uma voz sai da caixa do sistema de comunicação interna no canto da sala:
– Atenção, residentes do complexo. Iniciando procedimento de confinamento emergencial, em vigor até as cinco da manhã. Repito, iniciando procedimento de confinamento emergencial, em vigor até as cinco da manhã.
Eu e Caleb trocamos olhares preocupados. Matthew entra correndo.
– Droga – diz ele, depois repete mais alto. – Droga!
– Confinamento emergencial? – pergunto. – É a mesma coisa que um alarme de ataque?
– Basicamente. Significa que devemos agir agora, enquanto os corredores
ainda estão caóticos e antes que eles aumentem a segurança – diz Matthew.
– Por que fariam isso? – pergunta Caleb.
– Talvez estejam apenas tentando aumentar a segurança antes de lançar os vírus – diz Matthew. – Ou talvez tenham descoberto que vamos tentar alguma coisa. Mas, se soubessem, é provável que já teriam vindo nos prender.
Olho para Caleb. Os minutos que eu ainda tinha ao lado dele se dissipam.
Atravesso o laboratório e pego nossas armas sobre o balcão, mas um pensamento se agarra ao fundo da minha mente, sobre o que Christopher disse ontem: a Abnegação afirma que devemos permitir que alguém se sacrifique por nós se essa for a maneira da pessoa de nos mostrar que nos ama.
E a razão de Caleb não é essa.
Autor(a): Fer Linhares
Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Christopher Meu pé escorrega na calçada coberta de neve.– Você não se vacinou ontem – digo para Peter.– Não, não me vacinei.– Por que não?– Por que eu deveria contar?Corro o dedão pelo frasco e digo:– Você veio comigo porque sabe que estou com o soro da memória, n&a ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
-
manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
-
manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
-
manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
-
manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
-
manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
-
Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa