Fanfics Brasil - Capítulo 31 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 31

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Asluzes se acendem. Estou sozinha, na sala vazia com paredes de concreto, tremendo.
Ajoelho-me no chão, cruzando os braços na frente do peito. Não estava frio quando entrei aqui, mas parece estar frio agora. Esfrego os braços para me livrar dos arrepios.
Nunca me senti tão aliviada. Todos os meus músculos relaxam ao mesmo tempo e eu consigo respirar livremente outra vez. Não consigo me imaginar atravessando minha paisagem do medo no meu tempo livre, como Christopher faz. Antes isso me pareceu coragem, mas agora parece mais masoquismo.
A porta se abre e eu me levanto. Max, Eric, Christopher e algumas outras pessoas que não conheço entram na sala em fila, e se aglomeram ao redor de mim. Tobias sorri para mim.
– Parabéns, Dul – diz Eric. – Você completou sua avaliação final com sucesso.
Tento sorrir. Não consigo. Não consigo afastar a lembrança da arma contra minha cabeça.
Ainda consigo sentir o cano entre minhas sobrancelhas.
– Obrigada.
– Há mais uma coisa antes que a liberemos para ir se arrumar para o banquete de boas-vindas – diz. Ele acena para uma das pessoas desconhecidas atrás dele. Uma mulher com cabelo azul lhe entrega um pequeno estojo preto. Ele abre o estojo e retira uma seringa e uma agulha comprida.
Fico tensa ao ver aquilo. O líquido laranja-amarronzado na seringa me lembra do soro que eles injetam na gente antes das simulações. E elas já deveriam ter terminado.
– Pelo menos, você não tem medo de agulhas. A injeção colocará um rastreador dentro de você, que será ativado apenas se você for tida como desaparecida. É apenas uma precaução.
– Com que frequência as pessoas desaparecem?
– Não muita. – Eric sorri de maneira sarcástica. – É uma nova invenção; uma cortesia da Erudição. Passamos o dia hoje injetando todos da Audácia, e eu imagino que as outras facções farão o mesmo assim que puderem.
Meu estômago dobra. Não posso deixar que ele me injete com nada, especialmente algo desenvolvido pela Erudição e talvez até pela própria Jeanine. Mas também não posso recusar.
Se eu recusar, ele poderá duvidar mais uma vez da minha lealdade.
– Tudo bem – digo, com um nó na garganta.
Eric se aproxima de mim com a agulha e a seringa na mão. Eu afasto o cabelo do meu pescoço e inclino a cabeça para o lado. Desvio o olhar enquanto Eric limpa a minha pele com um líquido antisséptico e enfia a agulha. A dor profunda se espalha pelo meu pescoço, forte, mas ligeira. Ele guarda a agulha novamente no estojo e cola um curativo no local da injeção.
– O banquete será em duas horas – diz ele. – Sua posição entre os outros iniciandos, incluindo os nascidos na Audácia, será anunciada lá. Boa sorte.
O pequeno grupo sai da sala em uma fileira, mas Tobias fica para trás. Ele para perto da porta e faz um sinal para que o siga, e eu vou. O salão de vidro acima do Fosso está repleto de integrantes da Audácia, alguns deles caminhando nas cordas acima de nós, outros conversando e rindo em grupos. Ele sorri para mim. Não deve ter me assistido.
– Ouvi dizer que você teve que enfrentar apenas sete obstáculos – diz ele. – É um feito quase inédito.
– Você... você não assistiu à simulação?
– Apenas nos monitores. Os líderes da Audácia são os únicos que veem tudo – explica ele.
– Eles pareceram ficar impressionados.
– Bem, ter sete medos não é tão impressionante quanto ter quatro – respondo –, mas será o suficiente.
– Eu ficaria surpreso se você não tirasse o primeiro lugar – diz ele.
Nós entramos no salão de vidro. A multidão continua lá, mas está mais reduzida agora que a última pessoa – ou seja, eu – já terminou.
As pessoas reparam em mim depois de alguns segundos. Mantenho-me ao lado do Christopher, mas não consigo andar rápido o bastante para evitar os gritos de apoio, alguns tapas no ombro e alguns parabéns. Ao olhar para as pessoas ao meu redor, penso no quão estranhas elas pareceriam para meu pai e meu irmão, e o quão normais elas parecem para mim, apesar de todos os brincos de metal em seus rostos e das tatuagens em seus braços e pescoços e peitos.
Sorrio de volta para elas.
Descemos os degraus até o Fosso e eu digo:
– Preciso fazer uma pergunta.
Mordo meu lábio.
– O que exatamente eles falaram a respeito da minha paisagem do medo?
– Na verdade, nada. Por quê?
– Por nada. – Chuto uma pedrinha para além da beirada do caminho.
– Você precisa voltar para o dormitório? – pergunta ele. – Porque, se estiver procurando paz e tranquilidade, pode ficar comigo até a hora do banquete.
Meu estômago dobra.
– O que foi? – quer saber ele.
Não quero voltar para o dormitório, e não quero ter medo dele.
– Vamos – digo.


 


 


 


                                                        +++


 


 


 


 


 


Ele fecha a porta atrás de nós e tira os sapatos.
– Quer um pouco de água? – pergunta.
– Não, obrigada. – Seguro as mãos em frente ao meu corpo.
– Você está bem? – diz ele, tocando meu rosto. Sua mão apoia o lado da minha cabeça, deslizando seus dedos longos entre meus cabelos. Ele sorri e segura minha cabeça enquanto me beija. O calor se espalha pelo meu corpo lentamente. E o medo soa como um alarme em meu peito.
Com os lábios imóveis sobre os meus, ele puxa a jaqueta dos meus ombros. Eu me contraio ao ouvi-la caindo no chão, e o afasto, com os olhos ardendo. Não sei por que me sinto assim.
Não me senti assim quando ele me beijou no trem. Eu levo as palmas das mãos ao rosto, cobrindo meus olhos.
– O que foi? O que há de errado?
Eu balanço a cabeça.
– Não me diga que não é nada. – Sua voz tem um tom frio. Ele agarra meu braço. – Ei. Olha para mim.
Eu afasto as mãos do rosto e ergo os olhos ao encontro dos seus. Seu olhar de dor e a raiva em sua mandíbula contraída me surpreendem.
– Às vezes, eu me pergunto – digo, com o máximo de calma que consigo –, o que você está ganhando com isso. Isso... seja lá o que isso for.
– O que eu estou ganhando – repete ele, e se afasta de mim, balançando a cabeça. – Você é uma idiota, Dul.
– Eu não sou uma idiota – digo. – E é por isso que eu sei que é um pouco estranho que, de todas as garotas que você poderia ter escolhido, você tenha escolhido a mim. Então, se você estiver apenas atrás de... bem, você sabe... daquilo...
– O quê? Sexo? – retruca ele, com raiva. – Sabe, se isso fosse a única coisa que eu
quisesse, você provavelmente não seria a primeira pessoa que eu procuraria.
Sinto como se ele tivesse acabado de socar meu estômago. É claro que eu não seria a primeira pessoa que ele procuraria. Nem a primeira, nem a mais bonita, nem a mais desejável.
Aperto as mãos contra o abdômen e desvio o olhar, segurando as lágrimas. Não sou do tipo que chora. Também não sou do tipo que grita. Pisco algumas vezes, abaixo as mãos, e o encaro.
– Eu vou embora agora – digo baixinho, depois me viro para a porta.
– Não, Dul. – Ele agarra meus pulsos e me puxa de volta. Eu o empurro com força, mas ele segura meu outro pulso, mantendo os nossos braços cruzados.
– Desculpe-me por ter dito isso. O que eu quis dizer é que você não é assim. E eu já sabia disso desde que a conheci.
– Você foi um dos obstáculos na minha paisagem do medo. – Meu lábio inferior treme. – Você sabia disso?
– O quê? – Ele solta meus pulsos, e seu olhar de dor retorna. – Você tem medo de mim?
– Não de você – digo. Mordo o lábio para fazê-lo parar de tremer. – De estar com você... com qualquer pessoa. Eu nunca me envolvi com alguém antes, e... você é mais velho, e eu não sei quais são suas expectativas, e...
– Dul – diz ele severamente –, não sei que tipo de loucura você enfiou na sua cabeça, mas tudo isso é novidade para mim também.
– Loucura? – repito. – Quer dizer que você nunca... – Levanto uma sobrancelha. – Ah. Ah. Apenas imaginei que... – Que só porque eu sou tão obcecada por ele, todo mundo deve ser também. – Bem... você sabe.
– É, mas você imaginou errado. – Ele desvia o olhar. Suas bochechas estão vermelhas, como se ele estivesse envergonhado. – Você sabe que pode me falar qualquer coisa, não sabe? – diz. Ele segura meu rosto em suas mãos, com os dedos gelados e as palmas quentes. – Sou mais gentil do que pareço no treinamento, prometo.
Eu acredito nele. Mas isso não tem nada a ver com sua gentileza.
Ele me beija entre as sobrancelhas, depois na ponta do nariz, depois encaixa
cuidadosamente a boca na minha. Estou no meu limite. Há eletricidade correndo em minhas veias. Quero que ele me beije, quero; mas tenho medo da direção que isso pode tomar.
Suas mãos deslizam até meus ombros, e seus dedos esbarram na ponta das minhas bandagens. Ele se afasta de mim, com as sobrancelhas contraídas.
– Você está machucada?
– Não. É outra tatuagem. Ela já sarou, mas eu só estava tentando... mantê-la coberta.
– Posso ver?
Eu faço que sim com a cabeça, com a garganta apertada. Abaixo a manga da camisa e deslizo o ombro para fora. Ele encara o meu ombro por um instante, depois corre os dedos sobre ele. Eles sobem e descem sobre meus ossos, que são mais saltados do que eu gostaria.
Quando me toca, sinto como se cada parte em que sua pele encosta na minha fosse modificada pela conexão entre nós. Seu toque faz com que uma vibração atravesse meu estômago. Não é apenas medo. É algo mais. Um desejo.
Ele solta a ponta das bandagens. Seus olhos vagueiam pelo símbolo da Abnegação e sorri.
– Eu tenho uma igual – diz ele, rindo. – Nas costas.
– Sério? Posso ver?
Ele pressiona as bandagens contra a tatuagem e cobre novamente meu ombro com a camisa.
– Você está pedindo para eu tirar a roupa, Dul?
Uma risada nervosa brota da minha garganta.
– Só... uma parte.
Ele acena com a cabeça, e seu sorriso subitamente desaparece. Seus olhos encontram os meus e ele abre o zíper do seu suéter. A peça desliza do seu ombro, e ele a joga sobre a cadeira em frente à mesa. Não sinto mais vontade de rir. A única coisa que consigo fazer é olhar para ele.
Suas sobrancelhas se voltam para o centro da testa, e ele agarra a borda da sua camiseta.
Em um movimento rápido, ele a puxa por cima da cabeça.
Algumas chamas da Audácia cobrem o lado direito, mas, fora isso, seu peito não é tatuado.
Ele desvia o olhar.
– O que foi? – pergunto, franzindo a testa. Ele parece... desconfortável.
– Eu não costumo me exibir assim para muitas pessoas – diz ele. – Na verdade, nunca me exibo para ninguém.
– Não consigo entender por que não – digo suavemente. – Quer dizer, olha só para você.
Caminho lentamente ao redor dele. Nas suas costas, há mais tinta do que pele. Os símbolos de todas as facções estão desenhadas nela: o da Audácia no topo da espinha, o da Abnegação logo abaixo dele, e os outros três, menores, mais abaixo. Por alguns instantes, observo a balança que representa a Franqueza, o olho que representa a Erudição, e a árvore que simboliza a Amizade. Faz sentido que ele se tatue com o símbolo da Audácia, o seu refúgio, e até mesmo com o símbolo da Abnegação, o seu lugar de origem, como eu. Mas e as outras três?
– Eu acho que nós cometemos um erro – diz suavemente. – Nós todos passamos a rebaixar as virtudes das outras facções no processo de reforçar a nossa. Não quero fazer isso. Quero ser corajoso e altruísta e esperto e bondoso e honesto. – Ele limpa a garganta. – Eu me esforço continuamente para ser bondoso.
– Ninguém é perfeito – sussurro. – As coisas não funcionam assim. Quando nos livramos de uma coisa ruim, outra a substitui.
Eu troquei a covardia pela crueldade; troquei a fraqueza pela ferocidade.
Corro os dedos sobre o símbolo da Abnegação.
– Precisamos alertá-los. Logo – digo.
– Eu sei – responde ele. – Vamos alertá-los.
Ele se vira para mim. Quero tocá-lo, mas tenho medo da sua nudez; tenho medo de que ele me deixe nua também.
– Isso está assustando você, Dul?
– Não. – Minha voz sai rouca. Limpo a garganta. – Não muito. Só estou... com medo do que quero.
– E o que você quer? – Seu rosto se contrai. – Você me quer?
Eu faço que sim lentamente com a cabeça.
Ele também assente e segura minhas mãos com delicadeza entre as suas. Guia as palmas das minhas mãos até sua barriga. Com os olhos abaixados, puxa minhas mãos para cima, sobre seu abdômen e sobre seu peito, e as segura contra seu pescoço. As palmas das minhas mãos formigam com a sensação da sua pele, macia, quente. Meu rosto está quente, mas mesmo assim estou tremendo. Ele olha para mim.
– Um dia – diz ele –, se você ainda me quiser, nós podemos... – Ele para de falar e limpa a garganta. – Nós podemos...
Sorrio um pouco e o envolvo em meus braços antes que ele termine de falar, pressionando o lado do meu rosto contra seu peito. Sinto o bater do seu coração na minha bochecha, tão rápido quanto o meu.
– Você também tem medo de mim, Christopher?
– Tenho pavor – responde ele, sorrindo.
Eu viro a cabeça para a frente e beijo a cavidade sob sua garganta.
– Talvez você não continue na minha paisagem do medo – murmuro.
Ele inclina a cabeça para baixo e me beija devagar.
– Aí, todos poderão chamar você de Seis.
– Quatro e Seis – digo.
Beijamo-nos outra vez e, desta vez, a sensação parece natural. Sei exatamente como nossos corpos se encaixam, com o seu braço ao redor da minha cintura, minhas mãos em seu peito, a pressão de seus lábios nos meus. Nós já memorizamos um ao outro.




 



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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