Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
– Dul.
Em meu sonho, minha mãe diz meu nome. Ela me chama, e eu atravesso a cozinha para ficar a seu lado. Ela aponta para a panela no fogão, e abro a porta para olhar. O olho brilhante de um corvo me encara de volta, enquanto as penas de suas asas se espremem contra os lados da panela e seu corpo gordo se cobre de água fervendo.
– O jantar – diz ela.
– Dul! – ouço novamente. Abro os olhos. Anahí está em pé ao lado da minha cama, com as bochechas borradas de maquiagem e lágrimas.
– É o Al – diz ela. – Vamos.
Alguns dos outros iniciandos estão acordados, e outros dormem. Christina segura minha mão e me puxa para fora do dormitório. Corro descalça sobre o chão de pedra, piscando, com olhos ainda nebulosos e o corpo pesado de sono. Algo de terrível aconteceu. É o Al. Atravessamos correndo o chão do Fosso, e então Anahí para. Uma multidão se juntou ao redor da beirada do abismo, mas estão todos um pouco afastados uns dos outros, então há espaço o bastante para que eu passe por Anahí e por um homem alto e de meia-idade e chegue até a frente.
Dois homens estão perto da beirada, puxando uma corda e erguendo alguma coisa. Ambos soltam grunhidos com o esforço, jogando seus corpos para trás para que a corda deslize sobre a grade. Uma forma enorme e escura aparece na beirada, e alguns outros membros da Audácia correm para ajudar os homens a levantá-la sobre a grade.
A forma desaba com um ruído seco sobre o chão do Fosso. Um braço pálido, inchado de água, bate contra a pedra. Um corpo. Anahí cola seu corpo ao meu, agarrando meu braço com força. Ela vira a cabeça para meu ombro e soluça, mas eu não consigo desviar o olhar.
Alguns dos homens viram o corpo, e a cabeça gira para o lado.
Os olhos estão abertos e vazios. Escuros. Olhos de brinquedo. E o nariz tem um arco alto, um dorso curto e uma ponta redonda. Os lábios estão azuis. O rosto em si parece algo não humano, metade cadáver e metade criatura. Meus pulmões ardem; minha respiração seguinte é trêmula. O Al.
– Um dos iniciandos – diz alguém atrás de mim. – O que aconteceu?
– A mesma coisa que acontece todo ano – responde alguém. – Ele se atirou no abismo.
– Não seja tão mórbido. Pode ter sido um acidente.
– Eles o encontraram no meio do rio. Você acha que ele tropeçou no próprio cadarço e... opa... simplesmente voou cinco metros para a frente?
As mãos de Anahí apertam meu braço cada vez mais forte. Eu deveria pedir para ela me soltar; está começando a doer. Alguém se ajoelha ao lado do rosto de Al e fecha seus olhos.
Deve ser para fazer parecer que ele está dormindo. Que idiotice. Por que as pessoas cismam em fingir que a morte é um tipo de sono? Não é. Não é.
Algo dentro de mim desmorona. Meu peito está apertado, sufocando-me, não consigo respirar. Desabo de joelhos no chão, carregando Christina comigo. Sinto a aspereza da pedra sob meus joelhos. Ouço algo, a lembrança de um som. Os soluços do Al; seus gritos à noite.
Eu deveria ter percebido. Ainda não consigo respirar. Aperto as mãos contra o peito e balanço para frente e para trás, para liberar a tensão que se acumula sobre ele.
Quando pisco, vejo o topo da cabeça do Al enquanto ele me carrega até o refeitório. Sinto o movimento de seus passos. Ele é grande e caloroso e desajeitado. É não, era. Isso é a morte: quando o “é” se transforma em “era”.
Solto um chiado. Alguém trouxe um saco preto para envolver o corpo. Dá para perceber que o saco é pequeno demais. Uma risada brota da minha garganta e derrama da minha boca, tensa e gorgolejada. Al é grande demais para o saco; que tragédia. Na metade da risada, eu tapo a boca com as mãos, e ela passa a soar mais como um lamento. Solto o braço e me levanto, deixando Anahí no chão. Começo a correr.
+++
– Tome – diz Maite. Ela me entrega uma caneca quente com cheiro de menta. Seguro-a com as duas mãos, e meus dedos formigam com o calor.
Ela se senta de frente para mim. Quando se trata de funerais, a Audácia não perde tempo.
Maite diz que eles desejam reconhecer a morte assim que ela acontece. Não há ninguém na sala da frente do estúdio de tatuagem, mas o Fosso está repleto de pessoas, e a maioria delas está bêbada. Não sei por que isso ainda me surpreende.
De onde venho, um funeral é uma ocasião triste. Todos se reúnem para oferecer apoio à família do falecido, e ninguém fica desocupado, e não há risadas, gritos e brincadeiras. Os membros da Abnegação não bebem, então todos ficam sóbrios. É claro que os funerais aqui são exatamente o oposto.
– Beba – diz ela. – Prometo que fará você se sentir melhor.
– Não acho que chá seja a solução – digo lentamente. Mas dou um pequeno gole mesmo assim. A bebida aquece minha boca e minha garganta e desce para meu estômago. Não havia percebido o quanto eu estava com frio, até me aquecer.
– Eu disse que faria você se sentir melhor, não completamente bem. – Ela sorri para mim, mas os cantos dos seus olhos não enrugam como normalmente. – Acho que você não irá se sentir bem por um bom tempo.
Mordo o lábio.
– Quanto tempo... – Tenho dificuldade em encontrar as palavras certas. – Quanto tempo demorou para você ficar bem depois que o seu irmão...
– Não sei. – Ela balança a cabeça. – Alguns dias sinto que ainda não estou bem. Outros, sinto-me ótima. Feliz, até. Mas demoraram alguns anos até eu desistir de planejar uma vingança.
– E por que você desistiu? – pergunto.
Seus olhos se esvaziam enquanto ela encara a parede atrás de mim. Ela bate com as pontas dos dedos em sua perna por alguns segundos, depois diz:
– Acho que eu não desisti de verdade. Acho que estou apenas... esperando a oportunidade certa.
Ela sai de seu estado de torpor e olha para o relógio.
– Está na hora de ir – diz ela.
Derramo o resto do chá na pia. Quando solto a caneca, percebo que estou tremendo. Isso não é bom. Minhas mãos costumam tremer quando estou prestes a chorar, e não posso chorar na frente de todo mundo.
Sigo Maite para fora do estúdio e descemos a passagem que leva ao andar térreo do Fosso.
Todas as pessoas que estavam espalhadas antes se aglomeram perto do abismo, e o ar está carregado com o cheiro de álcool. Uma mulher na minha frente cambaleia para a direita, perdendo o equilíbrio, depois cai na gargalhada ao desabar em cima do homem ao seu lado.
Maite segura meu braço e me guia para longe dela. Encontro Uriah, Will e Christina entre os outros iniciandos. Os olhos de Anahí estão inchados. Uriah está segurando um frasco prateado. Ele me oferece um gole. Balanço a cabeça.
– Nossa, que surpresa! – diz Molly, atrás de mim. Ela bate o cotovelo contra o de Peter. – Uma vez Careta, sempre Careta.
Eu deveria ignorá-la. Não deveria me importar com suas opiniões a meu respeito.
– Li um artigo interessante hoje – diz ela, mais perto do meu ouvido. – Algo sobre seu pai e sobre os verdadeiros motivos que levaram você a deixar sua antiga facção.
Defender-me não é a coisa mais importante na minha cabeça no momento. Mas é a mais fácil de resolver.
Eu giro o corpo, e meu punho encaixa no queixo de Molly. As juntas dos meus dedos ardem com o impacto. Não me lembro de ter decidido socá-la. Não me lembro nem de ter fechado a mão.
Ela se atira para cima de mim, com os braços abertos, mas não chega muito longe. Afonso agarra a gola da sua camisa e a puxa para trás. Ele olha para ela, depois para mim, e diz:
– Parem com isso, vocês duas.
Uma parte de mim preferia que ele não a tivesse segurado. Uma luta seria uma boa distração, especialmente agora que Eric está subindo em uma tribuna ao lado da grade. Eu olho para ele, cruzando os braços para não tremer. O que será que ele vai dizer?
Na Abnegação, não há nenhum registro de suicídios recentes, mas a posição da facção é clara quanto a isso: o suicídio, para eles, é um ato egoísta. Alguém que seja verdadeiramente altruísta não pensa em si mesmo o bastante para desejar a morte. Ninguém diria isso se alguém realmente se suicidasse, mas é o que todos pensariam.
– Calados, todos! – grita Eric. Alguém toca algo que soa como um gongo, e os gritos lentamente cessam, mas não os murmúrios.
– Obrigado. Como vocês sabem, estamos reunidos aqui hoje porque Albert, um iniciando, saltou para dentro do abismo ontem à noite – diz Eric.
Os murmúrios cessam também, e apenas o som da água correndo sob o abismo continua.
– Não sabemos o motivo – afirma Eric. – E seria fácil chorarmos sua morte esta noite. Mas não escolhemos uma vida fácil ao nos juntarmos à Audácia. E a verdade é... – Eric sorri. Se eu não o conhecesse, acreditaria que seu sorriso é verdadeiro. Mas eu o conheço bem. – A verdade é que, neste mesmo instante, Albert está explorando um lugar desconhecido e incerto.
Ele mergulhou em águas turbulentas para chegar lá. Quem de nós é corajoso o bastante para se aventurar na escuridão, sem saber o que jaz além? Albert ainda não era um dos nossos membros, mas certamente era um dos mais bravos entre nós!
Um grito surge no meio da multidão, seguido de outro. O grito de comemoração da Audácia em vários tons: alto e baixo, agudo e grave. Seu grito imita o ronco da água. Anahí toma o frasco da mão de Uriah e bebe. Afonso coloca o braço ao redor de seus ombros e a puxa para perto. As vozes enchem meus ouvidos.
– Nós o celebraremos agora, e o lembraremos para sempre! – grita Eric. Alguém lhe entrega uma garrafa escura e ele a levanta. – Para Albert, o Corajoso!
– Para Albert! – grita a multidão. As pessoas erguem os braços ao meu redor, e a Audácia grita o seu nome. – Albert! Al-bert! Al-bert! – Eles gritam até que seu nome perca o sentido e pareça mais o grito primitivo de uma raça antiga.
Eu me viro para o outro lado. Não consigo mais aguentar isso.
Não sei para onde estou indo. Acho que não estou indo para lugar nenhum, só para longe daqui. Caminho por um corredor escuro. No final, encontro o bebedouro, banhado na luz azul da lâmpada acima.
Balanço a cabeça. Corajoso? Ele seria corajoso se tivesse admitido a sua fraqueza e
deixado a Audácia, sem se importar com a vergonha que isso lhe traria. Al morreu por orgulho: uma falha que está em todos os corações da Audácia. Inclusive no meu.
– Dul.
Uma corrente de energia atravessa meu corpo, e eu me viro. Quatro está atrás de mim, nos limites do círculo azul de luz. A iluminação lhe confere uma aparência macabra, escurecendo as órbitas de seus olhos e criando sombras sob as maçãs de seu rosto.
– O que você está fazendo aqui? – pergunto. – Você não deveria estar prestando as
condolências?
Essas palavras trazem um gosto ruim à minha boca, e eu as digo como se precisasse cuspilas para fora.
– E você, não deveria? – diz ele. Quatro se aproxima de mim e eu vejo seus olhos outra vez.
Sob esta luz, eles parecem pretos.
– Não posso prestar condolências a alguém que não respeito – respondo. Sinto uma pontada de culpa e balanço a cabeça. – Desculpe, isso não é verdade.
– Ah. – Pela maneira que ele me olha, percebo que não acredita em mim. Não o culpo por isso.
– Isso é ridículo – digo, enquanto o calor invade meu rosto. – Ele se joga de um abismo e Eric o chama de corajoso? Eric, que tentou fazer com que você atirasse facas na cabeça do Al? – Sinto gosto de bile. O sorriso falso do Eric, suas palavras artificiais, seus ideais doentios, tudo isso me enoja. – Ele não era corajoso! Estava deprimido, era um covarde e quase me matou! É esse o tipo de coisa que devemos respeitar aqui?
– O que você quer que eles façam? – pergunta ele. – O condenem? Al já está morto. Ele não poderá ouvir sua condenação. Já é tarde demais para isso.
– A questão não é o Al – digo, irada. – A questão são todas as pessoas que estão assistindo! Todas as pessoas que agora acreditam que se jogar do abismo é uma opção válida. Quer dizer, por que não se matar se todos o chamarão de herói depois? Por que não se matar, se todos lembrarão o seu nome? É... não consigo...
Eu balanço a cabeça. Meu rosto está fervendo e meu coração dispara, e tento me controlar, mas não consigo.
– Isso nunca teria acontecido na Abnegação! – quase grito. – Nada disso! Nunca. Este lugar o transformou e o destruiu, e eu não me importo se dizer isso faz de mim uma Careta, não me importo, não me importo!
Os olhos de Quatro se voltam para a parede sobre o bebedouro.
– Cuidado, Dul! – diz ele, ainda encarando a parede.
– Isso é tudo o que você tem a dizer? – pergunto, brigando com ele. – Que eu devo ter cuidado? Só isso?
– Você é pior do que um membro da Franqueza, sabia? – Ele agarra meu braço e me arrasta para longe do bebedouro. Sua mão me machuca, mas não sou forte o bastante para soltá-lo.
Seu rosto se aproxima tanto do meu que consigo ver algumas sardas em seu nariz.
– Só vou dizer isso uma vez, então escute bem. – Ele pousa a mão em meu ombro,
segurando-me com os dedos, apertando. Sinto-me pequena. – Eles estão observando você.
Você, em especial.
– Me solta – digo, com a voz fraca.
Seus dedos se abrem, e ele ajeita o corpo. Meu peito fica um pouco mais leve depois que ele não está mais tocando em mim. Tenho medo das suas mudanças repentinas de humor. Elas me mostram que há algo de instável dentro dele, e a instabilidade é perigosa.
– Eles também estão observando você? – digo, tão baixo que ele não conseguiria me ouvir se não estivesse tão próximo de mim.
Ele não responde a minha pergunta.
– Eu fico tentando te ajudar – reclama ele –, mas você se recusa a ser ajudada.
– Ah, tá. Que ajuda! – digo. – Cortar minha orelha com uma faca, me provocar e gritar comigo mais do que com qualquer outra pessoa realmente são coisas que me ajudam muito.
– Provocar você? Você quer dizer, quando eu atirei as facas? Eu não estava provocando você – diz ele, irritado. – Eu estava tentado fazer você se lembrar de que, se você fracassasse, outra pessoa teria que tomar o seu lugar.
Eu cubro a nuca com a mão, tentando visualizar o incidente com a faca. Cada vez que ele falou comigo, foi para me lembrar de que, se eu desistisse, Al teria que tomar o meu lugar na frente do alvo.
– Por quê? – pergunto.
– Porque você é da Abnegação – explica ele –, e é exatamente nos momentos em que você está agindo de maneira altruísta que você é mais corajosa.
Agora eu entendo. Ele não estava tentando me convencer a desistir. Ele estava me
lembrando o motivo pelo qual eu não podia desistir, por que eu precisava proteger Al. Pensar nisso me causa sofrimento. Proteger Al. O meu amigo. O meu agressor.
Não posso odiar Al tanto quanto eu gostaria.
Mas também não posso perdoá-lo.
– Se eu fosse você, me esforçaria mais para fingir que esse impulso altruísta está passando – diz ele –, porque, se as pessoas erradas descobrirem... bem, não será nada bom para você.
– Por quê? Por que eles estão tão interessados nas minha intenções?
– As únicas coisas que interessam a eles são as intenções. Eles tentam convencê-los de que se importam com o que vocês fazem, mas não é verdade. Eles não querem que vocês ajam de uma determinada maneira. Querem que vocês pensem de uma determinada maneira. Para que seja fácil decifrá-los. Para que vocês não sejam uma ameaça para eles. – Ele encosta a mão na parede ao lado da minha cabeça e se apoia nela. Sua camisa é apertada o bastante para que eu
possa ver o contorno da sua clavícula e o pequeno vão entre o músculo do seu ombro e o seu bíceps.
Eu gostaria de ser mais alta. Se eu fosse alta, meu físico magro seria considerado esbelto, e não infantil, e talvez ele não me visse como uma irmã mais nova que ele precisa proteger.
Não quero que ele me veja como uma irmã.
– Eu não entendo – digo – por que eles se importam tanto com o que estou pensando, se eu estiver agindo de acordo com o que eles querem.
– Você está agindo como eles querem agora – responde ele –, mas o que acontecerá quando seu cérebro com inclinação para a Abnegação a levar a fazer algo diferente, algo que eles não querem que você faça?
Não sei responder a sua pergunta, nem sei se ele está certo a respeito de mim. Será que eu tenho inclinação para a Abnegação ou para a Audácia?
Talvez para nenhuma das duas. Talvez a minha inclinação seja para a Divergência.
– Talvez eu não precise da sua ajuda! Já pensou nisso? – questiono. – Não sou fraca, sabia? Posso encarar isso sozinha.
Ele balança a cabeça.
– Você pensa que o meu instinto imediato é proteger você. Porque você é pequena, ou uma menina, ou uma Careta. Mas você está enganada.
Ele aproxima o seu rosto do meu e segura o meu queixo. Sua mão cheira a metal. Quando foi a última vez que ele segurou uma arma ou uma faca? Minha pele estremece no ponto em que ele a toca, como se sua pele me transmitisse eletricidade.
– Meu instinto imediato é de pressionar você até que você ceda, só para ver o quanto terei que empurrar – diz ele, apertando os dedos ao falar a palavra “ceda”. Meu corpo fica tenso com a aspereza da sua voz e se contrai como uma mola, fazendo com que me esqueça de respirar.
Ele abaixa os olhos até que encontram os meus e diz:
– Mas eu me contenho.
– Por que... – Engulo em seco. – Por que é este o seu instinto imediato?
– Porque o medo não faz com que você se apague; ele faz com que você acenda. Já vi isso acontecendo com você. É fascinante. – Ele solta meu queixo, mas não afasta a mão, acariciando levemente meu rosto, depois meu pescoço. – Às vezes, eu quero apenas... ver de novo. Ver você acesa.
Coloco as mãos em sua cintura. Não me lembro de tomar esta decisão. Mas não consigo me afastar. Aproximo o meu corpo do seu peito, envolvendo-o em meus braços. Meus dedos acariciam os músculos das suas costas.
Depois de alguns segundos, ele toca as minhas costas estreitas, apertando-me para mais perto de si, e acaricia meus cabelos com sua outra mão. Sinto-me pequena outra vez, mas agora isso não me assusta. Fecho os olhos com força. Ele não me assusta mais.
– Será que eu deveria estar chorando? – pergunto, com a voz abafada pela sua camisa. – Será que há algo de errado comigo?
As simulações abriram uma ferida tão grande em Al que ele não conseguiu fechá-la. Por que o mesmo não ocorreu comigo? Por que não sou como ele, e por que esse pensamento faz com que me sinta tão inquieta, como se fosse eu que estivesse me equilibrando na beirada de um abismo?
– Você acha que eu entendo alguma coisa de lágrimas? – diz ele baixinho.
Fecho os olhos. Não espero que Quatro me tranquilize, e ele não se esforça para isso, mas me sinto melhor aqui do que me senti no meio daqueles que são meus amigos, minha facção. Aperto a testa contra seu ombro.
– Se eu o houvesse perdoado – pergunto –, você acha que ele estaria vivo agora?
– Não sei – responde ele. Quatro coloca a mão sobre minha bochecha, e eu viro o rosto para ele, mantendo os olhos fechados.
– Sinto que isso tudo é minha culpa.
– Não é sua culpa – diz ele, encostando a testa na minha.
– Mas eu devia. Devia tê-lo perdoado.
– Talvez. Talvez todos nós pudéssemos ter feito mais por ele – afirma ele –, mas nós devemos apenas fazer com que a culpa nos ajude a fazer mais no futuro.
Eu franzo as sobrancelhas e afasto o corpo. Esta é uma lição que aprendemos na
Abnegação: usar a culpa como uma ferramenta, e não como uma arma contra si mesmo. É exatamente o que meu pai disse em um dos seus sermões nos nossos encontros semanais.
– De que facção você veio, Quatro?
– Isso não importa – responde ele, olhando para o chão. – É aqui que estou agora. E você deveria se lembrar disso também.
Ele me encara com um olhar indeciso e encosta os lábios entre minhas sobrancelhas. Fecho os olhos. Não entendo isso, seja lá o que for. Mas não quero estragar o momento, então não falo nada. Ele não se move; apenas fica ali, com a boca encostada na minha pele, e eu fico ali, com as mãos na sua cintura, por muito tempo.
Autor(a): Fer Linhares
Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Eu, Afonso e Anahí nos encontramos diante da grade sobre o abismo, tarde da noite, depois que a maioria dos membros da Audácia já foi dormir. Meus dois ombros ardem por causa da agulha da tatuagem. Nós três fizemos novas tatuagens há meia hora.Maite era a única pessoa no estúdio, então me senti à ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
-
manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
-
manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
-
manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
-
manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
-
manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
-
manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
-
Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa