Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Tento ficar sozinha com Christopher depois que as posições são anunciadas, mas a
multidão de iniciandos e membros é grande demais, e a força dos seus cumprimentos me afastam dele. Decido sair escondida do dormitório depois que todos já tenham ido dormir para encontrá-lo, mas a paisagem do medo me exauriu mais do que eu imaginava, e logo caio no sono junto com os outros.
Acordo com o som de colchões rangendo e pés se movendo. Está escuro demais para eu conseguir enxergar bem, mas à medida que meus olhos se acostumam com o breu, vejo que Anahí está amarrando os sapatos. Abro a boca para perguntar a ela o que está acontecendo, mas então percebo que Afonso está vestindo uma camisa na minha frente. Todos estão acordados, mas ninguém diz uma palavra.
– Anahí – sussurro. Ela não olha para mim, então seguro seu ombro e a sacudo. – Anahí!
Ela simplesmente continua amarrando os sapatos.
Meu estômago aperta quando vejo seu rosto. Seus olhos estão abertos, mas inexpressivos, e seus músculos faciais estão frouxos. Ela se move sem olhar para o que está fazendo, com a boca semiaberta, inconsciente, mas parecendo acordada. E todos os outros estão do mesmo jeito.
– Afonso? – digo, atravessando o dormitório. Todos os iniciandos formam uma fila quando terminam de se vestir. Eles começam a sair silenciosamente do dormitório. Eu seguro o braço do Afonso para impedir que saia, mas ele se move com uma força irreprimível. Ranjo os dentes e o seguro com o máximo de força que consigo, cravando os calcanhares no chão. Ele apenas me arrasta junto com a fila.
Eles se tornaram sonâmbulos.
Procuro meus sapatos. Não posso ficar aqui sozinha. Amarro-os correndo, visto uma jaqueta e corro para fora do quarto, alcançando rapidamente a fila de iniciandos e imitando seus passos. Demora um pouco até eu perceber que eles se movem em uníssono, movendo os pés e os braços ao mesmo tempo. Tento imitá-los da melhor forma que consigo, mas o ritmo parece estranho para mim.
Nós marchamos em direção ao Fosso, mas, ao alcançarmos a entrada, a parte da frente da fila vira para a esquerda. Max está no corredor, nos observando. Meu coração dispara, e eu olho para a frente da maneira mais inexpressiva que consigo, concentrando-me no ritmo dos meus pés. Fico tensa ao passar por ele. Ele vai perceber que não me tornei uma zumbi como todos, e então algo terrível vai acontecer comigo, tenho certeza.
Os olhos escuros de Max passam direto por mim.
Subimos um lance de escadas e seguimos no mesmo ritmo por quatro corredores. De repente, o corredor se abre em uma enorme caverna. Dentro dela, há uma multidão de integrantes da Audácia.
Há fileiras de mesas com montes pretos sobre elas. Não consigo ver o que há nas pilhas até que eu estou a meio metro delas. Armas.
Claro. Eric disse que todos da Audácia haviam tomado a injeção ontem. Por isso, agora todos da facção se tornaram zumbis, obedientes e treinados para matar. Soldados perfeitos.
Eu pego uma arma, um coldre e um cinto, imitando Afonso, que está logo à minha frente. Tento seguir seus movimentos, mas não consigo prever o que ele irá fazer, então acabo me enrolando mais do que deveria. Eu travo os dentes. Preciso acreditar que ninguém está me observando.
Quando já estou armada, sigo Afonso e os outros iniciandos em direção à saída.
Não posso lutar em uma guerra contra a Abnegação, contra minha família. Eu preferiria morrer. A minha paisagem do medo provou isso. Minhas opções se tornam cada vez mais escassas, e vejo o caminho que devo trilhar. Eu vou atuar durante o tempo necessário pra chegar ao setor da Abnegação. Salvarei minha família. E o que quer que aconteça depois disso não importa. Uma onda de tranquilidade toma conta de mim.
A fila de iniciandos entra em um corredor escuro. Não consigo enxergar Will à minha frente ou qualquer outra coisa ao meu redor. Dou uma topada com o pé em algo duro e caio para a frente, com os braços esticados. Meu joelho atinge outra coisa, um degrau. Ajeito o corpo, tão tensa que os meus dentes estão quase batendo. Eles não viram isso. Torço para que esteja
escuro demais para eles terem visto minha queda.
À medida que fazemos uma curva na escada, a luz invade a caverna, até que eu consigo finalmente enxergar os ombros do Afonso na minha frente novamente. Concentro-me em combinar meu ritmo ao seu, enquanto alcanço o topo da escada, passando por outro líder da Audácia. Agora sei quem são os líderes, porque eles são os únicos que estão acordados.
É, eles não são exatamente os únicos. Eu devo estar acordada porque sou Divergente. E, se estou acordada, isso quer dizer que Chrstopher também está, a não ser que eu esteja errada a seu respeito.
Preciso encontrá-lo.
Paro em frente aos trilhos do trem, em meio a um grupo de pessoas que se estende até onde minha visão periférica alcança. O trem está parado diante de nós, com todos os vagões abertos. Um por um, os iniciandos entram no vagão à nossa frente.
Não posso virar a cabeça para procurar Christopher no meio da multidão, mas deixo meus olhos se voltarem um pouco para o lado. Não reconheço os rostos à minha esquerda, mas vejo um garoto alto com cabelo curto alguns metros à minha direita. Talvez não seja ele, e não posso me certificar, mas é a melhor chance que tenho. Não sei como chegar até ele sem chamar a atenção dos líderes, mas preciso tentar.
O carro na nossa frente fica cheio, e Afonso se dirige ao próximo. Acompanho seus
movimentos, mas, em vez de parar onde ele para, chego um pouco mais para a direita. As pessoas ao redor de mim são todas mais altas do que eu; elas vão me esconder. Dou mais um passo para a direita, travando os dentes. Movimentei-me demais. Eles vão me pegar. Por favor, não me peguem.
Um membro da Audácia com o rosto inexpressivo dentro do vagão oferece a mão ao garoto à minha frente, e ele a segura com movimentos robóticos. Eu seguro a próxima mão sem olhar para ela, e subo no vagão com o máximo de graciosidade que consigo.
Fico parada, encarando a pessoa que me ajudou. Meus olhos se voltam para cima por apenas um instante, para ver seu rosto. Christopher, com o rosto tão inexpressivo quanto todos os outros. Será que eu estava errada? Será que ele não é um Divergente? Lágrimas se acumulam em meus olhos, e pisco para reprimi-las ao me virar para o outro lado.
Pessoas se espremem no vagão à minha volta, e nos posicionamos em quatro fileiras, com os ombros alinhados. De repente, algo estranho acontece: dedos se entrelaçam aos meus, e a palma de uma mão aperta a minha. Christopher, segurando minha mão.
Meu corpo inteiro se enche de energia. Aperto a sua mão, e ele aperta a minha de volta. Ele está acordado. Eu estava certa.
Quero olhar para ele, mas me obrigo a ficar parada e olhar para a frente, enquanto o trem começa a se mover. Ele acaricia as costas da minha mão com o dedão, em um movimento circular lento. Parece estar tentando me acalmar, mas está apenas me deixando mais frustrada.
Preciso falar com ele. Preciso olhar para ele.
Não consigo ver aonde o trem está nos levando porque a garota na minha frente é alta demais, então apenas encaro a parte de trás da sua cabeça e me concentro na mão de Christopher até que os trilhos soltam um ruído. Não sei há quanto tempo estou em pé ali dentro, mas minhas costas doem, então deve ter sido muito tempo. O trem faz um ruído alto e freia, e meu coração bate tão forte que sinto dificuldade de respirar.
Logo antes de descermos do trem, vejo com o canto do olho a cabeça de Christopher se voltar para mim e devolvo seu olhar. Seus olhos escuros parecem insistir comigo quando ele diz:
– Corra.
– Minha família – digo.
Eu olho novamente para a frente e pulo do vagão quando chega a minha vez. Christopher caminha à minha frente. Eu deveria me manter focada na sua nuca, mas reconheço as ruas em que caminhamos agora, e minha atenção se desvia da fila de membros da Audácia na minha frente.
Passo pelo local que eu visitava com minha mãe a cada seis meses para buscar roupas novas para nossa família; o ponto onde eu costumava esperar o ônibus que me levava para a escola; o trecho de calçada tão rachado que eu e Caleb fazíamos um jogo de pular e saltar para poder atravessá-lo.
Todos esses lugares estão diferentes agora. Os prédios estão escuros e vazios. As ruas estão repletas de soldados da Audácia, todos marchando no mesmo ritmo, com exceção dos oficiais, que vejo a mais ou menos cada cem metros, observando-nos enquanto passamos ou se reunindo em grupos para discutir alguma coisa. Será que realmente viemos aqui para travar uma guerra?
Caminho cerca de um quilômetro antes de descobrir a resposta para esta pergunta.
Começo a ouvir estouros. Não posso olhar ao redor para descobrir de onde eles estão vindo, mas, quanto mais eu ando, mais altos e nítidos eles se tornam, até que eu os reconheço como tiros. Cerro os dentes. Preciso continuar andando; preciso olhar diretamente para frente.
Muitos metros a nossa frente, vejo uma mulher da Audácia empurrar um homem com roupas cinza, deixando-o de joelhos sobre o chão. Eu reconheço o homem. Ele é um dos membros do conselho. A mulher saca sua arma do coldre e, com um olhar inexpressivo, atira contra a parte de trás do crânio do homem.
Ela tem uma mecha cinza em seus cabelos. É Maite. Quase perco o passo.
Continue andando. Meus olhos ardem. Continue andando.
Nosso grupo passa marchando por Tori e pelo corpo caído do membro do conselho. Quando piso em sua mão inerte, quase me desfaço em lágrimas.
De repente, os soldados à minha frente param de andar, e eu os imito. Mantenho-me o mais imóvel possível, mas a única coisa que quero fazer é encontrar Jeanine, Eric e Max e atirar em todos eles. Minhas mãos estão tremendo e não consigo controlá-las. Respiro rápido pelo nariz.
Outro tiro. De relance, vejo outra massa cinza tombar sobre a calçada. Se isso continuar, todos da Abnegação vão morrer.
Os soldados da Audácia seguem ordens não ditas sem qualquer hesitação ou
questionamento. Alguns membros adultos da Abnegação são empurrados em direção a um dos prédios próximos junto com crianças. Um mar de soldados de preto guarda as portas. As únicas pessoas que não vejo são os líderes da Abnegação. Talvez eles já estejam mortos.
Um por um, os soldados da Abnegação na minha frente se afastam para exercer algum tipo de tarefa. Logo, os líderes irão perceber que, qualquer que sejam os sinais que todos estão recebendo, eles não estão funcionando comigo. O que farei quando isso acontecer?
– Isso é uma loucura – sussurra uma voz masculina à minha direita. Vejo uma mecha de cabelo comprido e ensebado e um brinco prateado. Eric. Ele cutuca minha bochecha com o dedo indicador, e eu reprimo a vontade de estapear sua mão.
– Eles realmente não conseguem ver a gente? Nem ouvir a gente? – pergunta uma voz feminina.
– Eles conseguem ver e ouvir. Apenas não estão processando o que veem e ouvem da mesma maneira – diz Eric. – Eles recebem ordens dos nossos computadores por meio dos transmissores que injetamos neles... – Ao falar isso, ele pressiona o dedo contra o ponto da injeção no meu pescoço para mostrar à mulher onde fica. Fique parada, digo a mim mesma. Parada, parada, parada – ...e as executam com perfeição.
Eric dá um passo para o lado e se inclina para perto do rosto de Christopher, sorrindo.
– Que visão maravilhosa – diz ele. – O lendário Quatro. Ninguém mais vai lembrar que fiquei em segundo, não é mesmo? Ninguém vai me perguntar: “Como foi treinar com o cara que só tem quatro medos?” – Ele saca a arma e a aponta para a têmpora direita do Christopher.
Meu coração bate tão forte que consigo senti-lo em meu crânio. Ele não pode atirar; não faria isso. Eric inclina a cabeça para o lado. – Será que alguém notaria se ele levasse um tiro acidental?
– Atire logo – diz a mulher, com um tom entediado. Ela deve ser uma líder da Audácia, se tem o poder de dar permissão ao Eric. – Ele não é nada agora.
– É uma pena que você não tenha aceitado a oferta do Max, Quatro. É, uma pena para você, pelo menos – fala Eric baixinho, enquanto engatilha sua arma.
Meus pulmões ardem; faz quase um minuto que eu não respiro. Vejo a mão de Christopher contrair-se com o canto do olho, mas minha mão já está na minha arma. Aperto o cano contra a testa do Eric. Seus olhos se arregalam e seu rosto fica inexpressivo, e, por um segundo, ele se parece com mais um soldado inconsciente da Audácia.
Meu dedo indicador paira sobre o gatilho.
– Afaste a arma da cabeça dele – digo.
– Você não vai atirar em mim – responde Eric.
– É uma teoria interessante – digo. Mas não posso assassiná-lo; não posso. Eu travo os dentes e abaixo a arma, atirando no seu pé. Ele grita e segura o pé com as duas mãos. Assim que a arma do Eric se afasta da sua cabeça, Christopher saca a própria arma e atira na perna da amiga dele. Não espero para ver se a bala a atinge. Agarro o braço do Christopher e começo a correr.
Se conseguirmos chegar ao beco, desapareceremos em meio aos prédios, e eles não conseguirão nos encontrar. É um trajeto de cerca de duzentos metros. Ouço pés movimentando-se atrás de nós, mas não olharei para ver de quem são. Christopher agarra a minha mão e a aperta contra a sua, puxando-me para a frente, mais rápido do que eu jamais corri.
Corro cambaleante atrás dele. Ouço um tiro.
A dor é aguda e repentina, começando no meu ombro e se espalhando, rajadas elétricas, para fora. Um grito fica preso na minha garganta, e eu desabo, arranhando a bochecha no chão.
Levanto a cabeça e vejo o joelho de Christopher ao lado do meu rosto.
– Corra! – grito.
– Não – responde ele, com uma voz calma e baixa.
Em uma questão de segundos, estamos cercados. Christopher me ajuda a levantar, sustentando meu peso. Tenho dificuldade em me concentrar com tanta dor. Soldados da Audácia nos cercam, apontando suas armas para nós.
– Rebeldes Divergentes – diz Eric, apoiado em um pé só. Seu rosto está doentiamente pálido. – Entreguem suas armas.
Agr a porr* vai fica séria!
Comentem!!
Autor(a): Fer Linhares
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Eu apoio todo o peso em Christopher. Um cano de arma pressionado contra minha espinha me empurra para frente, pelo portão da sede da Abnegação, um edifício cinza simples de dois andares. Sangue escorre da lateral do meu corpo. Não tenho medo do que está por vir; a dor é grande demais para eu conseguir pensar a r ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa