Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Ao entrar no dormitório, vejo que a maioria dos outros iniciandos, tanto os nascidos
na Audácia quanto os transferidos, estão aglomerados entre as fileiras de beliches e Peter está no centro deles. Ele segura uma folha de papel em suas mãos.
– O êxodo em massa dos filhos dos líderes da Abnegação não pode ser ignorado ou
atribuído ao acaso – lê ele. – A recente transferência de Dulce e Caleb Espinoza, filhos de Fernando Espinoza, levanta dúvidas sobre a solidez dos valores e ensinamentos da Abnegação.
Um calafrio invade minha espinha. Anahí, em pé no canto do grupo, olha para o lado e me vê. Ela me olha com preocupação. Não consigo me mexer. Meu pai. Agora, a Erudição está atacando meu pai.
– Por qual outro motivo, senão este, teriam os filhos de um homem tão importante
decidido que o estilo de vida que ele escolheu para eles não é admirável? – Peter continua a leitura. – Molly Atwood, outra transferida dentro da Audácia, sugere que a culpa pode ser atribuída a uma criação perturbada e abusiva. “Eu a ouvi falar durante o sono uma vez”, diz Molly. “Ela estava pedindo para que o pai parasse de fazer algo. Não sei o que era, mas fez com que tivesse pesadelos.”
Então, é assim que Molly resolveu se vingar. Ela deve ter falado com o repórter da
Erudição com quem Anahí discutiu.
Molly abre um sorriso. Seus dentes são tortos. Se eu os arrancasse com um soco, talvez estivesse fazendo um favor a ela.
– O quê? – pergunto. Na verdade, tento perguntar, porque minha voz sai abafada e rouca, e preciso limpar a garganta para falar novamente. – O quê?
Peter para de ler e algumas pessoas se viram. Parte delas, incluindo Anahí, olha para mim com pena, com as sobrancelhas inclinadas e os cantos das bocas voltados para baixo.
Mas a maioria sorri debochadamente, encarando-me de maneira sugestiva. Peter é o último a se virar para mim, com um largo sorriso no rosto.
– Me dá isso – exijo, estendendo a mão. Meu rosto está fervendo.
– Mas não acabei de ler – responde ele, com um tom jocoso. Seus olhos voltam a sondar o papel. – No entanto, a resposta talvez não se encontre em um homem desprovido de moralidade, mas nos ideais corrompidos de toda uma facção. Talvez a resposta esteja no fato de termos confiado nossa cidade a um grupo de tiranos pró-elitistas que não têm a capacidade de nos guiar da pobreza à prosperidade.
Avanço sobre ele e tento arrancar o papel de suas mãos, mas ele o levanta bem acima da minha cabeça, para que eu não consiga alcançá-lo a não ser que pule. Mas não vou pular. Em vez disso, levanto o calcanhar e piso o mais forte que consigo no local onde os ossos dos seus pés ligam-se aos seus dedos. Ele range os dentes e reprime um gemido de dor.
Então, lanço-me em direção a Molly, esperando que a força do impacto a surpreenda e a derrube no chão, mas antes que eu consiga alcançá-la, duas mãos frias agarram meu pulso.
– Você está falando do meu pai! – grito. – Meu pai, sua covarde!
Afonso me afasta dela, levantando-me do chão. Respiro intensamente e me esforço para agarrar o papel antes que alguém leia mais uma palavra daquilo. Preciso queimá-lo; destruílo; preciso.
Afonso me arrasta para fora do dormitório, até o corredor, com as unhas fincadas na minha pele. Depois que as portas se fecham atrás de nós, ele me solta, e eu o empurro com toda a minha força.
– O que foi? Você acha que eu não consigo me defender contra aquele lixo da Franqueza?
– Não é isso – diz Afonso. Ele bloqueia a porta com o corpo. – Só achei melhor impedir que você começasse uma pancadaria dentro do dormitório. Acalme-se.
Eu solto uma pequena risada.
– Me acalmar? Me acalmar? Eles estão falando da minha família, da minha facção!
– Não, não estão. – Ele está com olheiras escuras sob os olhos e parece exausto. – Estão falando da sua antiga facção, e não há nada que você possa fazer a respeito, então o melhor é ignorá-los.
– Você por acaso ouviu o que eles disseram? – Meu rosto já não está mais quente e a minha respiração está voltando ao normal. – A porcaria da sua antiga facção não está mais apenas insultando a Abnegação. Eles estão incitando a derrubada de todo o governo.
