Fanfics Brasil - Capítulo 20 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 20

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Respiro pelo nariz. Para dentro, para fora. Para dentro.
– É apenas uma simulação, Dul – diz Quatro com serenidade.
Ele está errado. A última simulação vazou para dentro da minha vida, tanto quando estou acordada quanto quando estou dormindo. Tive pesadelos, não apenas com os corvos, mas com as sensações que tive durante a simulação, de terror e impotência. Acredito que seja desta impotência que eu tenha medo de verdade. Tive ataques repentinos de terror no chuveiro, durante o café da manhã e no caminho até aqui. Roí tanto as unhas que feri os dedos. E não sou a única que se sente assim; dá para perceber.
Mesmo assim, concordo com a cabeça e fecho os olhos.


 


 


 


 


                                               +++


 


 


 


 


Estou no escuro. As últimas coisas das quais me lembro são a cadeira de metal e a agulha no meu braço. Desta vez, não há nenhum campo; não há nenhum corvo. Meu coração dispara por antecipação. Quais serão os monstros que surgirão da escuridão para me roubar a racionalidade? Por quanto tempo serei obrigada a esperar por eles?
Uma esfera azul se acende poucos metros à minha frente e depois mais uma, enchendo o recinto de luz. Estou no chão do Fosso, perto do abismo, e os iniciandos estão ao meu redor, com os braços cruzados e os rostos inexpressivos. Procuro Anahí e encontro-a entre eles.
Nenhum deles se move. Sua imobilidade faz com que um nó se forme em minha garganta.
Vejo algo diante de mim: meu reflexo indistinto. Eu o toco, e meus dedos encostam em um vidro, frio e liso. Olho para cima. Há uma chapa de vidro sobre mim; estou dentro de uma caixa de vidro. Eu a empurro para cima, para tentar abri-la. Ela nem se move. Estou trancada aqui dentro.
Meu coração dispara. Não quero ficar enclausurada. Alguém bate no vidro diante de mim. Quatro. Ele aponta para meus pés, sorrindo com deboche.
Alguns segundos atrás, meus pés estavam secos, mas agora estou dentro de um centímetro e meio de água, e minhas meias estão encharcadas. Eu me agacho para ver de onde está vindo a água, mas ela parece não estar vindo de lugar nenhum, apenas surgindo do chão de vidro da caixa. Levanto a cabeça e olho para Quatro, e ele dá de ombros. Ele se junta ao grupo de iniciandos.
A água sobe rapidamente. Agora já cobre meus tornozelos. Bato com os punhos contra o vidro.
– Ei! – grito. – Me tirem daqui!
A água continua a subir, fria e macia, até minhas panturrilhas nuas. Bato no vidro com mais força.
– Me tirem daqui!
Encaro Anahí. Ela se inclina na direção de Peter, que está a seu lado, e sussurra algo em seu ouvido. Os dois riem.
A água cobre minhas coxas. Bato com os dois punhos contra o vidro. Não estou mais tentando chamar a atenção deles; estou tentando quebrar o vidro. Desesperada, bato contra o vidro com o máximo de força que consigo. Dou um passo para trás e jogo o ombro contra a parede, uma, duas, três, quatro vezes. Bato na parede de vidro até meu ombro começar a doer, gritando por socorro, vendo a água subir até a cintura, as costelas, o peito.
– Socorro! – grito. – Por favor! Por favor, me ajudem!
Dou um tapa no vidro. Vou morrer neste tanque. Corro as mãos trêmulas pelos cabelos.
Vejo Afonso entre os iniciandos e algo atiça as profundezas da minha memória. Algo que ele disse. Vamos, pense. Paro de tentar quebrar o vidro. É difícil respirar, mas preciso tentar.
Precisarei do máximo de ar possível daqui a alguns segundos.
Meu corpo é erguido com leveza pela água. Eu flutuo para mais perto do teto e inclino a cabeça para trás à medida que a água cobre meu queixo. Arfando, aperto o rosto contra o vidro acima de mim, sugando o máximo de ar que consigo. E então a água me cobre, envolvendo-me completamente dentro da caixa.
Não entre em pânico. Não adianta, meu coração acelera e meus pensamentos embaralham.
Eu me debato dentro da água, batendo contra as paredes. Chuto o vidro com o máximo de força que consigo, mas a água desacelera meu pé. A simulação está toda dentro da sua cabeça.
Solto um grito, e minha boca se enche de água. Se está tudo na minha cabeça, então posso tomar o controle da situação. A água queima meus olhos. Os rostos passivos dos iniciandos me encaram. Eles não ligam para mim.
Eu grito novamente e empurro a parede com a palma da mão. Ouço alguma coisa. O ruído de algo rachando. Quando recolho a mão, vejo que há uma rachadura no vidro. Bato com a outra mão ao lado da rachadura e trinco o vidro novamente. Desta vez, no entanto, a rachadura cresce, a partir da minha mão, em linhas longas e tortuosas. Meu peito arde, como se eu tivesse acabado de engolir fogo. Chuto a parede de vidro. Os dedos do meu pé doem com o impacto, e ouço um ronco baixo e longo.
O vidro arrebenta, e a força da água contra minhas costas me lança para a frente. Consigo respirar novamente.
Eu arquejo e levanto o tronco. Estou na cadeira. Respiro profundamente e balanço os braços para a frente. Quatro está à minha direita, mas, em vez de me ajudar a levantar, ele apenas me encara.
– O que foi? – pergunto.
– Como você conseguiu fazer aquilo?
– Fazer o quê?
– Quebrar o vidro.
– Não sei. – Quatro finalmente me oferece a mão. Jogo as pernas para o lado da cadeira e, ao me levantar, sinto-me segura. Calma.
Ele solta um suspiro e agarra o meu ombro, guiando-me e me arrastando para fora da sala o mesmo tempo. Caminhamos rapidamente pelo corredor, e, então, paro, puxando o braço.
Ele me encara em silêncio. Não me dará nenhuma informação a não ser que eu pergunte.
– O que foi? – pergunto.
– Você é Divergente – responde ele.
Eu o encaro, o medo pulsando dentro de mim como eletricidade. Ele sabe. Como ele sabe?
Devo ter me entregado. Devo ter falado algo de errado.
Preciso agir com naturalidade. Eu me reclino, apoiando os ombros contra a parede, e digo:
– O que é um Divergente?
– Não se faça de idiota – diz ele. – Suspeitei da última vez, mas agora ficou óbvio. Você manipulou a simulação; você é Divergente. Vou apagar a gravação, mas a não ser que você queira acabar morta no fundo do abismo, é melhor arrumar um jeito de esconder isso durante as simulações. Agora, me dá licença.
Ele volta para a sala de simulação e bate a porta. Sinto o coração batendo na minha garganta. Eu manipulei a simulação; quebrei o vidro. Não sabia que isso era uma atitude
Divergente.
Como será que ele soube?
Afasto-me da parede e começo a descer o corredor. Preciso de respostas, e sei exatamente quem as terá.


 


 


 


                                         +++


 


 


 


Caminho diretamente para o estúdio de tatuagens onde vi Maite pela última vez.
Não há muitas pessoas ao redor, porque estamos no meio da tarde e a maioria delas está no trabalho ou na escola. Há três pessoas no estúdio: o outro tatuador, um homem em cujo braço ele está desenhando um leão e Maite, que está ordenando uma pilha de papéis no balcão. Ela olha para mim quando entro.
– Olá, Dul – diz ela, e olha para o outro tatuador, que está concentrado demais no que está fazendo para nos dar atenção. – Vamos para os fundos.
Eu a sigo para trás da cortina que separa as duas salas. A sala dos fundos conta com algumas cadeiras, agulhas de tatuagem sobressalentes, tinta, blocos de papel e obras de arte emolduradas. Maite fecha a cortina e senta-se em uma das cadeiras. Eu me sento ao seu lado, batendo com os pés no chão para me ocupar com alguma coisa.
– O que foi? – pergunta ela. – Como estão indo as simulações?
– Muito bem. – Aceno com a cabeça algumas vezes. – Parece que bem até demais.
– Ah.
– Por favor, ajude-me a entender – digo rapidamente. – O que significa ser... – Hesito. Não deveria pronunciar a palavra “Divergente” aqui. – O que diabos eu sou? O que isso tem a ver com as simulações?
O comportamento de Maite muda de repente. Ela apoia as costas na cadeira e cruza os braços. Sua expressão se fecha.
– Entre outras coisas, você... você é alguém que tem consciência, quando está em uma simulação, que o que está vivendo não é real – diz ela. – Alguém que pode, portanto, manipular a simulação ou até mesmo encerrá-la. E também... – Ela se inclina para a frente e me encara. – Alguém que, por também ser da Audácia... provavelmente irá morrer.
Um peso se instala em meu peito, como se cada frase que ela dissesse se empilhasse sobre mim. A tensão se acumula dentro de mim até eu não conseguir mais contê-la e precisar chorar, gritar, ou...
Solto uma risada rápida e seca que morre quase tão repentinamente quanto surge, e digo:
– Então, eu vou morrer?
– Não necessariamente – diz ela. – Os líderes da Audácia ainda não sabem a respeito de você. Eu apaguei os resultados do teste de aptidão do sistema imediatamente e cadastrei o seu
resultado manualmente como Abnegação. Mas pode ter certeza: se eles descobrirem o que você é, eles vão te matar.
Eu a encaro em silêncio. Ela não parece ser louca. Parece sã, mesmo que um pouco nervosa, e nunca suspeitei de que fosse desequilibrada. Mas só pode ser. Não há nenhum registro de assassinato em nossa cidade desde que nasci. Mesmo que alguns indivíduos sejam capazes disso, os líderes de uma facção nunca seriam.
– Você está paranoica – digo. – Os líderes da Audácia não me matariam. As pessoas não fazem essas coisas. Não mais. É por isso que temos tudo isso... todas as facções.
– Você acha que não? – Ela pousa as mãos sobre os joelhos e me encara diretamente, com as feições subitamente tomadas por certa ferocidade. – Eles pegaram meu irmão, então, por que não pegariam você? Por acaso você é tão especial assim?
– Seu irmão? – digo, cerrando os olhos.
– É. Meu irmão. Nós dois nos transferimos da Erudição, mas o teste de aptidão dele foi inconclusivo. No último dia das simulações, eles acharam o corpo dele no abismo. Disseram que foi suicídio. Meu irmão estava indo bem nos treinamentos, estava namorando outra inicianda, estava feliz. – Ela balança a cabeça. – Você tem um irmão, não tem? Você não acha que saberia se ele tivesse tendências suicidas?
Tento imaginar Caleb se matando. A ideia, por si só, já me parece absurda. Mesmo que Caleb estivesse extremamente triste, isso nunca seria uma opção para ele.
Suas mangas estão dobradas, e eu consigo ver a tatuagem de um rio em seu braço direito.
Será que ela tatuou isso depois que o irmão morreu? Será que o rio foi outro medo que ela superou?
Ela baixa a voz.
– No segundo estágio do treinamento, Georgie começou a se sair bem muito rápido. Ele disse que as simulações nem o amedrontavam... elas eram como um jogo. Então, os instrutores começaram a prestar mais atenção nele. Eles se amontoavam na sala durante as simulações, em vez de apenas deixar que o instrutor registrasse os resultados. Sussurravam a respeito dele
o tempo todo. No último dia das simulações, um dos líderes da Audácia veio vê-lo com os próprios olhos. E no dia seguinte Georgie se foi.
Eu poderia me aperfeiçoar nas simulações se aprendesse a controlar a força que me ajudou a quebrar o vidro. Eu poderia me tornar tão boa que os instrutores reparassem em mim. Eu poderia, mas será que eu farei isso?
– E essa é a nossa única característica? – questiono. – Apenas conseguir mudar as
simulações?
– Duvido de que seja – diz ela –, mas é a única que conheço.
– Quantas pessoas sabem sobre isso? – digo, pensando em Quatro. – Sobre a manipulação das simulações.
– Dois tipos de pessoa – diz ela. – As pessoas que querem matar você. Ou quem já passou por isso, diretamente ou indiretamente, como eu.
Quatro disse que apagaria a gravação na qual eu quebro o vidro. Ele não me quer morta.
Será que ele é um Divergente? Ou será que é alguém da família dele? Ou um amigo? Ou uma namorada?
Afasto esse pensamento da minha cabeça. Não posso me distrair com ele agora.
– Não entendo – falo devagar – por que os líderes da Audácia se importam se eu consigo ou não manipular as simulações.
– Se eu tivesse descoberto isso, já teria contado para você. – Ela contrai os lábios. – A única coisa que consegui descobrir é que não é com a manipulação da simulação que eles estão preocupados; ela é apenas o sintoma de outra coisa. É esta outra coisa que os preocupa.
Maite segura minha mão e a aperta entre as suas.
– Pense bem – diz ela. – Essas pessoas lhe ensinaram a usar uma arma. Eles lhe ensinaram a lutar. Você realmente acha que não seriam capazes de machucar você? De matar você?
Ela solta minha mão e se levanta.
– Preciso ir agora, ou Bud vai começar a fazer perguntas. Tome cuidado, Dul.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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