Fanfics Brasil - Capítulo 18 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 18

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Ao que me parece, o segundo estágio da iniciação consiste em ficarmos sentados com outros iniciandos em um corredor escuro, imaginando o que irá acontecer por trás de uma porta fechada.
Uriah senta-se de frente para mim, com Marlene à sua esquerda e Lynn à sua direita. Os iniciandos nascidos na Audácia e os transferidos foram separados durante o primeiro estágio, mas de agora em diante treinaremos juntos. Foi isso o que Quatro nos informou antes de desaparecer para dentro da tal porta.
– E então – diz Lynn, raspando os sapatos no chão –, qual de vocês está na primeira colocação?
A princípio, ninguém responde, então Peter limpa a garganta.
– Sou eu – responde ele.
– Aposto que eu conseguiria derrotar você. – Ela diz isso de maneira casual, girando o anel em sua sobrancelha com as pontas dos dedos. – Estou na segunda colocação, mas aposto que qualquer um de nós conseguiria derrotar você, transferido.
Quase solto uma risada. Se eu ainda estivesse na Abnegação, consideraria o comentário grosseiro e descabido, mas dentro da Audácia desafios como este são comuns. Já aprendi a praticamente esperar que eles ocorram.
– Se eu fosse você, não teria tanta certeza disso – diz Peter, com os olhos brilhando. – Quem é o primeiro entre vocês?
– Uriah – afirma ela. – E tenho certeza, sim. Você sabe há quantos anos estamos nos preparando para isso?
Se o seu objetivo é nos intimidar, ela conseguiu. Estou até sentindo mais frio.
Antes que Peter consiga responder, Quatro abre a porta e diz:
– Lynn.
Ele faz um gesto para que ela o acompanhe, atravessando o corredor, e uma luz azul distante rebate em sua cabeça careca.
– Então, você é o primeiro – Afonso se dirige a Uriah.
Uriah dá de ombros.
– Sou. E daí?
– E você não acha um pouco injusto que vocês tenham passado a vida inteira se preparando para isso, enquanto nós devemos aprender tudo em poucas semanas? – pergunta Afonso, com os olhos semicerrados.
– Na realidade, não. As habilidades individuais realmente são importantes no primeiro estágio, mas não há como se preparar para o segundo – diz ele. – Pelo menos, foi isso o que ouvi dizer.
Ninguém comenta nada a respeito. Permanecemos sentados em silêncio durante vinte minutos. Conto cada minuto em meu relógio. De repente, a porta se abre novamente e Quatro
chama outro nome.
– Peter – diz ele.
Cada minuto se arrasta sobre mim como uma lixa. Aos poucos, a quantidade de iniciandos no corredor vai se reduzindo, até que sobramos apenas eu, Uriah e Drew. Drew está balançando a perna e Uriah está batendo com os dedos em seu joelho, enquanto eu tento permanecer completamente imóvel. As únicas coisas que consigo ouvir de dentro da sala no final do corredor são murmúrios, e começo a suspeitar que isso é apenas mais uma parte do
jogo ao qual eles gostam de nos submeter, aterrorizando-nos sempre que possível.
A porta se abre e Quatro acena para mim.
– Venha, Dul.
Eu me levanto com as costas doloridas depois de passar tanto tempo encostada na parede e caminho em sua direção, passando pelos outros iniciandos. Drew estica a perna para tentar me fazer tropeçar, mas salto sobre ela no último instante.
Quatro apoia a mão em meu ombro e me guia para dentro da sala, depois fecha a porta.
Assim que vejo o que há no interior da sala, recuo imediatamente, e meu ombro se choca contra o peito de Quatro.
Na centro da sala, há uma cadeira de metal, parecida com a do teste de aptidão. A seu lado, há uma máquina que também reconheço. Esta sala, no entanto, não conta com nenhum espelho e quase nenhuma iluminação. Há um monitor de computador sobre uma mesa no canto.
– Sente-se – diz Quatro. Ele aperta meu braço e me empurra adiante.
– Qual vai ser a simulação? – pergunto, tentando inutilmente evitar que minha voz soe trêmula.
– Você já ouviu a expressão “enfrente seus medos”? – pergunta ele. – É isso que você fará, literalmente. A simulação irá ensiná-la a controlar suas emoções diante de uma situação assustadora.
Levo a mão trêmula à testa. As simulações não são reais; elas não podem me fazer mal, portanto, logicamente, não devo temê-las. No entanto, a minha reação é visceral. Preciso reunir todas as forças que tenho para conseguir me aproximar da cadeira e sentar sobre ela outra vez, apoiando minha cabeça sobre o encosto. O frio do metal atravessa minhas roupas.
– Você já administrou os testes de aptidão alguma vez? – questiono. Ele parece ser bem qualificado para a tarefa.
– Não – responde ele. – Tento evitar os Caretas o máximo possível.
Não entendo por que alguém teria vontade de evitar o contato com a Abnegação. Até consigo entender alguém que queira manter distância da Audácia ou da Franqueza, já que a bravura e a honestidade podem levar as pessoas a fazer coisas estranhas. Mas a Abnegação?
– Por quê?
– Você está me perguntando isso porque acha que eu realmente irei responder?
– Por que você diz coisas de maneira tão vaga se não quer que as pessoas o questionem depois?
Seus dedos roçam meu pescoço. Meu corpo fica tenso. Será que o gesto é afetuoso? Não, ele precisa apenas afastar meu cabelo. Ele dá petelecos em alguma coisa, e me viro para ver o que é. Quatro está segurando uma seringa com uma longa agulha em uma das mãos, com o dedão encostado no êmbolo. O líquido dentro da seringa tem uma coloração alaranjada.
– Uma injeção? – Minha boca fica seca. Não costumo ter medo de agulhas, mas esta é enorme.
– Nós usamos uma versão mais avançada da simulação aqui – diz ele –, com um soro diferente e sem a necessidade de fios e eletrodos.
– Como é que ela funciona sem os fios?
– Bem, eu ficarei conectado a alguns fios, para acompanhar o que está acontecendo – explica ele. – Mas, no seu caso, há um transmissor minúsculo no soro que envia os dados para o computador.
Ele vira meu braço e enfia lentamente a ponta da agulha na pele macia do lado do meu pescoço. Uma dor profunda se espalha pela minha garganta. Faço uma careta e tento me concentrar em seu rosto tranquilo.
– O soro fará efeito dentro de seis segundos. Esta simulação é diferente do teste de aptidão – diz ele. – Além de conter o transmissor, o soro estimulará suas amídalas, que compõem a parte do cérebro responsável pelo processamento das emoções negativas, como o medo, induzindo assim uma alucinação. A atividade elétrica do cérebro é então transmitida para o nosso computador, que cria uma imagem a partir da sua alucinação, que eu posso ver e monitorar. Eu enviarei estas imagens gravadas para os administradores da Audácia. Você permanecerá no estado alucinatório até que consiga se acalmar, ou seja, até que seu ritmo cardíaco se reduza e você consiga controlar sua respiração.
Tento acompanhar o que ele está dizendo, mas meus pensamentos estão se embaralhando.
Começo a sentir os sintomas naturais do medo: suor nas palmas das mãos, batimento cardíaco acelerado, pressão no peito, boca seca, nó na garganta, dificuldade em respirar. Ele coloca as mãos sobre os dois lados da minha cabeça e se inclina sobre mim.
– Seja corajosa, Tris – sussurra ele. – A primeira vez é sempre a mais difícil.
Seus olhos são a última coisa que vejo.


 


 


 


                                                  +++


 


 


 


Estou em pé, no meio de um campo de capim seco que bate na minha cintura. Há um cheiro de fumaça no ar que queima minhas narinas. Acima de mim, o céu tem a cor de bile, e olhar para ele me causa ansiedade, fazendo com que meu corpo se retraia na direção oposta.
Ouço um farfalhar, como o som de folhas de papel agitadas pelo vento, mas o vento não está soprando. O ar está imóvel e silencioso, exceto pelo ruído, e não está quente nem frio, diferente de qualquer ar que eu conheça, embora eu ainda consiga respirar. Uma sombra mergulha do céu.
Algo pousa em meu ombro. Sinto seu peso e o espetar de suas presas e balanço o braço, tentando livrar-me da criatura, estapeando-a com a mão. Sinto algo macio e frágil. Uma pena.
Eu mordo o lábio e olho para o lado. Um pássaro negro do tamanho do meu antebraço vira o rosto e me encara com um de seus olhos de corça.
Eu ranjo os dentes e acerto o corvo mais uma vez com minha mão. Ele crava suas garras e não se move. Solto um grito, mais de frustração do que de dor, e bato no corvo com as duas mãos, mas ele permanece imóvel e resoluto, com o olho fixo me encarando e as penas brilhando na luz amarelada. Ouço o ronco de um trovão e o som de pingos no chão, mas não está chovendo.
O céu escurece, como se uma nuvem estivesse passando em frente ao sol. Ainda tentando afastar o meu rosto do corvo, olho para cima. Uma revoada de corvos mergulha em minha direção, em um exército de garras esticadas e bicos abertos que avança sobre mim, todos grasnando, preenchendo todo o espaço com suas vozes ensurdecedoras. Os corvos voam em uma massa única, mergulhando em direção à terra, com suas centenas de olhos de corça brilhando.
Tento correr, mas meus pés estão firmemente colados ao chão e recusam-se a se mexer, assim como o corvo em meu ombro. Eu grito à medida que eles me circundam, com suas penas agitando-se ao redor do meu ouvido, bicando meus ombros e agarrando-se às minhas roupas com suas garras. Grito até as lágrimas escorrerem dos meus olhos, agitando os braços. Minhas mãos se chocam contra corpos sólidos, mas são incapazes de afastá-los; eles estão em um
número grande demais. Eu estou sozinha. Eles beliscam as pontas dos meus dedos e se apertam contra meu corpo, com as asas roçando contra minha nuca e as garras se embrenhando em meus cabelos.
Eu me debato, me contorço e desabo no chão, cobrindo a cabeça com os braços. Eles berram em minha direção. Sinto algo movimentando-se sob mim no capim: um corvo se espremendo para me alcançar sob meu braço. Abro os olhos e ele bica meu rosto, acertando o nariz. Meu sangue pinga sobre o capim e eu solto um soluço, depois acerto um tapa no animal, mas outro se enfia sob meu braço, cravando sua garra na parte de frente da minha camisa.
Solto gritos e soluços.
– Socorro! – berro. – Socorro!
Os corvos batem as asas com mais força, causando um ruído ensurdecedor em meus ouvidos. Meu corpo arde, e eles estão por toda a parte, e não consigo pensar, não consigo respirar. Abro a boca para puxar o ar e ela se enche de penas, penas descendo pela minha garganta, entrando nos meus pulmões, substituindo o meu sangue pelo seu peso morto.
– Socorro – suspiro e grito, sem sentidos, sem lógica. Estou morrendo; estou morrendo; estou morrendo.
Minha pele arde e eu estou sangrando; os grasnidos são tão altos que meus ouvidos chiam, mas eu não estou morrendo, e lembro-me de que isso não é real, mas parece tão real, parece tão real. Seja corajosa. A voz de Quatro grita na minha memória. Eu grito para ele, inalando penas e exalando um “Socorro!”. Mas nenhum socorro virá; estou sozinha.
Você permanecerá no estado alucinatório até que consiga se acalmar , sua voz continua, e eu tusso, e meu rosto está molhado de lágrimas, e outro corvo conseguiu se esgueirar sob o meu braço, e sinto a ponta de seu bico afiado encostando na minha boca. Seu bico se espreme entre os meus lábios e arranha meus dentes. O corvo empurra a cabeça para dentro da minha
boca e a mordo com força, sentindo um gosto putrefato. Eu cuspo e cubro os meus dentes com a mão, formando uma barreira, mas agora há outro corvo se espremendo nos meus pés, e outro bicando minhas costelas.
Acalme-se. Eu não consigo, não consigo. Minha cabeça está latejando.
Respire. Mantenho a boca fechada e puxo o ar pelo nariz. Passaram-se horas desde que estive sozinha no campo; passaram-se dias. Solto o ar pelo nariz. Meu coração bate com força em meu peito. Preciso desacelerá-lo. Respiro novamente, com o rosto molhado de lágrimas.
Soluço outra vez e forço o corpo para a frente, esticando-me no capim, que pinica a minha pele. Estico os braços e respiro. Os corvos empurram e cutucam as laterais do meu corpo, enfiando-se e esgueirando-se sob ele, e não faço mais nada para impedir. Deixo que eles continuem com as batidas de asas, os grasnidos e as bicadas, enquanto relaxo um músculo de cada vez, resignada em me tornar uma carcaça bicada.
A dor toma conta do meu corpo.
Abro os olhos e estou sentada na cadeira de metal.
Solto um grito e balanço os braços e as pernas para me livrar dos pássaros, mas eles já não estão mais lá, embora eu ainda possa sentir as penas roçando contra a minha nuca e as garras em meu ombro e na minha pele que arde. Solto um gemido e puxo os joelhos para junto do meu peito, enterrando o rosto neles.
Uma mão toca meu ombro, e lanço o punho em sua direção, atingindo algo sólido, mas macio.
– Não toque em mim! – Eu soluço.
– Acabou – diz Quatro. Sua mão acaricia meu cabelo de uma maneira desajeitada, e eu me lembro da maneira como meu pai passava a mão na minha cabeça quando me dava um beijo de boa-noite, ou da maneira como minha mãe tocava meu cabelo quando ela o aparava com a tesoura. Esfrego as palmas das mãos em meus braços, ainda tentando afastar as penas, embora saiba que elas não estão mais lá.
– Dul.
Balanço o corpo para frente e para trás na cadeira.
– Dul, vou levar você de volta ao dormitório, está bem?
– Não! – grito. Levanto a cabeça e o encaro, embora não consiga vê-lo por meio do borrão de lágrimas. – Eles não podem me ver... não desta maneira...
– Ah, acalme-se – diz ele. Ele revira os olhos. – Eu a levarei pela porta dos fundos.
– Não preciso que você me leve... – Eu balanço a cabeça. Meu corpo está tremendo e me sinto tão fraca que não sei se conseguirei me levantar, mas preciso tentar. Não posso ser a única que precisou ser levada de volta ao dormitório. Mesmo que eles não me vejam, irão descobrir, irão falar de mim...
– Isso é besteira.
Ele segura meu braço e me arrasta para fora da cadeira. Pisco os olhos para afastar as lágrimas, enxugo as bochechas com as costas da mão e deixo que ele me guie até a porta que fica atrás do monitor do computador.
Seguimos pelo corredor em silêncio. Quando estamos a certa distância do quarto, arranco meu braço da sua mão e paro.
– Por que você fez aquilo comigo? – pergunto. – Qual foi o propósito daquilo, hein? Quando escolhi a Audácia, não sabia que estava me candidatando a semanas de tortura!
– Você achou que superar a covardia seria uma tarefa fácil? – diz ele calmamente.
– Aquilo não teve nada a ver com a superação da minha covardia! A covardia se encontra em como alguém escolhe ser na vida real, e na vida real eu não seria bicada até a morte por corvos, Quatro! – Cubro o rosto com as mãos e solto um soluço.
Ele não diz nada, apenas fica parado diante de mim enquanto eu choro. Levo poucos segundos para me recompor e enxugar o rosto mais uma vez.
– Quero ir para casa – digo de maneira fraca.
Mas voltar para casa não é mais uma opção. Minhas únicas opções são a Audácia ou os bairros pobres dos sem-facção.
Ele não me encara com compaixão. Apenas me encara. Seus olhos estão escuros na penumbra do corredor, e sua boca está fixa em uma linha dura.
– Aprender a pensar em meio ao medo – diz ele – é uma lição que todos, até mesmo a sua família de Caretas, devem aprender. É isso o que estamos tentando ensinar-lhe. Se você não conseguir aprender, terá que dar o fora daqui, porque não vamos querer você.
– Estou tentando. – Meu lábio inferior treme. – Mas eu fracassei. Estou fracassando.
Ele suspira.
– Quanto tempo você acha que passou naquela alucinação, Dul?
– Não sei. – Balanço a cabeça. – Cerca de meia hora?
– Três minutos – responde ele. – Você acordou três vezes mais rápido do que os outros iniciandos. Você pode ser qualquer coisa, Dul, menos um fracasso.
Três minutos?
Ele esboça um sorriso.
– Amanhã você se sairá melhor. Você vai ver.
– Amanhã?
Ele apoia a mão nas minhas costas e me guia em direção ao dormitório. Sinto as pontas de seus dedos pela minha camisa. Sua pressão suave faz com que eu me esqueça dos corvos por um instante.
– O que você viu na sua primeira alucinação? – digo, olhando para ele.
– Não foi exatamente um “que” mas um “quem”. – Ele dá de ombros. – Mas isso não importa.
– E você já conseguiu superar esse medo?
– Ainda não. – Nós alcançamos a porta do dormitório, e ele apoia as costas na parede, enfiando as mãos nos bolsos. – Talvez eu nunca supere.
– Então, eles não vão embora?
– Às vezes vão. E às vezes são apenas substituídos por novos medos. – Ele prende os dedões nas passadeiras de cinto da sua calça. – Mas o objetivo não é perder o medo. Isso seria impossível. Aprender a controlar seu medo e libertar-se dele é o verdadeiro objetivo.
Concordo com a cabeça. Eu costumava achar que os membros da Audácia eram destemidos.
Pelo menos, era assim que pareciam ser para mim. Mas o que eu percebia como a falta de medo talvez fosse apenas o medo sob controle.
– De qualquer maneira, seus medos dificilmente serão exatamente o que aparece na simulação – diz ele.
– Como assim?
– Bem, você realmente tem medo de corvos? – pergunta ele, sorrindo discretamente. Sua expressão faz com que seus olhos fiquem cálidos o bastante para que eu esqueça que ele é o meu instrutor. Ele é apenas um garoto conversando de maneira natural e me acompanhando até
a porta do dormitório. – Quando você vê um corvo, você sai correndo e gritando?
– Não. Acho que não. – Penso em me aproximar dele, sem um motivo específico, mas apenas porque quero saber a sensação de estarmos próximos; apenas por isso. Seria tolice, diz uma voz dentro da minha cabeça.
Eu me aproximo e me apoio contra a parede também, inclinando a cabeça para o lado para olhá-lo. Assim como na roda-gigante, sei exatamente quanto espaço há entre nós. Quinze centímetros. Eu me inclino. Menos de quinze centímetros. Sinto-me mais quente, como se ele estivesse emanando um tipo de energia que só consigo sentir agora que estou próxima o bastante.
– Então, do que tenho medo de verdade? – pergunto.
– Não sei – diz ele. – Apenas você pode saber.
Aceno com a cabeça devagar. Poderiam ser várias coisas, mas não sei qual delas seria a certa, ou até se há mesmo uma certa.
– Eu não sabia que me tornar um membro da Audácia seria tão difícil – digo, e
imediatamente me surpreendo por ter falado isso; por ter admitido isso. Mordo o lado interno da minha bochecha e encaro Quatro cuidadosamente. Será que foi um erro dizer isso a ele?
– Dizem que nem sempre foi assim – fala ele, levantando um dos ombros. Minha confissão parece não incomodá-lo. – Quer dizer, se tornar um membro da Audácia.
– O que mudou?
– A liderança – diz ele. – A pessoa que controla o treinamento estabelece o padrão de comportamento da Audácia. Há seis anos, Max e outros líderes mudaram os métodos de treinamento para torná-los mais competitivos e brutais, afirmando que isso testaria a força das pessoas. E isso modificou as prioridades da Audácia como um todo. Aposto que você consegue adivinhar quem é o novo protegido dos líderes.
A resposta é óbvia: Eric. Eles treinaram-no para ser perverso, e agora ele nos treinará para sermos tão perversos quanto ele.
Olho para Quatro. O treinamento deles não funcionou com ele.
– Se você ficou em primeiro lugar entre os iniciandos da sua turma – digo –, então em que posição ficou Eric?
– Em segundo.
– Então, ele era a segunda opção de liderança deles – balanço a cabeça lentamente. – E você era a primeira.
– Por que acha isso?
– Pela maneira como Eric se comportou durante o jantar na primeira noite. Ele estava com inveja, mesmo já tendo o que quer.
Quatro não me contradiz. Devo estar certa. Queria perguntar a ele por que não assumiu a posição que os líderes lhe ofereceram; por que é tão resistente à liderança quando parece ser um líder nato. Mas sei como Quatro encara perguntas pessoais.
Eu fungo e enxugo o rosto mais uma vez, depois aliso meu cabelo.
– Parece que eu estive chorando? – pergunto.
– Bem... – Ele se inclina para perto de mim, cerrando os olhos como se estivesse
inspecionando meu rosto. Um pequeno sorriso surge no canto de sua boca. Ele se aproxima ainda mais, tão próximo que estaríamos respirando o mesmo ar, se eu não houvesse esquecido completamente de respirar.
– Não, Dul – diz ele. Ele substitui o sorriso por uma expressão mais séria e fala: – Você parece dura como uma pedra.




 



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Autor(a): Fer Linhares

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Ao entrar no dormitório, vejo que a maioria dos outros iniciandos, tanto os nascidosna Audácia quanto os transferidos, estão aglomerados entre as fileiras de beliches e Peter está no centro deles. Ele segura uma folha de papel em suas mãos.– O êxodo em massa dos filhos dos líderes da Abnegação nã ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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