Afonso solta uma risada.
– Não estão nada. Eles são arrogantes e enfadonhos, e é por isso que os deixei, mas não são revolucionários. Eles apenas desejam ter mais voz e se irritam com a Abnegação porque recusam-se a lhes dar ouvidos.
– Eles não querem que as pessoas os ouçam, querem que as pessoas concordem com eles – respondo. – E não é certo intimidar as pessoas para que elas concordem com você. – Eu cubro o rosto com as mãos. – Não consigo acreditar que o meu irmão tenha se juntado a eles.
– Ei. Eles não são de todo mal – diz ele de maneira dura.
Eu aceno com a cabeça, mas não acredito nele. Não consigo imaginar que alguém possa sair da Erudição ileso, embora Afonso pareça uma pessoa legal.
A porta se abre outra vez e Anahí e Al se juntam a nós no corredor.
– É a minha vez de me tatuar – diz ela. – Quer vir conosco?
Eu ajeito o cabelo. Não posso voltar para o dormitório. Mesmo que Afonso deixasse, eu estaria em menor número lá dentro. Minha única opção é ir com eles e tentar esquecer o que está acontecendo fora do complexo da Audácia. Já tenho bastante com o que me preocupar além da minha família.
+++
À frente de mim, Al carrega Anahí nas costas. Ela grita enquanto ele corre em meio à multidão. As pessoas que conseguem sair a tempo abrem passagem para eles.
Meu ombro ainda está ardendo. Anahí me convenceu a tatuar o selo da Audácia junto com ela. O símbolo consiste em um círculo com uma chama dentro. Minha mãe nem reagiu à tatuagem na minha clavícula, então não me preocupo mais tanto com isso. As tatuagens fazem parte da vida aqui e são tão importantes para a minha iniciação quanto aprender a lutar.
Anahí também me convenceu a comprar uma camisa que deixa tanto os meus ombros quanto a minha clavícula à mostra, e a passar delineador preto nos olhos novamente. Nem tento mais me opor às suas tentativas de me embelezar. Até porque já comecei a gostar delas.
Afonso e eu caminhamos atrás da Christina e do Al.
– Não acredito que você fez outra tatuagem – diz ele, balançando a cabeça.
– Por quê? – pergunto. – Porque sou uma Careta?
– Não. Porque você é... uma pessoa sensata. – Ele sorri. Seus dentes são retos e brancos. –
E então, qual foi o seu medo hoje, Dul?
– Muitos corvos – respondo. – E o seu?
Ele começa a rir.
– Muito ácido.
Não pergunto o que ele quer dizer com isso.
– É realmente fascinante como tudo aquilo funciona – diz ele. – É basicamente um duelo entre o seu tálamo, que produz o medo, e o seu lobo frontal, que toma as decisões. Mas a simulação se passa toda dentro da sua cabeça, por isso você acha que alguém está fazendo aquilo com você, mas é apenas você, fazendo aquilo a si mesmo... – Ele perde o fio da meada.
– Desculpe. Estou falando como alguém da Erudição. É apenas o hábito.
Dou de ombros.
– É interessante – digo.
Al quase derruba Anahí, e ela agarra com força a primeira coisa que consegue alcançar, que por acaso é o rosto dele. Ele faz uma careta e segura melhor as pernas dela. Olhando assim, Al parece até feliz, mas há um peso até mesmo em seus sorrisos. Estou preocupada com ele. Vejo Quatro em frente ao abismo, com um grupo de pessoas ao seu redor. Ele ri tanto que precisa segurar a grade para manter o equilíbrio. A julgar pela garrafa em sua mão e a expressão alegre em seu rosto, ele está bêbado ou a caminho de ficar. Eu havia começado a
ver Quatro como uma pessoa dura, como um soldado, e tinha me esquecido de que ele tem apenas dezoito anos.
– Opa! – diz Afonso. – Instrutor à vista!
– Pelo menos não é o Eric – digo. – Ele provavelmente nos obrigaria a participar de algum tipo de desafio.
– É verdade, mas Quatro também é assustador. Lembra-se de quando ele apontou uma arma para a cabeça do Peter? Acho que ele fez xixi nas calças.
– Peter mereceu – digo com firmeza.
Afonso não argumenta. Talvez há algumas semanas houvesse argumentado, mas agora todos já vimos do que Peter é capaz.
– Dul! – grita Quatro. Will e eu trocamos olhares de surpresa e apreensão. Quatro solta a grade e caminha em minha direção. À frente de nós, Al para de correr e Anahí desce das suas costas. Não os culpo por me encarar. Há quatro de nós, e Quatro está falando apenas comigo.
– Você está diferente. – Suas palavras, que costumam ser límpidas, soam confusas.
– Você também – digo. E ele realmente parece mais relaxado, mais jovem. – O que está fazendo?
– Desafiando a morte – responde ele, rindo. – Bebendo ao lado do abismo. Não deve ser uma boa ideia.
– Realmente, não é. – Não sei se gosto do Quatro assim. Há algo de inquietante nele.
– Não sabia que você tinha uma tatuagem – diz, olhando para minha clavícula.
Ele toma um pequeno gole da garrafa. Seu hálito é denso e forte. Como o hálito do homem sem-facção.
– É claro. Os corvos – diz ele. Vira o rosto e olha para os amigos, que, ao contrário dos meus, continuam a conversar sem ele. – Eu a convidaria a se juntar a nós, mas não é certo você me ver assim – continua.
Fico com vontade de perguntar-lhe por que ele quer que eu me junte a ele, mas suspeito que a resposta tenha algo a ver com a garrafa em sua mão.
– Assim como? – pergunto. – Bêbado?
– É... bem, não. – Sua voz se atenua. – Verdadeiro, eu acho.
– Vou fingir que não vi.
– É muito gentil da sua parte.
Ele aproxima os lábios do meu ouvido e diz:
– Você está bonita, Dul.
Suas palavras me surpreendem, e meu coração salta de repente. Eu preferia que não saltasse, porque, pela maneira como seu olhar passa direto pelo meu, percebo que ele não tem a menor ideia do que acabou de falar. Eu solto uma risada.
– Só me faça o favor de manter-se longe do abismo, está bem?
– É claro. – Ele pisca para mim.
Não consigo conter um sorriso. Afonso limpa a garganta, mas não quero desviar o olhar de Quatro, nem quando ele começa a caminhar de volta para seus amigos.
De repente, Al voa em minha direção como uma rocha rolando ladeira abaixo e me ergue em seu ombro. Eu solto um grito, com o rosto fervendo.
– Vem cá, garotinha – diz ele. – Vou te levar para jantar.
Eu apoio os cotovelos nas costas de Al e aceno para Quatro à medida que sou levada embora.
– Achei melhor salvar você – diz Al ao nos afastarmos. Ele me coloca de volta no chão. – O que foi aquilo?
Ele tenta parecer tranquilo, mas sua pergunta tem um tom quase triste. Ele ainda gosta demais de mim.
– É, acho que todos nós queremos saber a resposta para esta pergunta – diz Anahí de uma maneira cantarolada. – O que ele disse?
– Nada. – Balanço a cabeça. – Ele estava bêbado. Não sabia o que estava falando. – Limpo a garganta. – É por isso que eu estava sorrindo. Foi... engraçado vê-lo daquele jeito.
– Certo – diz Afonso. – Será que não seria porque...
Dou uma cotovelada forte nas costelas de Afonso antes que ele termine a frase. Estava perto o bastante para ouvir o que Quatro falava sobre mim. Não quero que saia contando para todo mundo, especialmente para o Al. Não quero que ele se sinta ainda pior.
Em casa, eu costumava passar noites calmas e agradáveis com minha família. Minha mãe tricotava cachecóis para as crianças vizinhas. Meu pai auxiliava Caleb em seu dever de casa.
Havia fogo na lareira e paz no meu coração, já que estava fazendo exatamente aquilo que deveria, e tudo era tranquilo.
Eu nunca havia sido carregada nas costas por um garoto enorme, ou gargalhado tanto na mesa de jantar que minha barriga doesse, ou escutado o tumulto de centenas de pessoas falando ao mesmo tempo. A paz é contida; isso aqui é liberdade.
Autor(a): Fer Linhares
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Respiro pelo nariz. Para dentro, para fora. Para dentro.– É apenas uma simulação, Dul – diz Quatro com serenidade.Ele está errado. A última simulação vazou para dentro da minha vida, tanto quando estou acordada quanto quando estou dormindo. Tive pesadelos, não apenas com os corvos, mas com as sensa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa