Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Eu, Afonso e Anahí nos encontramos diante da grade sobre o abismo, tarde da noite, depois que a maioria dos membros da Audácia já foi dormir. Meus dois ombros ardem por causa da agulha da tatuagem. Nós três fizemos novas tatuagens há meia hora.
Maite era a única pessoa no estúdio, então me senti à vontade para tatuar o símbolo da Abnegação em meu ombro direito: um par de mãos, com as palmas voltadas para cima, como se estivessem ajudando alguém a se levantar, unidas por um círculo. Sei que é arriscado fazer uma tatuagem assim, principalmente depois de tudo o que aconteceu. Mas esse símbolo é parte da minha identidade, e me pareceu importante carregá-lo na pele.
Subo em uma das barras transversais da grade, encostando as coxas no metal para manter o equilíbrio. Foi daqui que Al saltou. Olho para o fundo do abismo, para a água escura e as pedras escarpadas. A água se choca contra o paredão, lançando uma nuvem de vapor para o alto e molhando meu rosto. Será que ele teve medo ao ficar em pé aqui? Ou será que estava tão seguro de que queria pular que foi fácil?
Anahí me entrega uma pilha de papéis. Juntei uma cópia de cada relatório publicado pela Erudição nos últimos seis meses. Jogá-los no abismo não vai me livrar deles para sempre, mas talvez me ajude a me sentir melhor.
Eu encaro o primeiro deles. Nele, há uma foto de Jeanine, a representante da Erudição. Seus olhos mordazes, mas bonitos, encaram-me de volta.
– Você já a viu alguma vez? – pergunto a Afonso. Anahí amassa este primeiro relatório e o lança para dentro da água.
– A Jeanine? Sim, uma vez – responde ele. Pega o relatório seguinte e o rasga
completamente. Os pedaços voam para dentro do rio. Ele faz isso sem a mesma malícia daAnahí. Sinto que ele está participando só para provar para mim que não concorda com as táticas da sua antiga facção. Não dá para perceber se ele acredita ou não no que eles estão pregando, e tenho medo de perguntar.
– Antes de se tornar uma líder, ela trabalhou com minha irmã. Elas estavam tentando desenvolver um soro com uma duração mais longa para as simulações – diz ele. – A Jeanine é tão esperta que dá para perceber mesmo antes de ela abrir a boca. Ela parece... um computador que fala e anda.
– O que... – Jogo uma das páginas para o fundo do abismo, contraindo os lábios. É melhor eu perguntar logo. – O que você acha do que ela diz?
Ele dá de ombros.
– Não sei. Talvez seja mesmo uma boa ideia ter mais de uma facção controlando o governo.
E seria bom também se nós tivéssemos mais carros e... frutas frescas e...
– Mas você sabe que não existe um armazém secreto onde guardamos todas essas coisas, não sabe? – pergunto, enquanto uma onda de calor invade o meu rosto.
– Sim, eu sei – diz ele. – Só acho que a Abnegação não considera o conforto e a
prosperidade como prioridades, mas talvez elas seriam se outras facções também
participassem das decisões.
– Porque dar um carro a um garoto da Erudição é mais importante que dar comida aos semfacção – retruco, irritada.
– Ei – diz Anahí, acariciando o ombro do Afonso com os dedos. – Isso aqui é para ser uma sessão leve e descompromissada de destruição simbólica de documentos, e não um debate político.
Eu engulo o que estava prestes a dizer e encaro a pilha de papéis na minha mão. Notei que Afonso e Anahí têm trocado muitas carícias ultimamente. Será que eles também notaram?
– Mas tudo aquilo que ela falou a respeito do seu pai – diz ele – faz com que eu a odeie um pouco. Não consigo imaginar o que a levaria a dizer coisas terríveis assim.
Eu consigo. Se a Jeanine conseguir fazer as pessoas acreditarem que meu pai e todos os outros líderes da Abnegação são corruptos e horríveis, ela terá todo o apoio de que precisa para qualquer revolução que queira fazer, se é que este é mesmo o seu plano. Mas não quero continuar discutindo, então apenas aceno com a cabeça e jogo o resto dos papéis para dentro do abismo. Eles deslizam no ar, para frente e para trás, para frente e para trás, até alcançarem a água. Serão filtrados na parede do abismo e descartados.
– Hora de ir dormir – diz Anahí, sorrindo. – Estão prontos para voltar? Acho que quero botar a mão do Peter em um pote de água morna para ver se ele molha a cama esta noite.
Eu me viro para o lado oposto do abismo e vejo um movimento no lado direito do Fosso.
Uma pessoa sobe em direção ao teto de vidro, e pela maneira suave com que caminha, como se os pés mal tocassem o chão, sei que é Quatro.
– Parece uma ótima ideia, mas preciso conversar com Quatro a respeito de algo – digo, apontando para a sombra que sobe a passagem. Os olhos dela seguem minha mão.
– Você tem certeza de que é uma boa ideia ficar correndo sozinha por aí à noite? – pergunta ela.
– Eu não estarei sozinha. Estarei com Quatro. – Mordo o lábio.
Anahí olha paraAfonso, e ele a encara de volta. Nenhum dos dois está realmente escutando o que estou dizendo.
– Tudo bem – diz Anahí distraidamente. – Bem, nos vemos mais tarde, então.
Anahí e Afonso caminham em direção ao dormitório. Ela bagunça o cabelo dele e ele dá pequenos socos nas costelas dela. Observo-os por alguns instantes. Sinto que estou testemunhando o começo de algo, mas não sei exatamente o quê.
Corro até a passagem do lado esquerdo do Fosso e começo a subir. Tento pisar o mais silenciosamente possível no chão. Ao contrário de Anahí, não tenho dificuldade em mentir.
Minha intenção não é falar com Quatro. Pelo menos, não até eu descobrir aonde ele está indo, a esta hora, no prédio de vidro acima de nós.
Corro em silêncio, perdendo o fôlego ao alcançar a escada, depois me encontro em um canto do salão de vidro, e Quatro está no canto oposto. Pelas janelas, vejo as luzes da cidade, ainda acesas, mas já começando a se apagar lentamente. Todas elas deverão ser apagadas até a meia-noite.
Do outro lado do salão, Quatro está parado diante da porta da paisagem do medo. Ele segura uma caixa preta em uma das mãos e uma seringa em outra.
– Já que você está aqui – diz ele, sem olhar para trás –, é melhor que venha comigo de uma
vez. Mordo o lábio.
– Para dentro da paisagem do medo?
– É.
Ao caminhar em sua direção, pergunto:
– Eu posso fazer isso?
– O soro nos conecta ao programa – diz ele –, mas é ele que determina de quem será a paisagem na qual entraremos. E agora ele está programado para reproduzir a minha.
– Você vai deixar que eu veja a sua paisagem do medo?
– Por que você acha que eu estou entrando? – pergunta ele em um tom baixo. Ele não levanta os olhos. – Quero te mostrar algumas coisas.
Ele segura a seringa, e eu inclino a cabeça para expor melhor o meu pescoço. Sinto uma dor aguda quando a agulha entra, mas já me acostumei a ela. Quando ele termina, me entrega a caixa preta. Dentro dela, há outra seringa.
– Nunca fiz isso antes – aviso, ao retirá-la da caixa. Não quero machucá-lo.
– Bem aqui – diz ele, tocando o local em seu pescoço com a unha. Eu me levanto na ponta dos pés e enfio a agulha, com as mãos tremendo um pouco. Ele parece nem sentir.
Seus olhos se mantêm fechados o tempo todo, e, quando eu termino, ele guarda as duas seringas na caixa e a coloca ao lado da porta. Ele sabia que eu iria segui-lo até aqui. Sabia ou esperava que o seguisse. Seja qual for o caso, fico feliz.
Ele me oferece a mão, e eu a seguro. Seus dedos estão frios e inseguros. Sinto que deveria dizer algo, mas estou zonza demais para encontrar as palavras. Ele abre a porta com a mão livre e eu o sigo para dentro da escuridão. Já me acostumei a entrar em lugares desconhecidos sem hesitar. Mantenho a respiração estável e seguro firmemente sua mão.
– Tente descobrir por que me chamam de Quatro – pede ele.
A porta se fecha atrás de nós, levando com ela o pouco de luz que havia. O ar é frio dentro do corredor; sinto cada partícula dele invadir meus pulmões. Aproximo-me de Quatro, até que meu braço toque o seu e meu queixo esteja perto de seu ombro.
– Qual é o seu verdadeiro nome?
– Tente descobrir isso também.
A simulação nos absorve. O chão que eu piso não é mais feito de cimento. Ele range como metal. A luz derrama de todos os lados; a cidade se desdobra ao nosso redor com seus prédios de metal e o arco dos trilhos de trem, e estamos muito acima dela. Há muito tempo não vejo um céu azul, então, quando ele se estende à minha volta, sinto a respiração travar em meus pulmões e o efeito é estonteante.
De repente, começa a ventar. O vento bate tão forte que preciso me apoiar em Quatro para não cair. Ele solta a mão da minha e coloca o braço sobre meus ombros. A princípio, penso que está fazendo isso para me proteger, mas então percebo que ele está respirando com dificuldade e precisa que eu o sustente. Ele força o ar para dentro e para fora da boca, mas seus dentes permanecem cerrados.
Para mim, a altura é linda, mas se está aqui é porque é um dos piores pesadelos do Quatro.
– Precisamos pular, não é? – grito, para que ele me ouça apesar do uivo do vento.
Ele faz que sim com a cabeça.
– No três, está bem?
Ele faz que sim outra vez.
– Um... dois... três! – Eu o puxo comigo e começo a correr. Depois que damos os primeiros passos, fica fácil. Nós dois saltamos da beirada do prédio. Caímos como pedras, rápido, com o vento se chocando contra nossos corpos e o chão crescendo abaixo. De repente, a cena desaparece, e eu me encontro de quatro no chão, sorrindo. Adorei essa explosão de adrenalina no dia em que escolhi a Audácia, e continuo adorando.
Ao meu lado, Quatro arqueja e aperta a mão contra o peito.
Fico em pé e ajudo-o a se levantar.
– E o que vem em seguida?
– É...
Algo sólido atinge minha espinha. Eu me choco com Quatro, batendo com a cabeça em sua clavícula. Paredes surgem à minha esquerda e à minha direita. O espaço é tão apertado que ele precisa dobrar os braços na frente do peito para caber nele. Um teto desaba sobre as paredes ao nosso redor com um estrondo, e Quatro se curva para a frente, soltando um gemido. O espaço é grande o bastante para acomodá-lo, e nada mais.
– Confinamento – falo.
Ele faz um som gutural. Eu inclino a cabeça para trás, até conseguir olhar para ele. Está tão escuro que mal consigo ver seu rosto, e o ar está abafado; respiramos o mesmo ar. Ele faz uma careta, como se estivesse sentindo dor.
– Ei – digo. – Está tudo bem. Veja...
Eu puxo o seu braço para o lado do meu corpo para lhe dar mais espaço. Ele agarra minhas costas e coloca o rosto ao lado do meu, ainda agachado para a frente. Seu corpo está quente, mas sinto apenas seus ossos e os músculos que os envolvem; ele não cede sob meu peso. Meu rosto arde. Será que ele consegue sentir que ainda tenho o corpo de uma criança?
– É a primeira vez que me sinto feliz por ser tão pequena. – Eu rio. Talvez eu possa acalmálo com piadas. E me distrair também.
– Mmhmm – faz ele. Sua voz soa travada.
– Não tem como escaparmos daqui – digo. – É mais fácil encarar o medo diretamente, não é? – Não espero por uma resposta. – Então, o que você precisa fazer é tornar o espaço ainda menor. Tornar a situação pior, para que ela melhore. Certo?
– Sim. – Sua curta resposta soa presa e tensa.
– Tudo bem. Então, teremos que nos agachar. Está pronto?
Eu aperto sua cintura para puxá-lo para baixo junto comigo. Sinto a linha dura da sua costela contra minha mão e ouço o ranger de uma tábua após a outra, à medida que o teto desce junto conosco. Percebo que não há como cabermos aqui com tanto espaço entre nós, então me viro e me curvo como uma bola, com a espinha contra o peito de Quatro. Um dos seus joelhos está dobrado ao lado da minha cabeça e o outro está enfiado sob mim, fazendo com que eu me sente em seu calcanhar. Somos um emaranhado de membros. Ouço uma respiração pesada em meu ouvido.
– Ai – geme ele, com a voz rouca. – Isto é pior. Isto é muito...
– Silêncio – peço. – Coloque os braços ao redor de mim.
Obedientemente, ele desliza os dois braços ao redor da minha cintura. Eu sorrio enquanto encaro a parede. Não estou gostando disso. Não estou, nem um pouco, não.
– A simulação mede sua resposta ao medo – digo suavemente. Estou apenas repetindo o que ele nos disse, mas talvez lembrá-lo ajude de alguma maneira. – Portanto, se você conseguir baixar o ritmo do seu batimento cardíaco, ela irá seguir para o próximo medo. Lembra? Então tente se esquecer de que estamos aqui.
– É mesmo? – Sinto seus lábios movendo-se contra minha orelha enquanto ele fala, e uma onda de calor atravessa meu corpo. – É fácil assim, não é?
– Sabe, a maioria dos garotos adoraria estar trancada em um lugar fechado com uma garota. – Giro os olhos para cima.
– Não os claustrofóbicos, Dul! – Ele soa desesperado agora.
– Tudo bem, tudo bem. – Coloco minha mão sobre a sua e a guio para o meu peito,
colocando-a sobre o meu coração. – Sinta o ritmo do meu coração. Você consegue senti-lo?
– Sim.
– Você percebe como ele está estável?
– Ele está acelerado.
– É, bem, mas isso não tem nada a ver com a caixa. – Faço uma careta assim que digo isso. Acabei de me entregar. Espero que ele não tenha notado. – Toda vez que você me sentir respirar, respire junto. Concentre-se nisso.
– Está bem.
Eu respiro com força, e seu peito sobe e desce junto com o meu. Depois de alguns segundos fazendo isso, falo calmamente:
– Por que você não me diz de onde vem este medo? Talvez falar sobre isso nos ajude... de alguma maneira.
Não sei como ajudaria, mas me parece uma boa ideia.
– Bem... está bem. – Ele respira comigo outra vez. – Vem da minha maravilhosa infância. Castigos para uma criança. O minúsculo armário do andar de cima.
Eu aperto os lábios. Lembro-me de ser castigada, de ser mandada para o quarto sem jantar, de ser proibida de fazer uma coisa ou outra, das duras broncas que recebi. Mas nunca fui trancada em um armário. A crueldade disso me abala, e sinto uma dor no peito por Quatro.
Não sei o que dizer, então tento manter o clima natural.
– Minha mãe mantinha nossas roupas de inverno no armário.
– Eu não... – Ele arqueja. – Não quero mais falar sobre isso.
– Tudo bem. Então... eu posso falar. Pergunte-me alguma coisa.
– Tudo bem. – Ele dá uma risada trêmula ao lado do meu ouvido. – Por que o seu coração está batendo tão rápido, Dul?
Faço uma careta e digo:
– Bem, eu... – Procuro uma desculpa que não envolva o fato de eu estar entre seus braços. – Eu mal o conheço. – Não foi uma desculpa boa o bastante. – Eu mal o conheço, e estou espremida dentro de uma caixa com você, Quatro. O que você esperava?
– Se esta fosse a sua paisagem do medo – diz ele –, eu estaria nela?
– Não tenho medo de você.
– Claro que você não tem. Mas não foi isso o que eu quis dizer.
Ele ri novamente e, de repente, as paredes ao nosso redor se rompem com um estrondo e desabam, e nos encontramos sob um foco de luz. Quatro suspira e afasta os braços do meu corpo. Eu me levanto, cambaleante, e começo a me limpar, embora, que eu saiba, não tenha me sujado. Esfrego as palmas das mãos na minha calça jeans. A distância repentina do corpo de Quatro faz com que eu sinta frio nas costas.
Ele fica parado na minha frente. Está sorrindo, e eu acho que não gosto do seu olhar.
– Talvez você pertença mesmo é à Franqueza – diz ele –, porque você é uma péssima mentirosa.
– Acho que o meu teste de aptidão descartou completamente essa possibilidade.
Ele balança a cabeça.
– Os testes de aptidão não significam nada.
Meu olhar se estreita.
– O que você está tentando me dizer? Não foi por causa do seu teste que você veio parar na Audácia?
Sinto uma excitação atravessar meu corpo como o sangue em minhas veias, empurrada pela esperança de que ele vá me confirmar que é um Divergente, que ele é como eu, que podemos descobrir o que isso significa juntos.
– Não exatamente – diz ele. – Eu...
Ele olha para trás e se cala. Uma mulher aparece a alguns metros de distância, apontando uma arma para nós. Ela está completamente imóvel, com o rosto inexpressivo. Se eu saísse da simulação agora, não lembraria da sua aparência. À minha direita, surge uma mesa. Sobre ela, há uma arma e uma única bala. Por que a mulher não está atirando em nós?
Ah, eu penso. O medo de Quatro não está ligado à ameaça à sua vida. Tem a ver com a arma sobre a mesa.
– Você precisa matá-la – digo suavemente.
– Todas as vezes.
– Ela não é real.
– Ela parece real. – Ele morde o lábio. – Isso tudo parece real.
– Se ela fosse real, já teria matado você.
– Tudo bem. – Ele acena com a cabeça. – É só eu... acabar logo com isso. Esta não é... tão difícil assim. Não me causa tanto pânico.
Não causa tanto pânico, mas muito mais pavor. Vejo isso em seus olhos enquanto ele pega a arma e abre o tambor, como se já tivesse feito isso centenas de vezes. E pode ser que tenha mesmo. Ele carrega a arma e a aponta para ela, segurando-a com as duas mãos. Fecha um dos olhos com força e respira lentamente.
Ao soltar o ar, ele atira, e a cabeça da mulher é lançada para trás. Vejo uma explosão de vermelho e desvio o olhar. Ouço o som do corpo desabando no chão.
Quatro solta a arma e ela cai no chão, produzindo um ruído surdo. Encaramos o corpo caído da mulher. Ele estava certo. Isso realmente parece real. Não seja ridícula. Eu agarro seu braço.
– Venha – digo. – Vamos embora. Vamos seguir em frente.
Depois de mais um puxão, ele sai do seu torpor e me segue. Ao passarmos pela mesa, o corpo da mulher desaparece, embora permaneça em nossas memórias. Como será a sensação de matar alguém a cada vez que se passa pela paisagem do medo? Talvez eu descubra.
Há uma coisa, no entanto, que não entendo: estes deveriam ser os piores medos do Quatro.
E, embora ele tenha entrado em pânico na caixa e no telhado, ele matou a mulher sem grandes dificuldades. Parece que a simulação está aproveitando qualquer medo que consiga encontrar dentro dele, mas não conseguiu achar muitos.
– Lá vamos nós – sussurra ele.
Uma figura escura se move diante de nós, esgueirando-se pela beirada do círculo de luz, esperando nosso próximo passo. Quem será? Quem será que frequenta os pesadelos do Quatro?
O homem que surge diante de nós é alto e magro, com o cabelo muito curto. Ele está com as mãos atrás das costas. E usa as roupas cinza da Abnegação.
– Víctor – sussurro.
– Esta é a parte – diz Quatro, com a voz trêmula – em que você descobre meu nome.
– Será que ele é... – Eu desvio o olhar de Víctor, que caminha lentamente em nossa direção, para Quatro, que se afasta devagar, e, de repente, tudo faz sentido. Víctor teve um filho que se juntou à Audácia. Seu nome era... – Christopher.
Víctor nos mostra as mãos. Há um cinto enrolado em um de seus punhos. Ele o desenrola de seus dedos, devagar.
– Isso é para o seu próprio bem – diz ele, e sua voz ecoa doze vezes.
Uma dúzia de Víctor se movimentam em direção ao centro do foco de luz, todos segurando o mesmo cinto, com o mesmo rosto inexpressivo. Quando os Víctor piscam outra vez, seus olhos se tornam cavidades vazias e escuras. Os cintos arrastam no chão, que agora está coberto de ladrilhos brancos. Sinto um arrepio em minha espinha. A Erudição acusou Víctor de crueldade. Ao menos desta vez, eles estavam certos.
Olho para Quatro, ou para Christopher, e ele parece paralisado. Sua postura murcha. Ele parece anos mais velho; parece anos mais novo. O primeiro Víctor joga o braço para trás e o cinto voa sobre seu ombro, enquanto se prepara para atacar. Christopher se encolhe, levantando os braços para proteger o rosto.
Eu me jogo na frente dele e o cinto estala em meu punho, enrolando-se em mim. Uma dor lancinante corre pelo meu braço, até o ombro. Cerro os dentes e puxo o braço com o máximo de força que consigo. O cinto é arrancado da mão de Víctor, e eu o desenrolo do meu braço e seguro-o pela fivela.
Balanço o braço o mais rápido que consigo. Meu ombro dói com o movimento repentino, e atinjo o ombro de Víctor. Ele grita e se joga sobre mim com os braços abertos e as unhas que parecem garras. Christopher me joga para trás do seu corpo, posicionando-se entre mim e Víctor.
Ele parece estar com raiva, não medo.
Todos os Víctor desaparecem. As luzes se acendem, revelando o longo recinto com
paredes de tijolos rachados e chão de cimento.
– Já acabou? – digo. – Estes eram os seus piores medos? Por que você só tem quatro... – Minha voz morre. Só quatro medos.
– Ah. – Eu olho para ele. – É por isso que o chamam de...
Perco as palavras ao ver a expressão em seu rosto. Seus olhos estão arregalados e parecem quase vulneráveis sob a luz do ambiente. Se não estivéssemos aqui, eu descreveria seu olhar como de estupefação. Mas por que ele estaria olhando para mim dessa maneira?
Ele segura o meu cotovelo, pressionando a pele suave sobre meu antebraço com o dedão, e me puxa para junto do seu corpo. A pele ao redor do meu pulso ainda arde, como se o cinto fosse real, mas está tão pálida quanto o resto do meu corpo. Seus lábios movem-se vagarosamente contra a minha bochecha, e então seus braços apertam meus ombros e ele mergulha o rosto no meu pescoço, respirando contra a minha clavícula.
Eu fico imóvel por um instante, depois o envolvo em meus braços e solto um suspiro.
– Ei – digo suavemente. – Nós conseguimos.
Ele levanta o rosto e acaricia meu cabelo, empurrando-o para trás da minha orelha.
Encaramo-nos em silêncio. Seus dedos movem-se distraidamente sobre uma mecha do meu cabelo.
– Você me ajudou a conseguir – diz ele, finalmente.
– Bem. – Minha garganta está seca. Tento ignorar a onda de nervosismo que pulsa por todo o meu corpo a cada vez em que ele me toca. – É fácil ser corajosa quando os medos não são meus.
Abaixo as mãos e enxugo-as disfarçadamente na minha calça jeans, esperando que ele não perceba.
Se percebe, não diz nada. Prende seus dedos nos meus.
– Venha – diz ele. – Quero te mostrar outra coisa.
Autor(a): Fer Linhares
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De mãos dadas, descemos em direção ao Fosso. Controlo cuidadosamente a força com que seguro sua mão. Às vezes, penso que não estou segurando forte o bastante, depois, acho que estou apertando demais. Eu nunca havia entendido por que as pessoas andavam de mãos dadas, mas quando ele acaricia a palma da minh ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa